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PROFISSIONAL: UM ESTUDO DE CASO

SEMANA DE ADAPTAÇÃO

A inserção na escola me permitiu observar vários momentos da rotina escolar. Enfatizo aqueles em que pude perceber mais cla- ramente as ações que revelam protagonismo e/ou os momentos nos quais, embora fosse propício, esse protagonismo não se manifestou. Como já citei, as EEEPs têm uma proposta de incentivo ao protagonismo; o modelo de gestão que as gerenciam (TESE) tem como um dos pilares o protagonismo estudantil.

A semana de adaptação segue um modelo preestabelecido; as escolas têm autonomia para adaptá-lo à sua realidade, mas, em síntese, acontece da seguinte forma: são selecionados alguns alunos do segundo ano que ficam responsáveis pelo “novo primeiro ano” dos respectivos cursos e nesses dias os alunos novatos não têm con- tato com os professores. São os veteranos que ficam em sala, fazem dinâmicas, brincadeiras, falam sobre os cursos e são responsáveis por repassarem as regras e a dinâmica da EEEP, a partir de suas ex- periências e de algumas orientações que recebem em um momento de formação sobre a TESE.

Essa semana foi pensada como uma semana de incenti- vo ao protagonismo, em que os próprios estudantes recepcio- nam os novatos e os orientam. Foi interessante o que ouvi em

uma das salas35 quando uma menina terminou de passar todas

as orientações, uma fala bem estruturada sobre protagonismo. Ela disse para os novatos: “mas na realidade, isso fica aqui; na

35 Nesta ocasião não tive autorização para gravar a fala dos estudantes, portanto a

prática, muda pouca coisa em relação às outras escolas”. Nas conversas informais isso aparece também. Os alunos citam que o protagonismo fica na primeira semana. Durante o grupo focal, uma das meninas do primeiro ano disse: “assim que a gente chegou aqui era isso, primeira semana de aula foi todinha! Você tem que ser protagonista, o que é ser protagonista, ser um pro- tagonista, era só isso!”.

A maioria dos alunos avalia esse momento positivamente. Os novatos acham divertido e ressaltam as vantagens da interação com os colegas. Os veteranos (monitores) destacam também a importância da interação e enfatizam a experiência de estar à frente de uma turma.

Conversando com a diretora sobre a semana, ela reforça que é muito positiva na questão da convivência entre alunos, fala do ama- durecimento dos meninos que são monitores e a maioria passa a res- peitar mais os professores. Diz que esse é o momento que os alunos têm a oportunidade de demonstrar o protagonismo, preparando as atividades e conduzindo-as. No decorrer da conversa, acaba dizendo que é o único momento do ano letivo que a TESE é verdadeiramente aplicada. Com a permanência em campo, reconheço as limitações para a aplicação da TESE, mas falta também um pouco de boa von- tade em determinados momentos.

AGREMIAÇÕES

Ao longo desse período em campo observei vários momentos de interação dos estudantes e destaco os intervalos em que os alunos ficam “livres” de aulas. Eles se dividem entre a biblioteca, as mesas nas quais sentam para conversar, o jogo de pingue-pongue, a quadra onde há um rodízio entre as modalidades futebol (na maioria das vezes), vôlei, handebol e carimba – os jogos são femininos, masculi- nos e mistos. Algumas vezes chegam a dividir a quadra ao meio para praticarem mais de uma modalidade ao mesmo tempo.

A maioria dos agrupamentos na escola é feita espontanea- mente pelos alunos a partir de suas identificações pessoais: o estilo musical – uns gostam do rock, reggae, funk etc; o tipo de leitura

– mangás, quadrinhos, romances etc; o esporte e a religião. Como apresenta Costa, esse é um dos aspectos que permite observar o pro- tagonismo entre estudantes e a capacidade de organizar-se a partir de interesses próprios.

Além do grêmio estudantil existe outro grupo que também re- presenta os alunos da escola: a comissão de formatura.

A comissão de formatura é composta por alunos dos terceiros anos que são responsáveis por organizar a formatura. As atividades dessa comissão são voltadas para a arrecadação de dinheiro. Os alu- nos do terceiro ano são autorizados a vender lanche e fazer outras promoções com esse fim, por exemplo, festas, rifas, bingos. É um dos grupos mais atuantes. Acredito que, por conta da motivação, ser do grupo e também de forma individual, faz com que alguns alunos, que não se interessam tanto, sejam coagidos a, mesmo assim, parti- cipar. Como são seus pares os organizadores, eles se desentendem, mas acabam colaborando. Guedes (2007) relaciona o protagonismo à ação voluntária que é um tipo de ação coletiva; a participação é incentivada também pelo vínculo entre os indivíduos envolvidos em determinada ação e isso se encaixa no que acontece entre a comissão de formatura e os demais alunos.

Presenciei uma reunião entre comissão de formatura, grêmio e núcleo gestor. A pauta principal era a realização de uma festa nas dependências da escola. Os dois grupos reivindicavam o direito de organização e lucro da festa. Depois de discussões e negociações, ficou definido que a comissão organizaria e o grêmio seria um supor- te. Percebi, nessa reunião, a falta de representatividade do grêmio. Eles não são vistos pelos alunos, principalmente do terceiro ano, como representantes discentes. A minha suspeita é que isso se dá por dois motivos principais: a diretoria do grêmio é composta por alunos do segundo ano e há na escola uma hierarquia entre séries, em que o terceiro ano se vê no topo; e os alunos julgam o grêmio como um “braço” da direção devido à postura deles de sempre comunicarem as decisões à coordenação, buscando apoio e não indo de encontro ao que é colocado pelo núcleo gestor.

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