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Grelha de Observação da Comunicação Verbal

5.3. Método de análise e tratamento dos dados

5.3.2. Grelha de Observação da Comunicação Verbal

A metodologia adoptada para a concretização do estudo implicou a realização de dois instrumentos que facilitassem a análise das interacções. A avaliação da participação é, por natureza, uma área problemática, na medida em que é difícil contemplar e conjugar todos os elementos formativos. Por este motivo, a opção acabou por recair na diferenciação das duas tipologias de comunicação para garantir a fiabilidade dos dados recolhidos.

A comunicação verbal sempre foi a vertente de interacção mais avaliada no contexto escolar, embora a comunicação não-verbal ocorra com maior frequência, ainda que de forma imperceptível, e possa transmitir com clareza as intenções dos alunos (Davis, 1979). Se pensarmos no ensino a distância verificamos que o assunto é tanto mais problemático, visto que o professor não se pode cingir à contabilização das participações, a despeito de um certo facilitismo, tendo que analisar a qualidade das mesmas (Santos, 2005).

A grelha de observação referente à comunicação verbal resulta da combinação de indicadores adaptados e validados da escala de Philips (2000) e da escala de Rourke et al. (2001). A primeira diz respeito à avaliação da qualidade das participações em ambientes virtuais de aprendizagem, distinguindo não só a pertinência do comentário, mas também a sua contribuição para o desenrolar do debate. Por seu turno, a escala de Rourke et al. (2001) incide sobretudo na categorização das participações sob o ponto de vista semântico, isto é, se o enunciado foi de cariz emotivo, social, participativo, entre outros. A partir destes indicadores concebeu-se uma grelha que pudesse ser aplicada aos mundos virtuais, pelo que foi necessário adaptá-la ao tipo de aprendizagem que neles se processa.

Ao contrário dos ambientes virtuais de aprendizagem, também conhecidos por LMS, o Second Life permite a comunicação através de um sistema de voz. Apesar de ser um método facilitador por aumentar a proximidade entre os intervenientes, optou-se por recolher apenas os dados da comunicação que aconteceu através do chat. Tal decisão deve-se, em primeiro lugar, à pouca adesão que este sistema registou ao longo dos encontros observados por ser considerado um factor destabilizador do debate. Em segundo lugar, a sua utilização não assegurava a mesma fidelidade na transcrição das mensagens escritas. Embora a recolha dos dados no chat apresente vantagens, não podemos esquecer que o processo de escrita implica um certo desfasamento temporal e não transmite as noções de entoação necessárias para a compreensão da intenção do locutor na sua plenitude.

115 A grelha de observação visa a compreensão, numa perspectiva qualitativa, da incidência de cinco factores que permitem depreender o grau de presença social dos intervenientes na comunidade. De salientar que durante o estudo foi considerada, na vertente verbal da comunicação, a estrutura frásica e o seu sentido.

Antes de procedermos à descrição pormenorizada dos cinco parâmetros, é conveniente atentarmos ao seguinte quadro síntese:

Parâmetro Indicador Definição

Afectivo

Expressão de emoções Demonstração do estado de espírito do indivíduo Saudações

Afirmação que permite

depreender o estado de espírito do indivíduo e as suas emoções.

Social Exposição de acontecimentos

decorridos na vida real

Afirmação que se refere a acontecimentos exteriores à vivência do SL ou que traduzam a opinião pessoal do indivíduo.

Interactivo

Debate de um assunto já iniciado

Referência explícita

Demonstração de apreço pela opinião dos outros

Colocação de questões

Afirmações que acrescentem informações pertinentes para a prossecução do debate. Afirmações que refiram a opinião de um colega.

Coesivo Sentido de comunidade

Recurso ao vocativo

Afirmações que denotem o espírito de grupo.

Participativo

Número de afirmações formuladas

Compilação do número de mensagens relacionados com o tema Diversidade temática Totalização do número de mensagens escritas e, em particular, do número de afirmações subordinadas a determinado tema.

Contabilização das temáticas abordadas.

Quadro 3 – Quadro síntese correspondente à grelha da comunicação verbal

A análise rigorosa dos dados referentes à comunicação verbal requer a compreensão detalhada destes cinco parâmetros, pelo que se descreve, de seguida, cada um deles.

Capítulo 5 – Metodologia

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Parâmetro afectivo

Conforme apresentado no quadro síntese, este parâmetro alude às expressões pessoais de emoção, às manifestações de sentimentos, crenças e valores que sejam visíveis nos enunciados registados ao longo dos encontros. Nestas demonstrações de afectividade estão incluídas as saudações, o reforço verbal, a utilização de ícones expressivos e as exteriorizações do estado de espírito. As afirmações de cariz afectivo são regulares durante o processo comunicativo, contribuindo para a prossecução do debate e para a construção do sentido de comunidade.

Parâmetro Social

A socialização é considerada, em certos casos, como uma das ferramentas mais poderosas para as aprendizagens, sobretudo a nível da aprendizagem informal. Neste sentido, as afirmações sociais são veículos privilegiados para a disseminação de conhecimentos de uma forma indirecta. Ora, os enunciados sociais referem-se a todas as participações cujo conteúdo não está directamente relacionado com o tema abordado no debate em curso. Assim, todas as afirmações que dizem respeito a acontecimentos extrínsecos ao SL, como por exemplo aspectos da vida pessoal, ou a outros assuntos de teor mais ligeiros são entendidas como componentes da socialização.

Parâmetro Interactivo

Este parâmetro pretende avaliar a dinâmica dialógica registada durante os encontros, procurando entender se as participações fomentaram a continuação de um debate em progressão ou se originaram a discussão de um novo tópico. O parâmetro interactivo revela influências directas do estudo encetado por Philips (2000), pois analisa rigorosamente a qualidade das intervenções dos participantes.

Os actos de fala interactivos revelam, não raras vezes, a demonstração de apreço pelas opiniões formuladas por outros pares, através da referência explícita a comentários anteriores. Na verdade, os enunciados interactivos demonstram espírito de tolerância, uma vez que durante o debate há uma grande multiplicidade de opiniões, incitando o respeito por diferentes pontos de vista. O apreço pelas diferentes opiniões é, de facto, um convite expresso à participação activa de todos os intervenientes no processo comunicativo.

Ainda que se verifique algum anseio pela aprovação do grupo, o ambiente coesivo incita à colocação de questões e à exposição oratória.

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Parâmetro Coesivo

O estabelecimento de relações de proximidade é fortemente motivado pelas interacções de ordem afectiva, que, consequentemente, vão dando origem a afirmações coesivas. Estas concorrem para a crescente sensação de pertença a uma comunidade, registada em expressões tão lineares como “o nosso grupo”, “nossa opinião”, entre outras. Tal como a própria designação indica, trata-se de uma dimensão que visa a avaliação do espírito de grupo, manifestado pela troca de cumprimentos, pelas referências a discussões anteriores, pela troca de informações de cariz social e pelo uso de expressões evocativas.

A coesão do grupo também pode ser observada por meio de enunciados que recorram ao vocativo, o qual revela uma relação directa entre locutor e destinatário.

Parâmetro Participativo

A recolha de todos os enunciados registados ao longo dos encontros permite-nos contabilizar a totalidade de afirmações proferidas. Para além desta contabilização, o parâmetro participativo determina, ainda, o número de actos de fala relativos a cada tema abordado.

Os parâmetros previamente indicados possibilitam uma visão global da intencionalidade do acto de fala que, em conjunto com as interacções não-verbais, constituem elementos fundamentais para o sucesso das aprendizagens. A selecção de parâmetros que contemplem a análise da qualidade das intervenções, bem como a quantidade das mesmas, permite-nos compreender a comunicação verbal que decorre no SL. Através deste processo poderemos, então, adaptar as técnicas de ensino e as metodologias de avaliação, de forma a inovar o sistema educativo e a facilitar o papel do professor.

Assim sendo, a comunicação verbal permite-nos analisar o envolvimento dos residentes no SL, o impacto das suas intervenções na prossecução de debates, a partilha de ideias e o estabelecimento de relações afectivas que poderão resultar na criação do sentido de presença.