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1 A FERRAMENTA COMPUTACIONAL DLNOTES2 E AS RELAÇÕES ENTRE

5.1 GRUPO 1 – ATIVIDADE 1 – ANOTAÇÃO EM MEIO ANALÓGICO

Para as análises das marcações em meio analógico, foram tomadas como base as classificações dos tipos de anotação propostos por Blustein, Rowe e Graff (2011) e Marshall (1997) no primeiro capítulo da pesquisa. Considera-se que os leitores podem empregar diferentes recursos para realizar anotações, de acordo com seus objetivos de leitura, registrando seu engajamento e compreensão do texto.

Na primeira atividade, de acordo com a classificação de Blustein, Rowe e Graff (2011), os estudantes utilizam tanto notas incidentais, pois todos sublinham ou destacam o texto, bem como marcas significavas, de diferentes formas, como chaves, setas e texto ao classificarem a macroestrutura do gênero artigo de opinião. A partir da classificação de Marshall (1997), também foi possível identificar que todos os participantes registram sua interpretação ao escreverem e classificarem os elementos solicitados no comando das atividades referentes à micro e macroestrutura do gênero artigo de opinião.

Das diferentes formas de marcação realizadas, o participante Fábio utilizou o comando da atividade, que estava topicalizado a partir de letras, e criou uma legenda para anotação, escrevendo ao lado do texto somente a classificação dos tipos de argumentos, conforme Figura 15.

Figura 15 – Exemplo de marcação por legenda do participante Fábio

Fonte: a autora (2018).

Na chamada do exercício, “a)” correspondia à tese, “b)” à apresentação do problema e “c)” aos argumentos20

, além do sublinhado e do texto escrito, o estudante emprega esse recurso para anotar no artigo de opinião. De acordo com Marshall (1997), ao criar uma legenda própria para marcação, isso pode ter exigido uma maior atenção por parte do leitor, inferência confirmada pelo número de acertos do participante, que realizou 13 anotações corretas (65%), contra 7 incorretas (35%).

Ainda nas marcações no analógico, é apresentado um exemplo de uso de setas e chaves (Figura 16), recurso empregado para separar as diferentes partes da macroestrutura, como tese de argumento e dos diferentes tipos de argumentos empregados pelo autor.

Ver atividade completa no apêndice D. 20

Figura 16 – Exemplo de tipos de marcação: chaves, flechas e texto

Fonte: a autora (2018).

Ainda na atividade 1, os participantes marcaram a tese da autora logo no título do texto (Figura 17), apesar de isso não ter sido previsto nas marcações possíveis feitas no Quadro 4. Ao retomar essa questão, constatou-se que essa foi uma inferência adequada feita pelos estudantes, pois, no caso do artigo de opinião em análise, a autora anuncia a tese logo no título do texto “Nada é justificativa para acabar com o direito à educação pública”. Esse dado indica que a anotação pode auxiliar no levantamento de hipóteses durante a leitura, que podem ser confirmadas ou não pelos leitores (SOLÉ, 1998; 1996; KOCH; ELIAS, 2013). Ao marcarem no título, os participantes levantaram uma hipótese da possível tese da autora.

Figura 17 – Exemplo de marcação de tese no título

Fonte: a autora (2018).

Além dessa marcação não prevista feita pelos estudantes, o participante Fábio anotou, juntamente com o problema, a antítese do texto (Figura 18), sinalizada pela letra “d”, sendo que a antítese também não estava prevista nas marcações

possíveis descritas no Quadro 4. Essa hipótese foi levantada adequadamente pelo estudante, pois no trecho “sugeriu a cobrança de mensalidade no ensino superior no Brasil” é uma afirmação que será rebatida pela autora no decorrer do artigo de opinião. Esse dado demonstra que o participante registra, por meio da anotação, seu entendimento dos processos argumentativos empregados pela autora. Esse reconhecimento, conforme apresentado no capítulo 2 da pesquisa, auxilia na compreensão do texto e do percurso argumentativo construído pela autora (COSTA, 2000; DUARTE, 2010).

Figura 18 – Exemplo de marcação da antítese

Fonte: a autora (2018).

Apesar do grupo que marcou no meio analógico ter anotado apenas dois operadores argumentativos, a participante Fernanda destacou outros elementos da microestrutura do gênero artigo de opinião (Figura 19), como o advérbio “profundamente”, relacionando-o à opinião da autora, e o adjetivo “pretensa”, uma caracterização utilizada na construção da argumentação, demostrando a importância de marcar a microestrutura para a compreensão global (ANTUNES, 2010). Ao considerar a classificação da função das anotações para Marshall (1997), ao escrever palavras sobre o texto, indica que houve uma interpretação da participante durante a leitura.

Figura 19 – Exemplo de marcação de elementos da microestrutura

Fonte: a autora (2018).

Além disso, também houve momentos em que os estudantes fizeram apagamentos no texto, demonstrando que apresentaram dúvidas em relação às hipóteses levantadas e registradas por meio das anotações. Por exemplo, em um dos argumentos, a participante Fernanda marcou no texto “exemplo” (informação não visível quando o texto é escaneado), apagou e registrou “fato” em cima do trecho “submetido à perseguição e à humilhação” (Figura 20). Infere-se que isso ocorreu pelo fato de esses dois argumentos apresentarem uma classificação similar e que pode ser confusa ao leitor. Por isso, a da importância de ter a ontologia guiando os alunos para lembrarem-se dos argumentos, como ocorre com DLNotes2 e não no meio analógico, nesse sentido, se valerem de uma tecnologia digital e da metalinguagem, em conformidade com o pressuposto teórico delineado no primeiro capítulo.

Ainda, conforme orienta Solé (1996; 1998), a partir da identificação das dificuldades dos estudantes, identificação essa que pode ser realizada por meio da anotação e possíveis marcas de apagamento, o professor deve mediar, a partir de intervenções e questionamentos, o processo de leitura.

Figura 20 – exemplo de apagamento e posterior marcação

Fonte: a autora (2018).

Também ocorreu o caso em que a participante Camila havia anotado a tese do texto adequadamente, mas houve uma marca de apagamento e ela não fez nenhuma anotação ao lado do parágrafo em que continha a tese. Esses dados indicam que os estudantes levantaram diferentes hipóteses durante a leitura e o caminho percorrido por eles ficou registrado por meio das anotações. Além de auxiliar o leitor no processo de leitura, essas anotações permitem ao professor identificar quais foram as hipóteses adequadas levantadas pelos alunos e as dificuldades que apresentaram durante a leitura.