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7. Apresentação e discussão dos resultados

7.2. Grupo II – Relatório de Gestão

Na análise ao relatório de gestão, importa observar as informações divulgadas acerca da dimensão da frota, o número de elementos constituinte dos equipamento básico do AFT e a sua idade média, de forma aferirmos se a mesma corrobora a informação tida no anexo. Neste ponto, faremos ainda uma breve análise aos principais indicadores do desempenho económico e financeiro, para as várias empresas constituintes do estudo.

De referir que, para parte das empresas, a IF foi obtida com recurso à disponibilização da certidão de prestação de contas no sítio da empresa online, não contemplando o relatório de gestão, não tendo sido assim possível recolher a totalidade da informação necessária à

93 realização de algumas análises a que nos propusemos, devendo-se ter esta ressalva para as observações e conclusões obtidas.

7.2.1. Operacionalização da frota

Neste ponto, importa observar as informações divulgadas acerca da dimensão da frota, o número de autocarros constituinte do EB de cada empresa, bem como a sua idade média, de forma aferirmos se a mesma corrobora a informação tida no anexo, nomeadamente com a vida útil estimada, apresentando-se a informação recolhida no Quadro 7.3.

Quadro 7.3– Informação referente à vida útil da frota

Fonte: Elaboração própria

Nesta análise procurou-se correlacionar a idade média da frota (autocarros) com a vida útil estimada para efeitos contabilísticos. Da observação ao Quadro 7.3, verificamos que apenas cinco das dez empresas em estudo, divulgam o número médio de autocarros e a sua idade média, tendo esta análise recaído apenas sobre estas cinco empresas, as quais proporcionam a informação necessária à realização da análise.

Da análise efetuada salienta-se o facto de três das cinco empresas, apresentarem uma idade média da sua frota superior à vida útil máxima estimada. Quanto às restantes, apresentam uma idade média, ainda que inferior à vida útil estimada, muito próxima desta, o que indicia que parte significativa dos autocarros, apresentam uma idade efetiva superior à vida útil estimada.

Empresa Nº autocarros Idade média Vida util estimada

Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S.A. 619 16 8 a 12 anos Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, S.A. 419 13 13 a 16 anos ARRIVA Portugal, Lda. 264 nada divulga 8 anos novos 4 anos usado Rodoviária de Lisboa, S.A. 350 16 8 anos novos 4 anos usado Vimeca Transportes Viação Mecânica Carnaxide, Lda. nada divulga nada divulga 4 anos TUB - Transportes Urbanos de Braga, E.M. 163 17 9 anos T S T - Transportes Sul do Tejo, S.A. nada divulga nada divulga 6 a 8 anos Barraqueiro Transportes, S.A. 743 16 20 anos TRANSDEV Douro, S.A. nada divulga nada divulga nada divulga SCOTTURB - Transportes Urbanos, Lda. nada divulga nada divulga 4 anos

94 Desta situação, decorre uma forte evidência, de que as DF destas empresas podem não se encontrar a relevar ativos, que apesar de se encontrarem totalmente operacionais e a proporcionar benefícios económicos às suas entidades, constam nos seus balanços já totalmente depreciados.

7.2.2. Desempenho financeiro

No setor de atividade em análise, como demonstrado ao longo do ponto 7.1.5., os AFT são uma das componentes mais relevantes na estrutura do ativo, pelo que, as políticas contabilísticas adotadas no tratamento destes, terá sempre uma implicação direta nas análises e leituras desenvolvidas pelos utilizadores da IF, nomeadamente no cálculo dos rácios financeiros, abordando-se de seguida alguns dos rácios regularmente utilizados, descrevendo- se os eventuais efeitos das políticas adotadas para os AFT nos vários rácios.

Os rácios de desempenho financeiro, mais utilizados pelos utilizadores da informação financeira, são o rácio de autonomia financeira, sendo para Gomes e Pires (2014: 893), «talvez o mais conhecido e utilizado em Portugal», traduzindo a percentagem do ativo que se encontra a ser financiada pelos capitais próprios da entidade, o rácio do endividamento, o qual determina a proporção ou percentagem de capital alheio utilizado no financiamento das atividades das empresas e o rácio de solvabilidade, o qual traduz a capacidade dos capitais próprios da empresa em solver os seus compromissos, ou seja, é a proporção do passivo que se encontra coberta pelos capitais próprios.

Sendo que para estes três rácios, o tratamento adotado para os AFT vai influenciar diretamente o seu cálculo, na medida em que o modelo utilizado no reconhecimento dos ativos, o modelo adotado na mensuração subsequente, as vidas úteis estimadas, a forma como se julga que os benefícios económicos futuros vão ser consumidos, bem como, os restantes princípios prescritos pela NCRF 7, têm uma implicação direta na determinação da posição financeira, nomeadamente no total do ativo e dos capitais próprios, pelo que, a correta aplicação do normativo contabilístico, é fundamental para a correta determinação destes rácios, para que os mesmos, melhor traduzam o desempenho financeiro das empresas, contribuindo, essencialmente, para a comparabilidade da IF, quer em termos de evolução do seu desempenho ao longo dos anos, assim como, com outras entidades terceiras.

95 7.2.3. Desempenho económico

À semelhança do referido nos indicadores de desempenho financeiro, também para os indicadores de desempenho económico, o correto tratamento contabilístico dos AFT, é essencial para a produção de informação económica fiável e comparável.

Ao nível dos indicadores de desempenho económico, a principal contribuição dos AFT é obtida por via do efeito das depreciações do período ou pelo reconhecimento de eventuais perdas por imparidade, pelo que, questões como o método de depreciação adotado, a definição da vida útil dos ativos, a revisão do valor residual e da vida útil, requerem a correta aplicação do normativo contabilístico, sendo fundamental para que os mesmos espelhem, o melhor possível, o modelo de consumo dos benefícios económicos futuros associados ao ativo, permitindo assim, a produção de informação de fidedigna, de qualidade e que espelhe uma imagem verdadeira e apropriada da IF.

No Quadro 7.4, procedeu-se à análise da relevância das depreciações do período dos AFT e dos EB, face ao volume de negócios e aos resultados obtidos pra as várias empresas da amostra.

Quadro 7.4 – Peso das depreciações do AFT e dos EB no resultado líquido do período e no volume de negócios

Fonte: Elaboração própria

Como observado no Quadro 7.4, os gastos com depreciação dos AFT revelam um peso significativo sobre o volume de negócios e sobre o resultado líquido do período.

Empresa Rubricas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Volume de negócios (VN) 90.193.383 42.374.606 13.430.239 34.483.465 21.457.081 5.727.247 41.664.053 60.409.640 7.333.730 18.119.481 Resultado Liquido do período (RLP) -59.211.236 -31.617.190 571.364 553.019 1.922.762 275.828 -373.369 7.694.878 774.360 2.610.587 Total de depreciações do período - AFT 15.731.182 3.888.531 1.099.954 1.322.673 2.338.217 456.658 4.796.294 6.899.232 92.875 1.029.259 Total de depreciações de

Eq. Básico (EB) 10.504.285 2.813.429 883.248 1.154.029 2.066.105 413.513 3.940.477 6.625.135 89.252 880.444 Peso relativo das

depreciações nas VN 17% 9% 8% 4% 11% 8% 12% 11% 1% 6%

Peso relativo das

depreciações do EB nas VN 12% 7% 7% 3% 10% 7% 9% 11% 1% 5%

Peso relativo das

depreciações totais no RLP -27% -12% 193% 239% 122% 166% -1285% 90% 12% 39%

Peso relativo das

96 Verificando-se que para sete das empresas em estudo, o peso das depreciações do período sobre volume de negócios, supera os 8% do mesmo. No que respeita ao peso das depreciações no resultado do período, verifica-se que em oito das empresas investigadas, só as depreciações com os EB superam o resultado liquido obtido no período. De ressalvar, que nos casos da Carris e da STCP, o peso relativo da depreciações não é mais significativo, pelo facto destas empresas apresentarem elevados gastos com serviço da divida.

Pelas observações efetuadas, podemos concluir, que face ao peso e à importância que os gastos com depreciações de AFT representam na determinação dos resultados das empresas, tal matéria deverá sempre implicar a correta aplicação do normativo contabilístico, livre de qualquer influência ou preconceito, bem como, carece sempre de um conjunto de julgamentos e juízos que permitam a obtenção de uma imagem a mais fidedigna e apropriada possível do desempenho real das entidades, para que, a partir das DF apresentadas, se possam desenvolver as mais variadíssimas análises ao desempenho e retiradas as melhores conclusões.