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PROFISSIONAL: UM ESTUDO DE CASO

GRUPOS FOCAIS

A partir da revisão de literatura e das observações construí o roteiro dos grupos focais. Realizei três grupos focais. O recorte para os grupos foram as séries; como são quatro cursos, foram

dois alunos de cada curso por grupo, totalizando oito alunos em cada grupo. Fui de sala em sala convidá-los, na maioria das ve- zes mais de dois manifestavam interesse, então fiz um rápido sor- teio para definir quem iria. Nas turmas de primeiro ano a escolha aconteceu como programado. No segundo ano de Redes, a adesão foi tão grande que sorteei três alunos; no terceiro de Transações Imobiliárias, ninguém quis participar, alegando que estavam fa- zendo um trabalho importante para entregarem no fim do turno. Foi acordado com a direção que eu faria essas “interferências” na hora da aula de estudo.33

Ter usado o recorte série para os grupos focais foi muito in- teressante, pois ainda não havia estabelecido comparação entre as séries e, no momento do grupo focal, pude notar a maturidade da fala e dos discursos. A diferença se manifesta desde a recepção do convite; os alunos do primeiro ano, em geral, recebem melhor as propostas da escola.

No grupo focal do 3o ano os alunos trouxeram importantes

chaves de reflexão em suas falas e expuseram muitas críticas em relação à direção. Embora não apresentem uma conceituação clara de protagonismo, a ideia que eles têm acerca do conceito se relacio- na com o que os autores que estudam a temática enfocam em seus textos; palavras chaves como: participação, centralidade do aluno, espaço para opinar, reivindicações e sugestões ouvidas.

Questionei se a escola incentiva o protagonismo estudantil e eles responderam:

Menino1: Eles só falam que a gente tem que ter [protagonismo]. Menina 1: Tudo aqui é muito teórico!

Menino 2: Hoje em dia não incentivam tanto. Devido a gente saber nossos direitos, eles têm medo que a gente possa saber demais e eles ficarem para trás. A escola tá mandando muito, tá

33Aula de estudo é uma aula específica das EEEPs, em que os alunos são incentivados

a estudarem. Segundo os documentos, devem ser aplicados os princípios da educação cooperativa. As aulas são "monitoradas" por um professor.

fazendo muito, mas sem o grêmio. Porque se tivesse o grêmio ia tá ...

Menina1: É meio contraditório….

Menino1: Fica um vazio [….] eles falam porque têm a obrigação de falar, mas nem sempre [dão espaço] (Trecho Grupo Focal do 3o ano).

Eles disseram que essa participação, esse protagonismo é tão teórico que desmotiva; fala-se tanto e age-se tão pouco que eles até têm vontade de fazer alguma coisa, mas passa. Eles associam pro- tagonismo à participação e, especificamente, ao grêmio estudantil, mas quando questiono sobre o grêmio eles afirmam que não têm boas expectativas. Eles não acreditam que o grêmio terá autonomia ou espaço para representação efetiva do interesse dos alunos. Esses mesmos alunos destacam que na escola quem os incentiva são al- guns professores, mas que esses também precisam ter cuidado, pois há certa perseguição do núcleo gestor, caso eles “falem demais”.

Contam, inclusive, casos de professores que foram substituí- dos por não concordarem com a direção, por ficarem muito do lado dos alunos.

Foi interessante quando desliguei o gravador e agradeci, e um dos meninos falou: “Isso também é protagonismo. Você quis nos ouvir e não ficar só no que a direção diz. Dar espaço pra gente falar é incentivar o protagonismo”.34

Os alunos do primeiro ano falaram bem menos; percebi certo encantamento. Ao questioná-los sobre protagonismo:

Camila: Vocês falaram de protagonismo! O que é protagonismo? Menina1 e Menino1: Protagonismo é ...

Menina1: Vai fala!

Menino1: Protagonismo é ... não pode falar você! Menino2: O que é isso mesmo?

Camila: Essa é minha pergunta!

Menina1: Protagonista é o ator principal! Então ser protagonista é você sempre tá participando de coisas, huumm ... é você estar sempre participando de coisas novas, de projetos, estar sempre ali envolvido em alguma coisa, ser ... criar novos projetos também!

Menina2: Como falaram, aqui deram bastantes palestras e tal; sobre o protagonismo é o aluno ser o ator principal da sua vida. Menina3: Você ter metas a serem cumpridas! (Trecho Grupo Focal do 1o ano).

Eles estão há pouco tempo na escola e não percebem ainda a diferença entre o falar em protagonismo e incentivá-los, mas con- cordaram unanimemente quando um dos colegas disse: “aqui eles falam tanto nisso que dá é abuso, agora parou mais, mas na primeira semana é isso direto.” “Nos primeiros dias eu criei uma raiva danada desse negócio de protagonismo; eu queria ser o antagonista em vez de protagonista só pra não ... só pra fazer raiva!” (Menino, 1o ano).

Esse posicionamento foi muito sintomático; o quanto os jovens são incomodados pelas “regras”; o fato de a escola impor o protagonis- mo faz dele algo negativo na percepção dos discentes.

Os alunos do segundo ano criticaram bastante o núcleo ges- tor e deixaram transparecer várias situações de conflito. Quando per- guntei sobre protagonismo eles responderam:

Menino1: É o aluno ser o principal agente da escola, porque a maioria já são os alunos, ou seja, democracia.

Menina1: Não só na escola, como hoje também tem acontecido muitos protestos e a maioria é de jovens, aquelas mulheres que fazem passeatas ou movimentos das escolas que tinham sido fechadas ...

Menino2: É eu tomar uma decisão sem esperar dizerem: “vá lá fazer aquilo”.

Menino3: É ser líder de si mesmo, ter consciência de que você não pode depender de ninguém, tem que tomar atitudes (Trecho Grupo Focal do 2o ano).

Embora afirmem que não há espaço ou incentivo do núcleo gestor para o protagonismo, eles são mais otimistas que os alunos do terceiro ano. Demonstraram acreditar que o grêmio pode fazer dife- rença na escola. Alguns afirmaram interesse em participar de chapas para a eleição.

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