Idade (anos)
Antes de 12 Entre 12 e 13 Entre 14 e 18 Acima de 19 Não
respondeu Tipo de vinculo Tipo de vinculo Formal Informal
Nº 26 18 23 10 1 21 56
Observa-se que 86%, ou 67 de um total de 78 mulheres participantes da pesquisa, iniciaram-se no mercado de trabalho antes dos 18 anos de idade, e, entre elas, 83,58% estavam no mercado informal, ou seja, sem direitos trabalhistas e previdenciários garantidos.
A informalidade do primeiro emprego reflete-se, no decorrer dos anos, na precária inserção social que essas mulheres e suas famílias vivenciam, tanto no que diz respeito às condições materiais e de marginalização, como às condições subjetivas de pertencimento e construção de identidade.
A inserção precoce no mercado de trabalho também impactou no baixo nível de escolaridade entre as internas, que relatam ter deixado os estudos em idade adequada para trabalhar e contribuir para a melhoria da renda familiar.
Na tabela 8, constam o primeiro e o último emprego das mulheres reeducandas do Centro de Ressocialização Feminino de Araraquara, antes da prisão:
TABELA 8
Distribuição de mulheres do CR de Araraquara segundo atividade do primeiro emprego e do último antes da prisão
Primeiro emprego Nº % Emprego antes da prisão Nº %
Babá 19 24,35 Doméstica/faxineira 16 20,51
Doméstica 18 23,07 Vendedora 6 7,69
Trabalhadora rural 9 11,53 Serviços gerais 6 7,69
Vendedora/comércio 5 6,41 Auxiliar de cozinha/cozinheira 5 6,41
Confecção/ costureira 3 3,84 Trabalhadora rural 5 6,41
Garçonete 3 3,84 Autônoma/não especificou 5 6,41
Ajudante de cozinha 2 2,56 Costureira 2 2,56
Salgadeira 2 2,56 Balconista/garçonete 2 2,56
Setor industrial 1 1,28 Comerciante/empresária 2 2,56
Funcionária pública 1 1,28 Babá/dama de companhia 2 2,56
Técnica de enfermagem 1 1,28 Catadora de reciclagem 1 1,28
Serviços gerais 1 1,28 Funcionária pública 1 1,28
Recepcionista 1 1,28 Prótese dentária (protética) 1 1,28
Estagiária 1 1,28 Camareira 1 1,28
Patrulheiro (menor aprendiz) 1 1,28 Artesã 1 1,28
Proprietária de escola informática 1 1,28 Panfletagem 1 1,28
Artesã 1 1,28 Auxiliar de encubação 1 1,28
Bordadeira 1 1,28 Estagiária 1 1,28
Não especificado 10 12,82 Sapateira 1 1,28
- - - Desempregada na data da prisão 16 20,51
- - - Não respondeu 2 2,56
Total 78 100,00 Total 78 100
Fonte: Elaborada pela autora.
Verifica–se que a maioria das mulheres teve como primeiro emprego, funções de pouco destaque público e de baixa remuneração, que não exigiam escolaridade avançada. Tais funções, muitas vezes, representavam a extensão do lar e do papel feminino desenvolvido por elas na esfera privada e, na maioria das vezes, exercidas na informalidade, sem garantias de direitos trabalhistas.
Quando se observa a quarta coluna, cujos dados se referem ao último emprego exercido até a data da prisão, constata-se que a realidade dessas mulheres não se modificou significativamente, com relação à profissão exercida, pois se verifica uma realidade de
trabalho relacionada a profissões ligadas à vida doméstica e que não exigem muita qualificação profissional. Por outro lado, observamos também aquelas que conseguiram profissões em destaque como: comerciante/empresária, funcionária pública, protética, porém também se envolveram no tráfico de drogas levadas pela influência do companheiro, o que reforça nossa tese de que a questão de gênero ainda se constitui em fator determinante na decisão da mulher pelo tráfico de drogas.
Do total que participaram da pesquisa na data da prisão, 23,07% se encontravam desempregadas e, das que se declararam empregadas, somente 18 delas tinham vínculo formal de trabalho. As demais trabalhavam informalmente. Deste total, somente 25 mulheres declararam contribuir para a Previdência Social, tendo seus direitos previdenciários garantidos. As demais não estavam cobertas pela política previdenciária do país.
As profissões ou funções mais frequentes como primeiro emprego pelas mulheres presas foram: doméstica, babá e trabalhadora rural. Essas três profissões somam 58,95% do total de primeiro emprego declarado por elas. Ao se comparar o último emprego declarado, constata-se, em primeiro lugar, doméstica/faxineira; em segundo, empatadas, estão serviços gerais e vendedora, seguidas pela profissão de trabalhador rural e auxiliar de cozinha/cozinheira; totalizando, essas profissões, 48,71% das mulheres empregadas.
Conforme a tabela 9, a condição de emprego não mudou muito para a maioria das mulheres presas desde seu primeiro emprego. Os dados reforçam uma condição de subalternidade na função e forma de inserção no mercado de trabalho dessa população. Vejamos:
TABELA 9
Mulheres presas no CR de Araraquara x Trabalho antes da prisão Trabalhava
quando foi presa Nº % Tipo de vínculo das 60 mulheres que trabalhavam Formal Informal Não respondeu
Sim 60 76,92 18 32 10
Não 16 20,51 % % %
Não respondeu 2 2,56 30,00 53,33 16,66
Total 78 100 - -
Como se observa, a porcentagem de mulheres que trabalhava antes da prisão é considerável na unidade do CR de Araraquara. Segundo declaração, 76,92% delas trabalhavam, mas somente 30% faziam parte do mercado formal de trabalho, com direitos previdenciários garantidos.
Outro dado significativo e impactante na realidade socioeconômica das mulheres presas, bem como no fator emocional após a prisão e separação familiar, refere-se à maternidade. A tabela 10 indica o número de filhos das internas do CR de Araraquara:
TABELA 10
Distribuição de mulheres presas no CR Feminino de Araraquara, segundo a maternidade e idade dos filhos - 10/2009
Idade dos filhos (anos) Nº %
Até 12 43 55,12
De 13 a 18 24 30,76
Entre 19 a 21 11 14,10
Acima de 21 18 23,07
Não especificou idade 5 6,41
Total de mães 68 87,17
Não tem filhos 10 12,82
Fonte: Elaborada pela autora.
A tabela transmite a quantidade de mulheres mães e idade de seus filhos: 87,17% das reeducandas do CR são mães, e 63,23% delas possuem filhos até 12 anos.
A associação dos fatores: pouca escolaridade devido ao ingresso no mercado de trabalho muito cedo, no setor informal ou em funções de subemprego e maternidade precoce, faz parte da realidade da maioria das mulheres em cumprimento de pena no CR de Araraquara. A conjunção desses fatores amplia o grau de vulnerabilidade emocional das reeducandas, acarreta demandas de cunho subjetivo para o programa educacional desenvolvido, e influencia consideravelmente a aprendizagem e interesse das internas. A preocupação com o sustento da família, principalmente das presas que possuem filhos, é um fator que traz considerável preocupação e sofrimento emocional. Muitas encaminham quase todo o dinheiro que recebem do trabalho realizado na prisão para os familiares.
A quantidade de filhos por mulheres (tabela 11) também é um aspecto considerável de agravamento das condições materiais e da situação de vulnerabilidade familiar.
TABELA 11
QUANTIDADE DE FILHOS POR MULHERES REEDUCANDAS. (TOTAL DAS 68