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I 1 25 Anos de Trabalhos Arqueológicos 1984-2010 A Nossa Intervenção e Antecedentes

No documento Pág.1 736.CorpoTese Primeira Segunda Parte (páginas 58-73)

I - 1. 1. Antecedentes

A Villa romana encontra-se a meia encosta do fértil vale do Rabaçal, na base do

monte de Maria Pares, na vertente Este da serra do Sicó, que vemos percorrida por arrifes na direcção Norte - Sul.

O sítio arqueológico encontra-se a 180 metros de altitude, na Carta Militar 1:25.000, Folha nº251 - Latitude N 172,3; Longitude W (Greenwich) 341,1.

Sabia-se da existência de vestígios romanos no local dos Moroiços, Ordem, Rabaçal, pelo menos desde 1905, dada a referência de Santos Rocha a um fragmento de baixo-relevo ali recolhido, constante do catálogo do Museu Municipal da Figueira da Foz 43, e, ainda hoje, ali conservado. Mais tarde, o padre José Bento Vieira, hoje cónego e pároco em Santa Cruz de Coimbra, torna a referir a existência de vestígios romanos neste local, na sua resposta ao inquérito lançado aos párocos do distrito de Coimbra, por João Manuel Bairrão Oleiro, do Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no ano de 1956. Jorge de Alarcão refere-se-lhes na sua obra

Portugal Romano, editada em 197444. Também os que amanham a terra com arados

muito arcaicos e de lavra pouco funda vão dando notícia oral do aparecimento de materiais antigos, que são tesselas de mosaico, numismas, fragmentos de baixos- relevos, fragmentos de telhas e de loiça de cozinha e de mesa. A par disso, contavam-se histórias de antigas fortunas feitas com o que ali fora descoberto noutros tempos. A fortuna estava, sim, no facto de o terreno não ter sido ainda objecto de grande revolvimento através do emprego de tractores nas lavras, de brocas mecânicas na abertura de poços, do processo da surriba funda de terras para o plantio de vinha, ou na abertura de alicerces para a construção de habitações ou anexos agrícolas. No entanto, os terrenos vinham já sendo palco de algumas acções furtivas, destinadas ao abastecimento ilícito de antiquários.

43 ROCHA, 1905, nº4605.

Visitámos o local, em 1979. Fizemo-lo na sequência da batida de campo, apoiados na informação bibliográfica produzida sobre a carta arqueológica do período romano na área de Conímbriga45.

A situação, no local, em termos de conservação dos vestígios, foi-se então tornando de ano para ano cada vez mais preocupante. Os danos causados nas estruturas soterradas, pelo simples revolvimento desta terra de semeadura e olival, ainda que por métodos arcaicos próprios da agricultura tradicional, eram evidentes. Proliferavam, após as lavras, à superfície do terreno, pequenos blocos de tesselas de mosaico policromo, fragmentos de placas decorativas em mármore, muita loiça comum de mesa, cozinha e armazenamento, bem como restos de materiais de construção. Estes achados eram já, de algum modo, objecto reconhecido de interesse comercial por parte de alguns antiquários.

A tomada de consciência desta situação levou a que um grupo de voluntários, coordenados pelo subscritor, fizesse aprovar pelas autoridades, a nível nacional, um programa de investigação arqueológica que conduziu à realização, em 1984, das primeiras sondagens46.

As escavações sistemáticas e continuadas prolongar-se-ão até à actualidade, tendo sido feitas, até ao presente, vinte e seis campanhas sequenciais, cujo balanço reunimos a seguir.

I - 1. 2. A nossa intervenção

Em 1984, havíamos detectado, graças à ajuda de uma equipa de voluntários, a existência de pavimentos de mosaico com motivos decorativos sem paralelo em Portugal. Foi possível, no ano seguinte, contar com a dinâmica de uma equipa mais alargada e o apoio da autarquia de Penela e da população, do Instituto Português da Juventude, bem como de outras instituições locais, regionais e nacionais.

Implantada a quadrícula da área arqueológica, no ano de 1985 (Figura 5b), os trabalhos desse ano trouxeram à luz do dia um peristilo octogonal de 24 colunas com plintos também octogonais (Figuras 6c, 9), corredores decorados de baixos-relevos,

45 PESSOA, 1986, p.53-73.

mosaicos das estações do ano (Outono e Verão) e, ainda, materiais cerâmicos e numismáticos datáveis do século IV d.C.

O resultado da campanha de 1986 saldou-se na descoberta de três grandes salas ligadas aos corredores do pórtico do peristylum: um triclinium triabsidado a Oeste, com

stibadium47, uma sala a Sudoeste e uma terceira a Noroeste (Fig.6c, 9). Apenas as duas

primeiras são decoradas com mosaico. Foi, então, detectada uma grande variedade de placas de mármore com baixos-relevos e friso jónico de calcário, decorando as paredes do triclínio e do peristilo48 (Figuras 6g, 6h, 6i).

A principal conclusão da campanha de 1987 foi a detecção de vestígios arqueológicos da Villa rústica, a cerca de 200 metros para norte da zona residencial49(Figuras 5a, 5d, 6c, 7). Na Villa urbana foram então descobertas as seguintes figuras nos mosaicos: alegoria da Primavera (Figura 59) e do Inverno (Figura 60), bem como o painel da Quadriga Vencedora (Figuras 61, 62), no corredor oeste do peristilo; figura feminina sentada no centro do triclínio e demais bustos nos cantos da cercadura deste painel (Figuras 94, 95, 96). Foi, ainda, avaliado o grau de destruição do pavimento de mosaico da sala contígua ao corredor sudoeste do peristilo sobre o qual foram instaladas doze sepulturas50, possivelmente, no século XVI (Figura 82).

As paredes de largas dimensões descobertas no topo norte da Villa urbana (Figura 5b), na campanha de 1988, foram por nós interpretadas como pertencendo a um edifício de culto paleocristão, concretamente uma capela palatina de planta quadriabsidada. No entanto, nada o confirma. Ficou também descoberta, neste ano, a torre octogonal que ajuda a destacar o conjunto da entrada da Villa, a sul. A estação é, finalmente, salvaguardada através da compra dos primeiros terrenos pela autarquia de Penela.

Em 1989 foi localizado, na área rústica ou Casa da Lavoura (Figura 5d), o primeiro tesouro de moedas do século IV d.C 51. No final desta campanha foi possível reconstruir em desenho toda a composição de motivos lineares e de superfície dos

47 PESSOA, 2008, p.138-161.

48 PESSOA, RODRIGO, STEINERT SANTOS, 2004, p. 19-33, fig.1-39. 49 PESSOA, RODRIGO, 2011, p.52-57.

50 SILVA, 2001, p.20-22. Idem, 2011, p.28-35.

51 PESSOA, PEREIRA, 1991, p.12-20. PEREIRA, PESSOA, SILVA, 2011, Cat.1-2, século I; Cat.3-7,

século II; Cat.8-53, século III; Cat.54-342, século IV; Cat.343-350, século V; Cat.351-358, Ilegíveis século IV-V; Cat.359-377, Moedas Portuguesas (no prelo).

pavimentos de mosaico policromo da área urbana. São adquiridos novos terrenos da área residencial pelo município e é proposta a aquisição de terrenos na pars rustica. Foi entregue então ao I.P.P.A.R. um conjunto de documentos com a definição da área arqueológica, zona de protecção e planta cadastral bem como outros elementos indispensáveis que justificam a nossa proposta de classificação desta estação como Monumento Nacional (Figura 5f).

O levantamento de um grande número de bermas ou banquetes, em 1990, sobre o triclínio, sala a Sudoeste e corredores do peristilo, permitiu documentar, em pormenor, toda a construção e iniciar trabalhos de consolidação das estruturas.

Foi descoberta, em 1991, toda a área central do peristylum (impluvium),

stibadium do triclinium e respectivo tanque de abastecimento de água (Fig.5b). Para o

efeito foi indispensável a arranca de sete oliveiras que se encontravam plantadas nesta área. O estudo da colecção numismática até então reunida revelou-nos um abastecimento monetário de meados e finais do século IV e início do século V d. C., tanto de centros emissores ocidentais (Arles, Roma, Siscia e Lyon) como orientais (Constantinopla). O maior número de numismas desta colecção é cunhado em Arles – o centro emissor mais próximo, nesta época, da província da Lusitânia.

Com o levantamento de bermas ou banquetas e o arrancamento de mais sete oliveiras na área sul da residência, em 1992, ficaram esclarecidos pormenores do conjunto da entrada composta pela torre octogonal, corredor, vestíbulo, portaria e sala contígua ao corredor Sudeste. Ficou ainda conhecida a complexidade decorativa dos revestimentos de baixos-relevos de mármore e calcário do triclinium52-53.

Os trabalhos de 1993 deram a conhecer, em detalhe, a construção quadriabsidada na área norte da pars urbana em ligação com o corredor noroeste do peristilo.

O prolongamento, em 1994, ainda mais para norte, da escavação da área urbana ou Palácio revelou-nos novos dados estratigráficos, facto este associado à concentração nesta zona de uma maior potência de terras. O estrato 1994 Mor / Rab IV. E. 22 (3), que interpretamos como sendo contemporâneo do nivelamento do terreno para a implantação da construção romana, revelou-nos um numisma de Constâncio II, datado

de 341-346 d.C.54, o qual deve ser considerado como um terminus post quem. A longa duração do uso da moeda de bronze, nesta época, leva-nos a propor os meados do século IV d.C. como data provável para esta instalação.

A Campanha Arqueológica de verão, programada para o ano de 1995, foi adiada para o ano seguinte.

Implantada a quadrícula arqueológica da pars rustica na campanha de 1996 (Figura 5d), foi possível, a partir das estruturas detectadas, determinar o tipo das instalações descobertas bem como constatar ainda o seu estado de conservação. As edificações no topo Noroeste, na cota mais elevada da área escavada apresentam vários tipos de pavimento (opus signinum, laje fina, laje grossa, calhau fracturado), uma lareira, canalizações, muros e paredes de diversas espessuras. A descoberta de grande quantidade e variedade de materiais de construção, no topo sul da área estudada neste mesmo ano, levou-nos a colocar a hipótese de estarmos numa zona contígua a uma construção mais elaborada. Junto ao valado, que separa o balneário da área residencial, existe a mais importante linha local de água. Sobre este lençol freático, situado a pouco mais de um metro de profundidade, estão abertos vários poços, sendo a água elevada através de noras e aproveitada ainda nos nossos dias para a rega de diversas culturas.

Esta área, escavada em 1997, veio revelar um importante conjunto de estruturas de construção em alvenaria e silharia, canalizações, tanques revestidos por opus

signinum, bem como pavimentos suspensos em arcos, que identificámos como fazendo

parte do Balneário da Villa55(Figuras 5c, 6d, 6e, 6f).

Como preceitua Vitrúvio56 no século I a.C. acerca da localização dos banhos, a ligação e o não afastamento desta unidade da cozinha da pars urbana, para funcionamento de fornalhas com fogo de lenha, ligadas a sistemas de aquecimento de ar, água e pavimentos, das outras construções (área residencial e área rústica), cumpre uma das normas fundamentais de segurança na prevenção contra incêndios; a sua localização a norte da Villa urbana evita que esta fonte de calor concorra com a outra fixa da natureza, o sol, a sul, para o aumento de temperatura no interior da residência; a

54 PESSOA, 2000, Vol. I, p.208; Vol. II Cat.37, p.90; PEREIRA, PESSOA, SILVA, 2011, Cat.162, no

prelo.

55 PESSOA, STEINERT SANTOS, 2000, p.365-371. PESSOA, RODRIGO, STEINERT SANTOS, 2004,

p.34, 117-120.

56 MACIEL, 2006, p.49-50, tradução de VITRÚVIO, De Architectura, Livro I, Capítulo 6, 6, 2 – “Os

orientação da boca da fornalha para sul protege esta abertura dos ventos dominantes de norte, como aconteceu ainda muito recentemente no respeitante aos fornos de cal.

Foram ainda registados os sistemas de ar quente tanto nas paredes como na cúpula do edifício57.

Cumpre-nos salientar que, à semelhança do que aconteceu na escavação da área urbana, os pequenos proprietários locais autorizaram prontamente a realização dos trabalhos arqueológicos exploratórios nos seus terrenos. Sem esta compreensão nada teria sido possível. A participação com entusiasmo e espírito de sacrifício de centenas de jovens nacionais e estrangeiros, da equipa técnica, da população e da autarquia local do Rabaçal e do município de Penela têm-se revelado, de igual modo, determinantes para o alcance dos resultados concretos.

A continuação dos trabalhos de campo dedicados na totalidade a esta mesma área no ano de 1998 veio confirmar a presença das várias partes constitutivas do balneário: vestíbulo, tanque de recolha de águas, frigidarium, tepidarium e caldarium.

Durante a campanha de 1999 ficou delimitada a área construída do balneário, ficou determinado o ponto de abastecimento de água ao emissário, ficaram limpas as canalizações subterrâneas para a evacuação de água dos tanques e a entrada do vestíbulo / vestiário (antecedida de uma antecâmara pára-vento), e ficou clarificado o acesso ao espaço de trabalho do forneiro e o pormenor das duas banheiras (alvei) do caldário. Foram, ainda, continuados os trabalhos de delimitação da área rústica.

No corrente ano de 200058 foi posto a descoberto o balneário59, na sua totalidade, sendo localizado o acesso ao interior do espaço de trabalho do forneiro e revelados pormenores construtivos das duas banheiras (alvei) do caldário60. O estado de conservação deste conjunto permite observar, directamente, a articulação de espaços e o seu funcionamento. Daí, a necessidade de medidas concretas para a fixação desta Memória de modo a ser colocada ao serviço do desenvolvimento.

Estamos, concretamente, face a um dos mais ocidentais balneários que comportaria cerca de dez a quinze utentes, ou seja, face à mais diminuída dimensão de balneário do Império. Este, em termos comparativos, contrasta bem com as termas

57 PESSOA, RODRIGO, STEINERT SANTOS, 2004, p.118, nº227. 58 Relatório Anual de 2000, p.6-160.

públicas de Conímbriga61, que poderiam comportar cerca de uma centena de utentes, em simultâneo, e, por exemplo, com as termas de Caracala e de Diocleciano, em Roma, que podiam servir cerca de mil e seiscentas pessoas.

A abertura aos públicos do Espaço-museu da Villa romana do Rabaçal, em Maio de 200162 (Figuras 4a, 4b), foi um momento chave da consolidação do projecto de valorização das descobertas, na medida em que passaram a ficar ao seu dispor e da população as colecções que aqui vêm sendo recolhidas. Nesse momento, já tinha sido vedado o perímetro das escavações63 e estavam adquiridos pelo Município de Penela os respectivos terrenos (no que houve uma forte solidariedade dos seus proprietários locais).

Daí que, a partir desse momento, tenha sido elaborado um Plano de Salvaguarda, de colaboração com arqueólogos, museólogos, antropólogos, autarcas, geólogos, técnicos de conservação e restauro, biólogos e elementos da população, no qual se aprofunda o conteúdo da visita museológica e se pormenoriza a acção cultural a desenvolver na Villa romana do Rabaçal64.

Nesse ano de 200165, tem lugar a descoberta, na íntegra, do forno cerâmico

munido de quatro arcos (Figuras 5a-J, 5c, 7a-i), no sector IV da quadricula arqueológica, em espaço contíguo ao alpendre do forneiro, no balneário66, que havia sido detectado em 1999. Este forno apresenta, para além dos arcos da fornalha, testemunhos iniludíveis da grelha ou pavimento, cujos orifícios, por onde subia o ar quente para a cozedura da fornada, são bem visíveis67.

Prosseguem, nesse mesmo ano, as escavações em grande extensão da pars

rustica, daí advindo a recolha de muitos exemplares de louça de cozinha, de mesa e de

armazenamento; pesos de tear (mais de dez) (Figura 7a-e); fósseis; restos faunísticos68; utensílios metálicos e escória (três dezenas de quilos de peso repartidos por cerca de três centenas de fragmentos), testemunhando estes últimos a novidade da presença, neste lugar, de actividades ligadas à metalurgia (Figura 7a-f)69. Ocorre, nesse mesmo ano, em

61 ALARCÃO, ETIENNE, 1977, p.43, 44, 124, 185, Pl.XX. 62 PESSOA, RODRIGO, STEINERT SANTOS, 2004. 63 PESSOA, et alii, 1997, p.10-18.

64 PESSOA, RODRIGO, MADEIRA, 2008, p.491-513. 65 PESSOA, 2001, p.11-245.

66 PESSOA, RODRIGO, 2011, p.45, fig.18. 67 Idem, 2008, p.25-29.

68 VALENTE, 2011, p.36-38. 69 VIEIRA, OSÓRIO, p.50-62.

consequência da recolha de meia centena de moedas durante a campanha em curso, um significativo aumento da colecção monetária do sítio arqueológico. A datação do século I, II e III, atribuída a cerca de meia centena dos numismas legíveis aqui recolhidos até hoje70, leva a colocar a hipótese de ter existido no lugar da pars rustica uma antiga granja ou casal agrícola, que antecedeu a implantação das componentes da Villa tardia.

Os trabalhos arqueológicos efectuados na campanha de 200271 lograram confirmar os limites, para sul, da pars rustica / pars frumentaria (Figura 5d). Foi então confirmada a extensão do muro do alpendre, medindo mais de 25 metros de comprimento, dividido por compartimentos abertos para a eira, pavimentada com opus

signinum, contígua ao pátio agrícola72. A recolha de cerca de uma dezena de quilos de

escória e jorra (a par de louça, cerâmica de construção, e restos faunísticos) continua a indiciar a presença próxima de uma instalação ligada à metalurgia73.

Tem lugar, ainda no ano de 2002, o início do registo gráfico dos mosaicos pelo processo de observação e decalque directo dos motivos em tela plástica transparente, registo da cor e consequente acondicionamento desta documentação em reserva visitável no Museu74. Para a execução do registo procedeu-se ao uso de canetas finas

para acetato, de tinta preta, à prova de água e resistente à luz, com as quais foram decalcadas as tesselas. Este trabalho foi planeado de forma a não excluir qualquer parcela dos pavimentos de mosaico ou qualquer motivo representado. Este assunto foi muito considerado nas campanhas subsequentes, até 2008, sendo mesmo prioritário porque tal dá informação pormenorizada, muito útil para o estudo do mosaico, sua conservação e restauro, e sua apresentação à população e aos públicos.

Aos trabalhos arqueológicos levados a cabo no ano de 200375 se deve a recolha de informação dos espaços de separação entre a eira, pavimentada de opus signinum, e do pátio agrícola, de terra batida e assente no soco rochoso. Mais uma dezena de quilos de restos metalúrgicos (escória e jorra), recolhida na área contígua à eira e pátio agrícola, a Oeste, vem juntar mais informação ao espólio anteriormente recolhido. Continuam, então, as recolhas do mesmo tipo de material dos anos anteriores. A

70 PEREIRA, PESSOA, SILVA, 2011, Cat.1-2, século I; Cat.3-7, século II; Cat.8-53, século III; Cat.54-

342, século IV; Cat.343-350, século V; Cat.351-358, Ilegíveis século IV-V; Cat.359-377, Moedas Portuguesas (no prelo).

71 PESSOA, 2002, p.16-250.

72 Idem, 2011, p.10, Fig.22b; p.53, Fig.4-L-a,b,c. 73 Idem, p.53, Fig.22f. VIEIRA, OSÓRIO, p.50-62. 74 PESSOA, RODRIGO, 2009, p.9, 13, 15, 17, 21, 24.

novidade vai, porém, eventualmente, para a descoberta, num peso de tear 76, de um grafito com uma dedicatória, em abreviatura, incisa no topo da peça antes da cozedura. Será o dedicante, da família Valeria, o proprietário da Villa, que datamos do século IV, ou da antiga granja ou casal agrícola, porventura do século anterior? Ou tratar-se-á do nome do proprietário da olaria ou, porventura do encomendador?

Teve ainda lugar, nesse ano de 2003, a realização do I Workshop Internacional de Conservação de Mosaicos in situ, que reuniu estudiosos, com conhecimentos práticos na matéria, de Avenches (Suíça), Florença (Itália), Lisboa, Coimbra e S. Miguel de Odrinhas, Sintra, com o objectivo de serem definidas prioridades para o estabelecimento de um programa de conservação e apresentação dos mosaicos da pars urbana da Villa.

Têm ainda lugar nesse ano, na pars urbana, sondagens arqueológicas sob parcelas dos pavimentos de mosaico dos corredores i e k, do peristylum. O registo gráfico dos desenhos e das cores dos mosaicos da pars urbana prossegue nesse ano como previsto, no pavimento de Mosaico y77.

À campanha efectuada no ano de 200478, na área do pátio agrícola, oficina de

metalurgia e área contígua à cozinha, armazém e “Casa dos Teares”, da pars rustica, torna ainda mais evidente a variedade, especificidade e riqueza da informação contida no espólio recolhido. Moedas, louça de cozinha mesa e armazém, pesos de tear, cerâmica de construção e peças metálicas aumentam as colecções, sendo que a enorme quantidade de escória e jorra recolhida (mais de quatrocentos fragmentos, pesando cerca de 42 quilos – metade do total recolhido entre 2001 e 2006), entre o limite Oeste do pátio e eira (Figura 7a-c, 7a-a) e a extremidade Este da cozinha e habitação dos servos (Figura 7a-g, 7a-d), assinala, quanto a nós, o local da forja (Figura 7a-f), cujos vestígios não chegaram à actualidade. Esta infra-estrutura, ligada à metalurgia e serralharia, estaria, provavelmente, construída, paredes-meias, com aqueles espaços, porventura separados por um alpendre79 (Figura 6b). A sepultura de criança levantada neste local deverá, em nosso entender, fazer parte do conjunto cemiterial, cujo núcleo central ocupou preferencialmente a pars urbana, no correr dos séculos XV e XVI80.

76 2003 Del/Rab II. P.67 (2); Inventário Rab.03.3. 77 PESSOA, RODRIGO, MADEIRA, 2009, p.8, fig.5a. 78 Relatório Anual de 2004, p.15-413.

79 PESSOA, RODRIGO, 2011, p.52, fig.22-f.

O registo gráfico dos desenhos e das cores dos mosaicos da pars urbana prossegue nesse ano como previsto, no pavimento de mosaico u e mosaico v81.

Teve ainda lugar, nesse ano de 2004, o II Workshop Internacional de Conservação de Mosaicos in situ, que reuniu estudiosos de Ravenna, Florença, Lisboa, Coimbra e S. Miguel de Odrinhas, com o objectivo de estabelecer uma metodologia para a conservação e apresentação dos mosaicos da pars urbana da Villa. Nesse mesmo ano foi instalada, como apoio do Departamento de Ciências da Terra, da Universidade de Coimbra, uma Estação Meteorológica na pars urbana da Villa, para registo diário de

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