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NAT-I SHER1F (HONORÁVEL POEMA) INVOCAÇÃO, OFERENDA NOME TURCO: MEVLANAYA OVGU “ORAÇÃO EM LOUVOR A

Ver I. SHAH Os Sufis RJ: Círculo do Livro, 1988: 270, 271, 272.

F. NIETZSCHE Assim Falava Zaratustra RJ: Ed Tecnoprint, S/D 136 Idem pp 34-35.

1. NAT-I SHER1F (HONORÁVEL POEMA) INVOCAÇÃO, OFERENDA NOME TURCO: MEVLANAYA OVGU “ORAÇÃO EM LOUVOR A

MEVLANA”

Música: canção solo para uma voz.

Coreografia: os dervixes ficam parados em meditação.

O nat é cantado em um estilo litânico por um dos ayinhans (músicos) que ficam de pé enquanto cantam. Sua sequência sugere um chamamento. É uma invocação, um elogio, uma prece a Mevlana, ao Profeta Maomé e a todos os profetas que vieram antes dele. Ao invocá-los, estão invocando Deus, que criou todos eles. O hafiz, que deve conhecer o Alcorão inteiro de memória, começa a cerimônia cantando a oração para Mevlana e uma sura do Alcorão. A sura é cantada em árabe'40 e a oração à Mevlana, cuja tradução apresento abaixo, é em persa:

“Oh, M estre M evlana, am igo da verdade, Tu, o bem -amado de Deus,

Profeta sem igual do Criador

Tu, o puro S er que D eus escolheu entre as criaturas. Oh, m eu am igo e Sultão,

Tu, o bem -am ado do Eterno,

O Perfeito e o m ais exaltado S er do universo,

Tu, o escolhido entre os profetas e a luz de nossos olhos, Oh, M evlana, am igo da verdade!

Oh, m eu am igo e sultão, M ensageiro de Deus,

Tu sabes quão fra ca s e sem defesas são as pessoas, Tu és o guia dos fra co s e a base do espírito,

A m igo da verdade, m eu Sultão, Tu, cipreste no ja rd im dos profetas,

Tu, estação de prim avera no m undo do conhecim ento, Tu, ja cinto e roseira no ja rd im dos profetas

Tu, u m cantor melodioso do m undo superior, S h a m s deTabriz louvou a glória do Profeta,

Tu, o Purificado, o Escolhido, Im ponente e Maior, Oh, tu, que curas o coração,

A m ig o de D eu s!”

Então o som do kudum (um pequeno atabaque duplo) quebra o silêncio. E o bun-be, o som de tambor que segue à invocação, e que simboliza a ordem divina do Criador. Logo em seguida começa a improvisação de fllauta ney.

Em quase todas as culturas, o ruído do tambor é associado à emissão do som primordial, origem da manifestação e, mais geralmente, ao ritmo do universo. No Hinduísmo, este é o seu papel, enquanto atributo de “S h iva”, personificação dos ciclos de expansão e contração do universo, o deus dançarino de quatro braços, que segura um tambor na mão direita superior; ou da “D akini” búdica, cujo ritmo liga-se à expansão do “D harm a” (lei cósmica), sobre o qual o Buda evoca o “tambor da imortalidade ”.I4‘

Na China antiga, o tambor é associado ao poder “ Yang ”, e acompanha o som do trovão. Esse simbolismo é bastante evidente no “I C hing” chinês, o “Livro das M utações”, onde o trovão, que assemelha-se ao som do tambor, aparece em diversos hexagramas. No hexagrama 51, denominado “C h ên ”, “O Incitar” (comoção, trovão), o trovão aparece repetido nos dois trigramas. Esse hexagrama representa o filh o mais velho, aquele que se apodera do comando, enérgica e poderosamente, e tem como símbolo o trovão que irrompe da terra, causando com seu impacto temor e tremor:

“A comoção gerada pela manifestação de Deus nas profundezas da terra atemoriza o homem. Porém, esse temor diante de Deus é bom, pois júbilo e alegria podem vir em seguida. Quando um homem chega, em seu interior, à compreensão do que significa o temor e o tremor, ele está a salvo de qualquer medo provocado p o r condições externas. Mesmo quando o trovão eclode, espalhando terror num raio de cem milhas, ele permanece tranquilo e reverente em espírito, não interrompendo o rito do sacrifício. Este é o espírito que deve animar os líderes e dirigentes da humanidade - uma profunda seriedade interior imune a todos os terrores vindos do

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exterior.

O uso do tambor de guerra é também relacionado ao trovão e ao raio, sob o seu aspecto destruidor. Em consequência disso, na índia, o tambor está muito associado à Indra, o deus da guerra, que é, ao mesmo tempo o deus protetor das colheitas.

Assim, o tambor é também o símbolo da arma psicológica que desfaz internamente toda a resistência do inimigo; é considerado sagrado ou sede de uma fo rça sagrada; ele troveja como um raio, é ungido, invocado, e recebe oferendas, conforme mostra esse trecho do

“Attharva Veda” hindu:

“Vá fa la r aos inim igos da fa lta de coragem e de esperança, ó tam bor!

revolta, perturbação, temor, eis o que lhe insuflam os:

Ver FRITJOF CAPRA. O Tao da Física. SP: editora Cultix, 1993: 183-184.

142 Ver I Ching - O Livro das Mutações. Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm. Tradução para 0 português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Corrêa

abate-os, ó tambor!

Tu que és fe ito da árvore e da pele das vacas vermelhas. Oh, bem comum a todos os clãs,

vá fa la r de alarme aos nossos inimigos... ...Q ue os tambores gritem através do espaço quando partirem derrotados os exércitos inimigos, que avançam em fileira s!”143

Tambores mágicos são também usados pelos xamãs das regiões altaicas nas cerimônias religiosas. Eles reproduzem o som prim ordial da criação e levam ao êxtase. Parecem representar dois mundos separados p o r uma linha: “por vezes, uma árvore da vida atravessa essa linha; o mundo superior é celestial e tranquilo, ou alegre; o mundo inferior parece ser o das lutas entre os homens, da caça, da colheita; o tambor ser\>e, provavelmente, para as iniciações e marca os ritos de passagem que conduzem o homem à segurança, tornando-o mais fo rte e mais fe liz , mais próxim o da fo rça celeste. O tambor é como uma barca espiritual que nos fa z atravessar do mundo visível ao invisível. Está ligado aos símbolos de mediação entre o céu e

a terra. ”144

No Sama, esse simbolismo é bastante evidente, pois a batida do tambor marca com muita precisão o início da sequência cerimonial que acompanha a “passagem ” de uma situação para outra; é uma passagem dentro do próprio rito de passagem. É uma etapa autônoma, com função e significados próprios dentro da totalidade ritual; seus participantes são instantaneamente transportados para um outro estado de percepção, onde algumas fronteiras entre o profano e o sagrado, o externo e o interno, o humano e o divino, são atravessadas.142

De fa to o som do tambor parece possuir propriedades que nos fazem saltar de um estado para outro, como se nele estivesse contida uma senha secreta que nos coloca de imediato em contato com as batidas do coração. Paramos de pensar, pois. E mesmo que esta parada dure um milésimo de segundos, é ela que nos transporta provisoriamente de um tempo “cronológico ” para um outro “cosm ológico”, para o “m om em tum " (cósmicoj presente, onde sentimo-nos parte do ritmo do universo, no qual o coração, em nós, é o porta-voz.

143 Ver Dicionário dos Símbolos, pp.861. 144 Ver Dicionário dos Símbolos, pp. 862.

145 Ver ARNOLD Van GENNEP. Os Ritos de Passagem. “Coleção Antropologia”, número11. RJ: Editora Vozes, S/D.

2. NEY TAKSIMI (IMPROVISAÇÃO SOLO DE FLAUTA NEY)