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A preocupação e protecção do património arquitectónico assentaram até ao séc. XX numa dimensão nacional. A globalização a este nível, manifestou-se no período pós-guerra, designadamente no seio da ONU 38 e da UNESCO. A Conferencia de Atenas39 que abordou a temática da reabilitação de edifícios históricos e a Carta de Atenas elaborada por Le Corbusier em 1933, representam um marco inovador e comum ao introduzir ao conceito de património internacional.

No segundo Congresso de Arquitectos e Especialistas de Edifícios Históricos que decorreu em Veneza em 1964, foi aprovada a criação do ICOMOS por proposta da UNESCO, tendo como objectivo coordenar os esforços no âmbito do Ano Internacional das Organizações Não Governamentais de Monumentos e Sítios, que contemplava a preservação e valorização do património mundial dos monumentos históricos. ´

De acordo com o veiculado na Carta de Veneza, os monumentos são portadores de um passado, apresentando-se como um testemunho da sua vivencia e das suas tradições. A Humanidade tem cada vez mais consciência do valor que os monumentos antigos têm ao nível de uma herança comum, apontando assim a necessidade de uma responsabilização colectiva numa visão de salvaguarda e transmissão para as gerações vindouras de toda a sua riqueza e interesse, conforme descrito no ponto 2.4. deste trabalho. Assim, face ao interesse de salvaguarda internacional, é necessária uma uniformização de princípios, métodos e objectivos de conservação e restauro de edifícios antigos.

Deste modo a Carta de Veneza apresenta um conjunto de princípios orientadores cuja responsabilidade de aplicação e de adaptação ao contexto cultural e tradicional compete a cada país membro.

O ICOMOS, apresenta como objectivos essenciais, congregar os especialistas em património em torno de um fórum internacional que facilite o diálogo e a troca de experiências. A recolha de informações sobre a temática do património, bem como a sua difusão e a criação de centros de documentação afigura-se também como um dos objectivos. A promoção de convenções e recomendações internacionais aplicadas à conservação e valorização dos monumentos e património surge na linha dos objectivos de uniformização de princípios e regras.

38

Em 1945 é feita a adesão de Portugal à Organização das Nações Unidas (ONU).

39

A formação de técnicos de património, numa lógica de formação partilhada e disponível para funcionar em rede e colaborar internacionalmente, surge como um dos eixos de actuação ICOMOS que tem vindo a ser desenvolvido.

Ao nível da estrutura do ICOMOS, destaca-se a assembleia-geral como o órgão supremo que reúne todos os membros de três em três anos (ver anexo II), com o objectivo de eleger os órgãos executivos e consequentemente determinar o programa, as orientações e os objectivos da organização.

No que concerne à execução, o ICOMOS encontra na comissão executiva o órgão que assegura a direcção da organização e a realização do programa, sendo a escolha dos mesmos baseados no princípio da representação de todas a regiões do mundo. Como já referido a ligação aos países membros é assegurada pelas comissões nacionais cujos presidentes constituem a comissão consultiva que assegura a transmissão de opiniões e recomendações à comissão executiva.

O carácter científico da organização está patente nas comissões científicas internacionais que visam o desenvolvimento da temática de conservação, teórica e prática, agrupando especialistas de áreas específicas40 que vão desde a arquitectura da terra, cidades e aldeias históricas até jardins históricos e paisagens culturais, passando pela conservação e restauro de objectos patrimoniais em monumentos e sítios, entre outros.

Após o Congresso de Veneza, foram estabelecidos contactos com diversos países, dando origem à formação no ano seguinte de vinte e cinco comissões nacionais. No caso português, o convite para a participação na Assembleia Constitutiva do ICOMOS41, foi endereçado à Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN)42 , que participou no Congresso de Veneza e ficou responsável pela criação e dinamização da Comissão Nacional Portuguesa - CNP43. Esta comissão viria a ser constituída com a participação das instituições públicas e privadas ligadas ao património. Apesar destes envolvimentos, Portugal não participou na Assembleia de Varsóvia por constrangimentos financeiros e políticos, uma vez que a CNP carecia de aprovação governamental.

40

Num total de 28.

41

Realizado em Varsóvia em 21 e 22 de Junho de 1965 (ver anexo II).

42

Criada pelo Decreto n.º 16.791 de 30 de Abril de 1929.

43

As comissões nacionais formam-se em cada país com os membros individuais e institucionais, trabalhando num quadro de discussão e troca de informações, realizando os programas nacionais com base nas directivas da comissão executiva.

Apesar da não criação imediata da CNP, Portugal teve representantes nacionais no ICOMOS na categoria de membros individuais.

Após o 25 de Abril de 1974, assiste-se a uma abertura do país a diversas organizações internacionais. No caso do património, foi necessária uma reestruturação interna que levaria à criação do Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural.

Em 14 de Novembro de 1979, realiza-se a reunião formal preparatória com vista à constituição da CNP, na qual participaram a Comissão Organizadora do ISPCN, da DGPC, da Direcção Geral do Planeamento Urbanístico e DGEMN. Esta última ficou responsável pela coordenação e apoio administrativo da Comissão Provisória. Os estatutos da CNP foram aprovados pela Comissão executiva do ICOMOS, na reunião de Cracóvia em 14 de Outubro de 1980, sendo realizada escritura pública nacional de constituição e aprovação nacional em 15 de Dezembro de 1982 com publicação na III série do DR n.º 4 de 6 de Janeiro de 1983. Realizou-se então a primeira assembleia-geral nacional a 29 de Março de 198344.