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3. Ativos Fixos Tangíveis – Evolução no normativo contabilístico português

3.1. No âmbito do Plano Oficial de Contabilidade

3.1.1. No âmbito do POC/77

No POC/77, primeiro referencial contabilístico português, os AFT, então designados como «imobilizações corpóreas», encontravam-se definidos, no capítulo «XI – Notas explicativas sobre o conteúdo e movimentação de algumas contas», como «elementos patrimoniais tangíveis, móveis ou imóveis, que a empresa utiliza na sua atividade sem o objetivo de serem vendidos ou transformados, com caráter de permanência superior a um ano», referindo ainda que, apenas são enquadrados como imobilizações corpóreas, os elementos desta natureza que apenas sejam destinados a rendimento ou fruição.

Na nota explicativa à classe 4, na qual eram reconhecidas as imobilizações, era referido que «não deve ser registado o produto da venda do imobilizado, sendo de abater apenas os custos e as amortizações das imobilizações vendidas ou inutilizadas».

O capítulo XI, apresentava ainda a definição dos elementos que deviam ser reconhecidos como terrenos e recursos naturais, edifícios e outras construções, equipamentos básicos, outras máquinas e instalações, taras e vasilhame.

Para efeitos de valorização, o ponto 2.5 do capítulo XII – valorimetria, mostrava-se muito parco de conceitos e de princípios, referindo apenas que as imobilizações corpóreas deviam ser valorizadas ao preço de aquisição, o qual respeita ao valor da fatura, acrescido de todos os gastos adicionais necessários à entrada em funcionamento do bem, e caso se tratassem de elementos construídos pela própria empresa, o seu valor resultaria do sistema de custeio nele utilizado.

Relativamente ao tratamento das depreciações, o POC/77 é totalmente omisso nesta matéria, não havendo qualquer tido de referência, principio ou regra, que permitisse normalizar o reconhecimento da perda de valor dos elementos do AFT, tanto por via da utilização, como pela passagem do tempo ou decorrente da perda de valor comercial.

Esta omissão poderá ter decorrido, em nossa opinião, da existência de um diploma legal14, o qual se apresentava em vigência à data de publicação do POC/77, e no qual se encontravam

27 previstos e definidos, ainda que numa ótica fiscal, vários conceitos e princípios subjacentes às depreciações, podendo ter havido, por parte do legislador e da Comissão, um entendimento de que esta matéria já se encontrava tratada, sendo geralmente aceite pelos preparadores da IF, criando a convicção de não haver necessidade de proceder à sua normalização, em sede do POC/77.

3.1.2. No âmbito do POC/89

O POC/89 considerava que a conta de «imobilizações corpóreas» integrava os imobilizados tangíveis, móveis ou imóveis, que a empresa utiliza na sua atividade operacional, que não se destinavam a ser vendidos ou transformados, que apresentassem um caráter de permanência superior a um ano, assim como, as benfeitorias e as grandes reparações deviam ser acrescidos ao custo do imobilizado (Costa e Alves; 2006: 723).

Decorrente das alterações introduzidas no POC/89, nomeadamente a introdução do princípio contabilístico da substância sobre a forma, os bens adquiridos em regime de locação financeira passaram a ser reconhecidos como «imobilizações corpóreas».

As imobilizações que se encontravam em curso, enquanto não se encontrassem concluídas, deveriam ser reconhecidas como «imobilizações em curso».

Em termos de plano de contas, segue a mesma alocação das contas que o POC/77, salientando-se apenas, a introdução de um maior detalhe na rubrica das imobilizações em curso.

Em termos de valorimetria, o POC/89 introduziu alterações significativas ao POC/77, salientando-se os seguintes critérios e definições, integrantes do ponto 5.4:

a) O ativo imobilizado deve ser valorizado ao custo de aquisição ou ao custo de produção e para os itens que apresentem uma vida útil limitada, os mesmos ficam sujeitos a uma amortização sistemática durante esse período;

b) O custo de aquisição e o custo de produção devem ser determinados de acordo com as definições adotadas para as existências, pelo que o custo de aquisição corresponde à soma do preço de compra do bem acrescido dos gastos incorridos, direta ou indiretamente, para colocar o bem no seu estado atual e no local pretendido. No que respeita ao custo de produção, o ponto 5.3.3 dos critérios de valorimetria, determina-o como a soma dos custos de matérias-primas e outros materiais diretos consumidos, de

28 mão-de-obra direta, dos custos industriais variáveis e dos outros custos industriais fixos necessários à produção do bem;

c) Sempre que um elemento do ativo imobilizado corpóreo, à data do balanço apresentar um valor inferior ao registado na contabilidade, deve ser objeto de amortização, correspondente à diferença;

d) Em consonância com o introduzido via DL n.º 274/86, de 4 de setembro, o POC/89 passou a contemplar a possibilidade, de se alocar ao custo de construção de um item de imobilizado, os custos financeiros incorridos com a construção do mesmo.

Para além do referido no ponto 5.4.1 do POC/89, o qual define que sempre que um item tenha uma vida útil limitada, o mesmo fica sujeito a uma amortização sistemática durante esse período, nada mais é referido, sendo completamente omisso no que em matéria das amortizações diz respeito. Não apresentava uma definição/conceito de quantia amortizável, como se devia determinar o período de vida útil, a necessidade de revisão e adequação deste, assim como, quais os métodos que se deveriam utilizar. Sendo por deveras notório, que a falta de normalização desta matéria, à semelhança do constatado para o POC/77, resultou da existência de um diploma fiscal15, o qual supria, no entender da generalidade dos preparadores e utilizadores da IF, estas necessidades de normalização.

Sendo esta ideia corroborada por Pinto (2005: 78), referindo que pelo facto das amortizações se encontrarem legalmente regulamentadas para efeitos fiscais

é frequente adoção dos métodos e taxas fiscalmente considerados aceitáveis, por essa via se conseguindo produzir uma informação objetiva, no sentido da independência relativamente ao informador. Trata-se, pois, de uma forma de evitar deixar nas mãos do contabilista a fixação de valores subjetivos para as amortizações a relevar.

Em suma, podemos constatar que, apesar das várias omissões e do fraco desenvolvimento concetual evidenciado em algumas matérias, o POC/89 acabou por apresentar uma evolução significativa face ao POC/77, mostrando-se mais abrangente e introduzindo no normativo nacional, temas que ganhavam especial relevo no contexto económico de então, como foi o caso das locações financeiras, dos custos decorrentes da contratação de financiamentos para a construção de imobilizações e a admissão do tratamento para as eventuais diminuições de valor dos ativos, contudo, no reconhecimento contabilístico das depreciações não se verificaram evoluções significativas face ao anterior normativo.

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