• Nenhum resultado encontrado

Em relação à vinhaça, praticamente todo o material passou a ser aproveitado nas lavouras de cana-de-açúcar. Esse processo foi facilitado pelas características das unidades que têm sua área industrial e agrícola operando conjuntamente. Os ganhos em rendimento agrícola das lavouras foram registrados e, hoje, o uso do resíduo faz parte do programa de fertilização dos canaviais, sendo considerado um insumo agrícola de suma importância para a análise de custos de produção das empresas.

Para essa utilização econômica foram desenvolvidos métodos de cálculos que podem envolver a distância entre a lavoura e a unidade industrial, o tipo de caminhão e a capacidade de volume de

vinhaça transportado e o custo do adubo mineral, como parâmetros para auxiliar a tomada de decisão sobre as áreas que receberão o efluente. Dessa forma calcula-se o raio econômico de aplicação da vinhaça, verificando até que distância é vantajoso aplicar o resíduo ao invés do adubo mineral. Além dos custos envolvidos, esse cálculo se justifica pela grande quantidade de área que as empresas ocupam e pelas diferentes características que elas apresentam em termos de pedologia, topografia e localização.

Considerando-se os fatores envolvidos na fertirrigação, chega- se à conclusão de que o maior valor no custo da aplicação da vinhaça são o frete e a distribuição no campo. Em contrapartida, o maior valor gasto no uso de adubo mineral é o próprio insumo, que varia em função da variação do câmbio do dólar.

Através desses cálculos, que são feitos por diversos programas informatizados desenvolvidos ou adotados pelas próprias empresas, obtêm-se as áreas mais apropriadas para receber o efluente, aquelas que trarão mais vantagens para o custo de produção.

C

A época de aplicação desse resíduo através da fertirrigação ocorre em geral, na região Centro-sul, entre os meses de abril e dezembro de cada ano. A partir do mês de abril, as chuvas já se estão reduzindo em freqüência e volume, sendo então possível aplicar o efluente nas áreas de cana-de-açúcar. No decorrer do ano, próximo aos meses de junho e julho, a vinhaça entra como um fator importantíssimo para a cultura, constituindo-se em uma fonte de água, favorecendo o seu desenvolvimento em uma época em que naturalmente a planta não teria chuva incidindo sobre ela. A produção de vinhaça encerra- se na época em que o período de chuva já se iniciou, dando então continuidade ao suprimento de água para a cultura.

Em relação à torta de filtro, esta. tem sido utilizada na adubação de plantio dos canaviais, sendo distribuída ao longo dos

sulcos de plantio em dosagens que variam entre aproximadamente 10 e 15 toneladas por hectare. A concentração de fósforo tornou-a atrativa para o uso como fertilizante, além de constituir-se em um material orgânico devido à presença de resíduos da cana. Como a vinhaça, foi necessário desenvolver o seu uso, constituindo-se em um aproveitamento de resíduo que pode reduzir despesas em relação aos insumos para a produção da cana-de-açúcar. Hoje, toda a torta de filtro produzida é integralmente utilizada, sendo em alguns casos enriquecida com outros produtos, para melhor nutrição das plantas.

Para esse resíduo há uma estrutura de processamento em que se busca a redução da umidade e a incorporação de alguns compostos para aumentar a sua qualidade como fertilizante. Esse resíduo sólido é armazenado nas unidades próximas á área industrial e utilizado na época de plantio, que não coincide integralmente com o período de produção industrial. Em geral, a fase de produção da torta de filtro se estende entre os meses de abril e novembro. Os plantios de cana nas áreas ligadas às empresas ocorrem a partir do mês de agosto, concentrando-se nós meses de final e início de ano.

Existem implementos agrícolas adaptados para a distribuição desse resíduo nos sulcos de plantio, de modo semelhante ao que se pratica com fertilizantes minerais. São também verificados aspectos econômicos que possam racionalizar o uso da torta de filtro como fertilizante, sendo considerados aspectos como tipo de solo, localização e logística de distribuição. Em alguns casos há uma complementação com fertilizante mineral, e em outros há a incorporação de cinzas ou fuligem para aplicação na lavoura. Essas complementações devem ser avaliadas através de análises dos materiais, para que possam manter o nível de nutrientes a serem aplicados na lavoura.

A fuligem gerada no processo é recolhida a partir de técnicas de lavagem e decantação, que se constituem, muitas vezes, em

\

tecnologias de final de tubo em que não há possibilidades de redução do resíduo, sendo preciso adequar seu destino. Separado esse material, em suspensão ou misturado ao material sólido (terra ou torta de filtro), ele retorna à lavoura como fonte de partículas minerais e poucos nutrientes para a cultura da cana. O objetivo é aproveitar a estrutura de distribuição dos demais resíduos e destinar esses materiais nas áreas próximas às unidades industriais. A estrutura de distribuição é praticamente a mesma utilizada para a vinhaça, quando está em suspensão nas águas residuárias. Estas são transportadas por caminhões até a lavoura, quando estão misturadas ao material sólido. São fundamentais, para essa utilização, o acompanhamento e as análises do resíduo e do solo que está recebendo esse material, para que se tenha o controle ambiental dessas áreas, seja do solo, seja dos recursos hídricos relacionados ao local.

Devido a essa defasagem entre período de produção e de utilização, o resíduo é armazenado em áreas próximas às unidades industriais, sofrendo o processo de secagem. Com isso, o material

% '

torna-se mais apropriado para a distribuição nas áreas de plantio, e as primeiras partidas vão sendo consumidas, enquanto as partidas intermediárias e finais vão sendo processadas. Existem equipamentos para o revolvimento e enleiramento de torta de filtro para essa secagem, como também implementos agrícolas adaptados para a distribuição desse resíduo nos sulcos de plantio, de modo semelhante ao que se pratica com adubos minerais.

Em relação ao bagaço da cana, nos últimos quatro anos, com os projetos de implantação de co-geração de energia, as indústrias passaram a ter mais uma atividade proveniente dos resíduos, com o excesso de bagaço que produziam durante o período de moagem. O material gerado em grande quantidade já era utilizado para geração de energia das unidades industriais, permitindo assim que essas

unidades não consumissem energia elétrica das redes de distribuição das empresas fornecedoras de energia durante o período de safra.

O processo evoluiu de forma a melhorar a queima do bagaço e de se obter aproveitamento maior do potencial calorífico do sistema, reduzindo perdas. O excedente de bagaço, que anteriormente era doado ou vendido, passou então a ser uma possibilidade de comercialização da energia. Várias empresas no estado de São Paulo desenvolveram seus projetos acoplando a unidade de co-geração em seus parques industriais, contribuindo dessa forma para o aumento de geração de energia de fonte alternativa - e de origem vegetal, portanto renovável. A estrutura necessária foi estabelecida e, hoje, as empresas conseguem produzirenergia para comercialização, para cujo fornecimento se estabelecem contratos. O desafio dessa atividade está na possibilidade de se estender o período de geração de energia, uma vez que a geração de bagaço ocorre em geral durante seis meses do ano e o fornecimento ininterrupto seria mais interessante.