• Nenhum resultado encontrado

Parte I – Contextualização e itinerário formativo

1. Descrição do percurso formativo

1.2. Caracterização do grupo de crianças da sala 2 e da equipa educativa

1.2.1. Grupo de crianças da sala 2

O grupo da sala 2 era constituído por 20 crianças, sendo 15 do sexo masculino e 5 do sexo feminino. Era um grupo heterogéneo em termos de idades: 8 crianças tinham 3 anos, 2 tinham 4 e 10 tinham 5. Das 10 crianças de 5 anos, uma era de nacionalidade ucraniana.

Neste grupo, 8 crianças com 3 anos, 2 com 4 e 2 com 5 frequentavam pela primeira vez o Jardim de Infância. A interação que estas crianças estabeleciam entre si “em momentos diferentes de desenvolvimento e com saberes diversos [foi e] é facilitadora do desenvolvimento e da aprendizagem” (Ministério da Educação, 2009b, p. 35).

Tal como foi mencionado anteriormente, o grupo integrava uma criança de 5 anos com NEE de caráter permanente, tendo sido sinalizada pela Educadora de Infância nos termos do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, devido ao seu notório atraso de desenvolvimento, e elaborado, por esta, um Programa Educativo Individual.

É importante referir que “o respeito pela diferença inclui as crianças que se afastam dos padrões “normais”, devendo a [Educação Pré-Escolar] dar resposta a

7

15 todas e a cada uma das crianças” (Ministério da Educação, 2009b, p. 19), adotando uma pedagogia diferenciada que valorize a cooperação e a entreajuda.

Apesar das características individuais de cada criança, do número de crianças de cada sexo, da discrepância de idades e da dimensão do grupo (idem), as crianças entreajudaram-se e resolveram alguns conflitos através da negociação, na maioria das vezes com a ajuda do adulto. Contudo, manifestaram alguns comportamentos agressivos nessa resolução de problemas.

As crianças de 3 anos eram unidas e, tal como defendem Smith, Cowie e Blades (1998/2001), “é indubitável que [neste] período (…) se assiste a um grande desenvolvimento de capacidades que as crianças têm para interagir com colegas da mesma idade” (p. 150).

Contudo, o egocentrismo, característico do estádio pré-operatório de Piaget, foi uma característica muito presente neste grupo de crianças, que demonstrou alguma dificuldade na partilha dos materiais e na partilha do mesmo espaço.

Nos momentos destinados às atividades a desenvolver com o grupo de 5 anos, as 2 crianças de 4 anos foram sempre integradas. As crianças deste grupo, à exceção da criança com NEE, sabiam escrever o seu nome e reconheciam a maioria das letras do alfabeto e alguns números até 10. Ainda neste grupo, algumas crianças necessitaram de incentivo e apoio por parte do adulto para desenvolverem competências e atitudes de aprendizagem.

Relativamente a preferências, a maioria dos rapazes demonstrou maior interesse pela pista de carros e a maioria das raparigas pelas áreas das ciências e da expressão plástica. As brincadeiras no espaço exterior foram também consideradas importantes pelas crianças, não só pela convivência com o grupo da sala 1, mas também pela interação com a equipa educativa.

De um modo geral, as crianças da sala 2, apesar dos diferentes níveis de desenvolvimento, dos diferentes temperamentos e dos diferentes pontos de interesse, eram alegres, curiosas, sociáveis, participativas, colaboradoras e unidas. Demonstraram sentir-se à vontade no Jardim de Infância, estabelecendo relações

16 positivas com os adultos e entre si, excetuando a interação com a criança com NEE. Neste último caso era claro o afastamento entre essa criança e o restante grupo, uma vez que esta demonstrava frequentemente comportamentos agressivos para com os seus colegas e para com os adultos. Estes comportamentos, característicos das perturbações de que esta criança sofria, dificultam as relações e a construção de laços de amizade, sendo notória a dificuldade em fazer amigos (Paasche, Gorrill, & Strom, 2010).

1.2.1.1. Criança com Necessidades Educativas Especiais de caráter permanente

A criança com NEE de carácter permanente tinha 5 anos e frequentava o Jardim de Infância desde os 3, tendo sido referenciada pela Educadora de Infância nos termos do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro. Foi nessa altura que lhe foi diagnosticada epilepsia mioclónica8 e hiperatividade9, estando esta criança a ser medicada para tal.

Às quintas e sextas-feiras, entre as 9h e as 10h30min, esta criança era acompanhada por uma docente de Educação Especial, que, muitas vezes, a retirava da sala de atividades para realizar alguns trabalhos na sala polivalente.

No entanto, é expresso nas Orientações Curriculares para a Educação Pré- Escolar10 que “mesmo as crianças diagnosticadas como tendo NEE devem ser “incluídas no grupo e [beneficiar] das oportunidades educativas que são

8A epilepsia mioclónica, contrariamente ao que a sociedade pensa, não é uma doença, mas sim um

distúrbio estrutural que provoca descargas elétricas do cérebro, o que pode levar a convulsões. Este tipo de epilepsia é caracterizado pela perda de consciência durante segundos, normalmente entre um e dez. Como características físicas e comportamentais deste distúrbio apresentam-se paragens durante atividades que se estejam a realizar, olhar distante, contrações musculares e/ou perdas do controlo motor, pestanejar e revirar os olhos, inconsciência da ocorrência das crises e incapacidade de responder a perguntas de modo adequado (Paasche, Gorrill, & Strom, 2010).

9

A hiperatividade, tal como a epilepsia mioclónica, é uma perturbação do desenvolvimento caracterizada por dificuldades em prestar atenção a um estímulo o tempo necessário para compreender a informação. As principais características físicas e comportamentais desta perturbação passam por atividade motora exagerada, nervosismo e mal-estar, movimentos involuntários, poucas horas de sono, impaciência, défice de atenção e concentração, esquecimento de rotinas diárias, impulsividade, excitabilidade, agressividade e frustração. Como consequências sociais e emocionais, as crianças hiperativas têm baixa-autoestima e dificuldade em fazer amigos (Paasche, Gorrill, & Strom, 2010).

10

17 proporcionadas a todos” (Ministério da Educação, 2009b, p. 19), contribuindo assim para a inclusão e para a igualdade de oportunidades.

Esta criança raramente interagia com as restantes, permanecendo no “seu mundo” e apresentava comportamentos muito distintos: tanto pronunciava palavras carinhosas e abraçava, como dava pontapés e atirava objetos.

Para compreender o porquê de tais comportamentos e de tal mudança de humor, esta criança foi alvo de um estudo por parte de uma médica do Centro Hospitalar do Porto.

Terminado o estudo, chegou-se à conclusão de que a criança em causa não sofria de hiperatividade mas sim de uma perturbação regulatória11, também conhecida como crises de ausência, estando o diagnóstico ainda em sigilo profissional.

Para atenuar os comportamentos mencionados anteriormente e por decisão do Agrupamento de Escolas em colaboração com o Hospital Pediátrico de Coimbra, esta criança passou a frequentar a Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra às quartas-feiras durante o período da manhã.

Documentos relacionados