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Heroísmo, patriotismo, conservadorismo e imperialismo em Martha Washington

Martha Washington e os Estados “Desunidos” da América

3.4 Heroísmo, patriotismo, conservadorismo e imperialismo em Martha Washington

O heroísmo presente nas HQs de Martha Washington pode ser definido como um fator de diferenciação, que faz com que um determinado indivíduo se destaque do grupo social ao qual pertence. Na concepção de Miller e Gibbons, o herói é aquele, ou aquela no caso, que consegue superar as maiores adversidades e triunfar, alcançando o objetivo almejado. Esse tipo de concepção de heroísmo não tem nada de muito novo. O pequeno diferencial dessas narrativas é que Miller utiliza esse modelo heroico para exaltar e promover uma determinada noção de individualismo e patriotismo. Como foi citado anteriormente, o escritor de Martha Washington acredita na ideia de que existem seres humanos especiais, com algum tipo de característica que os tornam geniais, e por isso podem conduzir mudanças na sociedade, seja por suas ações ou pelo exemplo que podem dar a outros indivíduos. Isso fica bem claro na entrevista na qual Miller criticou aqueles que procuram rever antigos mitos históricos, como o protagonismo de Thomas Jefferson no processo de independência dos EUA.

Isso nos leva a pensar sobre a orientação política de Miller. A forma como o autor valoriza agentes históricos de seu país indica que ele alimenta um grande sentimento de patriotismo. E as declarações sobre a necessidade de manter os mitos criados sobre estes sugere uma tendência ao conservadorismo.

Caracterizar Miller, ou sua obra, como um conservador/a é algo um pouco complicado de se fazer, pois o próprio autor não costuma assumir explicitamente sua opinião política. Para começar é necessário definir o que é um conservador nos EUA371. De acordo com Jack Godwin, “[...] o conservadorismo é um sistema de crença (ou ideologia) respeitoso em relação às instituições tradicionais e resistente a mudanças radicais [...]” (2009, p.57, tradução nossa)372. Em

linhas gerais, conservadorismo em sua versão estadunidense é um conjunto de propostas que se apresentam em oposição a políticas e medidas que podem ser consideradas progressistas ou radicais, como leis que legalizam o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No campo econômico, a maioria dos conservadores adota o Liberalismo ou Neoliberalismo como modelo básico. Além disso, procuram preservar valores morais que consideram indispensáveis para a manutenção de um determinado status quo, como estruturas religiosas, direito à liberdade e à propriedade privada. Nos EUA, os conservadores constituem um grupo muito diversificado, às vezes são denominados de “neoconservadores” ou “direita conservadora”. Atualmente, suas ideias são normalmente associadas ao Partido Republicano, porém é possível identificar tendências ao conservadorismo em políticos do Partido Democrata, bem como identificar políticos com tendências consideradas mais progressistas entre os Republicanos. De fato, não há um consenso claro sobre o que exatamente é um conservador. Mas é possível identificar alguns princípios básicos que ajudam a definir o que é um conservador com relação às ideias que defendem e propagam:

• Individualismo: Autossuficiência, liberdade individual e autonomia individual superam as obrigações sociais.

• Liberdade Econômica: O direito ao trabalho, propriedade e participação no mercado livre são direitos humanos fundamentais.

• Governo limitado: a autoridade do governo deve ser descentralizada e restrita por lei (Ibid., p. 57-58, tradução nossa)373.

Com base nisso, podemos apontar em Martha Washington e no pensamento de Frank Miller a presença de alguns desses princípios defendidos pelos conservadores. Nas HQs e nas falas de

371 O conservadorismo nos Estados Unidos tem uma configuração distinta do que existe na Europa, nosso objetivo não é discutir a fundo essa corrente de pensamento e atuação política. Para algumas análises e comparações entre esses conservadorismos distintos (mas não muito) recomendo a leitura dos seguintes livros: GOTTFRIED, Paul Edward.

Conservatism in America: Making Sense of the American Right. New York: Palgrave Macmillan, 2007; SOFFER,

Reba. History, Historians, and Conservatism in Britain and America: From the Great War to Thatcher and Reagan. New York: Oxford University Press, USA, 2009. Em português as seguintes obras apresentam uma boa análise sobre o surgimento do conservadorismo em sua versão europeia: ROMANO, Roberto. Conservadorismo romântico. São Paulo: Brasiliense, 1981; MANNHEIM, Karl. “O pensamento conservador” In: MARTINS, José de Sousa (org.).

Introdução crítica à sociologia rural. São Paulo: HUCITEC, 1986.

372 “[...] Conservatism is a belief system (or ideology) respectful toward traditional institutions and resistant to radical change […]” (GODWIN, 2009, p.57).

373 “• Individualism: Self-reliance, individual freedom, and individual autonomy supersede social obligations. •

Economic Freedom: The right to work, own property, and participate in the free market are fundamental human

Miller, o conservadorismo se manifesta principalmente pelo culto ao individualismo, que é associado a um patriotismo muitas vezes extremado e que permeia toda a série. A forma como Miller aborda o passado e os símbolos nacionais é outro indicativo de seu conservadorismo. De acordo com Godwin, os conservadores têm uma tendência que “Considera sua missão promover suas ideias de forma agressiva e buscar soluções para problemas contemporâneos com base nos princípios que motivaram os pais fundadores” (p.58)374. Vale destacar que nos EUA esse tipo de

referência aos pais fundadores e a suas políticas é usado por alguns grupos conservadores e/ou racistas para justificar alguma situação de segregação ou exclusão de direitos de afrodescendentes375.

As falas de Miller citadas anteriormente sugerem que ele não compactua com ideologias racistas, mas considera a manutenção e defesa da escravidão promovida pelos pais fundadores como um mero detalhe que não deve ser levado em consideração, dada a grandiosidade de suas ações para tornar os EUA independentes. Nesse ponto, convém salientar que o autor não manifesta preconceitos evidentes contra negros em suas obras dos anos 1980 e 1990. Não obstante, em obras e entrevistas mais recentes – principalmente pós-atentados de 11 de setembro de 2001 – ele tem manifestado e divulgado um grande preconceito, xenófobo, contra pessoas de origem árabe e muçulmanos. Isso é visível na história em quadrinhos chamada, Holy Terror376, na qual árabes são

apresentados de forma extremante pejorativa, dando a ideia de que todos são terroristas dispostos a destruir a sociedade cristã estadunidense e que deveriam ser exterminados377. Quanto a Dave

Gibbons, não encontramos nenhum tipo de declaração ou obra que deixe claro suas inclinações políticas. Aparentemente ele se limita a desenhar o que seus roteiristas escrevem e procura não intervir nessa parte. Porém, com base nas entrevistas citadas anteriormente, é possível afirmar que ele tem algum tipo de identificação com as mensagens que Miller procurou passar em Martha Washington, principalmente com as de superação e patriotismo.

374 “It considers its mission to promote its ideas aggressively and seek solutions to contemporary problems based on the principles that motivated the founding fathers” (Ibid., p.58).

375 Essa associação se deve em parte as ideias do chamado Liberalismo clássico, e está presente nas obras de John Locke como no “Segundo tratado sobre o governo civil” (1681), no qual o autor associa o direito à propriedade a escravidão. Além disso, no primeiro capítulo do livro “How race survived U.S. History” (2008) o historiador David R. Roediger apresenta uma interessante análise de como o pensamento de Locke ajudou a construir uma ideia de superioridade da raça branca em relação ao negros escravizados entre os colonos norte-americanos.

376 Holy Terror inicialmente era para ser uma HQ do Batman, mas a DC Comics se recusou a publicá-la por considerar seu conteúdo extremamente preconceituoso e ofensivo a comunidade islâmica. Miller então a publicou pela editora

Legend em 2011. Essa HQ foi publicada no Brasil em 2013 pela editora Panini, quem tiver o interesse e estômago

para ler pode encontrar a publicação em diversas lojas de quadrinhos.

377 Em uma entrevista publicada no periódico britânico The Guardian, em abril de 2018, Miller afirma estar arrependido de declarações preconceituosas e xenófobas emitidas num passado recente. O autor afirma que quando fez Holy Terror sentia muita raiva e que hoje em dia não seria capaz de fazer o que fez e dizer novamente o que disse. A entrevista está disponível em: <https://www.theguardian.com/books/2018/apr/27/frank-miller-xerxes-cursed-sin- city-the-dark-knight-returns>

Voltando aos quadrinhos de Martha Washington, é possível identificar uma clara associação entre individualismo e patriotismo em grande parte das publicações da personagem, todavia isso fica ainda mais evidente na edição especial Insubordination de 1995, que apresenta uma narrativa em homenagem ao desenhista e roteirista, Jack Kirby, grande referência artística e amigo de Miller. Em um pequeno texto introdutório para essa história, Dave Gibbons disse o seguinte:

De certa forma, Martha é uma versão de um mundo alternativo do herói patriótico tradicional dos quadrinhos, de quem o pai indiscutível é o Capitão América, criado em 1941 por Joe Simon e Jack Kirby. Amplamente conhecido e reverenciado como o Rei dos Quadrinhos, Kirby foi o artista proeminente no gênero de super-heróis. […] Em pessoa, ele era um nova-iorquino baixo, animado e que tinha um espírito combativo, que o tornou querido para muitos que lutavam contra a frequentemente obscura indústria de quadrinhos. Tive a sorte de encontrá-lo em algumas ocasiões, embora duvide que ele soubesse quem eu era, enquanto Frank tornou-se seu bom amigo [...]. Nós dois ficamos muito tristes ao saber de sua morte no começo de 1994. A seguinte história, que Frank elaborou logo depois, para a edição de aniversário de Martha, é nossa homenagem ao Rei. Em uma pungente conversa alegórica sobre supersoldados e Martha, Frank desfaz a linha entre Kirby e sua criação mais famosa, fazendo ambos lutar como heróis (GIBBONS, 2017, p.234, tradução nossa)378.

O excerto acima, além de atestar que Martha Washington é de fato uma história em quadrinhos patriótica, indica que ambos autores valorizam esse tipo de produção quadrinística e seu autor mais conhecido. Na trama da HQ, Martha é enviada para Philadelphia para resgatar o único supersoldado do exército dos EUA, o Capitão Kurtz – o nome do personagem é a junção de Jacob Kurtzberg, o nome verdadeiro de Jack Kirby e de sua maior criação, o Capitão América379 –, lutando sozinho contra neonazistas que desejam destruir o local onde se encontra a famosa atração turística e símbolo patriótico, o Sino da Liberdade [Liberty Bell]380. Martha foi enviada para colher uma amostra de sangue do personagem para criar novos supersoldados. Ao encontrar

378 “In some ways, Martha is an alternate-world of the traditional patriotic comic book hero, of whom the undisputed daddy is Captain America, created in 1941 by Joe Simon and Jack Kirby. Widely known and rightly revered as the King of Comics, Kirby was the pre-eminent artist in the superhero genre. […] In person, he was a short, feisty New Yorker and had a fighting spirit that endeared him to many who were struggling in the often unenlightened comic book industry. I was lucky enough to meet him on a couple of occasions, although I doubt he knew who I was, while Frank had become a good friend […]. We were both saddened to hear of his death early in 1994. The following story, which Frank came up with soon after, for Martha’s birthday issue, is our tribute to the King. In a poignant, allegorical conversation about super-soldiers and Martha, Frank blurs the line between Kirby and his most famous creation, battling heroes both” (GIBBONS, 2017, p.234).

379 Evocando ainda o personagem Sr. Kurtz, do romance No coração das trevas, de Joseph Conrad, retomado no personagem Coronel Walter E. Kurtz, do filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, livremente inspirado no romance de Conrad.

380 O Sino da Liberdade foi fundido em 1775 teria sido tocado em momentos importantes do processo de independência dos EUA e traz inscrito a frase: “Proclaim Liberty throughout all the land unto all the inhabitants thereof” [Proclama a liberdade por toda a terra e a todos seus habitantes] citação bíblica encontrada em Levítico 25:10. O nome Sino da Liberdade foi dado posteriormente em meados do século XIX.

o Capitão Kurtz, ela o vê abraçado ao Sino da Liberdade (figura 4) e expressa os seguintes pensamentos:

Ele segura o velho sino como se fosse um velho amigo que ele estava tentando trazer de volta à vida. Na escola, para saber toda a história do Capitão Kurtz eu tive que arrombar arquivos que eu não deveria ter acesso. Os professores só disseram que ele era um grande soldado que injetou um soro que fez dele um super-homem e o manteve jovem por cinquenta anos. Capitão Kurtz. Ele é o tipo de homem que te dizem que não existe. As pessoas não deveriam ser boas em mais que uma coisa. Ele não é apenas um soldado. Ele é um inventor. Um geneticista. Um físico. Um gênio em tudo que já fez. Capitão Kurtz. A lenda viva da Segunda Guerra Mundial e além. Ele lutou em todas as guerras desde a Coréia até a Amazônia até a Segunda Guerra Civil Americana. Um super-homem. Um supersoldado. Os professores nos disseram tudo isso, mas não nos dizem que o capitão Kurtz não só tomou o soro. Ele o inventou (MILLER; GIBBONS, 1995, p.23, tradução nossa)381.

Nas falas da personagem, é possível perceber sua admiração pelo Capitão Kurtz. Ele é um grande soldado e também um ser humano com diversas habilidades. Um gênio científico que inventou uma droga que o transformou em um supersoldado. Nessa página da publicação, podemos identificar a manifestação das ideias de Miller sobre a importância de determinados indivíduos considerados “especiais” para a mudança do curso da História. A imagem, assim, possibilita uma associação entre individualismo e patriotismo. Indivíduos “especiais” (às custas de uma droga!) como Kurtz podem servir à pátria de várias maneiras, com seu conhecimento científico e com seu corpo nos campos de batalha pelo mundo. A HQ relaciona o poderio bélico dos EUA com o poder intelectual de seus cientistas. Os Estados Unidos, representados pelo personagem, tiveram sucesso em diversas guerras devido à união de seu poder militar e intelectual. A imagem do Capitão Kurtz também indica uma grande lamentação. O personagem não lamenta pelo objeto, mas pelo que ele representa, um dos grandes símbolos do período da guerra de independência e liberdade do povo americano foi jogado ao chão. O trecho citado sugere que há algum tipo de tentativa de encobrir a existência de pessoas tão “especiais” quanto o Capitão – mescla de honra e vexame. Aparentemente, o sistema educacional (dos EUA do mundo real e/ou da ficção?) não está interessado em falar “a verdade” sobre os grandes heróis e soldados que defendem a pátria e “proclamam a liberdade [do ponto de vista dos EUA] por toda(s) a(s) terra(s) e a todos seus habitantes” (paráfrase nossa da inscrição bíblica presente no Sino da Liberdade).

381 “He holds on that old bell like it was an old friend he was trying to bring back to life. Back in school, I had to break into files I wasn’t supposed to get the whole story of Captain Kurtz. The teachers only said he was a great soldier who got injected with a serum that made him a superman and kept him young for fifty years. Captain Kurtz. He’s the kind of a man they tell you doesn’t exist. People aren’t supposed to be good at more the one thing. He’s not just a soldier. He’s an inventor. A geneticist. A physicist. And a genius at everything he’s ever done. Captain Kurtz. The living legend of world war two, and beyond. He’s fought in every war since, from Korea to the Amazon to this Second American Civil War. A superman. A super soldier. The teachers told us all that, but they don’t tell us that Captain Kurtz didn’t just take the serum. He invented it” (MILLER; GIBBONS, 1995, p.23).

Figura 4. Martha encontra o Capitão Kurtz abraçado ao Sino da Liberdade, o personagem é uma clara

referência ao personagem Capitão América e ao patriotismo estadunidense (Martha Washington, 1995, p.23).

Na sequência, Martha conversa com Kurtz e explica que foi até lá para pegar uma amostra de seu sangue e assim desenvolverem um novo soro pra criar supersoldados como ele – heroísmo por clonagem. O herói não hesita e dá seu sangue para Martha. Durante o processo, eles mantêm o seguinte diálogo:

Martha: Eu me sinto como uma espécie de vampiro.

Capitão Kurtz: Agora você não deve pensar assim, Martha. Você é uma ótima

você tem um trabalho para fazer. Apenas permaneça fiel. Chegará a hora em que você terá que parar de seguir ordens, e saberá quando isso acontecer.

Martha: Você desobedeceu a uma ordem direta, vindo pra este lugar.

Capitão Kurtz: Sim, todas essas suásticas estavam convergindo para Sino da

Liberdade. Eu não tive estômago para deixar o Sino da Liberdade para um bando de nazistas.

Martha: Esta é uma guerra muito ferrada. (Pensando) Eu não pergunto a ele o

que é esse sino da liberdade. Eu não quero que ele pense que sou burra.

Capitão Kurtz: Ferrada. Sim, é uma das piores guerras. Os chefes hoje em dia

estão nos enviando para alguns trabalhos podres. Mas eu não odeio eles. Eu não odeio ninguém. Eu nunca odiei ninguém na minha vida, exceto Hitler (Ibid., p.26)382.

A conversa entre os dois personagens indica que ambos se reconhecem enquanto soldados dos EUA, porém Kurtz tem uma ligação mais profunda com seu país. Ele conhece e idolatra seus símbolos nacionais, a ponto de desobedecer a uma ordem superior e ir lutar sozinho contra tropas neonazistas só para proteger o Sino da Liberdade. Símbolo que Martha desconhece, para ela é só um sino. Há uma diferença na forma como os dois encaram suas atuações; Kurtz é um soldado que já lutou em diversas guerras, acredita que seu país e seus símbolos são dignos de sacrifício, mesmo que para isso tenha que desobedecer ordens. Já Martha, nesse momento da narrativa, apenas segue ordens, não tem uma orientação ideológica como a de Kurtz. Ela reconhece que não tem o mesmo conhecimento que Kurtz e prefere guardar isso para si mesma, teme ser vista como uma pessoa ignorante.

Outro ponto interessante da conversa é o fato de que Kurtz critica seus superiores que o enviaram para situações de combate que ele classifica como “podres”, mas afirma que não os odeia por isso, que não odeia ou tenha odiado ninguém a não ser Hitler. Aparentemente, o grande Capitão Kurtz, o único supersoldado dos EUA, que lutou em todas as guerras de seu país não é uma pessoa que faz isso por ódio, sua participação nos demais combates ocorreu devido a seu amor pela liberdade. Amor, simbolizado pela forma como ele se agarra ao Sino e pelo seu patriótico uniforme que ostenta as cores da bandeira. Kurtz, além disso, sugere a Martha que às vezes é necessário desobedecer ordens e fazer algo por conta própria. No final da narrativa, Martha foge do local, enquanto Kurtz lhe dá cobertura em sua última batalha contra os nazistas. Entretanto, ela desiste de levar a amostra de sangue e a história termina com as seguintes frases: “Minha vez de um pouco de insubordinação. Nós roubamos o suficiente do Capitão Kurtz. O resto de nós terá que se dar

382 “Martha: I fell like some kind of vampire./ Capitão Kurtz: Now don’t you go thinking that way, Martha. You’re a great gal. You got a lot of courage. You got a good head on your shoulders. And you got a job to do. You just stay true. The time may come when you got to stop taking orders and you’ll know it when it does./ Martha: You disobeyed a direct order, charging this place./ Capitão Kurtz: Yeah, it was all those swastikas converging on the Liberty Bell. I couldn’t stomach us giving up the Liberty Bell to a pack of Nazis./ Martha: This is a pretty screwed-up war. (pensando) I don’t ask him what this liberty bell is. I don’t want him to think I’m dumb./ Capitão Kurtz: Screwed up. Yeah, it’s a bad one, this war. The bosses these days, they’re sending us in some rotten jobs. But I don’t hate them. I don’t hate anybody. I never hated anybody in my life, except Hitler” (Ibid., p.26).

bem sem ele. Descanse em paz, soldado. Você era o melhor” (Ibid., p.29)383. Essa parte final é, em

primeiro lugar, uma homenagem a Jack Kirby que dedicou toda sua vida à indústria de quadrinhos e no final não recebeu o devido reconhecimento384. Em segundo lugar, ela pode ser interpretada como um desfecho que mostra o quanto os soldados são descartáveis, por melhor que eles sejam – e isto não é patriotismo!

Nas HQs de Martha Washington, é possível identificar uma certa dose de crítica às forças