• Nenhum resultado encontrado

Helton Costa 1 Rafael Kondlatsch

No documento ISSN: VOLUME:2 NÚMERO:4 jan-jul 2013 (páginas 65-77)

Palavras-chave: Boatos; Jornalismo; Redes Sociais; Brasil.

Resumo: o presente artigo tem como objetivo a análise do boato como verdade viral na Internet, tendo como ponto de análise a falsa informação postada no blog de Joselito Müller e a análise do fato feita por Sérgio Motta Albuquerque no diário digital “Observatório da Imprensa”, edição 747 em 23 de maio de 2013. Para tanto, faz uso de descrições sucintas sobre jornalismo para Internet, redes sociais e ética jornalística dentro do âmbito on-li- ne, na nova configuração que se estabelece com o pensamento de que todo usuário é uma fonte de informação na web, onde a Internet deixa de ser um para um e se mostra um para muitos.

Resumen: Este artículo tiene como objetivo analizar el rumor como verdad viral en Internet, con el objeto de análisis de la información falsa publicada en el blog de Joselito Müller y el análisis del hecho realizada por Sér- gio Motta Albuquerque en el diario digital “Observatório da IMprensa”, edición 747 del 23 de mayo de 2013. Por lo tanto, se hace uso de descripciones breves sobre periodismo en Internet, la ética periodística y las redes sociales en el ámbito online, la nueva configuración se estableció con la idea de que cada usuario es una fuente de información en la web, donde hace Internet dejar de ser de uno a uno y se pone como de uno para muchos.

INTRODUÇÃO

Em maio de 2013, uma informação, no mínimo inusitada, ganhou corpo e começou a circular na Inter- net via redes sociais. O conteúdo dizia que o Governo Federal começaria a pagar uma bolsa de R$ 2 mil para profissionais do sexo para que elas utilizassem esse dinheiro para “uma vida mais digna” e para “prevenção de doenças”. O projeto de lei foi atribuído à senadora Ana Rita, do Partido dos Trabalhadores, e logo ganhou o nome de “Bolsa Prostituta”. Mais tarde, na tentativa de evitar problemas legais, o autor mudou o nome de Ana para Maria e deixou o post no ar.

A partir da primeira publicação a matéria se espalhou tanto à ponto do Governo Federal ter que fazer uma nota desmentindo o fato e ainda prometer colocar a Polícia Federal para achar o culpado pela falsa infor- mação. Este artigo resgata a história a partir da visão jornalística que o fato desperta, com o uso das redes sociais como fonte de informação ao usuário e os questionamentos éticos que são levantados por conta do comparti- lhamento de uma informação, seja ela verdadeira ou não.

Antes, porém, é preciso conceituar de forma resumida jornalismo online, seu uso nas redes sociais e a ética da checagem dos fatos como meio de prevenção à propagação de boatos.

JORNALISMO ONLINE

Iniciado em 1995 o jornalismo online hoje é um dos meios de informação mais utilizados no Brasil a fren- te de meios tradicionais como revistas e jornais, que frequentemente têm anunciado fechamento de suas portas e cancelamento de edições impressas. Desde a década de 60, quando a Internet ainda estava em fase de pesquisa até sua popularização, nos anos 90, passando pela criação dos primeiros ciberjornais nos Estados Unidos, até os dias atuais essa área de conhecimento só tem se expandido e ganhado adeptos porque, segundo Quadros (2002, p.7), empresários da comunicação tiveram a ideia de distribuir notícias na Internet aproveitando a sua rapidez de difusão.

De lá para cá muita coisa mudou e a Internet deu um grande salto. O site “Registro.br”, que comercializa os domínios de sites do país, divulga que ultrapassa a marca de 3,1 milhões o número de sites registrados no país até 28 de março de 20133. Nesse contexto estão também inseridos os webjornais, tantos os transmediados da ver-

são impressa, quanto àqueles feitos especificamente de atender o público da Internet, o que leva a uma separação cronológica da evolução em andamento na área específica do Jornalismo com veiculação pela Internet.

CRONOLOGIA EVOLUTIVA

Esse jornalismo online estaria agora entrando em uma quarta fase de evolução. Conforme explica Pala- cios (2006), a primeira fase teria sido o da reprodução de partes dos grandes jornais impressos na Internet. Na segunda fase o modelo tradicional ainda foi mantido, mas com alguns implementos específicos do jornalismo online, como ferramentas interativas “e-mail, para comunicação entre jornalista e leitor; fóruns de debates; sur- gem as seções como últimas notícias” (MACHADO, 2003, p.49).

Agora estaria terminando a terceira fase que Palacios (2006) define como “new journalism online”, na qual os sites “ultrapassam a ideia de uma versão para a web de um veículo já existente e empresas jornalísticas são criadas não mais em decorrência de uma tradição do jornalismo impresso” (TORQUATO, 2005, p.33).

Nessa terceira fase citada, há uma sistematização de atributos que são debatidos e organizados como características que definem o ciberjornalismo. São apontadas como características a interatividade, o hipertexto, a localidade, a personalização, a instantaneidade e a apetência pela profundidade através da navegabilidade. (TORQUATO, 2006, p. 45).

Machado e Palacios (2003) concentram as seis características citadas em cinco: multimidialidade/con- vergência, interatividade, hipertextualidade, personalização e memória (MACHADO & PALACIOS, 2003, p. 2). Essas seis características ainda estão dentro da terceira geração do jornalismo, uma fase que teve avanço tecno- lógico considerável e que pode ser vista com revolucionária dentro do próprio universo que compõe.

A caracterização desse estágio pressupõe base tecnológica ampliada, acesso expan- dido por meio de conexões banda larga, proliferação de plataformas móveis, redação des- centralizada e adoção de sistemas que permitam a participação do usuário, produtos criados originalmente para veiculação no ciberespaço, conteúdos dinâmicos formatados em narrati- vas multimídia, experimentação de novos elementos conceituais para organização da infor- mação, assim como de novos gêneros. (BARBOSA, 2007, p.129).

Já a quarta geração, que Canavilhas (2012) chama de “Quarto Ecrã”, traz como novidade a entrada em cena de outros dispositivos para recebimento de conteúdo jornalístico, que são os chamados dispositivos móveis, podendo significar os aparelhos telefônicos ou os populares tablet’s, por exemplo, que são possíveis de navegabilidade através de redes sem fio (wireless) (CANAVILHAS, 2012).

Nesse novo patamar, Canavilhas (2012) vê uma mudança também na forma de se direcionar conteúdo, uma vez que o público consumidor de conteúdo estaria ficando mais exigente.

A emergência dos chamados terceiro e quarto ecrã (AGUADO, 2008) obrigou os meios de comunicação a efetuar reajustamentos nas suas estratégias de distribuição. A possibilida- de de fazer chegar os conteúdos aos computadores e telemóveis dos consumidores abriu no- vos canais, mas criou igualmente a oportunidade de lançar novos formatos jornalísticos mais apelativos e adaptados a utilizadores cada vez mais exigentes. (CANAVILHAS, 2012, p. 7)

Apesar desta mudança de cenário, desde 1995 até a data de publicação deste artigo, alguns formatos de apresentação da notícia por canais via Internet continuam imutáveis. Principalmente em pequenas cidades do interior em estados com pouca infraestrutura tecnológica e pouco público consumidor de notícia. Nesses lugares mudaram-se os meios, permaneceram os formatos.

REDES SOCIAIS

Há muito que a comunicação instantânea no seu sentido mais básico (de pessoa para pessoa) deixou de ser um gesto presencial. A evolução tecnológica, que ganhou força com a invenção do telefone no século XIX, deu novos caminhos às palavras, permitindo que ausências pudessem ser aplacadas através de cabos (em um primeiro momento) e de outras formas de conexão sem fio ao longo dos anos. Justamente por conta desse desenvolvimento o mundo atual resultou em uma sociedade fortemente atrelada ao aumento da capacidade de comunicação e difusão de informação em escala intercontinental e com velocidade de resposta quase instantânea.

Os avanços das Tecnologias de Comunicação e Informação (TCIs), que “(...) a partir de 1975 passaram a

unir as telecomunicações analógicas com a informática” (LEMOS, 2008, p. 68) deram possibilidade de veiculação

através de um mesmo suporte - o computador -, de diversas formatações de mensagens. Essa união de tecnologias em uma mesma base, segundo Lemos (2008, p. 68), implicou na “(...) passagem do mass media - cujos símbolos

são a TV, o rádio, a imprensa, o cinema -, para formas individualizadas de produção, difusão e estoque de infor- mação”. Nesse momento, para o autor, deu-se início à passagem da circulação de informações hierarquizadas

verticalmente - de um para todos -, para a circulação com multiplicidade rizomática - de todos para todos.

No ciberespaço, Lemos (2008, p. 71) afirma que os computadores interligados seguem na contramão da comunicação impressa, retornando o sujeito ao que ele chama de “(...) tribalismo anterior à escrita e à impren-

sa”. Para ele, “(...) a dinâmica social atual do ciberespaço nada mais é que esse desejo de conexão se realizando de forma planetária” (LEMOS 2008, p. 71), na qual essa relação transforma o Computador Pessoal (PC) – um

objeto individual e desconectado, em um Computador Coletivo (CC). Essa união de máquinas abre precedente para o que os pesquisadores irão chamar de Comunicação Mediada por Computador (CMC), uma teia de co- nexões na qual emerge diferentes redes sociais interligando sujeitos de diversas partes do globo terrestre, estejam eles na mesma cidade ou do outro lado do mundo, partilhando ou não o mesmo idioma. Uma inovação que culminou em sites e ferramentas de comunicação como as redes e mídias sociais que, para alguns autores, “(...) ampliaram o espectro de produção e consumo de informações para qualquer cidadão capaz de interagir com as ferramentas disponíveis na web” (CORRÊA et. al., 2009, p. 1).

Para Altermann (2010, online) “(...) uma rede social é um grupo de pesso- as que tem algum nível de relação ou interesse mútuo”, o que na Internet, recebe a denomina- ção de relationship site (site de relacionamentos), hoje popularmente conhecidos como Redes Sociais.

Nesse ambiente interligado, o boato ganha força pelo seu imediatismo, de modo que um indivíduo ao ter contato com a primeira informação que recebeu, busca transmiti-la para terceiros, passá-la para frente, sem que isso possa implicar em uma checagem dos fatos, como deveria ocorrer, por exemplo, no jornalismo.

Para Zago (2010) a informação primária, enquanto boato virtual, seria uma informação falsa circulando de pessoa a pessoa na Internet. Para a autora, a utilização de expressões apelativas ou a associação do rumor a nomes ou instituições respeitadas constituiria uma estratégia para dar credibilidade ao fato e potencializar a sua visibilidade, atingindo muitas vezes órgãos de imprensa. Dessa forma, inseridos nesse contexto “(...) sites de

redes sociais como o Twitter constituem um ambiente propício para se observar a propagação de um boato virtual, na medida em que a interação é facilitada por essas ferramentas” (ZAGO, 2010, p. 177).

Foi o que ocorreu com o boato da chamada “Bolsa Prostituta”, no qual, depois de veiculada pelo blog de Joselito Müller, a informação se propagou e ainda se propaga, via redes sociais e também blogs, o que é possi- bilitado pelo caráter da característica da “memória” (sobre o conceito, ver PALACIOS, 2006), onde um assunto fica armazenado na rede, mas pode ser resgatado e acessado a qualquer momento, podendo, portanto, voltar a circular e assim ganhar caráter de informação atual.

Figura 17. Diagrama utilizado por Altermann (2010) para exemplificar como funciona uma rede social na internet. A figura foi encontrada em diversos sites que tratam da diferenciação sendo difícil atribuir crédito ao seu autor. Fonte: ALTER- MANN, 2010, online disponível em http://www.midiatismo.com.br/comunicacao-di- gital/qual-a-diferenca-entre-redes-sociais-e-midias-sociais acesso em 09.08.2013.

O BOATO

A primeira versão foi veiculada no blog de pseudônimo “Joselito Müller”, que apenas se identifica como sendo um “jornalismo destemido”. Começou a circular em 10 de maio de 2013 e desde então não saiu do ar. No dia 15, o mesmo autor chegou a desmentir o boato e ainda admitiu que foi “leviano” ao espalhar tal informação4.

A primeira notícia, antes do desmentido, dizia que a proposta havia sido aprovada naquela tarde “por

maioria de votos. Trata-se do pagamento de uma bolsa mensal no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) para garotas de programa em todo país”5.

Para atribuir veracidade ao fato, conforme citou Zago (2010, p. 177), foram atribuídas falas à senadora que ela nunca disse e terminava sustentando que o projeto seria sancionado pela presidente Dilma para que entrasse em vigor até o início da Copa de 20146.

Não só os internautas comuns compartilharam o fato e veículos de comunicação maiores, que se propu- nham ao jornalismo, chegaram a repercutir o falso post, entre eles, a Rádio Criciúma (16/5), o que levou à uma resposta desmentindo o fato, por conta da própria senadora citada, do Estado de Minas (16/5) e da Agência Senado (no mesmo dia)7.

No dia 15, quando viu o tamanho da repercussão da falsa notícia, Joselito Müller continuou os ataques e não se retratou. Publicou o título “Quando mentiras cretinas passam a se tornar verossímeis, é sinal que o país vai

mal”, onde se dizia preocupado pelo “fato de que mentiras descabidas, redigidas em linguagem supostamente jornalística são verossímeis atualmente no Brasil” terem sido entendidas como verdadeiras,o que não isentou um

novo ataque ao Governo Federal8.

Isso é um sintoma de que algo vai mal na política nacional e demonstra que representan- tes dos poderes da República vem protagonizando atos capazes de deixar o povo estarrecido. Por isso qualquer absurdo se torna crível no Brasil de hoje em dia. (MÜLLER , 2013, online)

O fato motivou o usuário e mestre em Planejamento Sérgio Motta Albuquerque a escrever o artigo “O

boato nefasto da ‘bolsa-prostituição’, no qual classifica a falsa informação postada por Joselito como “bizarro

fato”, “mentira” e “postagem maligna”. Sobre o autor, levanta suspeitas sobre sua autenticidade e dá a entender que o blog faz parte de uma ação orquestrada com o intuito de atacar a imagem da administração da presidente Dilma Roussef, do PT, frente à República9. (ALBUQUERQUE, 2013,)

4Disponível em http://joselitomuller.wordpress.com/2013/05/10/senado-aprova-pagamento-de-bolsa-mensal-de-r-2-00000-para-garotas-de

-programa, acesso em agosto de 2013.

5Idem.

6Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed747_ingenuidade_perigosa_nas_redes_sociais, acesso em agosto de 2013. 7Disponível em http://joselitomuller.wordpress.com/2013/05/15/quando-mentiras-cretinas-passam-a-se-tornar-verossimeis-e-sinal-que-o-pais-vai-mal/,

acesso em agosto de 2013.

8 Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed747_ingenuidade_perigosa_nas_redes_sociais, acesso em agosto de 2013. 9 Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed747_ingenuidade_

A “experiência” iniciada por “Joselito Müller” demonstra que grande parte dos usuários das redes sociais contenta-se em ler a penas os títulos dos artigos. Depois, se aprovam os mesmos, partilham na mídia social. Mesmo não tendo tido qualquer contato com o conteúdo da postagem. Como foi o caso aqui relatado: a postagem falsa era passada adiante aparen- temente sem qualquer verificação ou um mínimo de senso-comum. Principalmente no Face- book. É o que eu chamo, nas redes sociais, de “síndrome de incêndio australiano”: a coisa se alastra com uma velocidade tamanha que pouco há a ser feito. Mas também foi muito mais do que isto: foi uma tentativa de desacreditar as instituições democráticas, um governo eleito, a imprensa e o público incauto das redes sociais que não verifica a autenticidade do que lê e partilha na rede. (ALBUQUERQUE, 2013, online)

Joselito ainda utilizou o blog dele para responder a Sérgio Motta Albuquerque, no artigo “Breves conside-

rações sobre a cretinice – resposta ao artigo de Sergio da Motta e Albuquerque”, dizendo que as críticas partiram

porque Sérgio é ligado à esquerda do Brasil (e ao PT) e após várias defesas sobre a mentira que escreveu e ataques ao opositor, afirma que Sérgio não tem cérebro10.

APURAÇÃO E ÉTICA JORNALÍSTICA

O caso citado está intimamente ligado à obrigação criada na Internet, e em alguns canais de TV, sobre a notícia em tempo real. Franciscato (2003) atenta para os problemas que esse aceleramento do fluxo de infor- mação pode trazer para o jornalismo praticado no país. Para ele:

O jornalismo que opera em uma dimensão de tempo real se defronta com a possibili- dade de romper práticas tradicionais tanto na produção quanto na circulação do seu produto. A experiência de atualidade, ao se aproximar dramaticamente da meta da instantaneidade e utilizar o ‘instante’ como ordenador temático, gera uma tensão entre sua real capacidade de relatar o instante e a secundarização do atendimento a outras tarefas fundamentais do jornalismo, como a apuração rigorosa da informação (FRANCISCATO, 2003, p. 236).

A reflexão de Franciscato é importante quando pensamos sobre o compromisso da apuração no jornalismo, uma tarefa atrelada diretamente ao fundamento de noticiar apenas um fato que tenha suas informações confirmadas com exatidão. Não é atrelar notícia unicamente ao conceito de verdade, até porque “(...) há notícias falsas que nem por isso deixam de ser notícia” (ALSINA, 2005, p. 182). O que é imperativo no jornalismo, porém, é a necessidade da veracidade dos fatos relacionados à ocorrência. Observando a afirmação de Franciscato (2003) e fazendo uma correlação com o caso relatado anteriormente é fundamental questionar se a apuração sofre de uma diminuição de sua importância quando contraposta com a urgência da notícia em tempo real. Contraditoriamente, em uma época em que as comunicações foram exponenciadas e há o crescimento da disponibilidade de aparelhos móveis e outras 10Disponível em http://joselitomuller.wordpress.com/2013/05/23/breves-consideracoes-sobre-a-cretinice-resposta-ao-artigo-de-sergio-

formas de contato, a verificação parece ter se tornado um problema para os jornalistas que atuam no webjornalismo. Mas como exigir esse compromisso do leitor? Como exigir que o Código de Ética da profissão seja usado também pelos usuários da Internet? Já no segundo parágrafo do referido código, é defendido que “a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas”. (FENAJ, 2007, online)11.

Como fazer com que o leitor siga esses mesmos padrões, já que “a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público”? Essa visão de que o usuário deva agir como jornalista é defendida pelo próprio Sérgio Motta Albuquerque na crítica ao artigo de Joselito12.

Se os cidadãos contemporâneos também são informadores hoje em dia, é necessário que comecem a com- portar-se como gente de imprensa: tudo o que é lido e partilhado deve ser verificado. Não custa nada, não é difícil e com apenas alguns cliques uma mentira pode ser desmascarada facilmente. Em alguns casos não é preciso chegar a tanto: a mentira é tão óbvia que um pouco de bom senso basta. Joselito debochou do povo que acreditou nele. Chamou todos de “deficientes cognitivos”. Agora ficou sem apoio e marcado pelos que foram enganados e ofendidos, os que já desconfiaram desde o início, e aqueles que tomaram conhecimento do caso e condenaram sua postagem absurda e maligna. (ALBUQUERQUE, 2013, online)

Nesse ponto é importante ressaltar que o boato sempre existiu (Reule, 2008), porém, que com a Internet, ele se propaga com maior velocidade e que da mesma maneira que no mundo fora da grande rede, não há como con- trolá-lo sem que haja interferência na liberdade de expressão de quem o espalha, mesmo que o fato seja falso, já que sua disseminação pressupõe que o autor aceitará suas consequências.

Para evitar a disseminação desse tipo de conteúdo, seria necessário um modo de organização e controle do mundo virtual. E obviamente, uma mediação na rede, ambiente de constante evolução, é impossível de ser imaginada nos dias de hoje. Sem entrar em assuntos como os chamados crimes virtuais (sobre os quais já nascem mecanismos de controle baseados em legislações do mundo offline), qualquer manifestação para se barrar a produção e o acesso do conteúdo na rede é considerada censura – prática adotada por governos de alguns países. (REULE, 2008, p.110)

Portanto, não há como exigir que o usuário siga os mesmos padrões éticos do jornalismo e nem que o Estado ou quem quer que seja interfira no direito de produzir informações e veicular na rede, mesmo que essas sejam falsas, já que a outorga do direito de expressão exige esse risco. Talvez o mais próximo possível de uma saída, sejam a edu- cação ética e a crítica continuada da qual já falava Pierre Lévy no início do século 2000.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

11Disponível em http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas

No documento ISSN: VOLUME:2 NÚMERO:4 jan-jul 2013 (páginas 65-77)

Documentos relacionados