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CAPÍTULO 2 O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR QUE

2.3 Práticas individuais e coletivas promotoras do desenvolvimento profissional

2.3.4 Grupos de trabalho coletivos / colaborativos

“O trabalho coletivo, e em especial o trabalho colaborativo, representam um contexto altamente favorável à aprendizagem e ao desenvolvimento profissional do professor” (Passos et al, 2006, p. 205). Contudo, é marcado por interações constantes com os demais participantes, promovendo trocas intersubjetivas de práticas e conhecimentos, mas trazendo ainda discordâncias e conflitos internos ou externos ao coletivo em questão. Ponte (1998), identifica que:

Num trabalho de colaboração, existem necessariamente objectivos comuns entre os diversos participantes. No entanto, para além disso, cada um deles tem, como é natural, os seus próprios objectivos individuais. Para a coesão do grupo, é importante que todos os participantes partilhem em grau significativo os objectivos

comuns. Mas também é importante que tenham os seus objetivos individuais, ligados à sua função profissional, à sua personalidade, aos seus projectos, pois isso reforça naturalmente o seu envolvimento no trabalho e o seu sentido de realização pessoal.

Passos et al (2006) fazem uma importante distinção entre os conceitos de cooperação e colaboração. A colaboração é uma parceria que deve ser formada voluntariamente e alheia de imposição externa, deixando os componentes à vontade em compartilhar vivências e saberes que marcam cada individualidade. Busca-se englobar as perspectivas diversas pautando-se em valores como a igualdade, confiança e mutualidade. Já a cooperação é um tipo de parceria composto por ações conjuntas voluntárias em que uns ajudam os outros, mas que envolvem a autonomia e poder de decisão de apenas uma parcela dos envolvidos, podendo ocorrer relações desiguais marcadas pela hierarquia.

O trabalho de qualidade em grupos coletivos e colaborativos está intimamente relacionado ao estabelecimento de relações pautadas pela confiança, respeito, afetividade e apoio mútuo em um local de diálogo livre. Este processo também requer o planejamento de ações coordenadas e negociadas de forma coletiva. A conquista deste espaço é algo que demanda tempo para consolidação com a convivência em prol de crescimento e mudanças significativas.

A colaboração, neste sentido, torna-se um importante instrumento para resolução de problemas e dilemas de maior complexidade, que exigem maior nível de reflexão e a combinação de concepções diversificadas. Nem sempre as problemáticas que demarcam o campo educacional podem ser solucionadas de forma eficaz quando pensadas individualmente, bem como projetos complexos são melhor executados em meio à combinação do empenho em um ambiente de trocas. Crecci e Fiorentini (2012), neste sentido, destacam que:

Os professores que possuem uma postura de estudo e buscam parceiros para analisar e discutir suas práticas pedagógicas apresentam fortes indícios de que desejam uma participação mais ativa, contínua e autônoma, sendo protagonistas dos processos de mudança curricular a partir da escola e de seu processo de desenvolvimento profissional; assim, podem elencar prioridades a serem estudadas, compartilhando e refletindo sobre a própria prática de ensinar e aprender matemática na escola (CRECCI e FIORENTINI, 2012, p. 71).

Algumas atividades colaborativas se desenvolvem em contextos internos, nos quais todos os membros são pertencentes a uma mesma categoria social ou profissional. Também é possível desenvolver tais práticas com membros pertencentes a grupos distintos. Nesses

casos, são mais ricos os conteúdos e conceitos abordados pela abrangência de perspectivas muito diversas, mas a gestão interna e organização são dificultadas.

Nesses tipos de práticas coletivas, é essencial que se estabeleça uma liderança eficaz na intenção de melhor direcionar as ações e atividades planejadas, assim como para que os objetivos previamente definidos se mantenham no decorrer do percurso com organização. Esta liderança pode, no entanto, ser constituída de maneiras diversificadas, de acordo com a necessidade e características de cada grupo. Pode ser estabelecido apenas um líder, uma liderança promovida por um coletivo dentro do grupo, ou mesmo uma liderança partilhada por todos os membros envolvidos, devendo ocorrer consensualmente e respeitando a participação de cada componente.

Uma proposta de colaboração pode trazer inúmeros benefícios e avanços. Em contrapartida, também envolve certas dificuldades, conforme pontua Ponte (2003): “o saber gerir a diferença, lidar com a imprevisibilidade, saber avaliar os potenciais custos e benefícios e estar atento em relação à autossatisfação confortável e ao conformismo” (p. 7).

As diferenças são componente marcante em qualquer formação coletiva. Nem sempre o tempo disponível, grau de envolvimento e valores seguem o mesmo caminho. Saber combinar as diferenças para construção de um ambiente favorável é de suma importância ao sucesso do trabalho colaborativo. A imprevisibilidade marcada pelo surgimento de situações inesperadas e problemas, é da mesma maneira um fator complicador. A capacidade de lidar com esses imprevistos é de grande valia no processo colaborativo.

Dentro das atividades previstas no grupo, é preciso que cada componente cumpra com as ações determinadas, dedicando-se às leituras, reflexão e aprimoramento. Nas relações acordadas, é possível que haja dissonância entre tal dedicação e que alguns arquem com custos mais elevados em prol da permanência no grupo. Para o bem-estar geral, é interessante que os custos e dedicação sejam negociados, visando atender as necessidades nas esferas individual e coletiva. Os desafios precisam ser parte integrante dos grupos colaborativos para que o conformismo e acomodação não faça desta proposta algo monótono e estático.

Numa dinâmica de trabalho coletivo, os fatores de ambiente positivo de produção e reflexão e as relações interpessoais ganham importância considerável, uma vez que determinam os resultados gerados pelo processo. Ponte (2003), ao analisar um grupo colaborativo, conclui que sua constituição “revelou ser um contexto francamente enriquecedor para o desenvolvimento de novo conhecimento sobre as várias facetas do tema do grupo e para proporcionar um efectivo desenvolvimento aos participantes” (Ponte, 2003, p. 31).