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É importante ressaltar também, que essa cadeira de ensino noturno a partir da publicação da nova lei que foi publicada, em 1931, regulamentando o ensino noturno, transformou-a em cadeira de regime especial podendo somente ser ministrada por professores do sexo masculino.

A partir dos dados por nós coletados, podemos constatar que no ano de 1925 ocorreu um aumento significativo de cadeiras de ensino noturno, uma vez que foram criadas mais oito para o sexo feminino e doze para o sexo masculino, totalizando vinte novas cadeiras de ensino noturno.

No ano seguinte, isto é, em 1926, foram criadas mais duas para o sexo masculino e duas para o sexo feminino, além de uma noturna mista. A escola noturna mista foi denominada Aragão Sobrinha, situada à Rua Barão da Passagem. É importante aqui destacarmos que as cadeiras mistas noturnas não eram recomendadas, tanto pelos gestores públicos quanto pelos os pais dos alunos, e principalmente das alunas. A Reforma de Camillo de Hollanda, no Capítulo XI, referente ao ensino noturno afirmava, em seu artigo 201, que não deveriam ser admitidas cadeiras mistas.

Todavia, compreendemos que com o transcorrer dos anos a referida reforma foi sofrendo algumas mudanças e adaptações, seguindo, muito possivelmente, as novas

demandas apresentadas por uma sociedade que se encontrava em pleno processo de transformações econômicas, sociais, políticas e culturais. É digno, no entanto, de registro a não criação de uma outra cadeira noturna mista até 1931, ano limite de nossa pesquisa. No quadro abaixo podemos observar a relação de escolas noturnas que existiram na capital paraibana. Vejamos:

QUADRO II

RELAÇÃO DAS ESCOLAS NOTURNAS EXISTENTES NA CAPITAL, POR DENOMINAÇÃO E LOCALIZAÇÃO EM 1926.

Nome da Escola Noturna Localização

sexo masculino

 Coronel Antonio Pessôa

 Venâncio Neiva

 Cinco de Agosto

 Arthur Aquilles

 Padre Antonio Pereira

 Xavier Júnior

 Barão do Abiahy

 Escola dos Capinadores

 Escola da Paróquia de Lourdes

sexo feminino

 Maria Quitéria de Jesus

 João Tavares

 Padre Meira

 Padre Rolim

 Ignacio Leopoldo

 Escola da Paróquia de Lourdes

Mista

 Aragão Sobrinha

 Rua São Miguel

 Rua Ruy Barbosa

 Avenida D. Adaucto

 Avenida Cruz das Armas

 Avenida Cadeia

 Avenida Cruz do Peixe

 Rua Treze de Maio

 Rua do Tambiá

 Avenida João Machado

 Avenida Almeida Barreto

 Rua Duque de Caxias

 Rua Martins Leitão

 Avenida João Machado

 Rua Diogo Velho

 Avenida João Machado

sexo feminino

 D. Adaucto

 Dr. Manuel Tavares

 Sargento-mór Mello Muniz

 Fructuoso Barbosa

sexo masculino

 Dr. Castro Pinto

 Prof. Joaquim Silva

 Cardoso Vieira

 Arruda Camara

 Dr. Gama e Mello

 Cel. Antonio Pessôa

 Dr. Thomas Mindello

 Dr. Epitacio Pessoa

 Isabel Maria das Neves

 Dr.Thomás Mindello

 Cel. Antonio Pessôa

 Dr. Epitácio Pessôa

 Isabel Maria das Neves

 Pedro II

Fonte: Dados retirados de edital publicado no Jornal A União do dia 7/5/1926.

Dentre os catorze grupos escolares existentes na Parahyba do Norte, cerca de cinco cediam suas instalações para o ensino noturno e algumas dessas cadeiras noturnas foram fundadas por iniciativa de diretores de grupos escolares, como foi o caso do professor Mario Gomes de Souza, diretor do Grupo Escolar Solon de Lucena, localizado na cidade de Campina Grande, que pediu permissão para instalar uma a noturna destinada aos empregados do comércio. Em contrapartida, ficava a cargo dos diretores escolares:

 responsabilizar-se (o referido professor) pelo zelo e conservação do mobiliário escolar;

 Manter a instalação e manutenção da luz por sua conta;

 Não permitir que os alunos das cadeiras noturnas utilizassem os aparelhos sanitários existentes no estabelecimento;

 Não obrigar a nenhum funcionário do grupo a prestar quaisquer serviços ao curso noturno. (Jornal A União, 1929)

As cadeiras noturnas fundadas nas cidades do interior, deveriam, inicialmente, seguir a normatização, abaixo apresentada, de acordo com a exposição do Diretor Geral da Instrução Pública, em 1921. É importante, também, aqui apontamos os embates que se estabeleceram em torno do funcionamento do ensino noturno no interior dos grupos escolares, no que concerne, mais particularmente, acerca das questões morais e materiais. Acompanhemos as seguintes reflexões tecidas pelo professor Eduardo de Medeiros:

O ENSINO NOCTURNO

Deve merecer particular attenção de v. exc. a disseminação do ensino nocturno entre todo o Estado.

O problema do ensino nocturno é complexo e deve ter duas soluções diversas, conforme se tratar da capital ou do interior.

Na capital há grande incoveniente no funccionamento das escolas nocturnas na séde das escolas diurnas. No interior já não acontece o mesmo. Parte das inconveniencias podem ser evitadas. E’ que no interior o professor nocturno é o mesmo professor diurno, ao passo que na Capital, ás vezes não o é.

As inconveniencias que há no aproveitamento dos predios das escolas diurnas para noctunas são de duas especies: de disciplina e de hygiene. Quando do mesmo predio funcionam escolas diurnas e nocturnas nunca se apura a auctoriedade das irregulariedades que apparecem. O professor diurno lança a culpa aos alumnos nocturnos; para salvaguardar o seu amôr proprio o professor nocturno, por sua vez, imputa aos alumnos diurnos o malfeito.

Não raro os alumnos nocturnos deixam nas carteiras bilhetes amorosos e até escriptos e figuras pornograficas.

O mobiliario das escolas diurnas, feito para meninos, se estraga muito servindo a adultos recratados nas mais baixas camadas sociaes.(PARAHYBA, Estado da. Exposição de 1921)

Para amenizar essas divergências e em busca de soluções para as questões relativas à higiene, preocupação essa que sempre esteve presente no âmbito do funcionamento dos grupos escolares, principalmente, quando estes abrigavam o ensino noturno, foram realizadas conferências pelo prof. Flávio Maroja, higienista renomado na capital paraibana. Ao realizar as suas preleções tinha como principal finalidade “conscientizar” a população, principalmente as classes populares, para a importância dos atos de higiene e alertar ao mesmo tempo para o perigo das epidemias e moléstias contagiosas, aspectos esses que melhor trabalharemos no item a seguir.

4.2 - O Ensino Noturno e algumas questões pedagógicas: o higienismo e o civismo nos livros didáticos

Dentre todos os aspectos relacionados ao ensino noturno até aqui destacados neste trabalho, vale ressaltar que esta modalidade de ensino foi também alvo de críticas e tensões, principalmente, no que concerne ao aproveitamento dos prédios escolares, especialmente os grupos escolares para o funcionamento do ensino noturno, conforme verificamos acima a partir das recomendações que Alcides Bezerra fez ao Solon de Lucena, presidente do Estado, em 1921.

Uma dessas questões, como vimos, relacionou-se a higiene escolar. A Secretária de Higiene Pública do Estado determinava periódicas inspeções médicos- escolares nos estabelecimentos escolares, principalmente quando neles funcionavam o ensino noturno, ou seja, o ensino destinado, prioritariamente, aos adultos. Todavia, essas ações se encontravam inseridas numa discussão mais ampliada, ou seja, no Brasil, diversos foram os desafios enfrentados devido ao crescimento urbano, uma vez que as cidades já eram circundadas por mocambos, e grandes áreas não saneadas o que possibilitava a disseminação de doenças epidêmicas tais como a malária e o impaludismo9. Sobre as doenças epidêmicas, Agra (2006, p. 81) destaca que

Durante a irrupção de uma epidemia de impaludismo no interior do Estado, em 1921, chegou à capital da Parahyba a Comissão de Saneamento e Prophylaxia Rural, representantes do governo federal, que logo firmaram contato com o presidente do Estado, começando seus trabalhos ainda àquele ano. Dentre estes trabalhos incluíam-se a drenagem dos pântanos da capital e o saneamento do rio Jaquaribe.

Entretanto, segundo o referido autor a “Comissão de Prophylaxia Rural, (...) pouco menos de uma década que esteve na Parahyba, não conseguiu erradicar o

9

Segundo Houaiss (2000) trata-se de doença aguda ou crônica causada pela presença de parasitos. É transmitida de pessoa infectada a pessoa não infectada pela picada de mosquitos. Caracteriza-se por acessos periódicos de calafrios e febre que coincidem com a destruição maciça de hemácias e com a descarga de substâncias tóxicas na corrente sangüínea ao fim de cada ciclo reprodutivo do parasito; febre palustre, maleita-brava, malária.

impaludismo, devido (...) à desorganização do serviço mantido com verbas federais.” (p.82)

Entretanto, em 1923, foi inaugurado em Campina Grande um Posto de Profilaxia Rural e Doenças Venéreas, sob a direção de Dr. José Arlindo Correia, no Grêmio de Instrução (atual Colégio Alfredo Dantas). (AGRA, 2006). Nesse sentido, articuladamente, foram desenvolvidos vários trabalhos de educação/informação na rede de ensino público e particular. Segundo Rocha (2003, p. 53), a partir, principalmente, da década de 1920, ocorreu uma mudanças de “enfoque marcadamente policialesco para uma atuação calcada, prioritariamente, na formação da consciência sanitária da população, sem deixar de lado, entretanto, as práticas de inspeção sanitária vigentes.”

Seguindo a Reforma Camillo de Hollanda,de 1917, os grupos escolares deviam passar por inspeções sanitárias, para assegurar a higiene dos prédios e dos alunos. Estas inspeções tinham por finalidade:

a) a vigilância hygienica das escolas e do seu material, principalmente sob o ponto de vista orthopedico;

b) a inspecção medica dos alumnos e do pessoal;

c) a prophylaxia das moléstias transmissáiveis e evitáveis; d) instruir os preceitos elementares de hygiene aos alumnos, e) a direcção e fiscalização da educação physica nas escolas.

Na educação, várias reformas foram feitas no âmbito federal e estadual em favor da saúde. Entre elas destacamos a criação do Departamento Nacional da Educação e Saúde Pública que mais tarde deu origem ao Ministério da Educação e da Saúde. A participação do referido órgão nacional articuladamente com as reformas educacionais10 ocorridas já na década de 1910 conduzidas por importantes intelectuais, tais como: Sampaio Dória, Anísio Teixeira, Francisco Campos e Fernando de Azevedo, possibilitaram alguns investimentos tanto no âmbito urbanístico como escolar no que concernia a higiene e conseqüente melhoria da saúde pública.

No caso específico da Parahyba do Norte, a preocupação com a higiene era de tal relevância que a Secretaria de Higiene Pública do Estado determinou inspeções médicas (inspetores de saúde) nos colégios e demais instituições de ensino da cidade

para verificar a existência de moléstias nas crianças, entre elas, às da visão. Elas deveriam, também, ser submetidas à vacinações periódicas.

Associada a essa ação mais voltada o universo escolar, ocorreram também às visitas dos médicos escolares nas casas dos alunos que adoeciam e que não tinham condições de prover seu próprio tratamento, os medicamentos eram comprados e enviados, gratuitamente pelo Estado ou através das Caixas Escolares, conforme já apontamos anteriormente neste trabalho.

As doenças mais combatidas eram a sífilis, o “poludismo”11, as verminoses e outras enfermidades que atacavam tanto a população rural quanto a urbana. Para combater o mal, o Dr. Guedes Pereira12, incumbiu ao Dr. Flávio Maroja para promover campanhas de divulgação preventivas e profiláticas, iniciando assim um serviço intensivo e sistemático de combate as doenças acima mencionadas.

Não saindo à regra nacional, as inconveniências geradas no curso noturno não estavam relacionadas apenas ao caráter material e higiênico de seus alunos e sua estrtutura física. A preocupação com essa parcela da população também foi direcionada aos aspectos pedagógicos, propriamente ditos, uma vez que não raramente os alunos não obtinham o desempenho esperado em suas atividades escolares, pois o curto tempo das aulas impossibilitava-os no aprofundamento dos conteúdos, o que repercutia nos resultados dos exames que eram aplicados. Segundo alguns intelectuais que escreviam nos periódicos paraibanos:

Os professores vão como entendem á sua vontade, dando maior ou menor extensão ás disciplinas; mas obrigados como estão a apresentar alumnos a exame ficam, por vezes, decepcionados em ver se exigir conhecimentos superiores ao que foi explicado no limitadissimo anno lectivo. (...) Para obrar este mal ensina a materia toda atabalhoadamente, sem tempo para as necessarias repetições e o resultado é ficarem os alumnos mal preparados, sem compensação para o esforço do mestre. Estes coitados, alem dos improperios que vão da sua honorabilidade de funccionarios até os ataques á integridade de sua

11 Esse termo nos chamou a atenção, uma vez que, segundo Houaiss (2000) significa ejaculação involuntária. Nesse sentido, é possível que esse ato involuntário próprio do processo de amadurecimento sexual masculino fosse, naquele momento, considerado como um desvio moral que precisaria ser cuidado, controlado e combatido.

12Segundo Agra (2006, p. 81) “em 1928, a União renovou o contrato com o Estado por mais três anos, a Comissão de Prophylaxia Rural ficou no comando do médico higienista Walfredo Guedes Pereira, que havia sido no início da década prefeito da capital da Parahyba.”

honra de cidadão e de paes de familia, vêm-se na dura contigencia de apresentar no fim do anno uma cavilosa explicação á auctoridade escolar, se não quizerem se submetter com seus alumnos as exigências de um exame sem utilidade pratica. (Jornal O Educador, 17 de janeiro de 1922)

A exigência mínima para esses alunos era que ao final do curso, soubessem ler e contar como também possuir conhecimentos mais amplos de desenho e geometria. Era o que se exigia similarmente nos cursos de artes e ofícios. As aulas deveriam ter entre 2 horas e meia a 3 horas, mas não eram cumpridas com afinco, pois os alunos muitas vezes, se ausentavam das aulas por estarem cansados depois do trabalho. De acordo com as orientações indicadas pelos Presidentes de Estado, as aulas estariam distribuídas em ½ hora para escrita, ½ para leitura, ½ para preleção sobre as disciplinas e ½ para correção de escrita e contas, com ½ hora para descanso e/ou recreação. (PARAHYBA, Estado da, Mensagem 1922)

Assim, considerando essa distribuição do tempo para o desenvolvimento de algumas atividades educativas e/ou escolares no âmbito dos processos de aprendizagem, nos deteremos aqui em discutir acerca de um dos principais instrumentos de trabalho do professor – o livro didático.

Consideramos importante, inicialmente, destacar a importância do livro didático como fonte, uma que a partir deles, podemos inferir varias questões relacionadas ao universo escolar e sobre as suas representações políticas, sociais e culturais. Nesse sentido, Chartier (1997, p. 7) nos chama a atenção que

O livro procura sempre instaurar uma ordem, quer seja a ordem de sua decifração, a ordem segundo a qual deve ser entendido, ou a ordem determinada pela autoridade que o encomendou ou que o autorizou. Mais particularmente sobre os livros didáticos, Ferro (1983, p.11) tece observações, que consideramos imprescindíveis. Assim, entendemos o quão é importante discutirmos sobre os livros didáticos que foram adotados, ou melhor, utilizados por professores e alunos em uma determinada sala de aula ou curso. Para o referido autor não podemos nos enganar que:

a imagem que fazemos de outros povos, e de nós mesmos, está associada à História que nos ensinaram quando éramos crianças. Ela nos marca para o resto da vida. Sobre essa representação, que é para cada um de nós uma descoberta do mundo e do passado das sociedades, enxertam-se depois opiniões, idéias fugazes ou duradouras, como um amor... mas permanecem indeléveis as marcas das nossas primeiras curiosidades, das nossas primeiras emoções. São tais marcas que convém conhecer ou reencontrar, as nossas e as dos outros (...).

Nessa perspectiva, os conteúdos que se encontram nesse tipo de produto cultural podem contribuir para entendermos aspectos da educação, ou melhor explicitando, de algumas práticas e procedimentos de ensino-aprendizagem que se processaram (e se processam!) no universo escolar, na sala de aula.

Foi na trilha desse raciocínio que visitamos alguns livros didáticos que, muito possivelmente, foram utilizados por adultos, jovens e crianças nas cadeiras de ensino noturno, no período aqui em estudo.

A escola de uma maneira geral e, especialmente, o ensino noturno, precisava construir um corpo de regras a serem cumpridas e encontrar subsídios que auxiliassem na constituição de uma imagem sobre o regime republicano, sobre a condição de cidadão na temporalidade estudada, sobre as bases morais e cívicas que deveriam ter os adultos, os jovens e as crianças que a freqüentavam. Tudo isso associado à demarcação de um tempo de entrada na escola, do recreio, das lições e de saída, que permitiram rotinas escolares, além de estabelecer um tempo útil e sagrado determinado para a aquisição dos saberes escolares.

Assim sendo, a organização da escola primária, os discursos apresentados pela literatura escolar enfocam, dentre outros fatores, as imagens apresentadas nos livros didáticos, que estabelecem um vínculo com a palavra escrita e conseguem, a partir do artifício didático, unir forças entre texto e iconografia, despertando o interesse, fixando e inculcando nas crianças e nos adultos que os utilizaram a mensagem do poder da higiene, considerada como um conjunto de preceitos que buscavam a perfeição da natureza humana, por intermédio da educação, ou melhor, do processo civilizador.

Conforme mencionado anteriormente, de acordo com a Reforma Camillo de Hollanda, de 1917, o ensino noturno deveria seguir a mesma estrutura curricular

ministrada no ensino diurno. Assim, tanto no tocante aos livros didáticos, quanto em relação a todo material escolar, que eram solicitados pelos professores por via ofício à Diretoria Geral da Instrução Pública, verificamos que eram os mesmos ou no mínimo muito semelhantes.

Ainda a partir do que nos informam os referidos ofícios alguns desses livros eram comuns a varias as cadeiras de ensino noturno, podendo apresentar algumas variações, pois os professores tinham autonomia de escolher os livros e outros materiais que considerassem os mais apropriados e convenientes para serem utilizados em suas aulas.

Procedendo um trabalho de comparação, sobre esse ofícios, verificamos que os livros Nossa Pátria de Rocha Pombo, a Cartilha Analítica e a Cartilha das Mães, bem como os livros de leitura da série Puiggari-Barreto, foram algumas das obras solicitadas pelos professores no ensino noturno. (Ver anexo 1). Nos referidos documentos também encontramos a solicitação de outros materiais didáticos, tais como: tinta para as penas, caixa de penas, canetas e resma de papel, dicionários de língua portuguesa e cadernos de caligrafia.

Cabe aqui ressaltar que esses livros eram adotados em outras regiões do Brasil, uma vez que alguns deles foram editados, em 1904, pela Livraria Francisco Alves. No caso da série/coleção Puiggari-Barreto (Romão e Arnaldo), que, respectivamente, foram professores da Escola Normal de São Paulo e de Campinas. Sobre essas obras SOUZA (2000, p. 20) tece os seguintes comentários:

Essa coleção representa outro estilo de livros de leitura e é muito semelhante à obra italiana intitulada Cuore, de Edmundo de Amicis, a qual retrata em suas páginas, em forma de diário, histórias vivenciadas por um menino de nome Henrique. Nesses episódios estão relatados o seu dia-a-dia na escola, na família e com os amigos, sempre evidenciando as atividades de cunho moral e patriótico.

Aqui na Parahyba do Norte alguns desses livros eram disponibilizados aos alunos carentes a partir de recursos originários das caixas escolares, conforme podemos constatar a partir da notícia que foi publicado pelo Jornal A União de 1921. Acompanhemos:

Caixa Escolar “Arruda Camara”

(...) Os objectos são os seguintes: nove cadernos de calligraphia americana n. 1, três ditos n. 3, vinte cadernos de papel pautado, seis cartilhas analyticas, dois compêndios do primeiro livro de leitura de Puiggari Barreto, meia caixa de pennas, doze tinteiros, cinco metros de brim mescla, meio metro de fustão para um chapéo, um par de sapatos e dois pares de meia n. 6.

Não podemos deixar de felicitar tao philantropica instituição que vem se esforçando por suavisar o infortúnio das creanças pobres, contribuindo para a difusão do ensino aos humildes que encontram nos corações bem formados o abrigo salutar da caridade.

(...) Assim é que para 50 alumnos paupérrimos da “Escola nocturna Cardoso Vieira”, 1 alumno do Grupo Escolar “Isabel Maria das Neves” e 7 alumnos da 2ª cadeira do sexo masculino capital, forneceu os objectos infra mencionados, depois de haver a directoria mandado ouvir as commissões districtaes e fiscal da mesma sociedade, a fim de se informarem sobre a situação dos mencionados alumnos, se effectivamente estavam no caso de merecerem o auxilio solicito, o que ficou evidenciado.

13 Pontos de Historia do Brasil, 13 Arithmeticas elementares, 13 Geographias Atlas F.T.D., 13 Grammaticas F.T.D., 41 livros Puiggari Barreto, 32º livro e 13º livro do mesmo auctor, 37 cadernos americanos e 17 cadernos de papel pautado, para a escola nocturna Cardoso Vieira; 1 Geographias Atlas F.T.D., uma Grammatica F.T.D. e uma Arithmetica elementar, para o Grupo Escolar <<Isabel Maria das Neves>>; um 3º livro de leitura de Puigarri Barreto, 7 cadernos americanos e 8 cadernos de papel pautado para a 2ª cadeira do sexo masculino da capital.

Analisando os livros de leitura da referida série13, observamos que o narrador

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