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Parcialidade das revistas científicas

6 O PPGE-UFPE E A POLÍTICA DE AVALIAÇÃO DA CAPES: CONTRADIÇÕES E INQUIETUDES

6.3 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

6.3.3 Questões para reflexão

6.3.3.2 Parcialidade das revistas científicas

Alguns entrevistados falaram do fato de não haver, muitas vezes, neutralidade por parte das Revistas Científicas na hora da escolha dos artigos que deverão ser publicados. A entrevistada E6 discutiu o favorecimento de algumas revistas a pesquisadores do Sul/Sudeste. Ela afirmou que:

[...] pra eles, se tem um periódico até B2, significa que essa produção é de qualidade. Só que nós sabemos que, por exemplo, a gente submete artigos... Eu tenho recentemente um artigo que está aprovado... Que está há dois anos lá esperando ser publicado, aí tem um outro que está há seis meses. Outro professor

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Pesquisador brasileiro na Universidade de Duke, Estados Unidos.

36 Entrevista realizada por Alexandre Gonçalves em 2011 e disponível em:

<http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,integracao-entre-cerebro-e-maquinas-vai-influenciar- evolucao,663839,0.htm>

tem um que está há oito meses, nem recebeu resultado de avaliação. Então essas revistas aí, o que é que a gente sabe? A gente sabe que tem uma periodicidade tal, mas que na hora das decisões de, por exemplo “tem tantos trabalhos aprovados, quais são os que entram no próximo número?”, aí eles têm as decisões internas deles e todas essas revistas são do Sul e do Sudeste, então a gente sabe que no final termina tendo alguma influência disso também sobre as escolhas.

Assim, para a entrevistada E6, como boa parte dos periódicos qualificados (e uma consulta rápida no WebQualis poderá confirmar uma pequena quantidade de periódicos oriundos do Norte-Nordeste no estrato B2, por exemplo) é oriunda do Sul e Sudeste do país, os programas nas demais regiões são prejudicados na hora da escolha de quais autores publicarão nestes periódicos.

O Entrevistado E7 questiona também a legitimidade da classificação dos estratos: “[...] Então, por exemplo, um grupinho se reúne e diz quais são os periódicos que são Qualis A1, B não sei o quê, não é? [...] é um grupo que tem poder de fazer o ridículo, uma coisa ridícula como essa ser aceita pela intelectualidade brasileira”. Ele continua, questionando o fato de que alguns periódicos clássicos como o Educational Theory e algumas outras publicações com mais de cem anos não fazer parte da classificação do Qualis. Ele afirma que

[...] tem outros periódicos muito bons que não estão na listinha do que esse pequeno grupo de ‘iluminados’ diz que é bom. Aí, meu amigo, tenha santa paciência! Eu não vou aceitar isso, não. Esse pessoal conhece todo o campo científico mundial? Não conhece, não.

O entrevistado E7 não considera legítima a qualificação dos periódicos feita por uma comissão, “grupo” de avaliação. Os critérios para análise e qualificação de periódicos, entretanto, são diferentes para cada área do conhecimento. Em cada estrato, existe uma quantidade de pré-requisitos que o periódico deve atender, caso deseje ser qualificado. Os critérios para qualificação dos periódicos estão disponíveis no Documento da Área de Educação (CAPES, 2010).

E7 critica também a classificação dos livros. No relatório da área de Educação da Avaliação Trienal de 2010, a Comissão de Avaliação explica como foi feita a classificação dos livros após o cadastramento dos mesmos (etapa 1):

Na segunda etapa, os consultores selecionados pela Coordenação de Área se reuniram, principalmente durante uma semana (em relação aos livros de 2007, por duas semanas, na medida em que era necessário aprimorar o uso dos instrumentos de avaliação) nas bibliotecas de referência para proceder à classificação. Cada livro foi examinado, separadamente, por dois consultores e, em caso de discordância, um terceiro consultor foi consultado. A cada ano, após a avaliação de todos os livros, o conjunto de livros classificados em cada estrato era comparado em discussão conjunta com a participação de todos os consultores. Nessa etapa, havendo discordância de algum consultor quanto à classificação, os avaliadores da obra expunham seus argumentos para subsidiar a classificação. (CAPES, 2010: 4)

Assim, percebemos que a qualificação dos livros é fruto de intensa discussão ao longo de uma semana anualmente. E7 questiona a legitimidade dos consultores, e o processo de classificação afirmando que:

Isso pra mim é uma volta à Idade Média. Aquele Index Librorum Prohibitorum, que existia na Igreja da Idade Média. Então é isso que a CAPES está fazendo hoje. Então pega dez caras e ficam num hotel num final de semana. Num final de semana prolongado, cinco dias, digamos. Eles vão ler cem, duzentos livros da área? É mentira! Agora simplesmente porque eles têm o poder de dizer isso “oh, esse aqui serve, esse aqui não serve”. Quais são os critérios que servem? Então, quando você começa a ver isso, digamos assim, fica muito claro que tem o quê? São grupos consolidados, digamos, que já alcançaram um poder num determinado campo.

Lembramos, entretanto, que a classificação dos livros não é feita por conteúdo, porque demandaria um prazo muito maior do que aquele em que acontece o processo de qualificação. Existe, tal qual na classificação dos periódicos, um conjunto de critérios previamente definidos para cada um dos estratos. Quanto mais alto o estrato, maior a exigência. Os livros do estrato L4, por exemplo, devem ser “necessariamente, produto de convênios, de redes nacionais ou internacionais ou de pesquisa financiada” (CAPES, 2010, p. 7 grifo nosso). Por ser “necessariamente” produto de convênios, a demanda de livros que se enquadram no estrato L4 já diminui, inferimos, consideravelmente. Para o estrato L3, ocorre outra restrição: os livros devem ser o resultado da “pesquisa institucional de grupos de pesquisa de um ou mais programas ou da consolidação de trajetórias de pesquisas dos autores”.

A fala dos entrevistados E6 e E7, entretanto, aponta para a necessidade de observar se existem estruturas de poder dentro das Revistas Acadêmicas sejam elas pautadas pelos regionalismos ou pela legitimidade do (questionável?) processo para classificação dos periódicos e livros. Este seria, porém, tema para outra pesquisa.