• Nenhum resultado encontrado

Em geral, os grupos eram instalados no centro urbano da cidade ou em bairros aonde residiam à elite paraibana. Encontrava-se no centro comercial o Grupo Escolar Dr. Thomás Mindello, situado na Avenida Guedes Pereira e o Grupo Escolar Cel. Antonio Pessôa, à Rua Beaurepaire Rohan.

Nos antigos bairros nobres da capital estavam o Grupo Escolar Dr. Epitácio Pessôa, no Tambiá, Grupo Escolar Isabel Maria das Neves, na Avenida João Machado e o Grupo Escolar D. Pedro II, localizado na rua das Trincheiras.

No interior havia o Grupo Escolar de Campina Grande constituindo-se o primeiro da cidade; o Grupo Escolar Cel. Antonio Pessôa em Umbuzeiro; o Grupo Escolar Padre Ibiapina em Itabaiana e em Cajazeiras o Grupo Escolar Padre Rolim.

A arquitetura desses estabelecimentos de ensino era desenvolvida para ser um espaço seguro, controlador, disciplinador e educativo.

Ao estruturar ou modificar a relação entre o interno e o externo ao meio escolar – as fronteiras, o que fica dentro e o que fica fora –, ou seu espaço interno –, ao abrir ou fechar, ao dispor de uma maneira ou outra as separações e os limites, as relações e comunicações, as pessoas e os objetos, estamos modificando a natureza do lugar. Estamos mudando não somente os limites, as pessoas ou os objetos, mas também o mesmo lugar”. (VINÃO FRAGO, 1984, p.71).

A organização disciplinar proposta pelos grupos escolares, dividia as salas de aula por séries, faixa etária e por sexo, uma vez que existiam seções masculinas e femininas dentro do prédio.

Assim, no início do século XX a escola configurava-se como um lugar de referência para as cidades, sendo percebidas como “modelos”. Como enfatiza SOUZA (1998, p. 123) “[...] o edifício escolar torna-se portador de uma identificação arquitetônica que o diferenciava dos demais edifícios públicos e civis ao mesmo tempo em que o identificava como um espaço próprio – lugar específico para as atividades de ensino e do trabalho docente. [...] O espaço escolar passa a exercer uma ação educativa dentro e fora dos seus contornos.

Essa nova modalidade institucional de ensino primário, o Grupo Escolar era, naquele momento, uma instituição em construção, deixava as casas e as igrejas para ocupar um espaço próprio. Estava tornando-se pública, no duplo sentido da palavra:

deixava de ser coisa do mundo do privado (da casa e, portanto, da intimidade familiar), e, também, tornava-se conhecida, reconhecida. Daí, FARIA FILHO (1998, p.98) afirmar que:

Assim, como a cidade, o grupo escolar se impõe como cenário e cena, é estrutura e linguagem de uma cultura escolar que se quer afastada da "casa" e separada da "rua". Uma das preocupações que observamos nas diretoras, nos inspetores e nas professoras, principalmente quando da reunião de escolas isoladas num espaço "adaptado", era a dificuldade muitas vezes encontrada de se evitar que os(as) alunos(as) ficassem "soltos(as)" à porta da escola e, ao mesmo tempo, de se impedir que pessoas estranhas à escola a ela adentrassem abruptamente. Junto a esta preocupação vinha, quase sempre, a cobrança para que se construísse o muro separando a escola da rua. Este, além de servir como proteção, serviria como impedimento à livre circulação dos(as) alunos(as). O muro configuraria, simbólica e materialmente, a delimitação de uma espaço próprio, apartado da rua e que se auto-institui como significativo, ao mesmo tempo em que produz aquela como lugar maléfico às crianças.

A construção da escola e de sua cultura estava intimamente ligada à constituição física e simbólica da cidade e da reformulação propugnada pela República. O processo de escolarização de saberes ou de conhecimentos na escola pública era integrado à inserção da escola no mundo urbano e à contribuição que dela se esperava na transformação de seus habitantes, notadamente das famílias pobres. Com base nas informações coletadas, os grupos escolares, ocasionaram diversas transformações na instrução pública primária do Estado da Paraíba, influenciando assim outras modalidades de ensino como foi o caso do ensino noturno, que devido à implantação daqueles, cresceu significativamente. Além das atividades pedagógicas, os grupos tornaram-se um espaço privilegiado para o desenvolvimento de outras atividades culturais e educacionais como o escoteirismo e o ensino profissional.

Várias foram às contribuições e modificações ocasionadas pelos grupos. A preocupação com a higiene, que era um dos fatores de maior cuidado por parte dos dirigentes educacionais, principalmente quando neles abrigavam escolas noturnas, este fato, exigia um maior controle por parte dos líderes educacionais e políticos pois estava

ligado ao risco de contágio de doenças que poderia ocorrer de adultos para as crianças de moléstias em geral, mas particularmente as venéreas.

Problemas, no entanto, surgiram e persistiram após a imediata implantação dos grupos escolares, mas que, certamente, não impediram que estes mudassem a face do ensino primário ministrado na Parahyba do Norte.

CAPÍTULO III

CIDADES NA PARAHYBA DO NORTE E A REFORMA CAMILO DE HOLLANDA: primeiras iniciativas para a regulamentação do

ensino noturno

Com as mudanças políticas e sociais ocorridas no país, a partir da implantação do regime republicano, processou-se a necessidade de expandir, conforme analisamos no capítulo anterior, a oferta de vagas na educação formal paraibana, principalmente, após o surgimento dos grupos escolares, que fizeram com que se alterasse parte da organização escolar.

A escola primária, ainda com o modelo organizacional das cadeiras isoladas sofreu, também, transformações, principalmente do ponto de vista da adoção de novos conteúdos e tentativas de se introduzir novos procedimentos de ensino. Desta forma, o passado deveria ser questionado para dar lugar a tudo aquilo que se afigurasse como moderno e modernizante.Tudo que era sinônimo de atraso para os republicanos deveria sofrer mudanças e, principalmente, a escola e a cidade deveriam se preparar para e ao mesmo tempo tornarem-se palco para outras transformações. Para tanto, a cidade deveria passar por um intenso processo de modernização a partir de sua reestruturação urbana. A organização escolar deveria sofrer reformas profundas e significativas tanto para atender uma maior demanda social, quanto para melhorar o seu desempenho e qualidade.

No processo de modernização das cidades brasileiras como um todo, o Estado exerceu um papel determinante. Influenciados por idéias higienistas, republicanos, de progresso e de novo ordenamento social, seus representantes impuseram grandes intervenções sobre o espaço urbano nas principais cidades brasileiras. Acredita-se que a elite política, intelectual e econômica que representou o Estado, no caso da Parahyba do Norte era composta por um grupo restrito, tradicionalista e de base agrária (GUEDES, 2006). Nesse sentido, as iniciativas de urbanização vieram para atender a essa nova ordem política e social.

Concomitantemente, um novo ideal de cidadão é pensado e surge, principalmente, para contribuir com a superação do “atraso”. A cidade passou a se constituir o principal cenário para formar o cidadão citadino e foi aí que entrou o relevante papel da escola nessa empreitada. Vale ainda ressaltar que o processo de urbanização caracterizou-se naquele contexto histórico, como um fator de nacionalização, ou melhor falando, de constituição de um “espírito nacional” republicano. Nesse sentido, a escola, também passou por esse processo, objetivando acolher essa nova demanda que o novo regime político impunha. Era necessário, para atender a necessidade básica de existência do novo regime, incorporar a grande massa da população no sistema formal de eleitores e cidadãos republicanos.

A escola que antes, se confundia com a casa do professor, ou qualquer prédio alugado ou comprado pelo governo para alocar as cadeiras isoladas e as escolas noturnas, sem nenhum pré-requisito de ordem pedagógica a se considerar, agora passaria a ter uma identidade própria, tanto em seu aspecto estrutural, que apresentou nas suas duas primeiras décadas de existência uma majestosa arquitetura, além dos aspectos organizacionais, com regras e regimentos próprios e pedagogicamente modernos. Os grupos escolares assim se caracterizavam, com o que havia de mais moderno e consequentemente, essa nova etapa da educação brasileira atingiu também o ensino noturno, que se remodelou aos preceitos republicanos.

Assim, consideramos que, dentre muitos fatores que proporcionaram o processo de urbanização na Parahyba Parahyba do Norte, a criação de novas escolas e nesse caso me refiro à criação dos grupos escolares, confirmou o momento de construção de uma modernidade republicana no Brasil, na qual, a concepção de escola graduada esteve articulada a modernização da cidade.

3.1- Urbanização e grupo escolar: Campina Grande, Princesa e a cidade da Parahyba.

A historiografia relacionada aos diversos processos e modernização e urbanização ocorridas no Estado da Parahyba do Norte já é relevante, entretanto as sua análises convergem, principalmente, para os maiores centros urbanos paraibanos, tais como: Campina Grande, Guarabira e Princesa e, especialmente, a cidade da Parahyba, capital do Estado. Assim, foram as cidades que mais sofreram transformações com a aceleração de construções de prédios públicos modernos, ordenamento e alargamento de ruas, energia elétrica, sistema de galerias para o escoamento de águas pluviais e também com a construção de grupos escolares.

Entre os estudos relativos ao processo de urbanização da cidade de Campina Grande aqui destacamos os de Gurjão (2000), Agra (2006), e Sousa (2006). Todavia, mais especificamente sobre a relação cidade e escola, sobressaem-se os estudos de Agra do Ó (2006)6 e o de Silva (2009).

Segundo Silva (2009) a implantação do Grupo Escolar Solon de Lucena, em 1924, acompanhou a “instalação de diversos equipamentos urbanos e instituições [que] foram dando um caráter moderno à Campina Grande.” (p. 61). Acrescenta ainda que o referido grupo escolar, o primeiro de Campina Grande, foi implantado na principal rua da cidade e que o seu processo de urbanização

demandou uma instituição de ensino primário adequada ao seu desenvolvimento sócio-econômico, já que, (...) essa cidade já era considerada pólo comercial no agreste paraibano e apresentava no período cerca de 9.000 habitantes e a reivindicação da elite local por uma Campina grande civilizada, urbana e moderna. (p.114)

Documentos relacionados