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3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: uma digressão no processo

3.1 Histórico da educação no Brasil

A partir da História da Educação no Brasil, é possível perceber que a educação de jovens e adultos sempre esteve atrelada à relação cultural de dominação, o que tem revelado ser um grave problema, já que até os dias atuais são visíveis os efeitos do cerceamento ao direito de acesso a uma educação democrática e de qualidade, expondo que o processo educacional neste país nasceu marcado por profundas desigualdades22 e se desenvolveu representando um grande problema social.

Das lacunas desse sistema educacional emerge a EJA, por sua vez, considerada, durante o percurso, como proposta política de atendimento aos problemas surgidos do processo de escolarização. Sendo assim, o histórico da EJA perpassa pelos caminhos do desenvolvimento da Educação no Brasil, desde a catequização dos índios, o primeiro indício da ação missionário-religiosa no Brasil, que aconteceu ainda no período colonial, sob forte influência dos catequisadores jesuítas, segundo Haddad e Di Pierro (2000).

A História nos conta que coube aos religiosos o ensino das regras de conduta e a moral cristã, além disso, transmitiam instruções básicas pertinentes ao bom e próspero desenvolvimento das atividades coloniais regionais da época. Sabe-se que os primeiros a receber esses ensinamentos foram os índios e, oportunamente, mais tarde, os escravos negros.

Paiva (2003, p.66) trata as primeiras atividades educativas como “aculturação sistemática dos nativos através da educação”, que consistia em ensinar às crianças indígenas a catequese e a alfabetização. Assim, o modelo educacional proposto pelos padres jesuítas da Companhia de Jesus, aos indígenas, consistia em impor as crenças, valores e princípios do ocidente cristão, impondo uma nova concepção sobre o mundo e um novo aprender, porém não se eximiam de escolher crianças indígenas, a saber, os filhos dos líderes da tribo, a fim de garantir a segurança da colônia portuguesa contra os ataques dos nativos.

Guimaraes-Iosif (2009, p.38) nos esclarece que essa imposição de ideias gerou graves consequências, “O modelo educacional adotado no Brasil, de certo modo, também sempre esteve preso a essas relações colonizadoras e desiguais, as quais acabaram determinando o tipo de educação que a população brasileira recebeu até agora”.

Quanto aos negros, também objetivavam catequisá-los em função da introdução do Escravismo, de modo que o tradicional culto aos deuses africanos era combatido e o ensinamento do Catolicismo era cada vez mais difundido, “[...] entretanto, era-lhes vedado o sistema formal de ensino e sua educação se fazia através de sermões[...]”, sendo que os sermões “[...] exortavam à prática da moral cristã e a fé católica” (PAIVA, 2003, p. 67).

O resultado da gradativa consolidação do modelo educacional religioso dos padres jesuítas no Brasil colônia foi a desvalorização da cultura dos primeiros povos habitantes e uma significativa contribuição para o surgimento da exclusão do direito à educação para todos.

Dessa forma, é possível perceber as primeiras rachaduras no desenvolvimento da educação no Brasil, o que se transformou nas raízes de muitos problemas, ao passo que até os dias atuais demonstra carência na qualidade, desigualdade no ensino atrelado à exclusão de

grupos sociais em minoria. Esses vícios do processo educativo brasileiro, logo em suas primícias, vai-nos desafiar, ao longo do tempo, a conquistar êxito no alcance de uma educação de qualidade e democrática no país.

Com a expulsão dos jesuítas das colônias, a estrutura da Educação sofreu mudanças, pois a responsabilidade da Educação passou da Igreja23 para o Estado, e, segundo Moura (2003, p. 23), a escola pública iniciou-se no Brasil:

[...] com a expulsão dos jesuítas de Portugal e das colônias em 1759, pelo marquês de pombal toda a estrutura organizacional da educação passou por transformações. A uniformidade da ação pedagógica, a perfeita transição de um nível escolar para outro e a graduação foram substituídas pela diversidade das disciplinas isoladas. Assim podemos dizer que a escola pública no Brasil teve início com pombal os adultos das classes menos abastadas que tinha intenção de estudar não encontravam espaço na reforma Pombaliana, mesmo porque a educação elementar era privilégio de poucos e essa reforma objetivou atender prioritariamente ao ensino superior.

Para Guimaraes-Iosif (2009, p.42), a saída dos jesuítas trouxe controvérsias na História da Educação no Brasil. Muitos enfatizam que foi a causa para o caos da Educação; outros acreditam que “a missão apenas colaborou para exterminar a cultura indígena e ampliar as diferenças educacionais entre os filhos dos ricos e os filhos dos pobres”. Com isso, a autora destaca importantes acontecimentos no cenário nacional que marcam o período de 1808-1889, a seguir:

A chegada da Família Real ao Brasil, em 1808; a Independência e a transição para a condição de Império, em 1822; a primeira Constituição brasileira (1824); o período das regências (1831-1840); a Guerra do Paraguai (1864-1870); A abolição dos escravos (1888) e os movimentos em prol da proclamação da República. (GUIMARAES-IOSIF, 2009, p.44).

Nesse contexto, com a outorga da primeira Constituição do Brasil, de 1824, que não foi promulgada, é que vislumbramos modestamente a educação para adultos, no entanto com poucos avanços nesse campo.

A Constituição brasileira de 1824, permeada de fortes reflexos da civilização ocidental, atribuiu como garantia a educação primária a todos os “cidadãos”, o que provocou a exclusão de grande parte da população do país formada por índios, negros e mulheres, considerando segmento da sociedade incapaz ao exercício da cidadania.

Atrelado a isso, o texto constitucional outorgado de 1824 delegou às Províncias a competência da educação básica e “reservou ao governo imperial os direitos sobre a educação

23 Católica Apostólica e Romana.

das elites”, sendo que coube “à instância administrativa com menores recursos o papel de educar a maioria mais carente” (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 03).

O resultado deste ato institucional de delegar competência da educação acarretou ao final do Império, um índice elevado da população analfabeta.

Dessa maneira, tornam-se claros os aspectos negativos que deixaram marcas durante anos no ensino brasileiro e vieram a se transformar no que atualmente denominamos “problemas da educação no Brasil.” (GHIRALDELLI JUNIOR, 2009, p.8)

Da mesma forma, a segunda Constituição do Brasil, denominada a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, cuja elaboração iniciou-se em 1889, porém só foi promulgada em 1891, não estabeleceu nenhuma política pública para a educação brasileira, em prol da melhoria da sua qualidade. Por sua vez, a Carta Constitucional de 1891 trouxe no seu ordenamento legal, o princípio do federalismo, que consistia em transferir a responsabilidade do ensino básico das Províncias e Municípios para a União.

Devido à consagração do princípio do Federalismo, a União passou a ter maiores responsabilidades com o ensino secundário e superior, ao passo que as Províncias demonstravam enfraquecimento financeiro e dependência dos interesses das oligarquias locais. Consequentemente, “mais uma vez garantiu-se a formação das elites em detrimento de uma educação para as amplas camadas sociais marginalizadas.” (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 109).

Embora não bastasse a desigualdade na distribuição dos recursos entre as províncias, a situação da Educação no Brasil se agravou e conseguiu “acentuar as disparidades regionais privilegiando mais uma vez a elite e os grandes centros do país” (GUIMARAES-IOSIF, 2009, p. 46), assim, regiões como Norte e Nordeste deixaram de ser privilegiadas. Além disso, a Constituição da Primeira República promoveu a exclusão de todos os adultos analfabetos à participação popular pelo voto, desconsiderando que nesse período grande parte da população não sabia ler e escrever. Desse modo, o período reconhecido na História brasileira, como a Primeira República, foi caracterizado por muitas reformas educacionais relativas à descentralização do ensino, sem, porém, se preocupar em garantir condições relevantes para propiciar educação de qualidade para os jovens e adultos.

O interesse na implementação de políticas educacionais para a população adulta surgiu apenas a partir da década de 1920, com influência da Primeira Guerra Mundial.

Nesse momento, os movimentos de educadores e da população brasileira reivindicaram ampliação na quantidade de escolas e qualidade no ensino, inclusive exigiam

mudanças nos princípios pedagógicos, conforme ilustre interpretação de Guimaraes-Iosif (2009, p. 48):

No contexto educacional, na segunda década do século XX, surge o movimento dos “Pioneiros da Educação” que defendiam a criação de uma escola nova- idealizada pelo americano John Dewey- mais democrática e mais acessível e lutavam por uma metodologia de ensino menos tradicional que primasse pela aprendizagem a partir de experiências vividas pelo aluno.

Ressalte-se a importância desses movimentos e suas reivindicações que marcaram um período da História da Educação no Brasil, com o início de propagação da educação para os segmentos da sociedade, em defesa da aprendizagem segundo a prática e a experiência.