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4 FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES E SUA ATUAÇÃO NA

4.3 O professor da educação de jovens e adultos

No atual cenário da sociedade pela qual integramos as rápidas transformações ocorridas por intermédio das novas tecnologias e mudanças na economia, afeta-se diretamente a escola, impondo mais um desafio à conquista de uma educação democrática.

É comum aos educadores, principalmente, a perplexidade diante da explosão de ideias, paradigmas e frágeis concepções resultado da quantidade de informação disseminada para a população em velocidade virtual que de uma forma indireta imprimem novos costumes, interferem na cultura, alteram hábitos e estabelecem relações sociais.

O avanço da tecnologia atrelada à Globalização incide significativamente no trabalho, favorecendo maior competição na busca pelas poucas vagas cada vez mais limitadas29 porém acessível ao candidato dotado de conhecimento pouco específico, habilidades e práticas gerenciais, inovadores e empreendedores que atendam aos interesses da política de mercado e seus valores balizados no mérito, competência e eficiência.

Gadotti (2000, p. 06) tece comentários sobre as perspectivas da educação em relação às políticas neoliberais de mercado,

A concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do conceito de Escola Cidadã podem constituir-se numa alternativa viável, de um lado, ao projeto neoliberal de educação, amplamente hegemônico, baseado na ética do mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma educação burocrática, sustentada na "estadolatria" (Antonio Gramsci). É uma escola que busca fortalecer autonomamente o seu projeto político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente não mecânica e subordinadamente com o mercado, o Estado e a sociedade. Ela visa formar o cidadão para controlar o mercado e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública quanto ao seu destino isto é, para todos estatal quanto ao financiamento e democrática e comunitária quanto à sua gestão.

Durante o processo da História do Brasil, a partir do desenvolvimento econômico, alguns segmentos da sociedade detiveram a concentração de renda em seu poder e impuseram interesses alheios à sociedade civil. Dessa forma, o restrito acesso ao conhecimento e a informação, para os segmentos menos privilegiados da sociedade, propiciou o aumento das desigualdades sociais.

No contexto da Educação, a acelerada e crescente modernização, atrelada aos princípios do Neoliberalismo, sobrepôs ao Brasil o encargo de alfabetizar todos em um espaço de tempo definido pelos interesses do mercado externo, resultando em índices oficiais alarmantes de baixa escolaridade além da qualidade reduzida na educação da maior parte da população, reflexo das más políticas educacionais, sobretudo da formação docente de um público tão variado.

Os resultados das avaliações a que os alunos foram submetidos são desanimadores e só apresentaram a realidade da sala de aula, ou seja: os alunos sabem pouco a respeito dos conteúdos e não demonstram habilidade com o conhecimento sistematizado30.

Portanto, é urgente analisar as sérias dificuldades que a escola atravessa e reverter esse quadro desastroso da qualidade educacional no Brasil.

Tancredi (1998, p. 78) considera que, dentre alguns dos fatores que dificultam o processo evolutivo da escola, estão a “[...] a organização hierárquica e burocrática da escola [...]” bem como o “[...] o recrutamento, as condições de trabalho, a falta de perspectiva profissional, a formação e a prática pedagógica dos professores”. Nesse aspecto, a respeito da formação do professor, Gatti (2009, p. 176), refere que é um desafio tanto para as Políticas Públicas como “[...] um desafio que se encontra também nas práticas formativas das instituições que os formam” e ainda adverte que desejar reverter o cenário de uma formação docente inadequada não levaria dias, nem meses, ocorreria em décadas.

Provavelmente, deve-se a trajetória histórica das instituições formadoras, que, embora sob o aparato de inúmeras leis, decretos, resoluções, pareceres e outros textos normativos, não alcançaram os verdadeiros anseios da sociedade representada nas lutas e movimentos de educadores, os quais não desanimaram em apresentar às autoridades governamentais os reais problemas da Educação brasileira.

Um estudo por amostragem realizado por Gatti e Nunes (2009, p. 196) com base nos currículos do curso de Pedagogia, indicou que as disciplinas relacionadas à formação específica pouco se preocupavam com expressões tipo “o que” e “como” ensinar.

Somado a isso, foi registrado um enorme vácuo com relação a disciplinas referentes ao aprofundamento nas modalidades educacionais, a saber, educação de jovens e adultos, educação infantil e educação especial.

Assim, percebemos com fundamento nos cursos de formação inicial que as questões em torno das especificidades da educação para todos, por exemplo, práticas pedagógicas, diversidade de público e material didático, com os quais a escola deve trabalhar, ainda são objetos com pouca abordagem durante a formação.

Libâneo e Pimenta (1999, p. 259) apontam a necessidade de um posicionamento quanto à formação dos professores, diante das “inovações curriculares- interdisciplinaridade, sala-ambiente, ciclo de aprendizagem”, entre outras, as quais exigem dos professores novos saberes, nem sempre trabalhados durante o processo de formação.

No entanto, transformar as salas de aula em locais apropriados a desenvolver no aluno habilidades que lhe assegurem condições de enfrentar as exigências do mundo contemporâneo, em meio às mudanças no espaço cultural, científico e tecnológico, não é tarefa simples, ainda mais se formos discutir o efeito pouco atrativo que a docência exerce, no que se refere aos parcos salários, condições de trabalho, a falta de políticas de valorização do profissional, e outros.31

É complexo pensar que tipo de profissional seria mais adequado, considerando-se o atual universo escolar que se modifica tantas vezes em tão pouco espaço de tempo e exige do professor que utilize os seus conhecimentos adquiridos durante a sua formação, a fim de que brilhantemente atue na transformação do indivíduo, sem contudo, ofertar o apoio necessário exigente para esse trabalho.

31 Ausência de bibliotecas, carência de laboratórios, condições geoarquitetônicas deficientes, inexistência de bom suporte eletrônico...

Nesse sentido, indagamos quais seriam as percepções a respeito da docência? Tancredi (1998, p. 179) questiona: “será uma arte, uma técnica, um compromisso político e ético?”

Certamente, formar-se professor não significa submeter-se a treinamento, pois dispomos a refletir que não é atributo da docência utilizar-se da função de técnico, o qual tem o compromisso de executar normas pré-estabelecidas. Embasamos nosso entendimento nas palavras de Marcelo (apud ALBERTO; TESCAROLO, 2009, p. 2401), [...] a recente, mas frutífera, linha de investigação sobre pensamentos do professor ensinou-nos que os professores não são técnicos que executam instruções e propostas elaboradas por especialistas.

Os estudos sobre a formação de professores revela uma combinação da formação teórica com a prática.Libâneo e Pimenta (1999, p. 267) argumentam que “[...] é difícil pensar na possibilidade de educar fora de uma situação concreta e de uma realidade definida”.

Desse modo, as reformulações curriculares no campo da formação de professores objetivando o alcance de uma educação emancipadora, capaz de conscientizar além de instruir o indivíduo, são algo necessário, se quisermos preparar as novas gerações, considerando-se a realidade em que vivem (FREITAS, 2002).

Nesse sentido, refletir sobre os aspectos de valorização da educação de jovens e adultos no Brasil, modalidade de ensino que vem tomando espaço nos debates dos Fóruns Nacionais e Internacionais de Educação, nas últimas décadas, representa dar um importante passo na busca pela melhoria na educação pública.

Os anseios e as expectativas dos professores sobre uma formação pedagógica que possibilite resultado satisfatório no ensino aprendizagem ainda é um grande desafio para o professor da EJA. Da mesma forma, compartilha dessa reflexão o professor que atua no ambiente prisional, que lida diariamente com alunos atingidos pela impossibilitados de ir e vir e muitas vezes violados na sua dignidade humana.

Convém ressaltar que não corroboramos em defender o crime, mas torna-se pertinente incentivar o indivíduo que cometeu crimes examinar as causas que o levaram a essa prática delituosa, a fim de proporcionar-lhe a escolha de não mais estar em conflito com a lei. A Educação contribui nessa função transformadora, mas o educador precisa utilizar conhecimentos específicos para orientar esse público que está recluso em ambientes inadequados ao desenvolvimento de uma educação emancipatória.

De acordo com o Parecer CNE/CEB nº 4/2010, do Conselho Nacional de Educação, recomenda-se “[...] que as políticas de educação em espaços de privação de liberdade orientem-se no desenvolvimento de toda a pessoa, levando em consideração os seus antecedentes de ordem social, econômica e cultural” (BRASIL, 2010a).

Nesse sentido, os professores da EJA que atuam nos ambientes prisionais devem apropriar-se de referências que auxiliem no preparo de suas atividades no cárcere. Faz-se necessário, avaliação periódica das práticas pedagógicas, no sentido de aperfeiçoar seu método e reforçar seus conhecimentos quanto ao demanda do público encarcerado. Da mesma forma, refletir sobre o papel desse educador na prisão importa considerar algumas questões, tais como o local do seu trabalho que impõe medo, a represália de familiares e amigos, elemento causador de dúvidas sobre os seus próprios limites para o ato de ensinar e até mesmo as indagações pessoais a respeito da real motivação do ensino na prisão.

Por outro lado, ensinar no cárcere é adquirir alguns conhecimentos que não estão prontamente estabelecidos nos livros didáticos do curso de formação, além de, se permitir ofertar outros novos saberes para um segmento da sociedade que teve pouco ou nenhum acesso aos livros didáticos de algum curso.

Avaliamos que é necessário questionar quem são os professores que ensinam nos ambientes de prisão, se estão comprometidos com a educação capaz de humanizar e reintegrar o indivíduo a sociedade, em parceria com o sistema penitenciário, cuja função é ressocializar, ou se estão apenas cumprindo carga horária e descomprometidos a buscar práticas pedagógicas específicas para a EJA na prisão.

Com fulcro no exposto, importa ressaltar que as propostas de formação de professores para o sistema prisional surgem mediante estudos, pesquisas, lutas e ações da sociedade civil organizada, que se apropriam das experiências docentes, no sentido de respaldar as justificativas em torno de melhorias no sistema educacional. Logo, é relevante que educadores e gestores prisionais possam pensar juntos questões inerente a educação nos presídios, a fim de alcançar uma educação que propicie a libertação do encarcerado e da sociedade, autora que legitima o encarceramento no Brasil.