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Inerentes ao processo de construção científica, sob a égide da estratégia dedutiva, são definidas hipóteses a fim de serem posteriormente testadas (Amaratunga et al., 2002). Estas hipóteses estruturam-se em indicadores que devem reunir duas qualidades:

 Capacidade para expressar e provar a realidade a que se referem, ou seja, verificar se a resposta fornecida é adequada para resolver as questões de investigação.

 Consistência ao longo do tempo, uma vez que a estratégia dedutiva deve permitir a repetição e comparabilidade dos resultados.

Desta forma, as questões de investigação giram em torno dos benefícios fiscais, atribuídos às empresas das regiões do interior de Portugal, enquanto fator de desenvolvimento dessas mesmas regiões. Neste contexto, surgem as hipóteses de investigação, representando uma explicação, para um determinado fenómeno e que indicam de que forma uma variável independente irá afetar, influenciar ou alterar uma variável dependente (Araújo, 2012).

69 Assim, as hipóteses de investigação que se vão formular terão subjacente a necessidade de compreender os efeitos diretos que os benefícios fiscais produziram nas empresas da região do interior de Portugal.

Deste modo, de forma a responder às perguntas de investigação, formulam-se as seguintes hipóteses gerais de trabalho:

H1: Existem diferenças entre as empresas, na utilização dos BFI, relativamente à

dimensão.

A dimensão da empresa, varia consideravelmente entre os países e mesmo dentro destes, reflete as características dos setores de uma atividade, estatuto jurídico e estrutura de propriedade (Ayele, 2002; Othman & Zeghal, 2006). O próprio conceito de PME foi criado pela Comissão Europeia, em parte, para esbater as diferenças na definição de dimensão empresarial. Neste sentido, tal como Ramalho e da Silva (2009), foram criados quatro grupos de empresas19 micro, pequenas, médias e grandes, tendo em conta a definição adotada pela

Comissão Europeia. Os autores consideram que a maioria dos estudos anteriores sobre as PME não faz esta distinção, tratando todas as PME como um único grupo uniforme ignorando, desta forma, diferentes fatores que podem afetar o comportamento destas empresas.

As empresas de maior dimensão mostram um maior interesse nos benefícios fiscais, comparativamente às pequenas empresas, uma vez que os lucros das primeiras são mais significativos, persistentes e, portanto menos voláteis (Frank, Lynch & Rego, 2009).

H2: Existem diferenças entre as empresas, na utilização dos BFI, relativamente ao setor

de atividade.

A estratégia de escolha de um sector de atividade, em parte, determina o montante do investimento em máquinas e equipamentos, o que poderá influenciar o benefício fiscal obtido (Ayele, 2006). Poderá também existir uma maior apetência, em alguns setores de atividade, para utilizarem os BFI (Kendall, 2000).

H3: Existem diferenças entre as empresas, na utilização dos BFI relativamente à

localização geográfica.

19Os grupos de empresas foram criados em função dos critérios estabelecidos pela Recomendação da

De acordo com o estudo empírico de Verheul et al. (2008), os benefícios fiscais não são o único fator influenciador da localização das empresas. Os autores consideram que as empresas se instalam devido às suas características e às caraterísticas da região em simultâneo, ou seja, um restaurante tem tendência a instalar-se num meio populacional grande, enquanto uma indústria numa região com boas infraestruturas. Nesse mesmo estudo, uma das variáveis estudada foi o nível de benefícios fiscais regionais que não mostram significância estatística na relação entre os benefícios e a criação de empresas.

H4: Existem diferenças entre as empresas, na utilização dos BFI, relativamente à

rendibilidade.

Os benefícios fiscais têm por objetivo estimular o investimento e o crescimento económico, embora seja difícil conhecer o desempenho empresarial na ausência dos referidos incentivos (Klemm, 2010). O autor considera que os benefícios fiscais apresentam um impacto positivo na performance das empresas que os utilizam.

H5: Existem diferenças entre as empresas, na utilização dos BFI, relativamente ao TOC

responsável pela contabilidade.

O TOC desempenha papéis distintos nas empresas em função da sua dimensão. Nas empresas de dimensão reduzida é característico que o gestor tenha um duplo papel, gestor e contabilista em simultâneo, sendo o TOC a fonte de aconselhamento mais direta do empresário. O mesmo já não se passa nas grandes empresas, onde a gestão é feita de forma profissional e as decisões são tomadas, normalmente, por mais do que uma pessoa.

No entanto, todas as empresas são obrigadas, por lei, a ter um TOC, que tem por missão apoiar o gestor na preparação de informação e na tomada de decisões de carácter fiscal. Armstrong, Blouin e Larcker (2012) atribuem três papéis ao responsável pelos assuntos fiscais da empresa, que estão de acordo com os papéis que o Técnico Oficial de Contas - TOC desempenha nas PME. Primeiro, o diretor fiscal é responsável, pela conformidade do arquivo de milhares de formulários e documentos fiscais. Em segundo lugar, o responsável pelos assuntos fiscais pode aconselhar os altos executivos da empresa, a minimizarem o custo fiscal da operação, bem como a aconselhá-los nas políticas de investimento e respetivo financiamento. Como conselheiro, o responsável pelos assuntos fiscais pode contribuir para a tomada das decisões estratégicas ao nível do investimento, embora não sendo o responsável pela seleção de investimentos. Em terceiro, o responsável pelos assuntos fiscais tem a responsabilidade de elaborar o planeamento fiscal, que permita à empresa a minimização do imposto suportado. Os autores encaram este terceiro papel, que denominam como papel de

71 "planeamento ativo", como sendo o mais agressivo em questões de imposto, comparativamente às outras duas funções consultivas.

Dyreng et al. (2010) investigaram se os membros da gestão de topo das empresas, estão relacionados com o nível de agressividade fiscal das empresas. Apesar de concluírem que a gestão de topo está associada ao planeamento tributário, não está claro se os resultados são atribuíveis à gestão de topo, no que diz respeito à agressividade fiscal, ou à tomada de decisões estratégicas, tais como políticas de investimento e financiamento que se encontram correlacionadas com a situação fiscal de uma empresa.

H6: Os benefícios fiscais produzem um efeito direto sobre o crescimento e a performance

das empresas nas regiões do interior de Portugal.

O crescimento da empresa pode ser medido pela variação do ATL - Ativo Total Líquido. Este indicador define o crescimento percentual do ATL do ano (n) em relação ao ano (n-1). Devido à taxa anual de depreciações, este indicador tem tendência a apresentar decréscimos, com exceção dos anos em que é feito investimento. O investimento, em ativos físicos (em particular a aquisição e adoção de novas máquinas e equipamentos), é um motor de crescimento, industrialização e distribuição de riqueza (Ayele, 2002; Desai & Dharmapala, 2009). O crescimento pode ainda ser observado pela variação do VN – Volume de Negócios (Easson & Zolt, 2002; Wiklund, Davidsson & Delmar, 2003).

A performance das empresas pode ser medida, com base na Rendibilidade Liquida do Ativo - RLA (Kothari et al., 2005; Hanlon, Maydew & Shevlin, 2008; Armstrong, Blouin & Larcker, 2012; Maiga, Nilsson & Jacobs, 2013), ou na Rendibilidade Líquida das Vendas – RLV (Kothari et al., 2005).

No entanto, este rácio tem como limitação o conservadorismo contabilístico tal como: redução de ativos, imparidade do goodwill, encargos de reestruturação, ganhos de reavaliações de ativos e valores capitalizados, relativos aos benefícios esperados de pesquisa em investigação e desenvolvimento, que não são incluídos nos lucros, até que sejam realizados em períodos futuros (Kothari et al., 2005).

H7: A dimensão produz um efeito direto sobre o crescimento e a performance das

empresas nas regiões do interior de Portugal.

De acordo com Serrasqueiro, Nunes, Leitao e Armada (2010) a dimensão das empresas influencia o seu crescimento, na medida em que se obtêm economias de escala, sendo uma

das principais motivações das empresas que se encontram num nível abaixo da escala mínima de eficiência. Os autores consideram ainda que, o crescimento nas grandes empresas é motivado pelas mudanças que ocorrem nos mercados.

No que se refere à performance das empresas, a dimensão é uma variável que influencia a sua performance. As empresas de maior dimensão têm mais possibilidade de tirar proveito de economias de escala e renegociar com clientes e fornecedores (Serrasqueiro & Maçãs Nunes, 2008). Os autores consideram ainda que as grandes empresas têm uma maior capacidade de enfrentar a concorrência, mantendo os preços acima do nível competitivo, obtendo por este intermédio uma maior performance.

3.4 – Recolha, variáveis de investigação,