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Sucedendo Camillo de Hollanda no governo, Solon de Lucena (1920-1924) sustentou o compasso de urbanização, graças ao dinamismo do prefeito Guedes Pereira. Sendo assim, a capital paraibana vivenciou um intenso e constante “progresso social”, o que inferiu em um processo de expansão, crescimento e modernização não apenas da cidade, como também da educação formal e escolarizada. (LIMA, 2010).

3.2 - O crescimento da demanda escolar e a expansão do ensino primário popular na Parahyba do Norte: o ensino noturno nos grupos escolares

Nos primeiros anos, logo após a implantação da República, para os novos dirigentes da nação, a difusão das luzes continuou sendo uma importante perspectiva e até mesmo indispensável para sustentar as ações exercidas pelo Estado em relação à instrução pública, pelo seu potencial organizativo e civilizatório (VILLELA, 1990). Nesse sentido, a necessidade de instruir o povo em benefício dos grupos dirigentes, foi que surgiram às primeiras tentativas de se disseminar a “educação popular” na Parahyba do Norte, assim como, no Brasil como um todo.

Com as transformações políticas ocorridas no país a elite de civil e militar assumiu o poder, porém, não era um grupo homogêneo: o governo que se instalou, provisoriamente, teve que enfrentar forças antagônicas que posteriormente encetaram muitas disputas. Em contrapartida, os diversos grupos sociais populares ficaram à margem das decisões políticas, devido à fragilidade organizativa que apresentavam naquele momento da história brasileira. O histórico republicano Aristides Lobo chegou a afirmar que o povo assistiu “bestializado” à proclamação da república. Aspecto analisado por Carvalho (1987) e que chegou a conclusão que de fato o povo se comportou como “bilontra”, isto é, com esperteza já que tinha consciência que estiveram excluídos de praticamente todo o movimento em prol da República. Monarquia ou República, tanto fazia! Afinal tudo continuava tal como dantes para os pobres e marginalizados.

Para Beisiegel (1998, p. 50), o popular estava associado à prática qualquer, isto é, comum, e esclarece que se tratava de:

[...] uma educação concebida pelas “elites intelectuais” com vistas à preparação da coletividade para a realização de certos fins. É nestas modalidades da “educação povo” que o processo educativo se explicita com maior clareza suas dimensões ideológicas e suas funções de controle social.

No entanto, não se pode negar que era recorrente um discurso em prol do popular, contudo sua prática se tornava mais efetiva ao atendimento das camadas mais abastadas da população, sem deixar que isso impedisse a construção do Estado Nacional, tão almejado pelos republicanos.

[...] o entendimento sobre a chamada “educação popular” esta condicionada diretamente a cada momento histórico [...]. O ensino público deveria deixar de ser privilégio de poucos, e estender-se a uma maior parcela da população, afinal estes deixaram para trás o sua condição de súditos do Rei, e se tornaram cidadãos da república. O popular nesse momento deveria deixar de ser entendido no sentido do estar voltado aos pobres e subalternos, para assumir a idéia de “para todos”. (LIMA, PINHEIRO, 2005, p.15).

Nesse sentido, “os discursos pelo popular estavam presentes nas mais variadas correntes políticas surgidas no Brasil e em diferentes instituições da sociedade civil” (LIMA, PINHEIRO, 2009, p.15) isso incluía necessariamente, a escola, que se tornava um veículo de disseminação das idéias geradas, principalmente, pelos gestores da recém criada república.

Entretanto, o que a historiografia nos indica, é que pouco se fez pela educação popular durante a Primeira República, visto que, muitas das iniciativas governamentais ficaram apenas no plano das idéias, no discurso, e não se concretizaram na forma de ações efetivas, como a aquisição de novos prédios ou mesmo a expansão do ensino propiciando o aumento da oferta de escolas. A falta de continuidade de investimentos na instrução pública foi, provavelmente, um dos fatores que mais contribuíram para dificultar a consolidação de uma estrutura educacional escolar socialmente eficiente, que atendesse às reais necessidades de maior número de grupos sociais. (PINHEIRO, 2002) Assim, o processo de escolarização das classes populares no Brasil e, particularmente, na Parahyba do Norte pode ser analisado a partir da perspectiva da

necessidade de expansão do ensino público, ou seja, pelo número elevado da demanda e pela oferta ainda precária de escolas/cadeiras isoladas criadas no início do período republicano. Provavelmente por isto, a reorganização do ensino primário na Parahyba do Norte tenha caminhado em marcha lenta se comparada aos demais estados vizinhos, pois, apesar da lei nº 313 de 18 de Outubro de 1909 que autorizou o governo a reformar o ensino público primário, devendo instituir grupos escolares nos municípios não se concretizou de imediato. Esse aspecto é mais evidente quando se trata da precária ampliação da oferta do ensino noturno.

É importante salientar que o percentual de analfabetos no Brasil, ano de 1900, segundo o Anuário Estatístico do Brasil, do Instituto Nacional de Estatística, era de cerca de 75%. Era preciso atender a essa camada da população que ainda não tinha acesso à educação formal para assegurar a consolidação do regime republicano.

Essa discussão era relevante no que se referia ao elevado índice de analfabetos e a consequente mão de obra desqualificada da época para atender as novas demandas apresentadas tanto pelo setor produtivo quanto para a administração pública. Assim sendo, intelectuais, professores e administradores públicos procuraram formular um projeto de educação popular o que resultou em um aumento da oferta para o ensino primário significando para as camadas populares maiores oportunidades de acesso à cultura e a instrução. Demonstra, também, a articulação de um projeto político social civilizador, direcionado para a construção da nação, a modernização do país e a moralização do povo. Nesse sentido, a educação formal a tudo isso poderia atender e resolver!

Na Parahyba do Norte, em 1916, o ensino noturno estava distribuído em seis escolas masculinas, além da que funcionou no quartel da Força Policial, criada pelo decreto n.º 784, de 12 de setembro no mesmo ano. Além dessas destinadas ao sexo masculino havia também a Escola Noturna Venâncio Néiva, destinada ao sexo feminino. Todavia, até aquele ano os grupos escolares ainda não estavam funcionando na Parahyba do Norte, uma vez que somente a partir do segundo semestre de 1916, foi inaugurado o primeiro grupo escolar paraibano – Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello, iniciando, assim, uma relação proveitosa, contudo, conflituosa, marcadamente, entre

professores/alunos vinculados aos grupos escolares com os professores/alunos do ensino noturno.

Como analisado nos itens anteriores deste capítulo, aos poucos mais grupos escolares foram fundados na capital paraibana, assim, em 1920, o ensino noturno na capital ampliou-se consideravelmente uma vez que passaram a funcionar, primordialmente, nos espaços ociosos dos grupos escolares, isto é, no turno noturno.

Assim, merece destaque à instalação do ensino noturno D. Adaucto, que recebeu esse nome em homenagem ao arcebispo da Parahyba do Norte, D. Adaucto Aurélio de Miranda Henriques, e que foi criada sob o decreto n.º 1.067, de 03 de julho de 1920, por ato do então presidente do Estado. Destinava-se ao sexo feminino e funcionou no Grupo Escolar Antonio Pessoa, que havia sido recém inaugurado.

De acordo com os dados estatísticos referentes às matrículas nas escolas públicas diurnas da capital, até o dia 28 de fevereiro de 1921, atingiam a 1.567 para ambos os sexos. Naquele mesmo ano a população do Estado da Parahyba do Norte ficava em torno de 40 mil habitantes, o que pressupõe a existência de oito mil alunos em idade para freqüentar escola. Verificamos, portanto um grande número de crianças que estavam fora da escola. Assim, podemos afirmar que, o governo Camillo de Hollanda criou um número considerável de escolas, cerca de noventa e cinco, (escolas isoladas que poderiam ser rudimentares ou elementares, além das escolas reunidas e os grupos escolares), sendo criadas tanto no interior do Estado, como na capital, dotando-as com edifícios mais ou menos apropriados, ou melhor, em sua maioria adaptados.

Frequentemente, encontramos na documentação consultada, a verbalização (discurso) dos dirigentes do poder público sobre a necessidade de expansão da instrução na Parahyba do Norte. De acordo com a mensagem do presidente do Estado, Camillo de Hollanda, em 1917, publicada no Jornal “A União” assim se expressou acerca do compromisso que o seu governo:

Difundir, ensinar, ministrar instrucção em todo o Estado, para que o coefficiente do analphabetismo diminua na proporção crescente dos outros melhoramentos públicos, constituiu na administração actual,

Cabia ao Estado criar via decreto, e comprar e prover os edifícios escolares, dotando-os de mobiliário adequado que era imprescindível para o conforto, higiene e melhor funcionamento desses estabelecimentos de ensino.

A localização dos edifícios escolares inferia diretamente na maior ou menor freqüência do alunado, ou seja, as escolas e, especificamente, os grupos escolares deveriam ser, prioritariamente, instalados em áreas que favorecessem o acesso da demanda escolar. Nesse sentido, estabeleceu-se uma relação quase que perfeita, entre o ensino noturno e os grupos escolares, visto que, seria menos dispendioso aos cofres públicos do Estado prover e manter o ensino noturno nesses estabelecimentos do ensino, isto é, nos grupos escolares, bem como, nas escolas e/ou cadeiras isoladas, ocupando, assim, tanto o espaço físico ocioso, quanto o seu mobiliário. Todavia, a relação de funcionamento do ensino noturno nos grupos escolares não foi tão tranqüila, ou seja, ela foi permeada por algumas tensões e conflitos, aspectos esses que discutiremos, mais detidamente, no próximo capítulo deste trabalho.

3.3- Reforma Camillo de Hollanda de 1917 e as escolas noturnas

Desde 1889, quando foi implantado o regime republicano, houve várias reformas educacionais, com o objetivo de melhorar e reestruturar o ensino público primário e secundário do Brasil. Na Parahyba do Norte, mais particularmente, a primeira grande reforma do ensino primário, no novo regime político, só viria a se instituir no ano de 1917, na administração Camillo de Hollanda.

O regulamento que o então presidente do Estado, Camillo de Hollanda baixou com o Decreto nº873 de 21 de Dezembro de 1917, foi elaborado por uma comissão composta de renomados intelectuais paraibanos, tais como: os Srs. Coronel Francisco Moura, diretor da Instrução Publica; monsenhor Odilon Coutinho, diretor do Lyceu Parahybano; Dr. Manuel Tavares, lente da Escola Normal e do Lyceu Parahybano; Celso Affonso Pereira, inspetor do Ensino Noturno; professores Sizenando Costa e José Coelho; e João Alcides Bezerra, Inspetor Geral do Ensino e contempla 309

artigos, ordenados em 16 capítulos intitulados: Do curso primário; Do ensino particular; Da classificação das escolas; Do provimento das escolas; Do pessoal docente, dos seus direitos e deveres, vencimentos, faltas e licenças; Da matricula das aulas e exames; Do código disciplinar; Do material da escrituração escolar; Das escolas complementares; Dos jardins de infância; Do ensino noturno; Da direção e inspeção do ensino; Das caixas escolares e do fundo escolar; Da secretaria de instrução pública; Da estatística escolar e Disposições Gerais.

A reforma implicou, entre outras medidas e que foram sacramentadas em forma de lei, como já mencionado, na implementação de um novo modelo de organização escolar – os grupos escolares. Bem como priorizou uma outra modalidade de ensino, qual seja: o ensino noturno.

Nesse sentido, o capítulo XI do texto da Reforma Camillo de Hollanda,de 1917, foi destinado ao ensino noturno, ficando a finalidade dessa modalidade de ensino primário, assim discriminada:

Art. 200 – O ensino nocturno tem por fim ministrar os conhecimentos mais necessários á vida pratica, tendo sempre caracter utilitário.

§ Único – As disciplinas são as mesmas do ensino diurno, com as delimitações constantes do Regime Interno.

Além de compartilhar do mesmo conteúdo de ensino (disciplinas), como o que estava prescrito para as cadeiras diurnas, as ditas noturnas deveriam obedecer à separação dos alunos por sexo, conforme discriminava o Art. 202. Entretanto, a referida Reforma, não permitia a criação de escolas mistas, isto é, para ambos os sexos. Todavia, isso não ocorreu uma vez que foram criadas duas cadeiras de ensino misto, uma em 1926 e a outra em 1928.

Quanto à alocação física onde deveria funcionar o ensino noturno, estas segundo o art. 202, deveriam ser implantadas nas sedes das escolas onde também tinham o ensino diurno, salvo, porém o § Único desse mesmo artigo, no qual deixou clara a possibilidade de remoção dessa modalidade de ensino, isto é, o ensino noturno, para outras dependências sempre achasse mais conveniente o Diretor do ensino noturno.

Assim sendo, fica-nos evidente que o funcionamento do ensino noturno mesmo que designadas pelo presidente do Estado a funcionar nas dependências nas escolas

onde ocorriam o ensino diurno, não possuíam um caráter permanente, podendo eventualmente, as mesmas serem suprimidas ou mesmo transferidas para outras sedes. Provavelmente, as transferências ocorriam por motivos de conveniência de acomodação do espaço mediante aumento da demanda de uma ou outra cadeira noturna. É claro que, estas poderiam vir a ocorrer, possivelmente, também, por inconveniências de ordem higiênica ou moral, uma vez que, funcionavam em espaços, cujo público diurno era bem diferente do noturno. Além disso, nem sempre os professores que ensinavam no ensino noturno eram os mesmos que trabalhavam diuturnamente, o que poderia gerar atritos entre os mesmos. Do ponto de vista da legislação que regulamentava o ensino noturno, havia uma orientação para que as mesmas fossem assumidas por professores que ensinavam no turno diurno, conforme encontrava-se recomendado no Art. 203 da referida Reforma, vejamos:

Art. 203 – Os professores das escolas nocturnas serão providos independente de concurso, podendo a nomeação rechair em professores de escolas diurnas.

§ Único – Na falta de normalistas diplomados, poderão ser nomeados professores das escolas nocturnas pessoas idôneas de reconhecida prática no magistério.

Conforme esteve prescrito no § Único do Art. 203, seria admitida a contratação de professores leigos para ministrar as aulas noturnas, o que era terminantemente proibido nas escolas primárias diurnas de 1ª categoria da Capital, ou seja, nos grupos escolares. Entretanto, de acordo com a legislação nacional, que tinha como modelo o Estado de São Paulo, era exigido para o ensino noturno, os professores mais habilidosos e preparados. Na referida unidade da federação ocorria a diminuição da carga horária dos professores, em relação àqueles que trabalhavam no ensino diurno, sendo mantido, todavia, o mesmo programa de ensino para as escolas que funcionavam nos dois turnos, isto é, o diurno e o noturno. Entretanto, nem sempre o que a lei do ensino assegurava para as escolas diurnas era conferido para as noturnas, o que provavelmente afetou a qualidade do ensino pela não exigência de uma qualificação profissional no exercício do magistério nesta modalidade de ensino.

Além de permitir a contratação de professores leigos, o Estado assegurava-lhes a sua permanência, sem que se exigisse em nenhum momento a posterior qualificação, conforme podemos observar o artigo 205 que garantia que seriam “conservados os actuaes professores e adjunctos nocturnos ainda não diplomados”. Assim sendo, na Parahyba do Norte, as fontes que encontramos nos dão conta que poucos professores noturnos eram formados, ou seja, eram normalistas formadas. Todavia, havia aqueles/as que ainda eram estudantes, isto é, freqüentadores/as da Escola Normal, ou ainda, na pior das hipóteses, eram leigos/as sem nenhuma formação pedagógica formal.

Seguramente, é possível afirmar que partilhavam tanto os professores diurnos quanto os noturnos, conforme o art. 206, das mesmas penalidades e deveres. Entretanto, não se pode assegurar a mesma paridade no que se refere aos vencimentos destes profissionais.

No interior do Estado paraibano o ensino noturno deveria ser organizado de acordo com as bases que foram propostas pelo professor Eduardo de Medeiros, no período em que o mesmo fora inspetor do ensino noturno. Para tanto, o ensino seguiria as seguintes recomendações:

 Seria criada escola noturna quando a matrícula atingisse 20 alunos com frequencia mínima de 10. E suprimida, caso a freqüência fosse inferior a 10 alunos.

 As escolas noturnas, após criadas, estariam sujeitas à fiscalização de seus professores, com as mesmas penalidades a que estariam sujeitos os professores diurnos.

 A escola noturna que, depois de criada ou instalada, durante três

meses seguidos, deveria conservar a frequencia média superior a 10 alunos, sendo passível de extinção, no não cumprimento desta norma.

 Na mesma localidade, não poderiam ser instaladas mais de duas

escolas noturnas, apenas salvaguardando o caso de destinar-se uma para cada sexo.

 As atividades das escolas deveriam ser vistoriadas pelo diretor geral da Instrução Pública. (Jornal A União, 1920)

A partir dessas recomendações mais gerais acerca do funcionamento do ensino noturno passaremos a discutir alguns aspectos relacionados aos conteúdos que muito possivelmente foram ensinados nessa modalidade de ensino, uma vez que passaremos a discutir as questões de ordem higienista e sobre alguns livros didáticos que, provavelmente, foram lidos e estudados por uma clientela formada, predominantemente, de adultos, jovens e de crianças trabalhadores.

CAPÍTULO IV

O ENSINO NOTURNO NA PARAHYBA DO NORTE: Organização, higienismo e civismo

Um aspecto que consideramos de vital importância para a construção da história do ensino noturno refere-se à sua organização e das questões que se processaram em seu cotidiano. Nesse sentido, aqui formulamos alguns questões que procuraremos responder durante o desenvolvimento deste capítulo: Como se davam as relações entre o ensino diurno e noturno nos grupos escolares? Como eram direcionadas as discussões sobre os aspectos relacionados ao higienismo? Quem eram os professores que ensinavam no turno noturno? Em que medida os livros didáticos, possivelmente utilizados pelos professores, contribuíram para o processo de construção da cidadania republicana, considerando os aspectos relacionados à moral, ao civismo e ao processo de civilizar? Os conteúdos repassados aos alunos do ensino noturno eram os mesmos trabalhados no ensino diurno? Seguiam os mesmos programas de ensino? Os livros utilizados eram os mesmos?

Iniciaremos, todavia, a nossa discussão pelos aspectos relacionados que envolveram o modo como se organizou essa modalidade de ensino.

4.1- Organização e funcionamento das escolas noturnas nos grupos escolares

As escolas noturnas sempre nos chamaram a atenção, não apenas pelo seu papel de alfabetizar os segmentos populares da sociedade, também não somente pela sempre crescente disseminação desta modalidade de ensino que se destinava às primeiras letras aos adultos e à infância que trabalhava, mas, sobretudo, pelo movimento de suas atividades. Em uma época em que a educação era tão enfatizada pelos intelectuais e administradores públicos, as crianças deveriam ser moldadas a serem bons trabalhadores e cidadãos republicanos. Nesse sentido, a experiência do ensino noturno, apesar de remontar ao período imperial, conforme já comentado no

primeiro capítulo deste estudo, foi a partir dos primeiros anos do século XX (República) que essa modalidade de ensino ganhou uma outra dimensão social, isto é, tanto do ponto de vista da escolarização propriamente dita, quanto do ponto de vista cultural no seu sentido mais abrangente. Esse tipo de desenvolvimento de atividade escolar não era apenas alfabetizante, mas fez parte de um projeto nacional que objetivou tentar sanar os “erros” cometidos no passado, uma vez que o Brasil e, especialmente, a Parahyba do Norte apresentavam baixos índices de escolaridade.

Além desse aspecto um outro que nos chamou bastante atenção, foi a orientação dada pelos administradores públicos paraibanos em encaminhar para o ensino noturno todos aqueles pobres (crianças e adultos) que não tinham roupas e calçados ou condições adequadas para frequentarem as escolas diurnas o que nos revela de forma indireta que os grupos escolares eram destinados aos segmentos sociais de maior poder aquisitivo, ou seja, destinados às classes médias urbanas ou a uma parcela elite social e econômica residentes nos maiores centros urbanos, tais como: Campina Grande, Guarabira, Areia e, especialmente, a capital paraibana.

Todavia, em muitos aspectos, o ensino noturno se espelhava no diurno, como por exemplo, em relação a estrutura programática de ensino. Mas sem dúvida, o ensino noturno necessitou e possivelmente seguiu regras específicas, que atenderam às peculiaridades daqueles que as freqüentaram.

Como já mencionado anteriormente, o ensino noturno necessitou de professores altamente qualificados, uma vez que deveriam lecionar em um curto espaço de tempo, o mesmo conteúdo que era desenvolvido nas escolas diurnas, assim, o professor deveria deter a arte e maestria para condensar nas suas aulas minimamente os aspectos, considerados relevantes do conteúdo, tornando-as proveitosas para o aluno

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