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Com o crescimento industrial, houve grande migração do campo para a cidade, aumentando, de forma acelerada e desordenada, a população. Os municípios não possuíam planejamento para ordenar a situação e a ocupação territorial.

Assim, iniciou-se vultosa população que se instalou nos grandes centros, em busca de trabalho e melhores condições de vida. Porém os salários não eram suficientes para aquisição de moradia. Os trabalhadores das indústrias, no intuito de permanecer próximo aos seus locais de trabalho, começaram a instalar-se em cortiços, favelas e loteamentos.

Começou, então, a verdadeira separação social: a segregação dos trabalhadores, a discriminação que empobrecia e excluía a maioria do acesso à moradia e elegia a minoria para dominar o capital a especular o mercado imobiliário, que atendia ao interesse dos capitalistas.

Por meio do Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU), em 1970, que pedia o direito à cidade a todos, contou com a participação da assistência social, igreja católica, engenharia, arquitetura e outros. Em 2001, culminou a Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, surgindo o Estatuto da Cidade, que é o principal instrumento de ordenamento das questões urbanas e, em nível local, os planos diretores.

A Constituição Federal de 1988 foi pioneira na questão urbana, permitindo debate da sociedade civil organizada e apresentação de sugestões para novas temáticas concernentes ao tema.

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

§ 4º É facultado ao poder público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Promulgada a lei com as normas gerais sobre Política Urbana, após longo período de discussões, surge o Estatuto da Cidade, que regulamenta a Constituição Federal e cria uma série de instrumentos para o desenvolvimento urbano.

Segundo a palestrante Kelly (2010), o Estatuto da Cidade estabelece, ainda,

 A Política de Desenvolvimento Urbano das Cidades, através de normas de ordem pública e interesse social que buscam ordenar o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e bem-estar dos cidadãos, bem como, do equilíbrio ambiental;

 Define a função social da cidade e da propriedade urbana;

 Principais instrumentos de gestão da política e indução de desenvolvimento urbano: plano diretor, ZEIS, regularização fundiária, IPTU progressivo;

O Estatuto da Cidade deve ser seguido pelos planos diretores municipais, pois a Constituição Federal determina que a política de desenvolvimento urbano dos municípios deve ser pautada pelas diretrizes afixadas em lei. Dessa forma, os planos diretores são vinculados às diretrizes do Estatuto.

Para essas medidas, cada município adota o seu Plano Diretor. Este é obrigatório para municípios com mais de 20.000 mil habitantes, usado como instrumento básico da política municipal de ordenamento, expansão e desenvolvimento urbano.

Segundo Saboya (2007, p. 39),

Plano diretor é um documento que sintetiza e torna explícitos os objetivos consensuados para o município e estabelece princípios, diretrizes e normas a serem utilizadas como base para que as decisões dos atores envolvidos no processo de desenvolvimento urbano convirjam, tanto quanto possível, na direção desses objetivos.

O plano diretor é eminentemente político e deverá democratizar e dar transparência à política urbana. Deve tratar do uso, expansão e parcelamento do solo urbano, habitação, saneamento básico e transporte urbano.

Os Planos Locais de Habitação e Interesse Social são lei, e dispõem sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e institui o Conselho Gestor do FNHIS.

Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (2010),

O FNHIS é um fundo contábil de habitação de interesse social com destinação específica, composto por uma série de receitas a ele vinculadas. A criação do FNHIS possibilita a junção de recursos de diferentes fontes: da iniciativa privada (por meio de doações, pagamento de multas, etc.) e do Orçamento Geral da União. Esses recursos são repassados para os estados, Distrito Federal e municípios para apoiar a execução de programas habitacionais destinados à população de baixa renda, mediante a assinatura de contrato de repasse.

As linhas programáticas e suas modalidades integrantes deverão ser revistas e definidas, a cada ano, pelo Conselho Gestor do Fundo – CGFNHIS.

Os objetivos do SNHIS (2010) são:

I – viabilizar, para a população de menor renda, o acesso à terra urbanizada e à habitação digna e sustentável;

II – implementar políticas e programas de investimentos e subsídios, promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população de menor renda; e

III – articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições e órgãos que desempenham funções no setor da habitação.

Do ponto de vista metodológico, o Plano Local de Habitação de Interesse Social é um documento estratégico para um processo permanente do planejamento do setor habitacional municipal.

Conforme o site da Confederação Nacional dos municípios,

O Plano Habitacional de Interesse Social estadual, distrital e municipal é um plano participativo que deve agregar os diversos agentes sociais relacionados ao setor habitacional: setores públicos e privado, técnicos, associativos, sindicais e acadêmicos e demais associações e agentes sociais. Os planos municipais, distritais ou estaduais devem estabelecer princípios, diretrizes, objetivos e metas a serem aplicados a partir do diagnóstico da questão de habitação, prioritariamente de interesse social do estado, região ou município; complementando por diagnósticos setoriais e da análise da conjuntura (nacional e local), em consonância com as diretrizes estabelecidas na Política Nacional de Habitação, nos planos diretores participativos (se houver) e com as demais diretrizes de planejamento urbano existentes.

A Política Nacional de Habitação, em consonância com a Constituição Federal e Estatuto da Cidade, vem estabelecer seus princípios como “Direito à moradia1; função social da propriedade; habitação como política de Estado; gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade; e articulação das ações de habitação com a política urbana” (KELLY, 2010).

Em consonância com os princípios habitacionais e com seu código de ética humanista é que se espera perpassar as ações do assistente social, entendendo a prioridade do direito à moradia, à necessidade de garanti-la através

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Uma casa (do latim casa), ou uma residência (do latim residencia) é, no seu sentido mais comum, uma parede artificial, construída pelo ser humano, cuja função é constituir-se de um espaço de moradia para um indivíduo ou conjunto de indivíduos; de tal forma que eles estejam protegidos dos fenômenos naturais exteriores (como a precipitação, o vento, calor e frio, entre outros), além de servir de refúgio contra ataques de terceiros. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa).

dos mais diversos órgãos governamentais e privados, entendendo, assim, o contexto na qual está inserida.

Segundo Silva (1989, p. 31),

A escassez de moradia é percebida como manifestação da desigualdade implantada pelo capitalismo enquanto sistema de produção. É um fenômeno que cresce paralelamente ao exército industrial de reserva, sendo ambos benéficos para o processo de acumulação, na medida em que o capitalismo cria, como condição necessária à sua expansão, a existência de uma classe que não tenha outra coisa para vender a não ser sua força de trabalho.

As questões habitacionais estão fortemente relacionadas e intrincadas numa distribuição de renda seletiva e excludente, cada vez menos insustentável pela ótica dos direitos humanos, ambientais, sociais e culturais.

São objetivos da Política Nacional de Habitação o acesso à terra urbanizada e à habitação digna e sustentável; implementar políticas e programas de investimentos e subsídios; e articulação institucional (KELLY, 2010).

A Política Nacional de Habitação criou um conjunto de objetivos, metas, diretrizes, planos de ação que dão prioridade a quem tiver menor renda, e criam a possibilidade da articulação com os mais diversos órgãos para o provento de novas moradias.

Enquanto as leis buscam reconhecer a moradia e a cidade como forma de inclusão do cidadão no Estado, a minoria continua a dominar grandes propriedades e a monopolizar territórios, a destruir e a degradar ecossistemas em nome da ampliação do capital e em nome da especulação imobiliária, negando aos cidadãos o direito que lhes é cabido.

A questão habitacional se modifica a cada dia, exigindo novas respostas de seus governantes. As ocupações desordenadas e a falta de efetividade de políticas existentes, bem como o pouco tempo das leis vigentes, parecem aumentar ainda mais a possibilidade de os desastres se tornarem mais danosos à população. Esta já não possui meios de responder às vulnerabilidades que se apresentam em seu cotidiano, engrossando as favelas, os cortiços e os assentamentos precários, sem estrutura e sem saneamento básico.

O desastre é eminente, mas não é percebido pela população, pois essa se preocupa com o que considera mais primordial, como a fome, a escassez de água, a falta de trabalho, o pouco salário. A preocupação das famílias é com sua sobrevivência.

Sentiu-se a necessidade de saber como era o perfil dos participantes da Capacitação Técnica em Situação de Risco e Desastre, que tipo de ações faziam em seu cotidiano e qual era sua motivação para capacitação?

6 PERFIL DOS PARTICIPANTES

Durante a Capacitação Técnica em Situação de Risco e Desastre, sentiu- se a necessidade de saber qual o perfil dos participantes, e por esse motivo realizou- se a avaliação intitulada de “Perfil dos participantes da Capacitação Técnica em Situação de Risco e Desastre”.

Quanto à procedência:

Gráfico 17

Fonte: Elaboração da autora, 2009.

Através desse gráfico, pode-se observar a diversidade das regiões de onde vêm os participantes da capacitação, sendo que 33% são de Florianópolis; 27%, São José; 12%: Palhoça, São Pedro de Alcântara; 4%: Tijucas, Itajaí, Biguaçu, Santo Amaro, Porto Belo, Bombinhas e Balneário Camboriú.

Pode-se chegar a essa diversidade devido ao contato com a Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí (AMFRI), que fez a divulgação da capacitação técnica em situação de risco e desastre.

No que se refere à formação

33% 27% 12% 12% 4% 4% 4% 1% 1% 1% 1% MUNICÍPIOS Florianópolis São José Palhoça

São Pedro de Alcantara Tijucas Itajai Biguaçu Santo Amaro Porto Belo Bombinhas Balneario Camboriu

Gráfico 18

Fonte: Elaboração da autora, 2009.

Identificou-se que 33% cursam nível superior, o que traz à tona outra realidade: o interesse dos acadêmicos em estar se capacitando para atuar nessas situações; 29% são assistentes sociais; 8% têm ensino superior; 7%: superior incompleto, ensino fundamental; 5%: Psicologia; 4%: Pedagogia; 2%: curso técnico; 1%: ecólogo, agente de meteorologia, direito, segurança do trabalho e estudantes do fundamental; sendo que os estudantes do fundamental eram compostos por dois NUDECs mirins que realizaram a capacitação.

A Capacitação técnica foi feita de maneira a integrar as mais diversas disciplinas, de modo a compreender, debater, sugerir novos espaços para atuação dos mais diversos profissionais e integrar com vistas no conhecimento e respostas mais eficientes, respeitando a área de atuação de cada participante e trazendo à tona a nova realidade do voluntariado em Santa Catarina. Este precisa também estar capacitado e pronto para dar respostas nas suas áreas de conhecimento e onde seu potencial for mais necessário.

Quanto à motivação para participar da capacitação:

33% 29% 8% 7% 7% 5% 4% 2% 1% 1% FORMAÇÃO Cursando superior Assistente Social Ensino Médio Superior incompleto Ensino fundamental Psicóloga Pedagogia Técnico Ecologa Agente de metereologia Direito Segurança do trabalho Estudante fundamental

Gráfico 19

Fonte: Elaboração da autora, 2009.

A busca pelo novo conhecimento fiou evidenciada com 49%, sendo que os profissionais que já atuam na área o citam como primordial também em situações de normalidade, tendo agregado muito conhecimento; 17% citaram que estavam fazendo a Capacitação por ser uma nova temática; 15%: para atuarem em situações de risco e desastre; 9%: para realizarem seus trabalhos voluntários com propriedade; 6% estavam fazendo a capacitação para promover novas capacitações em seus municípios de origem e 4%: para se prepararem para possíveis e futuros concursos públicos na área da Defesa Civil.

Quanto ao sexo: 49% 17% 15% 9% 6% 4% EM CAPACITAÇÃO Ampliar conhecimentos Nova temática Atuar em situação de desastre Trabalho voluntário

Ministrar novas capacitações Prestar concurso

Gráfico 20

Fonte: Elaboração da autora, 2009.

Da população que realizou a capacitação, 87% são do sexo feminino e 13%, do masculino, mostrando o interesse das mulheres pelo conhecimento.

Quanto à atuação profissional: 87% 13%

SEXO

FEMININO MASCULINO

Gráfico 21

Fonte: Elaboração da autora, 2009.

Conforme demonstra o gráfico, 29% são estagiárias, o que evidencia claramente o empenho e a necessidade de preparação entendida por esses futuros profissionais; 28% são assistentes sociais; 9% são profissionais das mais diversas secretarias; 7%: área da psicologia e Defesa Civil; 6%: do Centro de Referência Especializado de Assistência Social, principalmente com representantes do Programa Erradicação Trabalho Infantil (PETI); 5%: auxiliares administrativos e Auxiliar Contábil; e 4% referem-se às Diretoras de Assistência Social.

O enriquecimento da Capacitação Técnica em Risco e Desastre se deu através das diferenças na formação de cada profissional: estudante, estagiário, técnico e outros. Essas diferenças nas situações de risco e desastre são apontadas como dificuldades na pesquisa, tanto pela Defesa Civil como pela Assistência social.

Essa Capacitação mostrou a possibilidade de criar a interdependência entre as mais diversas áreas, e que é possível criar saberes a partir da experiência dualizada e comunicada. 29% 28% 9% 7% 7% 6% 5% 5% 4% ATUAÇÃO PROFISSIONAL Estagiária Assistente Social Secretaria Psicóloga Defesa Civil Creas -Peti Auxiliar Administrativo Auxiliar Contábil