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2.1.2 Neurológicas (medula espinhal)

2.1.2.2 Lesão medular

A lesão da medula espinal é um dos mais graves acometimentos que pode afetar o ser humano e com enorme repercussão física, psíquica e social (BRASIL, 2013, p.6). A Lesão Medular (LM) é uma condição de insuficiência parcial ou total do funcionamento da medula espinhal, decorrente da interrupção dos tratos nervosos motores e sensoriais desse órgão, podendo levar a alterações nas funções motoras e déficits sensitivos, superficial e profundo nos segmentos corporais localizados abaixo do nível da lesão, além de alterações viscerais, autonômicas, disfunções vasomotoras,

esfincterianas, sexuais e tróficas (CEREZETTI et al, 2012). De acordo com as Diretrizes de Atenção à pessoa com Lesão Medular do Ministério da Saúde:

Estas alterações se manifestarão principalmente como paralisia ou paresia dos membros, alteração de tônus muscular, alteração dos reflexos superficiais e profundos, alteração ou perda das diferentes sensibilidades (tátil, dolorosa, de pressão, vibratória e proprioceptiva), perda de controle esfincteriano, disfunção sexual e alterações autonômicas como vasoplegia, alteração de sudorese, controle de temperatura corporal entre outras. (BRASIL, 2013, p.6).

A coluna vertebral é composta por cinco segmentos, são eles: cervicais, torácicos, lombares, sacrais e coccígenos. Caso a medula seja afetada, o grau de paralisia será determinado pelo local em que ocorreu a lesão na coluna e a quantidade de fibras destruídas. A função é perdida devido à morte das células na região e pelo rompimento das fibras que levam as informações (GORGATTI; BOHME, 2005). Diante do exposto, quanto mais alta for a lesão, possivelmente o grau de severidade será mais complexo, tendo em vista que as fibras dos órgãos vitais encontram-se nas regiões mais alta da medula espinal.

Em relação à classificação quanto ao nível e grau, as lesões podem ser classificadas como completas e incompletas. Nas lesões completas existe perda sensitiva e paralisia motora total abaixo do nível da lesão devido à interrupção completa dos tratos nervosos. A lesão incompleta é caracterizada pela secção parcial da medula e existe função residual de motricidade, sensibilidade e possibilidade de retorno progressivo da função muscular (GORGATTI; BOHME, 2005; CEREZETTI et al, 2012).

De acordo com Cerezetti (2012) existem ainda algumas síndromes, também relacionadas com os graus de lesão, são alguns exemplos:

As causas das lesões medulares podem ter origens traumáticas ou não traumáticas. Entre as causas de etiologia traumática, as mais frequentes, estão relacionadas a acidentes automobilísticos, ferimentos por armas de fogo, mergulho em águas rasas, acidentes esportivos e quedas (GORGATTI; BOHME, 2005; CAFER ET al, 2005; CEREZETTI, 2012; BRASIL, 2013). Já as causas das lesões não traumáticas podem estar relacionadas a tumores, infecções, alterações vasculares, malformações e

processos degenerativos ou compressivos (GORGATTI; BOHME, 2005; CEREZETTI, 2012; BRASIL, 2013).

A pessoa com lesão medular passa a ter uma rotina diferenciada e são necessários alguns cuidados. De acordo com Gorgatti e Bohme (2005) entre as principais características e sequelas a serem consideradas no trato a pessoa com lesão medular estão as seguintes:

A espasticidade: geralmente indivíduos usuários de cadeira de rodas possuem tônus da musculatura dos membros inferiores e tronco elevados denominados espasticidade;

Redução da respiração pulmonar e infecções respiratórias: geralmente apresentadas em indivíduos com lesões na região cervical;

Termorregulação: devido a disfunção do sistema de regulação térmica do corpo. Assim, o indivíduo com lesão medular pode apresentar dificuldades em situações de temperaturas elevadas, às vezes durante a prática de atividades físicas é necessário resfriar o corpo do indivíduo com borrifadores de água.

Úlceras de decúbito (escaras): as escaras são regiões de tecido subcutâneo da pele necrosados devido à pressão prolongada;

Incontinência urinária e distúrbios do esfíncter retal: com a lesão medular o indivíduo pode passar a não ter mais o controle sobre a bexiga e essa passa a se esvaziar por si só. O mesmo pode ocorrer com a eliminação involuntária de fezes por meio de distúrbios do esfíncter retal;

Distúrbios do retorno venoso e osteoporose: a ausência das contrações musculares nos membros inferiores dificulta o retorno sanguíneo para o coração, prejudicando o funcionamento do sistema circulatório, também pela ausência de contrações musculares voluntárias podem aparecer a perda de massa óssea por dificuldades de absorção de cálcio.

Para as pessoas com lesão medular que buscam uma atividade física, esportiva ou de lazer, bem como para iniciação e recebimento de uma criança ou pessoa com uma lesão dessa natureza é necessário atentar para algumas implicações pedagógicas e etiológicas. De acordo com Miron (2011, p.75) é necessário:

Conhecer as principais características da deficiência; Não esquecer que, apesar da deficiência, o LM pode desenvolver inúmeras potencialidades; A aula deve sempre conter desafios que possam levar/estimular o LM; Avaliar as possibilidades e necessidades do aluno; O professor deve ter pleno conhecimento do local, material, equipamentos e atividades que possam oferecer risco ao aluno LM; Deixar que o aluno LM experimente a atividade no seu tempo, deixando-o se adaptar às novas práticas; Valorizar os acertos é muito mais produtivo do que evidenciar os erros; É importante não subestimar o potencial do aluno; Traçar objetivos em comum acordo

entre professor e aluno LM; Atitudes superprotetoras devem ser evitadas, pois ele é mais um aluno que irá participar da mesma e não o único; Programar atividades que sejam apropriadas às limitações, mas principalmente às possibilidades e potencialidades do aluno; Os demais alunos devem ser preparados para entender e conviver com as diferenças; Motivação é fundamental para o sucesso da participação do aluno LM nas aulas de Educação Física; O aluno deve ser motivado, na medida do possível, a vencer seus desafios, o sucesso é um fator importante para que o aluno se motive e possibilita uma melhor autovalorização e autoconfiança; Atividades esportivas que podem ser levadas para a vida toda e não apenas no período escolar devem ser desenvolvidas.

Essas são estratégias e condutas a serem consideradas quando se tem um aluno com lesão medular. Acredita-se que essas são algumas implicações que podem dar o suporte necessário para se obter controle sobre a participação do aluno de maneira integral para seu desenvolvimento global.