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Implicações para o Programa de Iniciação Esportiva

5. PROGRAMA DE INICIAÇÃO ESPORTIVA PARA CRIANÇAS COM

5.11 Implicações para o Programa de Iniciação Esportiva

Referindo-se aos cuidados que devem ser tomados ao introduzir uma criança com deficiência física ao esporte, Gorgatti e Böhme (2005) consideram que ao iniciar uma atividade física em cadeira de rodas, o indivíduo pode ter dificuldade de se adaptar ao equipamento, uma vez que as cadeiras de rodas utilizadas para a prática de esportes são diferentes daquelas usadas no dia-dia. Em sua maioria não apresentam freios, as rodas são cambadas8, a fim de proporcionar maior agilidade e estabilidade nos movimentos e, o material utilizado nestas cadeiras normalmente sejam bem mais leves que nas cadeiras convencionais. Portanto, o primeiro passo deve ser a adaptação do indivíduo a esse novo instrumento, buscando facilitar essa fase inicial, propondo atividades específicas a serem desenvolvidas na cadeira de rodas.

A pessoa que inicia atividades em uma cadeira de rodas esportiva, especialmente se não faz uso de uma cadeira de rodas convencional para sua locomoção, necessitará de um tempo de adaptação a esse novo equipamento. Dentre as habilidades que devem ser estimuladas nesse momento inicial Auxter, Pyfer e Huettig (2001) apontam que um programa de iniciação esportiva deve incluir o treinamento de mobilidade e deslocamento sobre a cadeira de rodas. A criança deve praticar atividades de movimentação na cadeira de rodas que possibilitem modificar as variáveis de

8 Cambagem é o indicativo, em graus, da inclinação das rodas de um veículo em relação a um plano horizontal, para posterior ajuste. (IDICIONÁRIOAULETE, 2013)

movimento de tempo, espaço, força e fluxo. Ainda referente às habilidades necessárias a serem trabalhadas num treinamento específico Gorgatti e Böhme (2005, p. 169) assinalam que este

[...] deve englobar a propulsão da cadeira de rodas em situações variadas: para frente, para trás, em curvas, com obstáculos, em terrenos acidentados, com possíveis inclinações, e com superfícies diferentes. O professor pode alternar os exercícios solicitando que o aluno execute-os de forma mais acelerada ou mais lenta.

Para tanto, a ênfase no programa de iniciação esportiva deve estar em habilidades motoras funcionais, dando à criança usuária de cadeira de rodas a oportunidade de mover-se na cadeira, vivenciando as diversas possibilidades de movimento. Indivíduos com funcionalidade de membros superiores devem realizar mais atividades físicas na cadeira de rodas (AUXTER; PYFER; HUETTIG, 2001). Os participantes devem ser oportunizados a desenvolver suas habilidades de controle sobre a cadeira, mobilidade e deslocamento, sendo levado a obter ganhos no concernente a suas valências físicas e técnicas específicas. Nesse sentido, Nakayama e Fujisawa (2009, p. 68) acreditam que

[...] a condição motora da criança com deficiência física pode facilitar ou dificultar a utilização e locomoção na cadeira de rodas. O controle de tronco, a coordenação motora e a força muscular dos membros superiores são aspectos essenciais à utilização desse dispositivo.

Assim, um programa de iniciação esportiva para pessoas com deficiência física deve ser baseado em um programa globalizado de exercícios para todas as partes do corpo, incluindo atividades para desenvolver força, flexibilidade, resistência muscular, resistência cardiovascular e coordenação. As crianças precisam aprender diferentes maneiras de usar sua cadeira de rodas em uma variedade de ambientes e devem ser encorajados a interagir com seus pares. Estas atividades devem ser desenvolvidas com todas as crianças, independentemente se esta faz o uso da cadeira de rodas ou de qualquer outro tipo de prótese ou órtese, como por exemplo: andadores, muletas, etc. (AUXTER; PYFER; HUETTIG, 2001).

No entanto, cada criança apresentará suas características e necessidades para adaptação à cadeira, por exemplo: uma criança que faz uso de outras órteses que não a

cadeira de rodas possivelmente apresentará maiores dificuldades em sua adaptação, mobilidade e deslocamento que uma criança que faz o uso diário desse dispositivo. Portanto, é necessário que antes de iniciar um programa de iniciação com crianças com deficiência física, seja feito o reconhecimento do aluno e suas potencialidades.

Segundo Auxter, Pyfer e Huettig (2001), além da mobilidade em cadeira de rodas, as crianças menores devem adquirir as habilidades motoras fundamentais, tais como atirar, bater e apanhar um objeto ou bola. Para os autores, uma vez que essas habilidades forem dominadas, os jogos e modalidades esportivas envolvendo tais habilidades poderão ser reproduzidos pelas crianças participantes.

Portanto, acredita-se na necessidade de oportunizar as crianças com deficiência física uma gama de experiências motoras, como meio a instigá-las à busca por mais vivências e consequente ampliação de seu repertório motor. Para Gallahue e Ozmun (2005), é necessário proporcionar à criança uma gama de vivências motoras durante sua fase de desenvolvimento motor, em especial na fase motora fundamental.

Nesse sentido, a fase de desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais é o período em que o movimento torna-se um instrumento utilizável nas situações diárias, utilizando-se das habilidades de estabilização, locomoção e manipulação para resolução das situações problema (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

Em se tratando da grande relevância do enriquecimento das habilidades locomotoras e estabilizadoras por meio do controle sobre a cadeira de rodas, Gorgatti e Böhme (2005) ressaltam a importância da aquisição das habilidades de manejo sobre a cadeira de rodas, dentre as quais se encontra as técnicas de equilíbrio, como por exemplo, se manter com apenas uma roda. O intuito é proporcionar aos participantes o enriquecimento de suas habilidades de controle sobre seu dispositivo de locomoção.

As autoras acreditam que o domínio das habilidades motoras possa vir a ser avaliados por meio da iniciação desse aluno na prática de algumas modalidades esportivas sobre rodas, utilizando-se de elementos lúdicos, como jogos e brincadeiras convencionais adaptados ao uso da cadeira, condicionando o aluno ao desenvolvimento dos aspectos motor, convívio social e desvinculando a cadeira de rodas de uma imagem incapacitante (GORGATTI; BÖHME, 2005). Ao se trabalhar jogos, brincadeiras e atividades lúdicas com crianças, existe a necessidade de levar em consideração a faixa etária em que esta(s) se encontra(m), assim, o controle das atividades e a maneira de

passagem de informações das intervenções serão modificados e elaborados utilizando-se diferentes estratégias.