• Nenhum resultado encontrado

3.5. EPISTEMOLOGIAS FEMINISTAS

3.5.1. Hermenêutica de Gênero ou Hermenêutica Feminista

Compreender hermeneuticamente as questões que versam acerca da categoria gênero é, segundo Gebara (2000a, p. 38), procurar uma interpretação de relações das próprias mulheres enquanto seres humanos. Para tanto, afirma que “hablar de hermenéutica del género, estamos

96 Metodologia feminista em nosso texto é compreendida como múltipla, estará no singular para fazer-se

compreender melhor segundo a estrutura idiomática, porém, estando inserida na concepção todas as proposições enunciadas acima. “El feminismo se ha nutrido del pensamiento científico y, al mismo tiempo, sus exigencias

introduciendo la realidad del género como un instrumento de interpretación de nuestras relaciones” (GEBARA, 2004, p. 112).

A interpretação para além do próprio texto, em outras palavras, o sentido da coisa, é uma necessidade de concepção da chamada nova hermenêutica, notadamente gadameriana. É como nos diz Dias (1994), que “A hermenêutica apreende o sujeito como parte do mundo e não o mundo do sujeito, de modo que desvenda a possibilidade de novas formas de apreensão da subjetividade feminina em outras épocas do passado” (DIAS, 1994, p. 373-374).

Amorós (2000, p. 63) destaca o papel da hermenêutica como metodologia de análise para o feminismo, enquanto movimento político. Procura interpretar o sujeito em sua totalidade, algo que foi impensado ou posto de lado durante a modernidade.

las feministas deberíamos aplicar la hermenéutica de la sospecha a las deconstrucciones del sujeto que provienen de esa estirpe: nuestras intenciones críticas con respecto al sujeto no pueden converger, porque no van para nada en la misma dirección (AMORÓS, 2000, p. 70).

Daí a necessidade de utilização desse método de análise advindo do pensamento filosófico por diversas pensadoras feministas em sua investigação nas mais diversas problemáticas instauradas pela discussão, nos mais diversos campos do saber. “La introducción de la hermenéutica del género, a partir de los análisis feministas, llevó a varios grupos de mujeres a sentirse al margen de las formulaciones tradicionales del cristianismo” (GEBARA, 2004, p. 129-130).

A hermenêutica feminista97, em nossa leitura, irá proporcionar a observação de prismas que até então não haviam sido levantados, ou mesmo foram negligenciados ao longo do tempo. Sendo assim, a ampliação de um feminismo filosófico (AMORÓS, 2000) se edifica, influenciando uma enorme gama de novas análises que por ventura venham a ser propostas. Nesse sentido, podemos afirmar que a teologia, na América Latina, aprofunda e enraíza a contribuição de pensadoras, teólogas da libertação, para a ampliação do conceito hermenêutico e sua aplicabilidade, enquanto ferramenta metodológica, para nosso cenário investigado. (TÁMEZ, 1998, p. 75).

Beauvoir, enquanto filósofa existencialista, tem sua obra analisada à luz da hermenêutica e, para tanto, as pensadoras que a estudam propõem uma concepção hermenêutica própria. “La hermenéutica existencial de Beauvoir, como lo hemos visto, desde este punto de

97 Para uma maior fundamentação de uma crítica hermenêutica feminista numa concepção pós-estruturalista Catillo

vista, puede ser asumida como radicalización ontológica de la crítica ilustrada” (AMORÓS, 2000, p. 103). Percebe-se a crítica ao sentido de modernidade que a filosofia, em várias correntes filosóficas, empreendeu em nome da edificação do conhecimento humano.

Gargallo (2006) nos aponta ainda a ideia de hermenêutica do poder. Na qual, esta pode ser utilizada como forma de subversão do conhecimento na maneira de oposição aos modelos que se pretendem totalitários e/ou hegemônicos. Ou ainda, como afirma a própria Gargallo (2006), “un saber que coloniza el espacio del pensamiento de las otras culturas” (GARGALLO, 2006, p. 20). Há ainda uma referência às concepções de uso de poder na perspectiva levantada por Quijano (2005)98. “La hermenéutica del poder es la única hermenéutica a la que se opone el pensamiento oficial, porque desencadena el conocimiento de la resistencia como un elemento triunfante frente a las imposiciones” (GARGALLO, 2006, p. 30).

Nossa investigação perpassa a ampliação do horizonte de construção do feminismo, sobretudo, latino americano. Para tanto, fizemos uso de diversas correntes de pensamento para

98 Quijano (2005) define a colonialidade do poder, exercida sob múltiplos aspectos, tais como: poder-saber, ser e

o poder sobre a natureza, como fazendo parte do processo de globalização promovido pelo colonialismo e sendo mais duradouro que este (p. 117) e estando vinculada a especulação do capital exercida sobre a expropriação dos povos colonizados. Valdivieso (2012) também define o conceito e discorre sobre o papel dos países latino- americanos em compreender sua posição de superação do colonialismo, num autoentedimento. “Una primera

cuestión que me parece relevante para las feministas de América Latina es hacerse cargo del lugar de enunciación y de las voces que recogemos. El feminismo en Latinoamérica no ha estado libre del colonialismo que ha impregnado nuestro modo de conocer. La “colonialidad”, entendida esencialmente como la relación de hegemonía y dominación cultural, mental, que está ligada pero es distinguible y más profunda que la dominación política y económica “colonial”, se ha expresado en la elección de nuestros objetos de estudio, en las protagonistas de nuestros escritos, en las historias que nos han interesado y en cómo las hemos abordado, es decir en la matriz epistemológica que hemos ido construyendo. Sin duda los estudios feministas han evolucionado desde los estudios de “la mujer” que tenía como categoría resonancias universalistas, a utilizar la categoría “mujeres”, con la que se pretende dar cuenta de la diversidad y heterogeneidad del universo nombrado. Sin embargo, la colonialidad del saber se hace perfectamente evidente a la hora de rastrear lo que hemos estudiado las investigadoras dedicadas al género o la historia de las mujeres, hemos seguido de alguna manera el molde europeo y la matriz histórica, que dio origen en la época moderna al movimiento feminista. No hemos recogido, por tanto, ni temporal ni socialmente, todo el andar de la lucha de las mujeres latinoamericanas por su emancipación. No se trata de desconocer los aportes de las experiencias de lucha y reflexión del feminismo europeo, ni de excluir “a las de allá”; se trata de no actuar con una perspectiva colonial y establecer relaciones no jerárquicas, también en el ámbito del conocimiento, de los saberes, de la memoria, dentro de la reflexión y práctica de las luchas por la emancipación de las mujeres. Las feministas de AL comprometidas con los procesos de recuperación del continente, con toda su diversidad humana, como lugar de enunciación tenemos planteado el desafío de aportar a la descolonización para hacer del feminismo latinoamericano, una referencia útil y significativa para las mujeres de las naciones originarias, las afrodescendentes y las mestizas. Este trabajo se ha iniciado con los estúdios sobre las mujeres invisibilizadas por la historia oficial y da muestras de importantes avances en la actualidad con los debates localizados en Bolivia, Ecuador, Centro América, entre otros. Una segunda cuestión o desafío tiene que ver con la imperiosa necesidad de asumir que nuestra (personal) perspectiva de las relaciones de género no es “universal”. La diversidad y pluralidad del ser mujer en Latinoamérica obliga, por ejemplo, a aceptar que la división binaria hombre/mujer, como opuestos jerarquizados no es entendida así por mujeres indígenas. Para establecer los diálogos y las alianzas que requerimos, y avanzar en los procesos de democratización de las relaciones de poder, debemos reconocer las experiencias de vida y respetar las cosmovisiones diferentes” (VALDIVIESO, 2012, p. 35).

delinear a perspectiva feminista. Nessa direção, concordamos com Támez (1998, p. 75) quando afirma que a hermenêutica não é fixa e que para perceber essas modificações a mesma deve estar em constante investigação. Os pensadores que seguem não são necessariamente feministas, porém seus métodos acabam por influenciar, de maneira concreta, nossa construção teórica.

 Uma Hermenêutica Feminista: A Análise Gadameriana

A compreensão deve ser pensada menos como uma ação da subjetividade e mais como um retroceder que penetra num acontecimento da tradição, onde se intermedeiam constantemente passado e presente (GADAMER, 2015, p. 385).

A análise hermenêutica gadameriana parte da premissa de que o ser, independentemente do gênero, é plural. É uma nova concepção de interpretação dentro da própria teoria hermenêutica, baseada numa compreensão e autocompreensão (GADAMER, 1981, p. 71-72). Daí, não podendo caracterizar todas as mulheres de uma mesma maneira enquanto grupo, há referências gerais. Porém essas não devem ser tomadas de maneira generalizada. Por exemplo, nem toda mulher é latino-americana, nem toda feminista é emancipada, nem toda religiosa é submissa, nem toda violência é praticada contra às mulheres e assim por diante. Isso, segundo os/as hermeneutas, não significa um relativismo absoluto, como afirma Hoffmann (2003).

[…] yet that does not entail an uncritical acceptance of the reductive and oppressive elements of the tradition that feminist theorizing takes issue with. In this way, philosophical hermeneutics fulfills two important conditions for feminist theorizing: namely, a sensitivity to the historical and cultural situatedness of knowledge seekers, and the critical power to challenge reductive universalizing tendencies in traditional canons of thought99 (HOFFMANN, 2003, p. 82).

Contudo, essas categorias contêm traços gerais, as chamadas pressuposições. (WARNKE, 2003, p. 59). Gadamer (1976) procura um outro sentido para a expressão preconceito, à medida em que a palavra deve ser interpretada em seu âmbito original. Para tanto, explica que os

99 “Ainda que não implica uma aceitação acrítica dos elementos redutivos e opressivos da tradição que a teorização

feminista discorda. Desta forma, a hermenêutica filosófica cumpre duas condições importantes para a teorização feminista: a saber, uma sensibilidade à situação histórica e cultural das pessoas que procuram o conhecimento, e a potência crítica para desafiar as tendências universalizantes redutivas em cânones tradicionais de pensamento”. Tradução nossa.

Prejudices are not necessarily unjustified and erroneous, so that they inevitably distort the truth. In fact, the historicity of our existence entails that prejudices, in the literal sense of the word, constitute the initial directedness of our whole ability to experience. Prejudices are biases of our openness to the world100 (GADAMER, 1976,

p. 9).

Não somente essas características em torno de temas caros as mais diversas correntes do pensamento feminista são objetos de discussão entre as mesmas. Essa experiência de conceituação pode acarretar uma diversidade de fatores, que podem vir a ser compreendidos como positivos ou não.

The problem that the category of women presents for a feminist politics goes beyond its inability to account either for differences among groups of women or for tangible conflicts in their understandings of their lives, needs, and interests101 (WARNKE,

2003, p. 60).

Em relação ao pré-conceito (Ver-urtiel), a hermenêutica gadameriana amplia essa análise ao julgar o pensamento anterior que julga, o pré-juízo (Urtiel) da forma radicada em sua origem, antes da ideia (WESTPHAL, 2008, p. 667). Gadamer, ou a interpretação de sua concepção de hermenêutica, procura analisar a luz de uma efetiva-história (effective-history), (WARNKE, 2003, p. 68). Isto é, o significado é dado mediante a pré-noção que o/a interlocutor/a possui. Em outras palavras, é a construção do significado, do significante acerca de um signo dado levando em consideração toda a bagagem histórica e cultural que o/a interlocutor/a possui acerca de uma interpretação, nas palavras de Gadamer, situando o sujeito historicamente.

Corroborando com essa concepção, Westphal (2008) nos expõe que “Nada é simplesmente dado, puro ou não influenciado por nossa postura receptiva” (WESTPHAL, 2008, p. 651).

Dias (1994) nos aponta diversas questões sobre a utilização da hermenêutica nas análises da pesquisa das ciências humanas, sobretudo, a ciência histórica. Sendo assim, afirma que a interpretação é um dado provisório em relação ao conhecimento (DIAS, 1994, p. 377),102

100 “Preconceitos não são necessariamente injustificados e errôneos, de modo que inevitavelmente distorçam a

verdade. De fato, a historicidade de nossa existência implica que os preconceitos, no sentido literal da palavra, constituem o direcionamento inicial de toda a nossa habilidade de existência. Os preconceitos são predisposições da nossa franqueza para o mundo”. Tradução nossa.

101 “O problema que a categoria das mulheres apresenta para uma política feminista vai além de sua incapacidade

para dar conta tanto as diferenças entre os grupos de mulheres ou de conflitos tangíveis em seu entendimento de suas vidas, necessidades e interesses”. Tradução nossa.

102 “Nesse sentido, a hermenêutica do quotidiano, em vez de relativizar e fragmentar, participa em cheio da busca

de conhecimentos novos para seres sociais, concretos, e, pois, diferenciados, culturalmente diversos e diversificáveis, que possam tomar a forma de consensos ou verdades parciais para determinados grupos da sociedade” (DIAS, 1994, p. 379).

podendo sofrer alterações ao longo do processo de construção do conhecimento. Porém também salienta sua contribuição na documentação das diferenças.

A historicidade do próprio conhecimento num mundo em processo de transformação e de mudanças parece constituir um primeiro passo para encaminhar a discussão de um método dos estudos feministas. Vale dizer, endossar a teoria do perspectivismo, do historismo, que parte de um “ponto de inserção” do objeto de estudo para a partir deste ponto construir as balizas do seu conhecimento (DIAS, 1994, p. 376).

A procura por significar o conhecimento pode ter sido a prerrogativa dada para a criação de elementos homogeinizadores do mesmo. Sendo assim, os estudos feministas, conforme nos apresentou Dias (1994), é uma prática cotidiana de revisão e ampliação, além de combate a essas concepções estanques.

“A tradição é a fonte primária dos preconceitos sem os quais a compreensão, incluindo a compreensão crítica, não seria possível” (WESTPHAL, 2008, p. 668). Esta tradição, como podemos observar em algumas passagens do texto de Gadamer e de suas comentadoras, está imbricada de historicidade. Podendo trazer consigo elementos de autoestima (LAGARDE, 2000), empoderamento (LAGARDE, 2006) ou de sujeição. Porém, pode significar potência, no sentido de acúmulo para uma superação, concepção esta que os alemães chamam de Bildung.103

103Hegel foi um pensador que não se debruçou acerca da educação, nos cânones mais tradicionais dos textos

pedagógicos, porém, mediante a leitura de sua obra e seus comentadores, podem ser extraídos elementos para esse processo. Desde o período do romantismo, sobretudo alemão, a Bildung (podendo ser compreendida como formação cultural ou cultivar-se), é trabalhada por diversos pensadores. Dentre os quais destacamos aqui Kant, Hegel, Nietzsche e Adorno, entre outros. Hegel (2010) destaca que o processo educacional de seu tempo serve, para muitas realidades, como um modelo a ser adotado. Destaca a constituição de suas concepções acerca da alteridade do Espírito (Geist) em fases, que vão da infância a idade adulta – num processo de evolução. Além disso, outro aspecto central para se alcançar essa elevação do Espírito se dá a partir da dialética hegeliana, onde as etapas contradizem-se (Tese e Antítese) para assim concluir numa síntese (ideia final), porém, essa estrutura não estaria determinada e imutável, pois a síntese estaria sujeita, a partir da noção de temporalidade, a ser reconhecida como Tese e daí gerando uma Antítese, numa proposta de reavaliar constante. A concepção sobre o papel desempenhado pelo Estado na concepção de Hegel (RAMOS, 2003), (TAYLOR, 2005), (HEGEL, 2010) é determinante para percebermos o quanto a estrutura Moderna está impregnada do mesmo, pois o Estado controla/rege a ideia de Razão Última, o mesmo é controlado e determinante para a elevação do Espírito. O maior nome do Idealismo Alemão (Período do Romantismo) que busca associar a saída do estado de infantilidade, no qual nos encontramos na infância, até alcançarmos o entendimento (a autoconsciência), que, para o mesmo, deve estar sujeita a coletividade promovida pelo Estado. A constante busca do encontro da Razão (Vernunft), compreendida como razão superior, deveria superar o sujeito concebido pelo dualismo e o mecanicismo moderno. Pois, para Hegel, o Ser (Sein) é forma, expressão de elucidação, um constante desvelar-se, o ser para saber (sein

bis kennt). A História (Geschichte), entendida como um processo de evolução contínuo de formação do ser, está

baseada numa visão cíclica, onde o sujeito, através das estruturas pedagógicas, desenvolvidas pelo Estado, deve ser elevado, superando o Entendimento (Verstand) e alcançando a Razão do Espírito, que chegaria na idade adulta. Portanto, para Hegel não há verdades eternas, pois, as temporalidades trazem inquietações/problemáticas/paradigmas distintos. Por isso, a fixação da filosofia na história. O Espírito do Mundo (Geist der Welt) é a soma de todas as manifestações humanas, pois somente os seres humanos (homens) possuem espírito. E esse espírito faz com que haja uma marcha através da história. A ideia de Modernidade é em Hegel maturada, ganhando densidade, pois poderia ser, e em alguns casos era, mera especulação da metafísica. A emancipação do ser, anunciada por Adorno (2010) ou da discussão proposta pelo mesmo, afirma que o sujeito está sendo visto num rompimento da tradição Iluminista, puramente kantiana, ligada ao esclarecimento (aufklärung),

Gadamer (1981) procura não fechar a ideia em si mesma, sugerindo que esse é um caminho de equívocos. Nesse sentido, podemos afirmar que a transitoriedade de significados e significantes é um constructo histórico.

Una interpretación definitiva parece ser una contradicción en sí misma. La interpretación es algo que siempre está en marcha, que no concluye nunca. La palabra interpretación hace pues referencia a la finitud del ser humano y a la finitud del conocimiento humano, es decir, que la experiencia de la interpretación contiene algo que no se daba en la autoconciencia anterior, cuando la hermenéutica era atribuida a ámbitos especiales y se la aplicaba como una técnica para la superación de las dificultades de los textos difíciles. En aquella época, la hermenéutica era comprensible como teoría del arte; hoy ya no lo es más (GADAMER, 1981, p. 75).

rompendo com o mesmo a partir, de uma própria definição, de hegelianismo. Ou seja, a função dialética na complementariedade do sujeito, transformando o mesmo constantemente, tirando-o de uma padronização. Embora, percebamos limitações com relação a isto, como fora mencionado nas homogeneidades marxistas, porém, Becker adverte para isso, onde a “adaptação não deve conduzir à perda da individualidade em um conformismo

uniformizador” (BECKER in ADORNO, 2010, p. 143). Nas palavras de Becker, fugir dos “modelos ideais”

(BECKER in ADORNO, 2010, p. 140). Ainda será trabalhada o conceito de cultura de massa e emancipação do sujeito mediante o processo de empoderamento do conhecimento mediante a educação (Bildung), num senso mais formal do termo. São questionados métodos quantitativos introduzidos na educação alemã, como um todo, na qual se percebe a perda da identidade do ser e daí, busca-se a mudança numa perspectiva de construção para uma outra e nova realidade. Ao repensar o papel da educação formal é também, e sobretudo, pensar e ampliar a relação do eu com o mundo que me cerca. Assim, segundo Adorno (2010), haverá uma emancipação social, pois, o sujeito emancipado equilibrará essas forças. Uma educação, para ele, que por vezes surge como agressora, no sentido de extirpar o eu do sujeito. Expressões como cultura, alteridade, independência, barbárie, dialética, subjetividade, individuação e coletivização são amplamente trabalhadas no texto de Adorno. Nessa perspectiva, Hall (2006) vai procurar estabelecer paralelos entre tradições diversas e rompimentos entre identidades em temporalidades distintas, também trabalhadas por pensadores brasileiros, tais como Silva (2005), (2014), Moreira e Candau (2013), Barros (2016). Para Hall (2006), as mesmas, vão desde do Sujeito do Iluminismo, passando pelo Sujeito para a Sociologia e, por fim, do Sujeito Pós-Moderno. As três categorias, rapidamente, são descritas pelo autor que nos informa sobre pontos nevrálgicos das teorias. A crise das identidades põe em xeque os paradigmas sacralizados e nos evidencia uma tentativa de ruptura com os demais padrões estabelecidos, um dos exemplos disso é a explosão, a dimensão e a força que vários movimentos sociais possuem, mediante a busca dessa identidade. Corroborando com a perspectiva levantada pelos textos, Althusser (1970) irá trazer a concepção de educação e modelo escolar como categoria de dominação através do uso e coerção da ideologia dominante, através do que é chamado por ele de Aparelhos Ideológicos de Estado, sendo citada também a religião, o trabalho, a família e justiça, dentre outros, além dos Aparelhos Repressivos do Estado. Essa ideologia passa a ser um sistema de ideias ou representações que dominam o espírito do indivíduo ou de grupos sociais. Porém, numa concepção reducionista, em que a metafísica e a moral não possuem história (ALTHUSSER, 1970, p. 72), da qual discordamos, pois são constituições/categorias humanas e como tal possui origem. Althusser, analisando Marx, nos informa sobre as categorias serem frutos de sonhos, de construções meramente imaginárias. A luta de classes irá evidenciar essa busca pela subjetividade e a pertença do indivíduo a um grupo determinando, que para ele só poderia ser ou burguês ou anti-burguês, dicotomizando classes e pensamentos, de certa forma, limitando o universo de construção de valorização de saberes outros produzidos de “ambos” os lados. Percebemos e salientamos que muito das concepções marxistas conduziram a elementos de crescimento e fortalecimento para um raciocínio crítico reflexivo no processo educacional, porém, as suas limitações, aparentes, podem ser revistas e ressignificadas, buscando