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A hermenêutica como um campo de possibilidades de diálogo para a Educação Física.

Capítulo III – Reflexões e contribuições para o trabalho docente no processo de formação inicial em Educação Física.

propositivas 1. Não-sistematizadas Sistematizadas Abordagem

1.4. A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO “ZONA DE FRONTEIRA”: ENTRE AS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS E AS CIÊNCIAS

1.4.1. A hermenêutica como um campo de possibilidades de diálogo para a Educação Física.

Na direção de enfrentar as questões apresentadas ao longo deste capítulo inicial, interpreto a EF como um “jogo hermenêutico de pergunta e resposta”, fazendo referência ao esforço que Berticelli (2004, p. 303), fundamentado em Gadamer, realiza para o campo da Educação. Talvez então, seja mesmo necessário alargar o horizonte do perguntar, como se refere Gadamer (2002), preservando a humildade do ouvir e a ousadia do perguntar sempre. Novas perguntas podem representar novos horizontes, pois determinadas perguntas pertinentes ao campo da EF, muitas vezes, levam à respostas já esperadas, conservando as fronteiras epistemológicas internas das diferentes comunidades que constituem a EF.

É possível inferir que o campo da EF não vem apresentando predisposição para o diálogo na relação entre seus diversos sub-campos, onde a disputa interna, a assimetria nas relações de poder e/ou a desconsideração por outros saberes é uma importante constatação de seu cenário contemporâneo. Portanto, acredito que se faz necessário investir em possibilidades de diálogo, sem incorrer no erro, nem de idealizar este processo, nem de considerá-lo irrealizável.

Do contrário, o que esperamos? Um final feliz e um “viveram juntos e felizes para sempre”? Ou, “cada um para o seu lado”? Não

acredito na viabilidade destas pretensões, embora reconheça que o afastamento irreversível trata-se de uma possibilidade. Porém, isso não se trata de uma especificidade da EF. Afirmo isso porque outros campos do conhecimento também se encontram em ebulição. Como já abordado anteriormente, campos do conhecimento como a Física, a Química e a História se encontram em um momento efervescente em suas discussões internas. A própria hermenêutica se encontra em estado de discussão interna, lembrando Palmer (2006), com duas perspectivas distintas, uma delas denominada Perspectiva Realista, fundamentada principalmente em Schleiermacher e Dilthey, desenvolvida por Emílio Betti, e uma Perspectiva Fenomenológica, seguindo as trilhas deixadas por Heidegger e desenvolvidas por Gadamer na contemporaneidade. Mais a frente, abordarei sobre essa “luta contemporânea” no interior da hermenêutica (PALMER, 2006, p. 55).

Portanto, a EF não está fora de um mundo em efervescência, com diferentes saberes se interrogando uns aos outros, onde o diálogo interno nem sempre é coisa fácil. Assim, considerar a EF como um campo nebuloso, de fronteiras tênues, mas que possui de determinada forma, uma frágil e nebulosa identidade, possibilita transitar com maior tranqüilidade nesta intranqüila complexidade. Nesse sentido, visualizo no diálogo possível, perspectivas para a construção de novos sentidos,

onde um esforço hermenêutico de interpretação pode permitir conviver melhor com diferentes possibilidades de compreender fenômenos relativos a EF, entendendo a intervenção pedagógica como uma importante possibilidade de constituir um solo comum, onde as diferentes comunidades constituídas neste âmbito possam se relacionar, sem perder de vista suas especificidades.

Se não é possível pensar em um objeto/objetivo comum, é possível pensar em percepções arrazoadas, pelos critérios de cientificidade ou não, que fazem sentido para aqueles que direta ou tangencialmente operam neste campo do conhecimento. Partindo desse pressuposto, não existe um ponto arquimediano de onde possa ser realizada a crítica definitiva. Assim, conforme Gadamer (2002), nenhum de nós, portanto, nenhum campo, abarca toda a verdade em seu pensar e, portanto, se debruçar sobre terrenos suspeitos da EF a partir de questões ainda pouco investigadas trata-se de uma nobre tarefa, que merece maior atenção desta comunidade acadêmica.

Trazer a hermenêutica para essa discussão permite dialogar com Palmer (2006), quando afirma que não pode haver qualquer interpretação sem pressupostos. Mas, de onde vêm nossos pressupostos? Da tradição em que nos inserimos, que se constitui como um horizonte

no interior do qual pensamos. Assim, “a tradição fornece um fluxo de concepções no interior do qual nos situamos e devemos estar preparados para distinguir entre pressupostos que dão fruto e outros que nos aprisionam e nos impedem de pensar e ver” (p. 187).

Desta forma, se não pode haver uma interpretação sem pressupostos, a noção de interpretação correta enquanto correta em si mesma é um ideal impensável e, trata-se então, de uma impossibilidade. Isso alivia a responsabilidade de estudos como este, que não necessitam ter a pretensão de “resolver o problema” sem, obstante, abandonar a disposição e a responsabilidade em enfrentá-los e compreendê-los melhor. Daí então, a dificuldade de aglutinar as diferentes perspectivas das diferentes abordagens constituídas no interior da EF, visto que para cada uma deles, a interpretação dada e construída no campo está correta. E felizmente, não parece haver ninguém ou nenhuma instituição com autoridade suficiente para validar o que seria “mais correto”.

Por isso, desdobrando o pensamento de Palmer (2006) para esta tese, a EF tem que ser compreendida na situação hermenêutica em que se encontra. Porém, isso não quer dizer que o assunto está resolvido e cada um pode continuar com seu próprio mundo, pois vivemos em um mesmo mundo, e mesmo que não percebamos, somos influenciados e influenciamos de alguma maneira aos outros. Pelo contrário, essa posição assumida reconhece que o significado não é uma propriedade imutável de um objeto, pois o significado de algo é sempre um “para nós”, surgindo da situação hermenêutica. Essa postura permite considerar a impossibilidade de defender a idéia de uma verdade em si mesma ou de uma interpretação eternamente correta. Isso permite considerar também, a incompletude dos supracitados sub-campos da EF, bem como, implica em afirmar a necessidade de maior interlocução entre eles. Tal pensamento se apresenta na postura austera de considerar o “outro” como alguém com possibilidades de também, a seu modo, “estar certo”.

Na perspectiva de lidar com estes dilemas, considero a hermenêutica como um campo de possibilidades de diálogo que interessa para a EF. Por outro lado, as relações entre EF e hermenêutica são ainda quase imperceptíveis no meio acadêmico. Há trabalhos que diretamente operam nesta perspectiva, tais como Fensterseifer (2007, 2009), ou se aproximam tangencialmente desta discussão, tais como estudos de Kunz (1991 e 1994). Obstante a isso, entendo que ampliar a interlocução entre EF e hermenêutica pode promover contribuições significativas para este âmbito.

A presença da hermenêutica nessa tese se apresenta de uma forma que permite considerar a pertinência da obra de Gadamer (2007) para esse contexto. Quando ele recorre a noção de jogo, que dissolve a noção sujeito-objeto, se refere ao fato de que, ao jogar, o jogador é jogado pelo jogo. Deslocando este argumento para o contexto desta tese, em muitos momentos, o pesquisador parece literalmente como sendo jogado pelo jogo da pesquisa, abandonando o papel de sujeito, sendo conduzido por mistérios que somente a curiosidade e a persistência permitem abordar. Inicialmente, as pretensões deste estudo diziam respeito a questões epistemológicas da EF e suas relações com o trabalho docente na Educação Superior. Ao longo do processo, foi possível perceber que o exercício da docência trata-se, inicialmente, de um esforço hermenêutico (BERTICELLI, 2004; TARDIF e LESSARD, 2005; RUEDELL, 2007), o que abriu um novo horizonte para a investigação.

Tomando como referência o trabalho de Berticelli (2004), um estudo epistêmico que se debruce sobre o trabalho docente na Educação Superior no processo formação inicial em EF, via um esforço hermenêutico, nos leva a um campo de possibilidades que nos afasta da tentação de pressupostos dogmáticos por princípio. E aí entra a orientação hermenêutica aqui assumida, ao afirmar que as pretensões epistemológicas são importantes, porém, insuficientes para lidar com questões como as aqui abordadas.

Concordando com Fensterseifer (2009), levar a sério o referencial hermenêutico significa considerar a dimensão epistemológica sem, por um lado, ignorar a tradição que a cerca, mas por outro lado, permite a possibilidade de dessacralizá-la. Conforme o mesmo autor, a hermenêutica não descarta a pretensão da objetividade cientifica das ciências, tanto as naturais como as humanas, mas não tem ilusões de que elas esgotem o sentido dos temas/ objetos sobre os quais anuncia suas conclusões.

Reconhece no método científico um potencial explicativo e funcional extremamente engenhoso, porém não ignora que suas possibilidades são parciais, e nisso não vai nenhum demérito. Esse limite (sem sentido pejorativo) nos impede de derivar desse conhecimento uma normatividade ético-política, e nisso evidencia sua insuficiência para configurar um projeto pedagógico no interior de uma sociedade plural. De sua episteme não se faz possível derivar saídas para o campo educacional e, em particular, para a Educação

Física, que dispensa os sujeitos envolvidos nesse espaço, o que significa o abandono de projetos orientados por uma vanguarda esclarecida que sabe antes e melhor que o povo o que é bom para o povo (p. 253).

Ou seja, a perspectiva hermenêutica aqui proposta, permite entender que, de determinada forma, a resolução dos problemas que nos afligem, dependem também dos envolvidos, pois não é possível esperar que algo ou alguém nos revele a verdade. E isso, conforme Berticelli (2004) se manifesta na compreensão da educação como sendo um processo hermenêutico, como modos de produzir e instaurar sentidos, modos de produzir conhecimentos e, portanto, se constituindo como instâncias epistêmicas, que se derivam das relações estabelecidas a partir do entendimento dos próprios sujeitos que a constituem.

Assim, os argumentos até aqui apresentados permitem considerar que a interpretação e compreensão podem ser encaradas como princípios ontológicos do “fazer-pesquisa” e, por conseqüência, do processo de “fazer-ciência”, porém, em direção diversa daquela estabelecida hegemonicamente no desenvolvimento do projeto moderno. Penso que uma ampliação na capacidade de “olhar” para o mundo pelo prisma da ciência, a partir de uma orientação hermenêutica, pode contribuir decisivamente para um avanço nas questões principais aqui levantadas, inicialmente pelo fato de transformar a relação sujeito-objeto em uma relação entre horizontes distintos, e a fusão entre eles permite considerar novas e ampliadas perspectivas para lidar com novos horizontes que se abrem (GADAMER, 2007). Nessa relação, objeto e sujeito não se separam, mas mergulham em uma relação que “joga” com as possibilidades estabelecidas entre eles, em um movimento dinâmico e dialético.

A opção pela aproximação com a hermenêutica parece pertinente, visto que possibilita, conforme Berticelli (2004), entender a compreensão e a interpretação como fundantes da existência humana. De acordo com Palmer (2006), a hermenêutica é relacionada de uma só vez com as dimensões ontológicas da compreensão, e com tudo aquilo que isso implica. Ainda Palmer (2006), afirma que a hermenêutica é um encontro com o “ser” por meio da linguagem, e para tanto, Berticelli (2004) complementa afirmando que isso implica em uma abertura ampla pela qual a ciência pode ser vista e “lida”, interpretada, portanto, epistemologicamente.

De acordo com Berticelli (2006), a leitura interpretativa constitui-se num processo hermenêutico e, nesse sentido, conforme

Ruedell (2005) hermenêutica e linguagem são dois temas extremamente vinculados entre si. Essas relações podem ampliar as perspectivas de percepção presentes no processo de fazer ciência. Assim sendo, o processo proposto nessa discussão pode ser convertido em um processo de construção e desconstrução do conhecimento, estabelecido ao longo deste estudo.

Nessa direção, convém falar de hermenêutica quando falamos de desconstrução, pois tal tema cai seguramente neste âmbito (GADAMER, 2007). Para Lawn (2007), o termo desconstrução se coloca bem próximo das hermenêuticas filosóficas, que negam a possibilidade de uma leitura definitiva de algo, ou seja, da última palavra – nesse caso, não há possibilidade de presunçosamente afirmar a “última palavra”. Portanto, ao buscar fornecer respostas e também apontar caminhos para novas investigações, é necessário conviver com o fenômeno, ultrapassando o limiar de visitante, tornando-se parte dele, e não mero sujeito que pesquisa, mas sujeito que vive a pesquisa, tornando-se muitas vezes, o próprio objeto de investigação, sendo jogado pelo jogo deste processo dialético. Lembrando uma abordagem de Ricoeur (2008) a respeito do trabalho de Heidegger, nessa questão, somos conduzidos por aquilo mesmo que é procurado, mesmo sem querer.

Como exemplo, vivenciei a dificuldade de organizar o projeto desta tese, a priori, que desse conta de suas pretensões. Ela tomou forma de acordo com sua construção, adquirindo uma espécie de “vida própria”, condição que dificulta a tentativa de sistematização prévia, de previsões sistematizadas formalmente, a priori. Por outro lado, se abriu para a construção no próprio processo de sua própria feitura, pela postura hermenêutica aqui assumida.

Mas, de onde vem esta construção denominada hermenêutica? Conforme Lawn (2007), a palavra hermenêutica é derivada do grego, “interpretar”, e tem duas origens. Uma do deus grego Hermes em seu papel de mensageiro dos céus, enquanto que outra se refere ao conhecimento oculto e secreto digno de interpretação. Palmer (2006) contribui com a compreensão acerca das origens do termo, quando afirma que ele é usualmente traduzido por “interpretar” e no substantivo (hermeneia), significa “interpretação”.

Assim, uma das raízes do termo “hermenêutica” pode ser encontrada no termo grego hermeneuein, usualmente traduzido por interpretar (ou hermeneia: interpretação). Essas duas palavras remetem a mitologia grega, mais precisamente a Hermes, o deus mensageiro. Hermes associa-se a transmutação, à transformação de tudo que está

acima da compreensão humana, aproximando o que era distante e obscuro (RUEDELL, 2005).

Para Palmer (2006, p. 24), tal origem entende o processo hermenêutico como uma possibilidade de “transformar tudo aquilo que ultrapassa a compreensão humana em algo que essa inteligência possa compreender”. Hermes traz a mensagem do destino, Hermeneuein é esse descobrir de qualquer coisa que traz uma mensagem, na medida em que o que se mostra pode tornar-se mensagem, sugerindo o processo de tornar compreensível.

Nesse caso, concordando com Palmer (2006), a tarefa da interpretação deverá ser tornar algo que é pouco familiar, distante e obscuro em algo real, próximo e inteligível. Nesse sentido, pensar a hermenêutica como sendo um processo de perceber o mundo, sob olhares onde as análises convencionais não são capazes de chegar, pode constituir um bom começo.

Concordando com Gadamer (2002 e 2007), considerar o entendimento a partir da hermenêutica significa que o processo de interpretação, aplicado a leitura de textos, no caso desse estudo, analogicamente ao ‘texto’ escrito em um campo do conhecimento denominado de EF, é igualmente aplicável a prática do entendimento e da construção da ciência. Ou então, é igualmente possível permitir a partir dela, uma ampliação das relações internas entre as comunidades que constituem o campo da EF brasileira, pela possibilidade interpretativa que se abre nesse processo comunicativo.

Nessa direção, de acordo com Gadamer (2000), um esforço hermenêutico se apresenta com a perspectiva de saber o quanto fica, sempre, de não dito, quando se diz algo. Isso se apresenta como uma possibilidade de construção de sentidos, considerando as limitações da linguagem dos seres humanos que, sem poder dizer inteiramente tudo que desejam, põe em jogo todo um conjunto de sentido.

Dessa forma, concordando com Berticelli (2004), se a busca de conhecimento é sempre uma busca de sentidos, e a ciência, bem como, a constituição de qualquer campo que se aproxima dela, é sempre um processo de produção de sentidos, torna-se pertinente a aproximação entre EF e hermenêutica, em um processo interpretativo de compreender melhor os sentidos construídos nas relações entre os seres humanos entre si e com o mundo no âmbito da cultura corporal de movimento, bem como, as relações de um campo do conhecimento com os fenômenos que emergem destas relações. Isso permite construir variadas possibilidades interpretativas, de acordo com o “olhar” dispensado e, por conseqüência, leva a diversas novas perguntas, que se apresentam

em um movimento dialógico intenso na dinâmica da pergunta e da resposta.

De acordo com Gadamer (2002), talvez seja imperioso neste momento, aprendermos, de forma mais atenta, a ver perguntas onde parecem existir pretensiosas respostas peremptórias. Desta forma, partindo dos argumentos deste autor, a baliza que orienta os sentidos do “fazer pesquisa” são as próprias perguntas que a constituem. Ou seja, o orientador do processo passa a ser então, o próprio horizonte do perguntar. Desta forma,

Ver perguntas significa, porém, poder-romper com uma camada, como que fechada e impenetrável, de preconceitos herdados, que dominam todo nosso pensamento e conhecimento. O que perfaz a essência do investigador é a capacidade de ruptura que possibilita ver, assim, novas perguntas e encontrar novas respostas. (GADAMER, 2002, p. 67).

Muitas vezes, boas perguntas são mais importantes que as próprias respostas. Segundo Gadamer (2007), o perguntar pode ser entendido como um horizonte, pois a partir do perguntar se determina o ponto de partida que determina a orientação do sentido de algo. Ou seja, o que se busca compreender é sempre o orientador daquilo que pode ser compreendido, pelo fato de que, conforme Lawn (2007), baseado em Heidegger (2009), somos sempre, parte daquilo que procuramos, ou seja, conforme Gadamer (2000, p. 148), “quem pretende compreender, está ligado à coisa transmitida”. Nessa direção, Gadamer (2002) afirma que um horizonte não é uma fronteira rígida, senão algo que se desloca conosco e que convida a seguir adentrando nele. Da mesma forma, segundo Lawn (2007), está longe das intenções de Gadamer pressupor uma fácil acomodação de um horizonte por outro, com estabelecida harmonia e completo acordo. Para Gadamer (2002), a fusão de horizontes incorpora um entendimento sempre parcial. Obstante, ao invés de um processo de obliteração, o entendimento é sempre uma fusão de horizontes.

Então, é possível lembrar Bauman (1999), que por outras vias, apresenta argumentos, que muito bem, podem se aproximar do pensamento hermenêutico apresentado por Gadamer (2002 e 2007). Assim, ele contribui com esta forma de pensar sobre a importância dos questionamentos:

No formular ciertas preguntas conlleva más peligros que dejar de responder a las que ya

figuran en la agenda oficial; [...]. El silencio se paga con el precio de la dura divisa del sufrimiento humano. Formular las preguntas correctas constituye la diferencia entre someterse al destino y construyrlo, entre andar a la deriva y viajar. (p. 12). 31

Portanto, na direção de enfrentar as diversas questões aqui levantadas, como referido anteriormente, é possível interpretar este processo como um “jogo hermenêutico de pergunta e resposta” 32. Ou como se refere Ricoeur (2008), ao jogo da questão e da resposta. Talvez seja necessário ainda, lembrando a citação anterior de Gadamer (2002), alargar o horizonte do perguntar, preservando a humildade do ouvir e a ousadia de não parar de pensar e de perguntar sempre, onde novas perguntas podem representar novos horizontes, novos sentidos, novas perguntas, em um círculo infinito, juntando as partes e o todo de forma que estes nunca estejam completos.

Lawn (2007) apresenta também contribuições a esta forma de pensar, afirmando que o processo interpretativo é interminável, não existindo uma leitura definitiva, que traga a interpretação ultima em seu âmago. Assim sendo, as aproximações entre EF e hermenêutica podem ser convertidas em um processo de construção, desconstrução e reconstrução de sentidos do conhecimento. Se, conforme Gadamer (2002), o discurso humano não transmite apenas a verdade, mas também a aparência, o engano e a simulação, é possível pensar que há terrenos suspeitos. Então, concordando com Berticelli (2004), o esforço hermenêutico poderá permitir interpretar tais terrenos suspeitos da EF e, na circularidade do diálogo, construir sentidos, e novamente reinterpretá-los, para reconstruí-los e assim, indefinidamente, numa dialética complexa e auto-organizativa.

Trazendo novamente esta discussão para o campo específico da EF, entendendo-a como um campo de contornos movediços, mas que se relaciona com o mundo pela perspectiva da intervenção pedagógica e pelas investigações científicas derivadas destas relações, a hermenêutica

31 Não formular certas perguntas leva a mais perigos que deixar de responder as que já figuram na agenda oficial. [...] O silêncio se paga com o preço com o duro emblema do sofrimento humano. Formular as perguntas corretas constitui a diferença entre submeter-se ao destino e construí-lo, entre andar a deriva e viajar.

32 De acordo com Gadamer (2007), R. G. Collingwood, um filósofo e historiador britânico, em Oxford, na década de 1930, criou a expressão “lógica da pergunta e da resposta” (“logic of question and answer”), um ponto importante no qual Gadamer se concentra, para combater a posição de seus oponentes de que os textos filosóficos deveriam ser julgados de acordo com uma lógica universalmente válida.

pode contribuir com este âmbito, considerando que independentemente do âmbito de intervenção, uma relação ou pedagógica ou investigativa se forme, recrutando na construção destes processos, articulação entre diferentes sub-campos da EF e outros campos do conhecimento.

A preocupação maior desta tese então, se apresenta no sentido de construir pontes, como expresso por Ruedell (2007), onde a discussão filosófica se desenvolve em direção a uma concepção e um desdobramento pedagógico em sala de aula, visto a idéia de constituir pelo exercício da docência, um solo comum de encontro entre as