Não se encontrou associação significativa entre a presença de hipocratismo digital
ou de estertores teleinspiratórios com a sobrevida. Embora a presença de hipocratismo
digital tenha sido observada mais freqüentemente por alguns autores em pacientes com
padrão PIU (17), cuja sobrevida é inferior a daqueles com PID, e que também
tenham verificado casos mais graves quando esta característica estava presente
(
147),
diversas séries da literatura também não encontraram associação
( 45, 139, 140).
Na série dee PID. Scadding
(17)
também não havia descrito diferença entre PID e PIU na incidência dehipocratismo e de estertores teleinspiratórios. Na série de DeReeme (54), houve a
impressão de que estas duas características (hipocratismo e estertores teleinspiratórios)
estivessem relacionadas à menor sobrevida, não havendo uma análise estatística que
comprovasse esta afirmação. Houve inclusão, nesta série, de casos secundários a
colagenoses. Estudos futuros devem elucidar qual o fator responsável pelo surgimento ou
não de hipocratismo digital em pacientes com FPI.
5.3.6. Características Laboratoriais
Os fatores reumatismais estudados não apresentaram associação com o prognóstico
da FPI. O Fator Reumatóide, FAN e Proteína C Reativa foram reagentes em menos de 20%
dos casos em que foram estudados, ç, sua presença não interferiu na progressão da doença.
Esta observação também estava presente em outras séries (45,52,139,150,152,154), com
resultados semelhantes aos da nossa. Na série de Johnston (150), a presença destas
características foi mais observada em pacientes idosos, e também sem relação com o
prognóstico. Tais informações colidem com estudos
(63,
157) que presumem que a presençade complexos imunes ocorre em maior número em pacientes jovens com aspecto
I
histológico mais inflamatório e menos fibrótico, e, por isso, com melhor prognóstico.
Agusti (147), por sua vez, observou que, quando a doença intersticial é associada a uma
colagenose, seu prognóstico é melhor. A mesma observação, entretanto, não foi verificada
na série de Turner-Warwick (144). Tal inferência não deve, no entanto, entrar como fator
de confusão em nossa série, pois nela casos de colagenose foram excluídos.
5.3. 7. Provas de Função Pulmonar
Observou-se associação entre as medidas de função pulmonar e a sobrevida dos
limítrofes para CVF,VEFl e CPT, e com boa correlação para a DCO. Quando analisados
de maneira estratificada, todavia, as variáveis apresentaram boa associação com índices
de
correlação bastante positivos com a sobrevida. Com relação à CVF e ao VEF
1,
osresultados observados neste estudo representam, de certo modo, o que está presente na
literatura atual, pois não existe consenso sobre a associação entre as medidas e a sobrevida
de pacientes com FPI. Crystal e Keogh
(99),
em sua revisão sobre a importância clínica detestes de função pulmonar em FPI, afirmavam que CVF e
VEF 1
apresentavam umaassociação mediana com a evolução do processo. Acreditavam, porém, que as provas de
função pulmonar eram mais sensitivas e apresentavam melhor correlação com o
acometimento pulmonar do que os sintomas clínicos e as anormalidades radiológicas.
Em diversos estudos e série�., a associação entre volumes pulmonares e sobrevida tem sido verificada. Resultados semelhantes aos encontrados nesta série - onde os pacientes com sobrevida de até 2 anos apresentavam CVF média de
58,2%
e CPT de 72,9%em relação à CVF média de
75%
e à CPT de88,3%
de pacientescom sobrevida maior
de 5 anos - também foram encontrados por outros autores. Na série de Stack(52), com 96
pacientes, quase todos com menor que
60%
do previsto tiveram sob
re
vid
amenor de
2 anos. O mesmo foi descrito por Johnston
(150)
em sua série multicêntrica de 558pacientes e por MacCormac
( 149), em 46
pacientes. Em seus trabalhos, todos os índices defunção pulmonar apresentaram piores resultados em pacientes com sobrevida curta. série de Schwartz
(146),
foi verificada associação entre CPT ba_ixa e a intensidadede
dispnéia, que é outro marcador de gravidade. Uma melhor resposta terapêutica à
prednisolona foi observada por Turner-Warwick
(144)
em uma série de43
pacientesque
apresentavam maiores índices de CVF e CPT. Em outra série da mesma autora (
45
),
com CVF inferior a 50% do previsto desenvolvem mais freqüentemente hipertensão
pulmonar e redução na sobrevida em 2 anos, sendo esta associação também verificada por
outros autores (90,97). Erbes (148), em uma análise de 99 casos, encontrou menor
sobrevida em pacientes com CPT 2 dp abaixo do previsto. Esta menor sobrevida era
observada, principalmente, quando em conjunto com uma menor CVF, também com a
mesma variabilidade. Tal correlação entre CV e CPT
já
havia sido descrita por Boushy(91). Gay (172), embora não tenha encontrado associação direta entre sobrevida e provas
funcionais, observou que CVF e CPT eram maiores em indivíduos respondedores ao
tratamento, e, entre estes, a queda progressiva de seus valores, em conjunto com VEF 1 e
DCO, foi inferior aos que não respondiam ao tratamento. Jesek
(89)
observou que, após 5anos de seguimento, 27 de 32 com CV maior que 60% do previsto estavam vivos
em comparação com apenas 29 de 67 com CV menor ou igual a
60%.
Schwartz(138)
também encontrou associação entre CVF e CPT reduzidos e mortalidade.Além destas séries demonstrarem associação entre os volumes pulmonares iniciais e
o prognóstico, vários autores ressaltam a associação entre diminuição de CVF e CPT
após o inicio do tratamento, com índices de mortalidade elevados em relação aos pacientes
com melhora ou estabilização destas medidas (144,
167).
Embora, em muitas séries, nãotenha sido verificada correlação entre o grau de fibrose e as provas funcionais, Bjoraker
(32)
valores de CPT mais baixos em pacientes com PIU do que naqueles comPIN estando assim, os mesmos, relacionados com a sobrevida. Isto já havia sido descrito
' .
por Carrington (20) que constatou que CPT e CV estavam bem mais reduzidas em PIU do
que em PID. Também Sasaki (123) verificou uma maior redução da CVF em pacientes com
Tais achados vão de encontro ao observado em algumas séries (45,85, 139,140, 154),
em que os volumes pulmonares não pareciam apresentar influência na sobrevida. Estes
autores consideram que a falta de correlação entre os achados funcionais e o padrão
histológico encontrado no momento do diagnóstico em FPI (2) explicaria esta falta de
associação. Vários autores, no entanto, em revisões de séries e através de experiência
pessoal, afirmaram (56,96, 159, 195) que os volumes pulmonares iniciais em pacientes com
FPI são fatores prognósticos significativos em relação à mortalidade nesta doença, pois traduzem o grau de comprometimento fibrótico do parênquima pulmonar e estão
relacionados ao estágio da doença no momento do diagnóstico.
Quanto à associação entre fluxos pulmonares, especialmente VEF 1, com a sobrevida em FPI, o número de estudos é menor. A diminuição do VEF 1 seria devida
apenas à diminuição concomitante da CVF, sendo, por isso, sua importância na avaliação prognóstica não aceita por vários autores. Carrington (20) verificou que pacientes com PIU eram mais obstruídos (menor do que aqueles com PID. Na série de
MacCormac (149), foi encontrada associação entre VEFl inicial e sobrevida. Já Schwartz (138) não verificou associação em sua série de 73 pacientes. O mesmo não foi observado
por Tukiainen (139) e Turner-Warwick (144). Mais recentemente, Gay (172) não encontrou associação entre VEF 1 e sobrevida, porém, os pacientes com valores menores apresentaram
também menor resposta terapêutica.
Em nossa série, no entanto, com um número bastante e�pressivo de pacientes,
verificou-se asssociação, embora não marcante, entre VEFI inicial e sobrevida em FPI. O
VEFI foi significativamente menor (média de 64,7%) em pacientes com sobrevida inferior
em relação aos com maior sobrevida (média de 83,3%). Tal associação pode estar
também a fenômenos obstrutivos concomitantes ao processo de redução da CPT, ocasionados por tabagismo ou por outras doenças das vias aéreas, com hipertrofia glandular
e infecções respiratórias de repetição, conforme citam Fulmer (86) e Edwards (8
8
) em seusestudos.
Já em relação aos valores iniciais da DCO e sua influência na mortalidade, parece haver uma consenso, na literatura internacional (56, 159), de que a associação está presente.
Na presente série, em que 34 pacientes realizaram a medida da DCO, houve uma
significativa correlação entre redução da DCO (r-0,41) e mortalidade, verificada também
quando
observados os extremos de sobrevida. Schwartz(138)
encontrou associaçãoentre
redução da DCO, mortalidade e progressão da doença. Em sua série, pacientes com DCO
reduzida apresentavam maior dispQ..éia e menor resposta terapêutica. Tukiainen
(139)
encontrou
sobrevida maior em pacientes com DCO superior a 45% em relação àqueles comíndices
inferiores. Na série multicêntrica de Johnston (150), os pacientes vivosapresentaram OCO média de
53,4%
em comparação a44,1%
dos pacientes que foram aoóbito.
Tal achado
também foi descrito por outrosautores(18,66). Jesek (89)
demonstrouque a sobrevida em 6 anos foi de 47% em pacientes com DCO inferior a 40% do previsto
e
9
1% quando a OCO era superior a 40%. Semelhantes dados foram observados por Rudd(90)
e Chinet (165) que demonstraram que a taxa de mortalidade em3
anos aumentou em50% em pacientes com OCO abaixo de 45% do previsto.
Na série em estudo, a DCO média foi de 44,6% do previsto_e em
58,1% dos
casosesteve abaixo de 50%, o que indica mau prognóstico para um grande número de pacientes,
de acordo com as séries da literatura (152). Em casos onde se verifica progressão da doença
ou falência terapêutica, é comum a observação de redução da OCO em relação aos valores
menor sobrevida apresentaram DCO média de
47%
do previsto, sendo que os14
paci
entes com maior sobrevida apresentaram DCO média de 62%. Agusti(140)
observou, em sua série de 27 pacientes, que a DCO inicial apresenta boa correlação com a progressão do da oxigenação arterial em FPI. Encontramos, no entanto, al
gunsautores
(85,127,144,148)
que não verificaram a associação entre DCO e sobrevida. Tambémapresentaram como explicação para este achado o fato de não haver correlação entre a
celularidade da FPI com os valores encontrados para DCO (2,85) embora alguns autores tenham
v
erificado alguma correlação entre estes dados(84).
Pelos resultados verificados na presente série, parece que a medida inicial da DCO apresenta boa correlação com a evo
l
ução da doença , assim como prediz o grau de resposta terap
êutica. A redução da DCO reflet.e a perda de volume capilar pulmonar, o espessamento da membranaalvéolo-capilar
e as anormalidades na ventilação-per-fusão. Estas alterações. estão associadas a estági
os avançados da doença, com maior comprometimento fibrótico do parênquima e, conseqüentemente, menor resposta terapêuti
ca e sobrevida reduzida.Quanto à medida dos gases sangüíneos, encontrou-se assoc
i
ação entre sobrevida e medida da Pa02 em repouso e sem oxigênio suplementar quandoanalisados
os pacientes de maneira estratificada. Pacientes com sobrevida de até 2 anos apresentaram Pa02 média de 63,8
mmHg, enquanto aqueles com sobrevida superior a 5 anos apresentaram média de 70,7mmHg, sendo tal
diferença significativa. Quanto à PaC02, não foi verificada nenhuma associação prognóstica, e a saturação de 02 apresentou baixa correlayão.Na literatura, as opiniões sobre a relevância dos valores inicia
i
s gasométricos como fatores prognósticos são controversas. A numerosa série de Turner-Warwick(45) v
erifi
cou que pacientes com Pa02 elevada apresentavam maior sobrevida, embora, quando corrigida para a idade, esta associação não era verificada. Na série de Stack (52), esta associaçãotambém foi constatada, sendo que todos os pacientes, com apenas uma exceção, com Pa02
inferior a 60mmHg apresentaram óbito em 2 anos de seguimento. Keogh e Crystal (99)
também encontraram associação entre hipoxemia em repouso e sobrevida, ressaltando,
porém, que a medida da Pa02, durante o exercício, traria informações mais fidedignas
quanto ao estadiamento da doença. Schwartz
(96, 157),
em sua escala de gravidade paraFPI, estipulou um escore de
1
O pontos possíveis para a Pa02 de acordo com o valorobservado em repouso.
Na análise de sobrevida, após um ano de diagnóstico, na série de Hanson (167), os
pacientes que apresentavam melhora na Pa02 demonstraram uma sobrevida maior em
relação àqueles com valores inalterados. Sasaki (
1
23) observou, em uma série de 26pacientes com comprovação histológica, que o óbito foi acompanhado de
redução na Pa02 em conjunto com redução na CVF. Na série de Hiwatari
(154),
pacientescom menor sobrevida apresentavam Pa02 média de 59mmHg, enquanto que pacientes com
maior sobrevida tinha média de 66mmHg. Na série de Agusti (140), a Pa02 durante
exercício foi considerada fator prognóstico em FPI, e seus valores guardavam correlação
com a Pa02 em repouso. Em outras séries (2,
127,128,148,
144), no entanto, não foiverificada esta correlação. Fulmer
(85)
considerou não haver correlação entre a severidadehistológica e o grau de hipoxemia observado no paciente.
É
possível, no entanto, que a Pa02 em repouso, no momento do diagnóstico, pode,em conjunto com outros fatores em estudo, auxiliar na avaliaçã� prognóstica em FPI,
levando-se em conta os resultados encontrados em um número significativo de pacientes da
presente amostra, bem como observações da literatura internacional (56, 159, 166). Esta
associação deve-se ao fato de a hipoxemia estar relacionada à maior severidade da
membrana alvéolo-capilar e a desuniformidade da relação V/Q causadas pela fibrose em
estágio avançado levariam à hipoxemia. A própria hipoxemia levaria ao agravamento da
situação orgânica do indivíduo com comprometimento de vários órgãos, em especial, dos
sistemas cardiovascular e circulatório.
Quanto à PaC02, são poucos estudos em que tal característica foi verificada. Padilla
(143)
demonstrou não haver diferença em valores de PaC02 em relação à intensidade da fibrose observada. As grandes séries não descrevem seus resultados, mas definem nãohaver importância em sua análise. Tal afirmação está de acordo com a presente observação, não existindo importância prognóstica a análise da PaC02 neste grupo de pacientes. Na maioria das vezes, ocorreria uma compensação ventilatória causada pela hipoxemia, com aumento da freqüência respiratória, .determinando níveis normais de PaC02 mesmo em fases avançadas da doença.
A mesma ausência de dados, nas séries internacionais, também é observada quanto à medida da Sa02 em repouso. Embora saibamos que a Sa02 guarda uma relativa
correlação com valores de Pa02 em repouso, a correlação encontrada em nossa série foi pequena (r = 2) e não verificada quando os pacientes foram estratificados por tempo de sobrevida. Encontramos informações somente na série de Bjoraker (32), na qual não foi
verificada diferença entre PIU e PIN quanto à Sa02. Tal exame, por ser de fácil realização
através de oxímetro portátil, talvez possa, no futuro, ter definida sua real importância como
fator prognóstico sobrevida em FPI. Consideramos, no entanto, que este achado - em
conjunto com outras características utilizadas como fatores de risco - possa ser útil na
determinação do estágio e progressão da doença.
Conforme discussão acima, em muitas séries não foi verificada associação entre
correlação entre o padrão histológico e as alterações funcionais, esta associação também
não foi verificada (195). Em alguns estudos, os resultados se mostraram conflitantes com
os nossos, devido, muito provavelmente, a diferenças na seleção de casos: pacientes sem confirmação histológica, colagenoses ou causas secundárias de fibrose nem sempre eram
excluídos e a presença e o tipo tratamento prévio . Também o fato dos casos em estudo
serem predominantemente constituídos de padrão usual e de terem sido submetidos
somente à corticoterapia, levou à melhor seleção da presente série.