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4. O sistema fiscal e os Ativos Fixos Tangíveis

4.2. Tributação dos rendimentos das empresas

4.2.1. Código de Contribuição Industrial

O CCI foi aprovado pelo DL 45.103, de 1 de julho de 1963, tendo entrado em vigor no próprio ano de aprovação, vindo incidir sobre os lucros imputáveis a qualquer atividade comercial ou industrial.

51 Segundo Guimarães (2004: 3) este diploma veio regular a tributação das empresas segundo os seus lucros reais, em detrimento dos lucros presumidos, o que se verificava desde a anterior reforma fiscal de 1929.

O CCI representou uma alteração profunda no sistema fiscal vigente em Portugal. A mudança de um sistema assente num modelo de rendimentos normalizados para um sistema de rendimentos reais, mostrava-se urgente, face ao contexto económico de então (vide ponto 2.1).

No próprio texto introdutório do CCI, fundamentava-se esta opção de tributação, referindo- se que «como os demais impostos diretos, também a contribuição industrial se mostra agora dominada pela preocupação de atingir o mais aproximadamente possível o rendimento real dos contribuintes», acrescentando que a tributação com base no rendimento real era «a base mais conveniente para uma equitativa repartição do imposto».

No entanto, a tributação com base no rendimento real não era aplicável a toda a extensão de contribuintes, tendo o artigo n.º 6 do CCI, procedido à sua tipificação por grupos, conforme apresentado no Quadro 4.2.

Quadro 4.2 – Tributação no âmbito do artigo n.º 6 do CCI

Fonte: Elaboração própria

Grupos Contribuintes Método de

tributação

A

- Sociedades anónimas e comandita; - Cooperativas

- Sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, com capital superior a 3.000 contos;

- Instituições de crédito, casas de câmbio e sociedades de seguros; - Contribuintes do grupo B, que apresentem, na média dos últimos 3 anos, rendimentos superios a 300 contos

- Organismos corporativos;

- Contribuintes do grupo B, que optem pela sua inclusão no grupo A.

Lucros efetivamente obtidos, determinados através da sua contabilidade

B - Contribuintes não abrangidos pelo grupo A e pelo grupo C; Lucros presumidos

C

-Não tenham estabelecimento, ou o tenham em local cujo valor locativo não exceda 4.800$00 em Lisboa e Porto, 3.000$00 nas sedes dos concelhos urbanos de 1.ª e 2.ª ordem e rurais de 1.ª ordem, conforme a classificação do Código Administrativo, e 1.800$00 nas restantes localidades;

- Trabalhem sozinhos, ou sejam apenas auxiliados por familiares ou estranhos em número não superior a três, tratando-se de indústria, ou não superior a um, tratando-se de comércio;

- Não disponham de escrita;

- Não utilizem mais que um veículo automóvel ou dois veículos de outra espécie.

52 Decorrente da opção pela tributação dos rendimentos reais, determinados a partir dos registos contabilísticos, o CCI veio dar especial relevo à contabilidade, sendo várias as disposições do CCI que evidenciam a sua importância, destacando-se o artigo n.º 22, onde se apela aos sãos princípios da contabilidade.

Como refere Rodrigues (2010: 12), a ideia de usar a contabilidade como base para a tributação fiscal remonta a 1874, na cidade de Bremen, no reino da Saxónia, e a 1891, na Prússia. A razão apontada prendia-se com a conveniência de se preparar somente um balanço para os mercados de capitais e para as autoridades fiscais.

Contudo, à data de promulgação do CCI, ainda não havia em Portugal «uma doutrina uniforme e pacifica acerca das melhores práticas contabilísticas» (Ferreira, 1695: 31), pelo que, eram expectáveis colossais dificuldades à determinação do lucro real. Refira-se que até à introdução do CCI, a contabilidade servia apenas razões comerciais (Andreia, 2011: 19). Para Ferreira (1965: 11), foram várias as dificuldades que o CCI veio por ao técnico de contas na determinação do lucro real, decorrentes das insuficiências do direito, das estruturas de administração das empresas e a falta de normalização dos fenómenos para a determinação do lucro, pelo que, nestas condições, Ferreira (ibid: 31) foi do entendimento que a administração fiscal devia intervir, promovendo «instruções pormenorizadas acerca do que, para efeitos fiscais, se considera uma contabilidade sã».

Para Guimarães (2011: 29) o CCI foi o verdadeiro motor da normalização contabilística em Portugal, sendo a necessidade de responder às exigências impostas pela reforma fiscal de sessenta, que levou a contabilidade iniciar o seu processo de evolução e normalização, tendo cabido à administração fiscal a função de desenvolver e coordenar esse processo.

Refira-se que o CCI veio plasmar, para Portugal, a adoção de um modelo de dependência parcial, o qual parte do resultado líquido, determinado em função da aplicabilidade dos princípios contabilísticos, sujeitando-o posteriormente, a normas de ajuste, decorrentes da lei fiscal, procurando-se que as leis fiscais sigam a contabilidade (Costa, 2011: 21).

4.2.2. Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (CIRC)

O CIRC foi aprovado pelo DL n.º 442-B/88, de 30 de novembro, tendo entrado em vigor em 1 de janeiro de 1989. Com a sua entrada em vigor, foram abolidos uma série de diplomas, os quais passaram a ser considerados no âmbito do CIRC, como o foi o caso do CCI.

53 Conforme descrito no preâmbulo do CIRC, este diploma segue as linhas norteadoras do sistema fiscal anterior, tendo ainda procedido ao alargamento da base tributável, à moderação dos níveis de tributação e à necessária articulação entre o IRS e o IRC, passando a incidir sobre todas as pessoas coletivas de direito público ou privado com sede ou direção efetiva em território português.

À semelhança do CCI, também o CIRC se encontra estruturado de acordo com o modelo da dependência parcial. No n.º 10 do preâmbulo, o legislador atesta que o objetivo da tributação é incidir sobre a realidade económica traduzida no lucro, pelo que, «é natural que a contabilidade, como instrumento de medida e informação dessa realidade, desempenhe um papel essencial como suporte da determinação do lucro tributável», apresentando a contabilidade como uma fonte privilegiada para servir de base à determinação do lucro tributável.

É ainda referido que «afastada uma separação absoluta ou identificação total», o CIRC continua a privilegiar uma solução marcada pelo realismo, a qual consiste em fazer reportar o lucro tributável ao resultado contabilístico, ao qual se introduzem, extra-contabilisticamente, as correções fiscais necessárias, indo de encontro com o requerido no n.º 1 do artigo n.º 17 do CIRC, o qual estabelece que «o lucro tributável das pessoas coletivas […] é constituído pela soma algébrica do resultado líquido do período e das variações patrimoniais […] determinados com base na contabilidade e eventualmente corrigidos nos termos deste Código.»

Um facto relevante na análise da estruturação do CIRC, é que este diploma, inversamente ao sucedido com o CCI, e atendendo ao seu modelo de dependência parcial, já teve por base um sistema de normalização contabilístico, vigente e implementado, o que possibilitou, conforme o referido no preâmbulo do mesmo, que «sempre que possível» houvesse a preocupação de aproximar a fiscalidade à contabilidade. Recorde-se que aquando da implementação do CCI, a inexistência de um sistema de normalização contabilística, levou a que muitos dos procedimentos, métodos e regras decorressem única e exclusivamente da lei fiscal, cabendo então à fiscalidade nortear a contabilidade.

Com a implementação do POC e, nomeadamente, com a introdução das várias DC, esta dependência da contabilidade face à fiscalidade, deu lugar a um movimento de convergência, o qual foi reforçado com as alterações introduzidas ao CIRC, decorrentes da aprovação do SNC, cuja filosofia e estrutura são muito próximas das IAS/IFRS.

54 Segundo Rodrigues (2010: 27 e 28), como forma de se aproximar a fiscalidade da contabilidade, proporcionando a eliminação de constrangimentos sobre a contabilidade, decorrentes da lei fiscal, foram introduzidas várias alterações ao CIRC.