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3. INICIAÇÃO ESPORTIVA DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

3.2 Habilidades Motoras e iniciação esportiva

A pessoa com deficiência possui poucas oportunidades de se movimentar, jogar ou praticar esportes, quer seja na escola ou fora dela (BUSTO, 2009, p.12). As pessoas com deficiência geralmente enfrentam mais problemas no desenvolvimento e adaptação

aos diferentes aspectos, físico, motor, social que as demais pessoas sem deficiências (AUXTER; PYFER; HUETTIG, 2001).

Durante a maior parte de suas vidas, as pessoas com deficiência física permanecem fora das mais diversas vivências corporais. Esse processo se fez presente em diferentes contextos, seja em sua atmosfera social ou ainda no ambiente escolar, durante as brincadeiras de ruas ou nas aulas de Educação Física, esta última responsável por grande parte dos estímulos para o desenvolvimento integral do aluno, incluindo a aquisição de suas habilidades motoras.

Nessa perspectiva, as pessoas com deficiências atuaram como meros espectadores no cenário escolar, uma vez que por um longo tempo permaneceram afastadas durante seu crescimento e desenvolvimento físico, motor, emocional, e social das experiências motoras mais globais, principalmente aquelas relacionadas à sua participação efetiva nas aulas de Educação Física (ARAÚJO et al., 2010).

Para muitas crianças a melhor parte da semana é poder brincar/jogar/divertir-se com seus amigos. Para os pais e familiares é importante observar seu filho praticando alguma modalidade esportiva. Os efeitos positivos da participação em esportes durante a juventude podem ser tão poderosos para as crianças com deficiência, como são para as crianças sem deficiência. No entanto, infelizmente, muitas crianças com deficiência física, são excluídas da participação em atividades físicas e esportivas durante o período da infância (MORAN; BLOCK, 2010).

A criança precisa ser estimulada durante todas as fases do seu desenvolvimento motor. De acordo com a teoria desenvolvimentista, na fase de movimentos especializados, o período transitório5 é a fase em que o movimento torna-se uma ferramenta aplicável a diversas e complexas atividades da vida diária, onde as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas são refinadas, elaboradas e combinadas para uso nas diversas situações (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

Referindo-se ao modelo bidimensional para classificação do movimento, os autores classificam o movimento das habilidades motoras fundamentais da seguinte forma: habilidades estabilizadoras como relacionado ao equilíbrio; locomotoras, referente às formas de se locomover, como correr, andar, pular e quaisquer formas de locomoção; e manipulativas, as quais se referem a movimentos como apanhar e

5 As habilidades transitórias contêm elementos pertencentes aos movimentos fundamentais, porém possuem forma, precisão e controle maiores (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

arremessar. Esse é um momento agitado, período em que a criança aprende rapidamente devido à intensidade de vivências motoras que buscam a todo momento, período de descobertas, onde as crianças encontram-se envolvidas com suas habilidades motoras as quais são expandidas de forma célere. (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

Outra questão mencionada por Gallahue e Ozmun (2005), refere-se à necessidade de proporcionar a maior variedade de vivências motoras possíveis durante esse período, instigando a criança a passar por experiências motoras diversificadas para ampliação do seu repertório motor. Tendo em vista que este é um momento muito rico de descobertas motoras, cognitivas, e ao mesmo tempo necessitada de estímulos.

Higgs (2011), dialogando sobre a importância do desenvolvimento das habilidades motoras, lista alguns aspectos básicos a serem apreendidos por crianças na faixa etária das habilidades motoras fundamentais. Para o autor, esta é uma fase crítica para o desenvolvimento da “alfabetização física” e é nesta altura que as bases de muitas habilidades avançadas são estabelecidas.

O desenvolvimento de competências para crianças dessa faixa etária é melhor alcançado por meio de uma combinação de jogos em ambientes seguros e desafiadores, paralelamente ao ensino de qualidade. O desenvolvimento de competências nesta fase deve ser bem estruturado, positivo e divertido, e deve-se concentrar em desenvolver o ABC: agilidade (agility), equilíbrio (balance), coordenação (coordination) e velocidade, além de atividades rítmicas. Esta é uma idade ótima para as crianças participarem de uma grande variedade de esportes, devendo ser encorajados a isso. É importante que todas as crianças, inclusive as com deficiência, desenvolvam as habilidades motoras fundamentais antes que as habilidades esportivas específicas sejam introduzidas (HIGGS, 2011).

Portanto, as crianças durante o estágio de iniciação devem participar de programas de treinamento de baixa intensidade, em que a ênfase se encontra no divertimento. Os programas de treinamento para crianças na faixa etária de 6 a 10 anos precisam estar centrados no desenvolvimento esportivo geral e não em uma modalidade esportiva específica (BOMPA, 2002).

Referir-se à iniciação esportiva remete à ideia tendenciosa da preparação para um futuro no esporte; há uma idealização da continuação no esporte com vistas a atingir o profissionalismo. Santana (2005) menciona a existência de uma crença que esporte é para quem tem talento, ainda que seja para alguns poucos e por esse motivo muitas

crianças acabam sendo submetidas a ensinamentos que não consideram o respeito às diferenças. O autor aponta que ideias como estas direcionam para uma pedagogia esportiva reducionista:

[...] uma vez que ignora o todo em detrimento das partes; que ignora, por exemplo, que a criança que se interessa por esportes é a mesma que se relaciona com os amigos, com a família, com a escola, que tem necessidade de brincar despretensiosamente, de se divertir, de ser aceita, transpor limites, que imagina ser esse ou aquele craque, que tem desejo de jogar, que precisa aprender a conviver, a cooperar e a construir autonomia (SANTANA, 2005, p. 8).

Este raciocínio faz alusão aos artifícios de exclusão recorrentes no processo de especialização precoce6, comum nas histórias de iniciação esportiva de muitas crianças. Referindo-se ao estágio de iniciação, Bompa (2002) explica que as crianças nesse período devem participar de programas de baixa intensidade, em que a ênfase se encontra no divertimento, uma vez que em geral as crianças não conseguem lidar com as exigências físicas e psicológicas exigidas pelo treinamento de alta intensidade ou das competições organizadas.

Se for feito um direcionamento dos olhares para a iniciação esportiva de crianças com deficiência, também serão identificadas situações de eliminação, isenção e/ou desobrigação de estar participando de atividades dessa natureza.

Enquanto as discussões dentro da pedagogia do esporte, como área de grande relevância e de levantamento de diversas questões acerca do esporte permeiam pelas influências da não participação dos menos habilidosos e/ou a participação prematura dos mais talentosos, quando referente à especialização precoce. Para a criança com deficiência, poucas são as discussões relacionadas às problemáticas da sua participação em atividades físicas e esportivas e, nomeadamente no que concerne à iniciação esportiva de crianças com deficiências físicas, tampouco foram abordadas pela literatura nacional. Nesse sentido Melo e Munster (2012), apontam para a necessidade do desenvolvimento de estudos voltados à iniciação esportiva da criança com deficiência, independente do contexto (educacional, lazer, reabilitação ou rendimento) e/ou finalidade (pedagógica, recreativa, terapêutica ou competitiva) que for abordado.

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“Especialização Precoce é a adaptação ao ambiente esportivo em determinado grau, de forma prematura e antecipada, supondo-se, aqui, o adiantamento de adaptação a determinadas etapas que estão ainda por vir.” (BALBINO, 2002, p.65).

Para tanto, iniciar uma criança no esporte significa adequar o esporte à criança e não a criança ao esporte. Os conteúdos devem ser selecionados criando estratégias e procedimentos pedagógicos que levem em consideração as necessidades da infância, prevalecendo a ludicidade, espontaneidade e a capacidade de adaptação aos novos conteúdos (GALATTI et al, 2008).

Diante do exposto, a partir deste momento será descrito o método utilizado para desenvolvimento desta pesquisa, permeando sobre a caracterização dos procedimentos e todos os passos necessários para tornar possível o estudo em questão.