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SURGIMENTO DA ATIVIDADE DE ASSESSORIA DE IMPRENSA

No documento rafaelpereiradasilva (páginas 76-79)

5. O JORNALISMO EXTRA-REDAÇÃO

5.1 SURGIMENTO DA ATIVIDADE DE ASSESSORIA DE IMPRENSA

As relações entre organizações e imprensa não é nova, assim como não é de hoje que os jornalistas atuam em outras cercanias que não os meios de comunicação tradicional. No Brasil, por exemplo, pelo menos há 50 anos estes profissionais atuam na divulgação institucional, exercendo atividades de assessoria de imprensa ou trabalhando na confecção de jornais empresariais. Como demonstram os pesquisadores como Duarte (2001; 2011), Chaparro (2011) e Sant’Anna, (2008) as atividades de assessoria de imprensa datam do início do século XX, nos Estados Unidos, pela atuação do jornalista Ivy Lee, em 190624, considerado o fundador desta atividade especializada. Este jornalista em meio a um ambiente conflituoso entre o empresariado norte-americano e a opinião pública, resumida pela célebre

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Ver CHAPARRO, Manuel Carlos. Cem anos de Assessoria de Imprensa in Duarte, Jorge. Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia, 2011.

frase “o público que se dane”25, abandonou as redações para atuar como relações públicas a serviço de John Rockefeller, um industrial odiado pela população por ser um explorador sem escrúpulos das empresas menores e de seus empregados.

Na época, os Estados Unidos passava por um grande crescimento empresarial no norte do país, em decorrência da Guerra de Secessão e a consequente vitória sobre os escravistas do Sul.

E, nesse turbulento pós-guerra, os “audaciosos empreendedores do norte” alargaram de forma ambiciosa as fronteiras de seus negócios. Especulavam com terras, construíam estradas de ferro, exploravam recursos minerais, abriam bancos. No desfrute de um poder político próprio, e em proveito de seus negócios, levavam ao extremo o exercício da “liberdade de fazer”, espinha dorsal do sistema liberal da livre concorrência. O poder permitia lhes controlar governos e colocar-se acima das leis (CHAPARRO, 2011, p. 5)

Este cenário, como nos conta o pesquisador, propicia o surgimento de fenômenos como o dos “barões ladrões” (robbersbarons), industriais sem escrúpulos que se dedicavam a fazer negociatas, visando o lucro fácil. No entanto, com a expansão da imprensa, o aparecimento de um novo tipo de jornalismo, com um grupo de jornalistas preocupado com questões sociais, e a organização de sindicatos de trabalhadores, as críticas a este modelo de capitalismo selvagem adquiriram mais visibilidade. Denunciados, os empresários capitalistas passaram a ter maior atenção às exposições de suas imagens perante a sociedade, procurando adotar novas atitudes frente à opinião pública. É nesse contexto que aparece Ivy Lee.

Como escreve Hebe Wey (1986, p. 30-31), os grandes capitalistas, “denunciados, acusados, e acuados, encontraram em Ivy o grande caminho para evitar denúncias, a partir de uma nova atitude de respeito pela opinião pública”. Assumindo Rockefeller como primeiro cliente, o jornalista Ivy Lee percebeu a excelente oportunidade para abrir um novo negócio: prestar assessoria que auxiliasse os empresários a corrigir a imagem que deles fazia a opinião pública, “com a divulgação de informações favoráveis às empresas, pela imprensa informativa”. E criou a assessoria especializada em fornecer notícias para serem divulgadas jornalisticamente, não como anúncios ou matérias pagas (CHAPARRO, 2011, p. 6)

Lee marcou o surgimento do trabalho em assessoria de imprensa, com a criação de uma declaração de princípios, em forma de carta enviada aos editores de jornais.

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Expressão original thepublicbedamned. É atribuída ao industrial William Henry Valderbilt, proferida em 1882,quando solicitado por jornalistas a dar explicações sobre o fechamento de uma ferrovia, prejudicando a população.

Este não é um serviço de imprensa secreto. Todo nosso trabalho é feito às claras. Pretendemos fazer a divulgação de notícias. Isto não é agenciamento de anúncios. Se acharem que o nosso trabalho ficaria melhor na seção comercial, não o usem. Nosso assunto é exato. Maiores detalhes, sobre qualquer questão, serão dados prontamente. E qualquer diretor de jornal interessado será auxiliado, com o maior prazer, na verificação direta de qualquer declaração de fato.

Em resumo, nosso plano é divulgar, prontamente, para o bem das empresas e das instituições públicas, com absoluta franqueza, à imprensa e ao público dos Estados Unidos, informações relativas a assuntos de valor e interesse para o público. ( Carta de Princípios, Yve Lee, 1906)

Esse postulado ofereceu as bases de orientação para a atividade moderna de assessores de imprensa, estabelecendo algumas regras ético-morais, em favor do pressuposto da confiabilidade. Lee comprometeu-se em fornecer somente notícias, e não publicidade, ficando à disposição dos jornalistas para posicionamentos transparentes e respostas verdadeiras. Entretanto, é preciso lembrar como salienta Chaparro (2011, p. 7) que Lee também se valia de estratégias corruptas ao oferecer magníficos empregos para jornalistas que não atacassem as empresas às quais prestava assessoria ou mesmo que as defendessem. Esta ação ficou conhecida como operação “fecha-boca”.

Ivy Lee, o precursor da assessoria de imprensa, não se limitou a cuidar bem do relacionamento com a imprensa. Profissional da comunicação, Lee compreendia que a imagem das pessoas, como a das instituições, não se mudam com “conversa fiada e notas em jornais”. Por isso, desenvolveu competências e técnicas de criar fatos noticiáveis. Com isso ele alterou os valores e a imagem pública de Rockefeller, e fundou assim a escola das relações públicas. Lee foi extremamente importante para o jornalismo, pois criou o conceito e a prática de informante profissional.

Com o sucesso de Lee a prática de assessoria de imprensa foi exportada rapidamente dos Estados Unidos para o Canadá e, posteriormente, para a Europa. Segundo Chaparro (2011, p. 10), em 1950, já existiam departamentos de assessoria de imprensa em mais de sete países do velho continente. Nesses países, a atividade esteve e está relacionada à área de atuação de profissionais relações públicas, cujo objetivo é promover a mediação entre as organizações, a mídia e o público, seja interno ou externo. A particularidade de jornalistas atuando em assessoria de imprensa cabe ao Brasil, onde a atuação nessa área é tradicionalmente ocupada por esses profissionais.

No documento rafaelpereiradasilva (páginas 76-79)