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Histórico sobre o destino dos resíduos

As informações mais antigas sobre a geração de resíduos no setor sucroalcooleiro referem-se aos despejos sem controle, apenas se descartando esse material em local diferente da indústria, quase sempre nas suas imediações. A produção desses resíduos era pequena, quando comparada aos volumes gerados hoje, tanto pela produção menor de

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açúcar e álcool como pelos processos providos de menos técnicas. As indústrias desse setor localizavam-se próximas aos rios, o que lhes garantia abundância em recursos hídricos para os seus processos, além de se utilizarem dos rios para descarte de seus efluentes. Hoje, muitas indústrias continuam localizadas nesses pontos, porém lhes é cobrada uma adequação ambiental para que ali possam permanecer. Os novos projetos já têm que respeitar critérios impostos pelos estudos de impacto ambiental e pela legislação, e os projetos para que possam ser licenciados já contemplam essa adequação e medidas que favorecerão o controle ambiental e a prevenção da poluição.

Segundo Leão (2002), na década de 1940 os efluentes eram

lançados no corpo d’água sem controle adequado, evidenciando pequena preocupação em relação ã questão ambiental e à capacidade de suporte de resíduos, já que os volumes gerados e o número de unidades eram pequenos. Com o aumento gradativo na produção e o maior número de unidades industriais, aumentando conseqüentemente as fontes geradoras, somados às preocupações em relação ao corpo receptor, passou-se a evitar o despejo direto dos efluentes nos rios. Era feito o que se denominava tratamento das caldas, em que reduzia o teor de matéria orgânica, a concentração de sólidos em suspensão e alterava o pH para valores entre 6,0 e 7,0. Era então despejado o efluente diluído no corpo d’água, principalmente em função da quantidade de vinhaça e grandes volumes de água residual. A vinhaça, cujas características serão detalhadas a seguir, é o principal resíduo líquido e exige controle ambiental mais rigoroso.

Já com a preocupação citada em relação aos volumes, algumas áreas passaram a ser reservadas para a recepção do efluente, evitando-se assim o despejo no rio. Em função da demanda, essas áreas começavam a ser ampliadas para atender ao volume gerado do resíduo, o que posteriormente levaria a reduzir a sua capacidade de exploração agrícola, além de causar impactos ambientais. Aos poucos essa prática passou a ser abandonada.

A partir da década de 1970, quando a produção de álcool aumentou consideravelmente, a grande quantidade de produção de resíduos passou a ser um desafio para as indústrias que deveriam adequar o seu destino (LEÃO, 2002).

Muitos trabalhos foram desenvolvidos com a utilização da vinhaça como fertilizante para uso no solo, atendendo as áreas de produção de cana-de-açúcar. A vinhaça é o efluente final da fabricação de álcool etílico por via fermentativa, e é também conhecida como vinhoto, restilo, caldo ou garapão. Primeiramente foi considerada a sua

concentração em nutrientes para as plantas e a possibilidade de ser aproveitada em irrigação, devido ao seu alto teor de água. Os teores de potássio e de matéria orgânica reforçaram essa possibilidade de uso, e a irrigação beneficiaria a lavoura em períodos críticos de redução de umidade e precipitação pluviométrica. Confirmada a viabilidade do aproveitamento do efluente, os canaviais de grande escala passaram a ser o destino da vinhaça.

Todo o material passou a ser aproveitado, com ganhos de produtividade, e faz parte do processo de fertilização dos canaviais. Sendo considerado de suma importância para a análise de custos de produção das empresas, esse subproduto já é considerado um insumo agrícola.

Na década de 1990, o uso da vinhaça passou a ser considerado fundamental tanto para o destino desses resíduos como para aumentos de produtividade da lavoura de cana. A opção de utilizar o resíduo foi tão favorável que hoje as empresas já aproveitam em média 60 a 80% do volume gerado de vinhaça em fertirrigação, ou seja, aplicação do efluente como fertilizante através de irrigação. O restante ainda é colocado em áreas de despejo, revelando possibilidade de causar impactos ambientais e desperdícios na sua distribuição.

Para que isso fosse possível, na década de 1990 foram implementadas estruturas com estações de carregamento de caminhões, tanques para áreas mais distantes, sistema de aplicação como fertirrigação, canais de distribuição e diversos investimentos em circuitos hidráulicos compostos de estações de bombeamento, adutoras e depósitos (LEÃO, 2002).

Com a avaliação dos teores de minerais existentes na vinhaça visando a recomendações de dosagem, puderam ser acrescentados outros efluentes, como águas residuárias e purga de sistemas que

utilizam vapor, cujo destino também passou a ser as lavouras de cana-de-açúcar.

Para os outros resíduos gerados também em grande quantidade a evolução ocorreu de forma mais simplificada, acompanhando, porém, o que ocorreu com a vinhaça em termos de produção e aproveitamento agrícola ou industrial.

Assim, a torta de filtro - material orgânico sólido obtido na produção do açúcar, proveniente da clarificação do caldo e filtração sendo analisada, passou a fazer parte da adubação de plantio dos canaviais, pois nela há também parte dos resíduos minerais (terra) e palha provenientes da colheita e moagem da cana. A análise do material revelou uma concentração de fósforo que se tornou atrativa para o uso como adubo. Hoje é integralmente utilizada, enriquecida com outros produtos e está na operação de plantio das empresas.

Em alguns sistemas, junto à torta de filtro são incorporadas as cinzas de caldeira e fuligem dos sistemas de filtração dos gases emitidos para a atmosfera. Esses resíduos também são gerados em quantidades consideráveis e tornam-se problemáticos se forem armazenados na unidade industrial.

O bagaço é um resíduo também de grande importância, ejá era utilizado em diversas atividades fora das indústrias sucroalcooleiras, notadamente em queima de caldeiras. Esse resíduo passou a ser mais interessante para as empresas quando utilizado em suas caldeiras para a produção de energia. Com poucos dias de moagem, as empresas já conseguem sua sustentabilidade em termos de energia para a realização do processo, assim como para as demais utilizações nas instalações da indústria (escritórios, almoxarifados, oficina, iluminação externa, etc.).

Nos últimos quatro anos, com vários projetos de implantação de co-geração de energia, as indústrias do setor passaram a ter,

com o excesso de bagaço que produziam durante o período de produção, mais uma atividade proveniente dos resíduos. A estrutura necessária foi estabelecida, e hoje as empresas conseguem produzir energia para a comercialização. Até então, o bagaço em excesso era comercializado ou doado para outros usos, geralmente em caldeiras de outros processos industriais, alimentação animal e substratos diversos.

Atualmente, na região Centro-Sul, cerca de 40 unidades já têm implementados sistemas de co-geração de energia a partir da utilização do bagaço da cana.