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Já sem negar a doença, mas salientando que esta não constituía uma epidemia, os jornais lançaram-se numa campanha pela higiene pública e pessoal como meio mais eficaz para resolver os problemas sanitários graves que em geral, e não apenas neste caso em particular, debilitavam as populações das cidades. Como habitualmente, a pobreza, a imundice e os comportamentos desviantes eram classificados como fatores de risco e mesmo de causalidade para as doenças.

“Só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja (…) Ao nome de peste, de cólera ou de febre-amarela, as multidões sensibilizam-se, desnorteiam-se e reclamam dos poderes públicos toda a sorte de providências ocasionais e extraordinárias, sem se importar que essas providências sejam às vezes mais vexatórias e absurdas que eficazes. (...) Já não sucede assim com outras moléstias, que se tornaram familiares, mas que de quando em quando revestem o carácter de epidémicas. A varíola, a escarlatina, a febre tifoide, e outras febres malignas, não causam menos estragos, mas a sua representação no quadro mortuário, apesar de avultada, passa quase despercebida. Se o dinheiro despendido nos cordões sanitários e em outras medidas ocasionais tivesse sido aplicado a tempo e a horas, convenientemente, metodicamente, segundo os preceitos mais rudimentares da ciência, não haveria muito que recear das invasões pestilenciais e infeciosas e muitos menos se teria a temer das doenças endémicas. Ora é bem de ver que o elemento morbigénico, encontrando o terreno preparado, ali se propaga com a maior facilidade. (...) o micróbio perde a sua ação destruidora se não encontra o meio próprio para o seu desenvolvimento. Arejai, assoalhai, limpai, e com o bom ar e com a boa luz e com a mais cuidadosa limpeza tereis levantado a muralha da China que vos defenda de todos os ataques epidémicos. Todas estas medidas preventivas devem ser realizadas a tempo, com carácter absoluto de permanência e não com carácter intermitente. (...)

342 “The development of the mask goes back to 1899, when Flügge, who was working at that time with tuberculosis, developed the droplet theory of infection. At that time crude masks were used, consisting of roller gauze strips placed over the mouth. (...) The history of the surgical mask can be divided into three separate eras, the first being the development and testing of the mask from 1905 to 1920, and the second being the period when the importance of the surgical mask was stressed and new masks were developed, 1920-1940. The third era is one of the unimportance of the mask, secondary to the antibiotic age”, Rockwood, Charles, Don O’Donoghue. “The Surgical Mask: Its Development, Usage, and Efficiency. A Review of the Literature, and New Experimental Studies”. AMA Archives of Surgery, 80 (6) (1960): 963- 971.

102 O sistema dos esgotos melhorou sem dúvida, mas a canalização geral e a canalização das casas, além de incompleta, é imperfeita (...) Em Lisboa os pátios e no Porto as ilhas são as habitações usuais da gente pobre – verdadeiros antros, física e moralmente considerados, onde a promiscuidade, por falta de espaço, compete com a imundice...”343

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Os conselhos práticos à população foram apresentados de forma sistemática, com uma linguagem clara e facilmente compreensível, baseados, como já vimos, em artigos científicos escritos por médicos especialistas nas áreas da bacteriologia e da higiene: “São as seguintes as instruções sobre as medidas profiláticas elaboradas pelo Sr. Dr. Ricardo Jorge, e que vão ser publicadas oficialmente: (…) A limpeza já é uma desinfeção mecânica. (…) a desinfeção química deve ser posta em prática e o antisséptico mais adequado e mais económico é a cal (...) o sulfato de cobre, o ácido fénico e o sublimado corrosivo. Contra a infeção possível, por contacto ou estado em meio pestífero ou suspeito de tal, há que usar os meios de desinfeção: As mãos lavar- se-ão com soluto de sublimado a 2 por mil; na falta de um antisséptico na ocasião, recorrer-se-á à água, sobretudo quente, e ao sabão ordinário, e ainda à imersão em vinagre ou álcool. Deve haver todo o cuidado na desinfeção das mãos, não esquecendo a limpeza meticulosa das unhas com uma escova apropriada. As roupas desinfetam-se pela lixiviação em barrela ou pela imersão em sulfato de cobre a 5% durante algumas horas; o processo radical é a desinfeção nas estufas. Evitar tudo quanto perturbe o funcionamento e a saúde; água e alimentos de boa qualidade (...) São os ratos atacados pela peste humana e desta se tornam disseminadores, contagiando e transportando a epidemia. A guerra aos ratos é uma medida capital contra a peste (...) A destruição dos insetos, especialmente dos parasitas, é também utilíssima, pois que as ferroadas dos insetos são tidas por inoculadoras do vírus pestífero. Sempre que se declarar qualquer moléstia febril, busque-se imediatamente a assistência do médico”344.

“Instruções preventivas. O governo civil de Lisboa distribui as seguintes instruções a atender por motivo da epidemia reinante no Porto: A peste é uma das moléstias de que cada indivíduo mais fácil e eficazmente se pode defender. Pessoa limpa, vivendo em casa limpa, evitando o contacto com indivíduos, objetos ou animais contaminados, pode considerar-se livre da moléstia. O asseio e a desinfeção são os grandes inimigos da peste: a ausência de qualquer caso entre os médicos e enfermeiros do Porto o atesta. (...) 1º O máximo asseio geral do corpo, vestuário e

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103 habitação, em especial o chão. 2º Toda a regularidade e moderação nas comidas e bebidas e nos atos comuns do viver. 3º Evitar comunicação materialmente íntima ou demorada com pessoas ou coisas, sobretudo roupas não desinfetadas. 4º Lavar amiudadas vezes as mãos e também a cara e sempre antes das comidas, evitando levar as mãos à cara e sobretudo à boca. Obtém-se uma boa lavagem com água, sabão e escova para as unhas, podendo completar-se pelo álcool ou aguardente forte. 5º Arejamento rigoroso das casas para melhoria da sua atmosfera e desaparecimento da humidade que nelas possa existir. 6º Destruição nas casas e suas dependências de todo o foco de mau cheiro ou humidade, por meio de arejamentos, desinfetantes ou obras adequadas, conforme os casos. 7º Nos locais onde haja mau cheiro, que a simples ventilação não possa corrigir, obtém-se a beneficiação queimando flor de enxofre, ou colocando tijelas com cloreto de cal, adicionado de água, ou mesmo de água acidulada com vinagre. 8º Todos os pavimentos, mormente térreos, que estiverem em mau estado, e bem assim canalizações rotas, podendo dar lugar a passagem de ratos, devem ser desde já consertados ou renovados, podendo os inquilinos dirigir-se às autoridades administrativas para obrigar os proprietários às necessárias obras. (…) 10º Objetos de vestuário e quaisquer outros de tecido beneficiam-se pela lavagem (…) São recomendáveis também as lâmpadas de formaldeído e de formalina. 11º Manutenção das retretes e pias no maior estado de limpeza (…) 12º Destruição doméstica dos ratos e insetos parasitas (pulgas, percevejos, etc.). 13º Pessoa que por qualquer circunstância tenha tido contacto caraterizadamente suspeito, deverá logo mudar de roupa, lançá-la numa barrela ou mandá-la desinfetar e lavar-se todo prolongadamente com uma esponja embebida numa solução fénica a 5%, podendo anteceder esta operação por um banho geral de lavagem com sabão. O ácido fénico pode ser substituído por substâncias análogas (izal, creolina, etc.) (…) 15º Todo o indivíduo que tiver por qualquer forma conhecimento de um caso suspeito deverá participá-lo na esquadra de polícia mais próxima…”345.

“Instruções profiláticas sobre a peste bubónica: A folha oficial publicou ontem, ocupando cerca de quatro páginas, as instruções oficiais sobre a peste. (…) A doença: A peste costuma começar por calafrios, dores de cabeça, vómitos, enjoos, injeção dos olhos e respiração difícil. Pouco tempo depois aparecem bubões dolorosos nas virilhas, debaixo dos braços e no pescoço. A família deve fazer deitar o doente e chamar imediatamente o médico. É muito conveniente que desde o princípio da doença o colchão esteja totalmente coberto por um oleado (…) Profilaxia individual –

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104 tratamento do corpo: 1º Asseio do corpo mantido por banhos gerais ou pelo menos lavagens de todo o corpo e lavagens locais com sabões, entre os quais se devem preferir os que têm na sua composição substâncias antissépticas, como são os de ácido fénico, sublimado corrosivo, etc. (…) As lavagens com que se desinfetam as mãos devem ser feitas, depois de ter limpado primeiro as unhas a seco, com escova e sabão ordinário em água quente, e depois com líquido antisséptico. Com líquido igual, mas limpo, deve-se humedecer o cabelo e lavar a cara. A lavagem das fossas nasais é de alta importância (…) A desinfeção faz-se aspirando de tempo a tempo, como quem toma rapé, um pó em que entre o mentol. 2º Asseio do vestuário todo, particularmente das roupas que estão em contacto com a pele. 3º Garantir o corpo, principalmente o ventre e os pés, contra o frio e contra a humidade. 4º Conservar sem alteração os seus hábitos de vida, quem os tiver sãos e regulares. (…) excluindo os alimentos indigestos, irritantes ou laxantes, as frutas verdes e em geral tudo quanto seja cru. 5º Ser cauteloso na escolha da água e de outras bebidas. 6º Evitar excessos alcoólicos. 7º Não tomar bebidas muito frias, nem gelo quando esteja em transpiração. 8º Evitar todas as causas de esgoto: fadigas de corpo ou de espírito, emoções morais, vigílias prolongadas, excessos sexuais. 9º Não frequentar as grandes aglomerações de pessoas, como as grandes festas, as feiras, etc. 10º Não visitar doentes (…) 11º Evitar o contacto com pessoas vindas de lugares contaminados. 12º Não se servir de latrinas públicas (…) 13º Não desprezar nenhuma indisposição que sinta, por ligeira que seja (…) 14º Não andar de pés descalços nas ruas nem mesmo nas habitações (…) 15º Trazer sempre coberta e resguardada qualquer ferida da pele, esgarçadura ou erosão, por mais insignificante que pareça. Realiza-se isto com o colódio e na sua falta com um pó antisséptico, fénico ou salol, coberto por uma camada de algodão. 16º Convém polvilhar o calçado por dentro com uma pequena quantidade desse pó. 17º Ser muito cauteloso com a limpeza dos objetos de toilette, pentes, escovas, etc., que devem ser de uso exclusivo individual, visto que os insetos são uns dos portadores da peste e pulam sobre os cabelos. Limpam-se os pentes e as escovas lavando-os primeiro com uma solução de soda ou de potassa ou simplesmente com sabão, mergulhando-os depois, durante umas horas, numa solução de sublimado corrosivo. As esponjas e escovas de dentes, depois de lavadas em água quente (15º) ficam em banho de sublimado por vinte e quatro horas. (…) 18º Ser reservado em todos os atos que nas nossas relações sociais (…) Em tempos de epidemia o aperto de mão, o abraço e o beijo podem dar ocasião a contágio inconscientemente, sobretudo quando se trata de pessoas que estiveram próximo de doentes ou de sua casa vieram. 19º Evitar o uso de carruagens de aluguer (…) 20º Em relação às condições atmosféricas, convém saber que o ar da noite é mais pestilento do que o do dia, porque os germes,

105 que por condições acidentais possam estar em suspensão, elevam-se na atmosfera durante o dia; condensam-se e descem para a terra durante a noite. 21º Há toda a vantagem em não velar cadáveres, em não acompanhar funerais (…) Profilaxia doméstica: Para lavar os pavimentos, as paredes e os móveis: É do melhor efeito a solução de sublimado corrosivo salgado…”346

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A Igreja também contribuiu para a divulgação das medidas higiénicas, acentuando as questões espirituais associadas à doença: a consciência e a paz de espírito para prevenir e o medo como fator de disseminação, numa réplica do que se observou na epidemia de cólera quatro décadas antes. “Pastoral do Sr. Cardeal Patriarca (...) com as seguintes instruções profiláticas: ‘1º Limpeza na alma, por meio de uma confissão bem feita, no firme propósito de mudar de vida (...) A boa consciência produz um certo bem estar de espírito e corpo que gera a confiança em Deus (...) assim diminui o terror da morte, principal condutora da peste, depois de declarada em um lugar; 2º Limpeza do corpo e das habitações, e portanto o emprego de desinfetantes, tais como vasos de cloreto de cal pelas casas (...) água de cal nas latrinas (...) e como principal desinfetante para pessoas e roupas o formol em dose de uma parte para mil parte de água, um grama para um litro, e nisto lavar as mãos ou roupas suspeitas. Convém trazer sempre bem limpos os sovacos dos braços e as virilhas, porque são os lugares mais atacados pela peste bubónica. Embora já fora de moda, o que é certo é que o uso da cânfora e as lavagens de álcool canforado serão sempre um precioso, fácil e económico remédio contra os micróbios, geradores da peste. Que os párocos estejam, pois, prevenidos para fornecerem aos pobrezinhos as canilhas de cânfora, e aconselharem o uso delas em bolsinhas, debaixo dos sovacos’”347.

Para além das habituais questões morais associadas à doença, de novo os excessos da alimentação ficam na berlinda: segundo as instruções do “distintíssimo clínico Sr. Dr. Júlio Artur Lopes Cardoso, cirurgião-mor da guarda municipal desta cidade”, para além dos praças que dormem fora do quartel deverem “manter a mais rigorosa limpeza nas suas casas de habitação (...) desinfetando-as com o cloreto de cal (...) Todos os praças devem conservar o mais rigoroso asseio e limpeza nas suas roupas, e com especialidade na roupa branca, que devem mudar com frequência. Estes mesmos cuidados devem ter com as roupas das suas camas. São prejudicialíssimos os excessos de qualquer natureza (excessos de comida, bebida, etc.). É necessário não beber água das fontes que a câmara condenou, nem água dos

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106 poços, a não ser previamente fervida, nem comer frutas mal sazonadas….”348

. “Enterrou-se hoje no cemitério de Agramonte uma criança de 14 anos. No respetivo bilhete de enterramento diz o médico Severiano José da Silva isto: ‘Parece ser peste bubónica’. Procedendo-se a informações soube-se que o rapaz de parceria com outro comeram 23 maçãs mal sazonadas”349

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E se a doença atacava as “classes mais imundas”, era necessária a limpeza dos indivíduos e das suas habitações, com recurso a brigadas de limpeza pagas pela câmara350, muitas vezes acompanhadas pela polícia e com recurso à violência. Para além das medidas sanitárias rigorosas obrigando à higiene pessoal, outras foram postas em prática para o combate aos agentes transmissores da doença: os ratos e as pulgas. Assim, Ricardo Jorge mandou construir balneários públicos e tomar precauções em relação aos ratos que infestavam a cidade, não só distribuindo veneno, mas também cuidando das águas para onde o veneno e os próprios ratos mortos eram encontrados: “Casa de banhos para o público. Em virtude de indicação feita pelo Sr. Dr. Ricardo Jorge, vai ser construído um barracão no terreno junto do Posto Municipal de Desinfeção, à rua da Murta. Serão ali instalados os aparelhos necessários para banhos aspersores, havendo lugares para homens e mulheres (...) O Sr. Dr. Ricardo Jorge, tendo conhecimento de que no rio Douro vão aparecendo grande número de ratos mortos, em virtude dos bolos de estricnina que a câmara municipal mandou lançar nas bocas de lobo, fez sentir este facto à autoridade superior do distrito, pois que a pesca no rio nesta ocasião não é conveniente ser consentida. (...) Nova casa incendiada...”351. Poucos dias depois: “Como no Rio Douro a apanha dos ratos nos esgotos fosse muito dispendiosa e pouco profícua, resolveu-se adaptar fortes redes de arame na boca do coletor geral, a ribeira, para ali apanhar os ratos, que depois serão queimados no Cabedelo”352.

Este final de século trouxe a especialização das profissões científicas e o respetivo reconhecimento. Neste caso, não só o poder político colocou em ação as propostas dos médicos para resolver a crise sanitária, como foram utilizados profissionais de outras áreas para resolver questões técnicas a ela associadas. Além das soluções descritas para o Douro, o Conselho Superior de Saúde e Higiene Pública que se reuniu em Lisboa em novembro decidiu nomear uma comissão, “a qual com um

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O Comércio do Porto, 18/08/1899, p. 2. 349

Diário de Notícias, 16/08/1899, p. 1.

350 “ficou definitivamente resolvido que a autoridade administrativa realizará a beneficiação interna dos prédios, utilizando-se para esse efeito do pessoal e material pertencentes à câmara e que esta trate da limpeza pública, lavagens dos canos de esgoto, etc., empregando nesse serviço as onze brigadas de trabalhadores que ultimamente organizara”, O Comércio do Porto, 29/09/1899, p. 2.

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Diário de Notícias, 29/08/1899, pp. 1-2. 352

107 engenheiro da câmara estudará o melhor modo de proceder ao extermínio dos ratos nas canalizações públicas e particulares”353. Um pormenor interessante do combate à epidemia foi a caça aos ratos e aos gatos, que fez as crianças do Porto e de Lisboa ganharem algum dinheiro: por cada rato grande entregue numa esquadra de polícia recebiam 20 réis, por cada pequeno 10354. Isto motivou uma colheita diária considerável. Por exemplo, no Porto, “na esquadra da Boavista foram ontem entregues 89 ratos grandes e 19 ratos pequenos”355. E em Lisboa: “Principiou ontem a proceder-se à apanha dos gatos. Foram apanhados 21 dos pobres bichanos na área da esquadra de Belém, sendo depois removidos para a abegoaria municipal”356. A publicidade também refletiu esta preocupação, multiplicando-se logo desde agosto os anúncios de raticidas para uso doméstico, vendidos em farmácias e drogarias, como os seguintes: “Os melhores, mais enérgicos e infalíveis destruidores dos ratos, ratazanas, toupeiras, etc., são o pó occimus e trigo vermelho preparados por E. Simonet, químico laureado, de Cambrai (França)...”357; “Está confirmado que o trigo com sublimado, mole e gorduroso é o raticida mais apetitoso dos ratos, que desaparecem por completo…”358; “Desaparecem numa noite os ratos, ratazanas, baratas e toupeiras com as Bolas raticidas da Moreira Lobo”359.

Outras medidas sanitárias postas em prática incluíram cuidados especiais nas práticas de enterramento dos falecidos de peste, com caixões e pessoal especializado, e a instalação de postos de desinfeção em vários pontos da cidade: “No serviço de enterramento para empestados (...) Os covais serão de grande profundidade, lançando-se neles grande quantidade de cal viva, antes e depois de cair o caixão. O transporte de doentes é feito por bombeiros municipais...”360. Foi ainda anunciado em 23 de agosto o encerramento das escolas no Porto e em Paços de Ferreira361, mas depois o ano letivo acabou por funcionar normalmente por se considerar não haver razão “para que aquela medida se mantenha, pois que os colégios estão, por lei, sujeitos a inspeção sanitária e neles são observadas todas as medidas de higiene”362.

353 Diário de Notícias, 11/10/1899, p. 1. 354 Diário de Notícias, 15/10/1899, p. 1. 355 Diário de Notícias, 22/12/1899, p. 1. 356 Diário de Notícias, 15/10/1899, p. 1. 357 O Comércio do Porto, 22/08/1899, p. 3. 358 O Comércio do Porto, 01/09/1899, p. 3.

359 Com gravura de três ratos enormes e moldura a dizer “Bolas Raticidas A. M. Lobo”, Diário de Notícias, 09/12/1899, p. 2.

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O Comércio do Porto, 24/08/1899, pp. 1-2, e Diário de Notícias, 24/08/1899, p. 1. 361

O Comércio do Porto, 23/08/1899, pp. 1-2, e 24/08/1899, p. 1.

362 O Comércio do Porto, 12/09/1899, p. 2. “Foi superiormente permitida a abertura dos colégios desta cidade. Pelo governo civil foram enviadas comunicações neste sentido às administrações dos dois bairros”, idem, 19/09/1899.

108 Para além destas medidas descritas e amplamente divulgadas pela imprensa,

O Comércio do Porto lançou-se também numa campanha de recolha de fundos para

contribuir para a “higiene dos pobres”. A partir do dia 24 de agosto este jornal passou a publicar diariamente as listas de subscritores e as respetivas quantias. As ações filantrópicas foram agradecidas com palavras carregadas de emoção: “A alma generosíssima desta terra está desabrochando em rasgos de beneficência a favor daqueles que não têm recursos para melhorar a higiene das suas habitações…”363. Logo no dia seguinte: “Vai encontrando eco simpático na alma generosa da nossa cidade o apelo que fizemos para serem melhoradas as condições higiénicas do pobrezinhos. Em roupas, em esmolas pecuniárias, e em desinfetantes se tem transformado o resultado do nosso apelo…”364. E ainda mais: “A generosidade desta terra, demonstrada em todas as ocasiões difíceis, acentua-se agora, diante do nosso apelo, para se velar pela higiene dos pobrezinhos. No desempenho da missão que