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Habitus, ethos e práticas discursivas

No documento rafaelpereiradasilva (páginas 95-101)

6. EM BUSCA DA COMPREENSÃO DO ETHOS

6.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS

6.2.2 Habitus, ethos e práticas discursivas

Quando trabalha com seu conceito de habitus, ao se referir aos agentes de determinado campo, Pierre Bourdieu, opta pelo estudo das práticas e dos mecanismos que condicionam essas práticas, ou seja, os campos, para o sociólogo, o habitus pra o sociólogo é uma matriz de percepções. Bourdieu cria uma separação entre o que os homens falam (os discursos segundo ele), e os lugares sociais, as posições, que impõem diferentes maneiras de ver o mundo, de agir nele. Para o teórico, apenas o estudo das práticas permitiria observar e analisar as determinações sociais inscritas nos sujeitos.

Já Cavalcanti, que faz uma análise dos ethos discursivo dos jornalistas e trabalha, mesclando os conceitos de campo e habitus às práticas de análise discursiva acredita que:

O habitus “permite exprimir, em função de uma história de posições sociais ocupadas, uma certa significação que as coisas e os outros têm para nós”. Exprimir significação, isto é, atribuir sentidos ou interpretar, se dá não apenas quando o agente ouve/lê, mas também quando fala/escreve, em seus “discursos”, portanto (CAVALCANTI, 2006, p. 28).

Dessa forma, a pesquisadora propõe que há um ponto de interseção entre essas duas reflexões teóricas, a sociologia dos campos e a analise do discurso. Essas duas se aproximariam, pois todo o habitus se inscreve na linguagem, isto é, como a classe social apareceria marcada na linguagem, nas “maneiras de falar” dos agentes. Essa condição, segundo a autora, só é superada por Maingueneau (1993) que vai além da dicotomia discurso/instituição, e instaura um novo objeto que é a prática discursiva. Onde defende a ideia de que a AD deve incorporar como objeto também as comunidades nas quais circulam os discursos.

Ainda segundo a argumentação de Cavalcanti, a AD, para Maingueneau, põe de lado essas comunidades, só aceita pensar as determinações sócio-históricas quando essas se materializam na língua, por meio das formações discursivas. Entretanto, essa noção de formação discursiva não se mostrar, para Maingueneau suficiente para designar as duas vertentes da discursividade, a saber, a comunidade e o discurso, que se encontram intrincadas. Sua hipótese é a de que essas duas ordens são ditadas pela mesma semântica, isto é, as leis que regem um discurso são também as que regem as práticas de uma comunidade discursiva.

Esta assertiva de Maingueneau é importante, pois demonstrar que o posicionamento de um enunciador dentro do campo o qual pertence é fundamental para legitimar ou não seu dizer, ou se a instituição aparece submetida ao mesmo processo de estruturação do discurso.

Para Maingueneau um discurso não define apenas o estatuto do enunciador e do enunciatário, mas também impõe um tom, um modo de enunciação. A essa dimensão da discursividade denomina de ethos, conceito que recupera da retórica. Sem dúvida essa reflexão sobre o ethos é uma marca desse analista, e é aqui que ele mais se aproxima de Bourdieu (CAVALCANTI, 2006, p. 31)

Para elucidar conceito de ethos discursivo, Maingueneau se refere ao habitus nos termos de Bourdieu, isto é, os sujeitos interiorizam as “estruturas estruturantes” que são exteriorizadas nas práticas, e conformam essas práticas (as relações com o outro). Esse habitus está marcado no corpo, inscrito no sujeito, idéia que Maingueneau recupera das reflexões do sociólogo.

Essas ponderações são fundamentais para a compreensão do discurso dos jornalistas que atuam em assessoria, já que estes ocupam posições “desprivilegiadas” dentro do campo do jornalismo, pois ainda hoje, a identidade profissional deste campo é marcada e reconhecida pelos jornalistas que atuam nos veículos tradicionais, principalmente os que executam atividade de reportagem. No entanto a questão principal é, se por muito tempo a identidade nesse campo foi marcada pelas estruturas estruturantes do campo, ou seja, a atuação dos jornalistas nos veículos de comunicação, coma a migração crescente dos jornalistas para as áreas institucionais, como fica o discurso desses profissionais sobre sua profissão?

6.2.3 A seleção dos informantes

Uma das principais dificuldades durante o processo de realização da presente pesquisa foi à escolha dos informantes para que pudéssemos apreender o ethos discursivo dos jornalistas-assessores. Afinal uma investigação social exige fontes que sejam capazes de ajudar a responder o problema proposto. Como expõe Duarte (2006), em estudos qualitativos, são preferíveis poucas fontes, mas de qualidade, a muitas sem relevo. Ainda segundo o autor, as amostras, em entrevistas em profundidade, não tem seu significado mais usual, o de representatividade estatística de determinado universo. Estando a escolha dos entrevistados ligado à capacidade que as fontes têm de dar informações confiáveis e relevantes sobre o tema da pesquisa.

Jorge Duarte considera que é possível, entrevistando um pequeno número de pessoas, adequadamente selecionadas, fazer um relato bastante consistente sobre um tema bem definido.

Relevantes, nesse caso, é que as fontes sejam consideradas não apenas, válidas, mas também suficientes para responder à questão de pesquisa, o que torna normais, durante a pesquisa de campo, novas indicações de pessoas que possam contribuir com o trabalho, e, portanto, ser acrescentadas a lista de entrevistado (Duarte, 2006, p.69)

Na busca por jornalistas que atuam em assessoria de imprensa/comunicação e que pudessem nos oferecer uma visão do ethos desses profissionais, optamos por entrevistar profissionais que atuam em três cidades: Juiz de Fora; e duas capitais, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. O objetivo ao buscar profissionais nessas localidades é obter uma pluralidade de vozes significativas ao escopo da pesquisa, com profissionais com diferentes histórias de vida e experiências no jornalismo.

Lembrando que a seleção dos entrevistados em estudos qualitativos como aponta Duarte (2006) tende a ser não probabilística, ou seja, sua definição depende do julgamento do pesquisador e não de um sorteio a partir de um universo. Dessa forma, existem dois tipos básicos de amostras para o uso de entrevistas qualitativas: por conveniência ou intencional.

1) A primeira é baseada na viabilidade. Ocorre quando as fontes são selecionadas por proximidade ou disponibilidade.

2) Já a segunda possibilidade se dá quando o pesquisador faz a seleção por juízo particular, como conhecimento do tema ou representatividade subjetiva.

Ao esboçar o processo metodológico da pesquisa, escolhemos por uma terceira via, um meio termo entre essas duas formas de seleção. O objetivo é diminuir a subjetividade na escolha. Por meio de discussões e reuniões para esquematizar os processos metodológicos da pesquisa, consideramos que seria interessante que os informantes selecionados fossem indicados por profissionais do campo. Assim, chegamos à conclusão que o ideal seria consultar profissionais que atuam nas três cidades predeterminadas para a realização da pesquisa.

Dessa forma, optamos por consultar 15 agentes do campo da comunicação, cinco por cidade, que atuam nas mais diversas áreas (pesquisadores, professores universitários, jornalistas, assessores e também relações públicas). A proposta era que cada um desses profissionais indicassem três jornalistas (1º Opção; 2º Opção; 3º Opção) que em suas opiniões fossem profissionais modelos na área de assessoria de imprensa/comunicação no município onde residem. O intuito era gerar uma lista, onde os três nomes que fossem indicados mais vezes, seriam os entrevistados selecionados para a fase de entrevistas.

Em Juiz de Fora, por ter um conhecimento do mercado local e proximidade com os agentes do campo, optamos por buscar as indicações com profissionais que são reconhecidos no seguimento de assessoria de imprensa. Foram convidados a participar:

1) Andreia Helena do Nascimento; 2) Michelle Ferreira Cafiero Soares; 3) Rodrigo Fonseca Barbosa; 4) Lucimar Nunes de Paula Brasil

5) Michel Guedes (este último não respondeu ao questionário)26.

26

Em Belo Horizonte, diferente do que aconteceu em Juiz de Fora os entrevistados tinham uma vasta reputação na área acadêmica, as indicações foram feitas pelos seguintes profissionais:

1) Ivone de Lourdes Oliveira; 2) Américo Antunes;

3) Maurício Lara Camargo;

4) Márcio Simeone Henriques; (estava fora do país não respondeu ao questionário)

5) Aloisio Soares Lopes. (Não respondeu ao questionário)

Para finalizar, na cidade do Rio de Janeiro, foram convidados a participar os seguintes profissionais:

1) Márcio Ferreira

2) Manuel Marcondes Netos 3) Nicolau Maranini

4) Ana Julião

5) Lima de Amorin (Não respondeu ao questionário)

O inquérito foi realizado por meio de um formulário criado de forma eletrônica, utilizando as ferramentas do Google Drive, ferramenta disponibilizada pela empresa Google. O contato com esses profissionais foi realizado por meio de diferentes ferramentas, redes sociais, e-mail e contato telefônico, quando necessário. Devido alguns contratempos, esta parte da pesquisa foi iniciada em novembro de 2014. Mesmo ocorrendo esses imprevistos, ao verificar os primeiros questionários que foram preenchidos, percebemos que deveríamos utilizar outro método para seleção dos informantes na segunda fase. Pois como demonstra as tabelas abaixo, não ocorreu uma convergência de opiniões, como havíamos considerados.

Tabela1: Indicados na 1º fase de pesquisa Rio de Janeiro.

1º Opção de indicação 2º Opção de indicação 3º Opção de indicação Manoel Marcondes Terezinha Santos Altamir Tojal Betty Serpa

Marcio Ferreira Marcel Pesah Fernanda Galvão Luisi Valadão Nicolau Maranini Gabriel Nogueira Mario Quinderé Flávio Castro Ana Julião Monica Ferreira Sonia Azevedo Lucio Pimentel

Tabela 2: Indicados na 1º fase de pesquisa Juiz de Fora 1º Opção de indicação 2º Opção de indicação 2º Opção de indicação Andréia Nascimento

Andréia Pereira Ricardo Miranda Rodrigo Barbosa Michelle Cafiero Celso Noronha Gisele Cid Flávia Cadinelli Rodrigo Barbosa Zilvan Martins Bárbara Bastos Michael Guedes

Lucimar Brasil Christina Musse Não tenho opinião a respeito

Não tenho opinião a respeito

Tabela 3: Indicados na 1º fase pesquisa Belo Horizonte

1º Opção de indicação

2º Opção de indicação

2º Opção de indicação

Ivone de Lourdes João Carlos Firpe Mauricio Lara Mozahir Salomão Américo Antunes Denise Menezes Cândida Canêdo Vilma Tomaz Mauricio Lara José Renato Lara José Araújo Flávia Rios

Ao analisar as tabelas e por meio de conversas informais com alguns dos convidados, percebemos que eles haviam tomado como referência não a proeminência e nem a notoriedade desses profissionais dentro do campo da comunicação e do segmento de assessoria de imprensa. Esses nomes surgiram da vivência profissional e do contato, muitas vezes, diário com esses profissionais nas relações de trabalho. Dentro desse quadro, consideramos em primeiro lugar entrevistar todos os jornalistas que foram indicados como primeira opção em todas as cidades, totalizando 11 entrevistados. Entretanto, pela natureza do escopo da pesquisa este número seria relativamente grande. Optamos então, por utilizar algumas estratégias para gerar o quadro de profissionais selecionados para a realização da entrevistas na segunda fase da pesquisa.

A primeira delas foi amparada pelo referencia teórico utilizada no cerne da pesquisa, ao adotar as considerações de Maingueneau de que o ethos efetivo depende do imbricamento entre o ethos dito e o ethos mostrado, procuramos por meio das redes sociais Facebook e Linkedin analisar como esses profissionais se apresentavam no mundo profissional e social. Como foi possível constatar alguns dos indicados se referenciavam como professores universitários, jornalistas, produtores culturais, empresários e outras designações dentro do campo da comunicação. Este procedimento possibilitou confirmar, assim como assevera Bauman (2007) e os teóricos que pesquisam identidade cultural que

vivemos em um momento de identidades fluidas, e que dentro do campo da comunicação, assim como perpassamos em capítulos anteriores vivemos um momento onde as fronteiras profissionais são nebulosas.

Esse procedimento nos permitiu descartar logo de cara alguns profissionais, principalmente aqueles que estavam com suas identidades enraizadas na vida acadêmica e em outras áreas da comunicação como a produção cultural. A partir daí resolvemos entrar em contato com os outros referenciados para verificar a possibilidade da realização das entrevistas. Após verificarmos a disponibilidade e a intenção em participar da pesquisa chegamos aos seguintes nomes.

Tabela 4: entrevistados na segunda fase da pesquisa.

Andréia Pereira Zilvan Martins Celso Noronha

João Carlos Firpe Maurício Lara Vilma Tomaz

Marcel Pesah Terezinha Santos Mônica Ferreira

Dos nove jornalistas assessores na tabela acima, realizamos entrevistas com seis deles, a intenção era entrevistar todos, mas por questões de agenda, não foi possível.

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