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Homogeneização das áreas do conhecimento

6 O PPGE-UFPE E A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DA CAPES: CONTRADIÇÕES E INQUIETUDES

6.3 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

6.3.1 Opinião geral sobre a Avaliação da CAPES

6.3.1.2 Homogeneização das áreas do conhecimento

O embate sobre a homogeneização do Sistema de Avaliação CAPES para todas as áreas do conhecimento foi tema frequente no decorrer das entrevistas. A entrevistada E1, por exemplo, afirmou que “[...] a gente vê que é uma questão de relação de poder dentro da própria CAPES, das áreas. Então, hoje, a Avaliação, ela está sendo muito mais, vamos dizer assim, definida por padrões das áreas das Ciências Exatas do que da área das Ciências Humanas”. E2, por sua vez, chamou a atenção para o fato de que “[...] para a área de Educação, pra área das Ciências Humanas como um todo [...] tem uma especificidade em relação ao tipo de produto, o tipo de material que se produz”. Na Avaliação CAPES, de acordo com a análise das entrevistas, não se leva em consideração as condições de produção da escrita para a área da Educação. Neste sentido, alguns entrevistados exemplificaram a diferença do tipo de produção bibliográfica que se tem nas Ciências Exatas e nas Ciências Humanas. E6 afirma que:

[...] os artigos, as publicações na área de Humanas, elas tendem a ter uma complexidade argumentativa maior do que em outras áreas. Então, em determinadas áreas você pode ter um artigo lá de oito, dez páginas que deem conta daquilo que o pesquisador realmente está querendo dizer. Enquanto que na área de Humanas é muito difícil a gente conseguir aprofundar os temas dentro dessa política. Então eu acho que tem um prejuízo.

Apenas para efeito comparativo, pesquisamos as regras para publicação na Revista Educação e Pesquisa, editada pela Faculdade de Educação da USP e classificada como A1 no Webqualis para a área de Educação. Nas normas para publicação, eles exigem um mínimo de 35.000 caracteres, aproximadamente 15 páginas, a depender do texto. Procuramos revistas da área de Matemática, Engenharias, Estatística e Química no Webqualis e encontramos poucas referências com relação ao número de páginas que cada produção deveria conter. A revista Eclética Química, produzida pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e classificada como B2, observa que “there is no limit in the number of pages”31

, por exemplo. Assim, inferimos que o volume das publicações, em termos de páginas, não é algo tão específico como na área de Educação o que não significa, absolutamente, que o trabalho nas demais áreas do conhecimento leve menos tempo para ser elaborado. Entretanto, a imposição de um número mínimo de páginas obriga o pesquisador a preocupar-se também com esta limitação.

E5 também falou sobre as diferenças entre a produção na área das Ciências Humanas e Exatas. Ela faz uma observação semelhante ao que já foi falado anteriormente por E5:

[...] a lógica da área de Educação e das Humanas [...] é diferente da lógica da física ou da matemática. Então, assim, a dissertação de mestrado de matemática tem quarenta páginas. A gente não consegue escrever uma dissertação de mestrado que tenha menos de cem páginas, porque não tem ali, consistência de elementos que deem suporte pra gente fechar uma lógica reflexiva que tenha uma, vamos dizer [...] consistência teórica [...] uma análise aprofundada dos dados e uma reflexão conclusiva, que fecha uma lógica [...] A nossa matemática é outra. Então, assim, a lógica da Educação, dentro das Humanas, é uma lógica que exige uma reflexão mais aprofundada, um produto que seja dimensionado numa escala que é maior, diferente do que acontece nas Exatas, por exemplo. Então, assim, essa fala32 pra mim marca muito esse raciocínio e porque que a gente se revolta”.

Nesta fala, a entrevistada E5 deixa claro que esta homogeneização das áreas do conhecimento é tema de grandes questionamentos na área de Educação.

Em 1997, Horta enviou questionários a 825 docentes de sessenta Programas de Pós- Graduação das mais diversas áreas do conhecimento. Os resultados da pesquisa foram

31

Não há limite no número de páginas, em tradução livre. Informações disponíveis em: http://ecletica.iq.unesp.br/instructions.html

32 Referindo-se à fala de um professor em uma das reuniões do colegiado do PPGE, que, de acordo com E5 é

publicados em 2006 na revista Perspectiva e, posteriormente, passou a integrar os textos que compõem o livro Dilemas da Pós-Graduação. Gestão e Avaliação, de 2009. No estudo, mencionado em capítulo anterior, aparece dentre as críticas reunidas, referências ao caráter homogeneizador da Avaliação. De acordo com a pesquisa, os coordenadores criticaram o fato de o modelo não levar em consideração as especificidades das áreas do conhecimento, as diferenças regionais e diferenças dos próprios Programas, uma vez que existem Programas mais estruturados e com maiores recursos que outros.

Horta explica que o Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010 sugere que a avaliação deve ser baseada na qualidade e excelência dos resultados, levando em consideração as especificidades das áreas do conhecimento. O autor esclarece, entretanto, que as Comissões de Avaliação, formadas por pares, levam em consideração tais especificidades, porém, o CTC “[...] ao analisar o trabalho das comissões, desconhecendo tais especificidades, homogeneizou sua análise, com base nos critérios das áreas hegemônicas” (HORTA;MORAES, 2009, p. 22). Assim, segundo os autores, as Comissões tentam levar em consideração aquilo que é demanda específica da área, mas o CTC interpreta os dados de maneira geral, não observando as diferenças entre as Humanidades e as Exatas.

Essa homogeneização dos critérios de avaliação, não levando em consideração o tempo de produção da grande área das Ciências Humanas, bem como o tipo de produção que temos, trazem implicações diretas ao conceito recebido pelos Programas. Existem professores no PPGE, por exemplo, cujo volume de escritos é tão extenso e complexo que preferem produzir livros no lugar de artigos.