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Na Antiguidade, a maioria dos medicamentos era produzida a partir de diferentes tipos de plantas. O termo droga se deve a esse fato e tem sua origem na palavra drogg, originária do holandês antigo, que significa “folha seca” (BRASIL, 2007).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga “é qual-quer substância não produzida pelo organismo, que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento” (NICASTRI, 2008).

Sabe-se que a utilização de substâncias que provocam alterações no funcionamento do organismo não é um fenômeno recente. Os povos anti-gos as utilizavam para minimizar dores, em cerimônias e rituais religiosos, para promover a capacidade física e psicológica nos momentos de batalha, para proporcionar bem-estar e até mesmo para matar inimigos ou provocar a própria morte (RIBEIRO, 2009; TULLER; ROSA; MENEGATTI, 2007).

Nos dias de hoje, a humanidade ainda faz uso de substâncias quími-cas, não apenas com fins curativos, mas também em busca de algum tipo

de satisfação ou prazer. As drogas que tem algum tipo de efeito psicoativo podem ser lícitas quando comercializadas regularmente, ou ilícitas quando sua circulação no mercado se dá de forma clandestina. Como exemplos podem ser mencionados respectivamente o álcool e o tabaco no primeiro caso, a maconha e a cocaína, no segundo.

Na década de 1980 descobriu-se uma nova forma de consumir a cocaína: o crack. Ele é uma maneira de consumo da cocaína e, segundo Domanico (2006), o ato de fumar é uma forma mais eficiente de levar uma droga ao cérebro, fazendo-se necessário uma quantidade menor da mes-ma para atingir os efeitos obtidos pela injeção ou inalação. Logo, o crack

se tornou acessível às camadas mais pobres, pois, para produzir efeitos intensos, sua produção necessita de uma pequena quantidade de cocaína, o que acarretou em uma considerável redução do preço.

Pensando a questão do surgimento do crack e direcionando-a para o âmbito brasileiro, infelizmente constata-se que poucas são as informa-ções a respeito de como se deu a sua chegada em território nacional.

Segundo Marcus Vinícius Braga, delegado titular da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), até meados de 2003 os traficantes não que-riam comercializar o crack no Rio de Janeiro por se tratar de uma droga barata e rapidamente viciante, o que consequentemente levaria ao cresci-mento de dívidas entre os usuários e o tráfico, e também à destruição do mercado consumidor, dadas as letais e rápidas consequências da droga. Contudo, após uma combinação entre os traficantes de São Paulo e a maior facção criminosa fluminense, a droga passou a ser vendida também no Rio de Janeiro. (FREIRE, 2008; DOMANICO, 2006).

Em 2008, Jairo Werner Júnior, pesquisador e professor da Faculdade de Educação (EDU) da UERJ, já anunciava o perigo iminente do consumo do crack nas ruas do Rio de Janeiro. Em maio do mesmo ano, a hipótese do avanço do consumo de crack no estado foi confirmada pela polícia através da apreensão de 2.378 pacotes em uma favela do subúrbio. (“Autoridades se reúnem para discutir plano de ação contra o crack”, 2009; “Pesquisador alerta para o uso de crack por crianças e adolescentes”, 2008).

A disseminação do consumo de crack pode ser mais bem compreen-dida pela menção de alguns determinantes envolvidos nessa questão. Um

158 Iniciação Científica na Educação Profissional em Saúde: articulando trabalho, ciência e cultura - vol. 7 deles, como já foi dito, é o fato de as drogas serem consumidas para a ob-tenção de prazer, descontrações e euforia, ou para aliviar a ansiedade, a mágoa, a dor e a privação (TULLER; ROSA; MENEGATTI, 2007). Os usu-ários, em especial aqueles em situação de rua, encontram-se em um con-texto de marginalização e exclusão social; não tem expectativas de vida; há a ansiedade devido à constante possibilidade de repressão policial, entre outros fatores, que os levam a um estado de tensão muito grande. E a dro-ga funciona justamente para amenizar toda essa tensão (TORRES, 2010), pois, de acordo com Antón (apud TULLER; ROSA; MENEGATTI, 2007), o abuso de drogas é um hábito adquirido e aprendido socialmente, e sua continuidade se deve a razões de natureza psicológica ou fisiológica. Ou seja, no caso dos moradores em situação de rua, o contexto ao qual estão submetidos os ensina e estimula a continuidade do vício, primeira-mente por razões psicológicas e posteriorprimeira-mente, quando já se encontram em estado de dependência, por razões fisiológicas.

Todavia, deve-se enfatizar que a rua não determina qual o tipo de droga que se busca usar. As pessoas em situação de rua consomem mais o crack, pois o acesso a essa droga é mais fácil do que às outras: o crack

é a droga mais barata.

Entrelaçado a esse fator está o controle repressivo exercido mun-dialmente sobre os insumos necessários para a fabricação de crack. Essa questão deve ser compreendida como fator significante, pois induz à utili-zação de diversos tipos de ingredientes, o que barateia ainda mais a pro-dução, acarretando um aumento no número de fabricantes, atraídos pela rentabilidade das vendas. Consequentemente, ocorre aumento da fabri-cação caseira, ou seja, aumento das fontes distribuidoras (BRASIL, 2009). Há também o fato de os efeitos do crack serem intensos, mas dura-rem pouco tempo, levando o usuário a consumir a droga diversas vezes ao dia.

Todos esses determinantes constituem a situação em que nos en-contramos hoje, chamada pela mídia de “epidemia do crack”. Entretanto, essa expressão não pode ser usada para fazer referência à atual situação, pois o termo “epidemia” é entendido como uma doença que se alastra por contágio, o que não é o caso.

O tratamento da questão de maneira superficial está possibilitando e induzindo ao pensamento de que não existe solução para aqueles que por algum motivo se envolveram com essa droga. O que é um equívoco, apesar de a recuperação do usuário ser um processo bastante intenso e difícil. Dessa forma, a sociedade está enraizando uma ideia a respeito das consequências do uso de crack, fato que dificulta qualquer proposição de trabalho onde o enfrentamento das consequências negativas desse consu-mo se dê em conjunto com ações de melhoria da qualidade de vida, de combate ao estigma e da consequente integração do sujeito à sociedade.