CÍRCULO “AO REDOR DO SHEIK”
NOME TURCO: HAKKA VARISH ENCONTRANDO-SE COM DEUS
3. Ritmo: Yuruk Semai (um tipo de valsa), que contém seis pulsos primários e dois grupos rítmicos isócronos.
Compasso: 6/8 (é a parte mais rápida da cerimônia)
N o terceiro Selam, há uma divisão em duas partes, incluindo melodia e ritmo. O ritmo, na primeira parte é chamado de “ciclo”, mas é diferente daquele usado no “Ciclo do Sultão Walad” . Suas batidas são 28/4. A segunda parte deste terceiro selam está no Yoruk Semai (um tipo de valsa) e suas batidas são 6/8. Há um ritmo de transição entre os dois chamado Aksak Semai (valsa manca), e seu padrão consiste em 10/8 “beats” .
A parte mais rápida da cerimônia Mevlevi é a última parte do terceiro selam. O ritmo de valsa usado (8/6) dá possibilidade ao compositor de estender-se, com um certo grau de liberdade. A performance desta parte, apresenta a oportunidade para que o mais alto contentamento místico possa ser sentido e expressado. Aqui, os sentimentos místicos têm alcançado o ápice e são transformados em êxtase. O vínculo entre os semazens (dervixes dançantes) e os músicos tom a- se completo.
Esta parte do Sama representa a dissolução do êxtase em amor, através do sacrifício da mente para poder amar. E uma submissão completa, è a aniquilação do ser no amado. Um, que
é unidade. Esse estado de êxtase pode ser comparado ao mais alto grau no Budismo, definido como “nirvana” ( “F enafillah” no Islã), ou ao “sam adhi” hindu..
O objetivo do Sama não é o extase ininterrupto, e a perda do pensam ento consciente, mas a realização da submissão a Deus, atra\’és do amor:
“Viemos girando do nada,
espalhando estrelas como pó.
As estrelas puseram-se em círculo e nós ao centro dançamos com elas. Como a pedra do moinho,
em torno de Deus gira a roda do céu.
Segura um raio dessa roda e terás a mão decepada. Girando e girando essa roda dissolve todo e qualquer apego. Não estivesse apaixonada, ela mesma gritaria - basta!
até quando há de seguir esse giro? cada átomo gira desnorteado, mendigos circulam entre as mesas, cães rondam um pedaço de carne, o amante gira em torno
de seu próprio coração.
Envergonhado ante tanta beleza, giro ao redor de minha vergonha. ”160
O amor, na simbólica geral, está muito ligado à união de opostos. Sua meta é vencer os antagonismos, assimilando fo rça s diferentes e integrando-as numa mesma unidade. Existem muitos exemplos desse simbolismo: a cruz, síntese das correntes horizontais e verticais, o caduceu dos alquimistas, a balança, o binômio chinês do Yin-yang, o tabuleiro de xadrez, a relação entre um homem e uma mulher, os braços estendidos do dervixe dançante, com uma palm a para cima (a direita), e outra para baixo (a esquerda), representação da dualidade
eterna de tudo o que move e é movido.
Nesse sentido, precisa de um centro unificador que perm ita a realização da síntese dinâmica de suas virtualidades. E tido como uma fo n te ontológica de progresso, na medida em
que é efetivamente união, e não só aproximação. Ouando pervertido, ao invés de ser o centro unificador buscado, torna-se principio de divisão e de morte (como a cruz suástica nazista).
O amor é considerado a pulsão fundam ental do ser, a libido, que impele toda existência a se realizar na ação. Ê ele quem realiza as virtualidades do ser. M as para muitos, essa passagem ao ato só se produz no contato com o outro, p o r uma série de trocas materiais,
sensíveis, espirituais. Assim, por exemplo, dois entes que se entregam e se abandonam, reencontram-se um no outro, mas elevados a um grau superior de ser, se a doação tiver sido total, e não apenas limitada a um certo nível de sua pessoa, que é, na maioria das vezes, carnal.
N a tradição ocidental, o mito que melhor representa esse ideal de união de opostos é o drama de Eros e Psique. Nesse mito, Eros simboliza o amor e, particularmente, o desejo de gozo. Psique personifica a alma, tentada a conhecer esse amor. Psique passa por várias etapas até conseguir a sua tão almejada união, que finalm ente se realiza, mas não mais apenas no nível dos desejos sensuais, mas de acordo com o Espirito. Com o amor devidamente divinizado, Psique e Afrodite (os dois aspectos da alma: o desejo e a consciência) reconciliam-se. Eros j á não mais aparecerá unicamente sob seus traços físicos: j á não será temido como um monstro; o amor está integrado na vida. Psique desposa a visão sublime do amor físico; torna-se esposa de Eros. A alm a reencontra a capacidade de ligação, como ilustra o poem a abaixo, de Fernando Pessoa, intitulado “Eros e Psique ”:
“Conta a lenda que dormia uma Princesa encantada a quem só despertaria um Infante que viria
De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera, sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera. Longe o Infante, esforçado, sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado. Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino - Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que fa z existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E, vencendo estrada e muro, Chega onde em sono ela mora. E, inda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra a hera, E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.'6'
Conforme o compreendo, esse mito representa a integração das fo rça s físicas e psíquicas presentes no ser humano, ou ainda, dentro de uma concepção junguiana, a união de ânimus (masculino) e ânima (feminino), enquanto arquétipos do ser. O mesmo acontece, embora de maneira inversa, no pacto de Fausto com Meftsto: aqui Fausto reintegra a sua porção física, instintiva (a Natureza, p o r excelência), antes negligenciada, às forças psíquicas e espirituais de seu ser; invertendo novamente a direção da busca, é o que fa z Zaratustra, “dançando ” entre o camelo e o leão, arquétipos da materialidade e da espiritualidade humanas..
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Figura 28. Dervixe Girando. Casa Mevlevi Gaiata. Istanbul, Turquia: 1996, (Foto da autora)
4.4. M IN A LLA H - VINDO DE DEUS