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A VOZ DAS MULHERES REEDUCANDAS

NÚMERO DE MULHERES DE ACORDO COM PRIMARIEDADE OU REINCIDÊNCIA DO DELITO – CR ARAQUARA 10/

5. A VOZ DAS MULHERES REEDUCANDAS

A fim de analisar o cotidiano do Centro de Ressocialização Feminino de Araraquara, e de como suas internas se apropriam desse espaço institucional, por meio de sua política educativa e disciplinar e, a partir disso, como constroem suas expectativas para o futuro, buscamos, com o auxílio de entrevista semidiretiva, dar voz às mesmas. Neste momento, apresentaremos o que pensam, quem são, e como cumprem pena em uma unidade prisional de pequeno porte, destinada a presas de baixa periculosidade e com programa específico voltado para a ressocialização. A análise do cotidiano prisional se faz necessária porque: “A vida cotidiana não está ‘fora’ da história, mas no ‘centro’ do acontecer histórico: é a verdadeira ‘essência’ da substância social” (HELLER, 2008, p.34).

Para facilitar a análise e compreensão dos sujeitos e do ambiente prisional a que estão expostas, optamos por dividir suas falas em categorias de análise que abordassem os aspectos anteriores ao aprisionamento e execução da ação pela qual foram condenadas. Tais como: aspectos familiares, socioeconômicos e fatores que influenciaram a ação criminosa; bem como, a visão destas em relação ao ambiente prisional. Ou seja, a rotina prisional, questões voltadas ao sentimento de pertencimento e processos de exclusão, fatores educativos e disciplinares vivenciados por elas durante o aprisionamento e possível contribuição deles para mudança de atitude; e por fim, suas expectativas para o futuro.

Para cumprimento dessa tarefa, a análise foi dividida em sete categorias, a saber:1- Situação socioeconômica; 2 - A situação familiar; 3 – Relação com o delito; 4 – Rotina prisional; 5 - Pertencimento/Processos de Exclusão; 6 – Ressocialização e 7- Educação como possibilidade de mudança?

Passemos então à análise e falas das reeducandas com relação á primeira categoria selecionada, a saber: “situação socioeconômica e características de quem chega ao cárcere”.

5. 1 - SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA

Como foi verificado, o perfil apresentado com relação à questão econômica é de mulheres, na sua maioria, de baixa renda, muitas delas chefes de família, com um ou mais filhos, desempregadas ou com empregos que não exigiam muita instrução, com remuneração baixa, o que ampliava a situação de risco social, como: doméstica, trabalhadora rural, babá. Como vimos, tais empregos se constituem em uma extensão do lar e com forte enraizamento

na questão de gênero, que coloca a mulher sempre como cuidadora do lar, cuidadora do alimento, cuidadora da educação e da prole no ambiente doméstico.

As mudanças dos últimos tempos que levaram as mulheres a uma maior inserção no setor público, também as expôs ao mundo do tráfico, que hoje, cada vez mais, constitui a causa principal do aprisionamento dessas mulheres analisadas. Influenciadas por seus companheiros, namorados ou filhos elas acabam entrando no mundo do tráfico para executar papel subalterno dentro da organização, o que, na ocasião de seu aprisionamento, acarreta- lhes insuficiência de condições financeiras para o pagamento de bons advogados. O poder masculino sob a mulher nas relações intrafamiliares vem acompanhado do discurso sedutor do tráfico enquanto possibilidade de dinheiro fácil e rápido.

A situação financeira, o risco social em que a família está inserida, principalmente, relacionado ao sustento, também se constitui um fator importante de vulnerabilidade ao tráfico, porém, na maior parte dos casos, esse não se constitui em fator único para a entrada da mulher no tráfico, mas está associado à questão de gênero e a influência masculina em sua decisão. As condições de saúde ou baixa escolaridade para competir no mercado de trabalho, somadas à acumulação da função de chefes de família, tornam essas mulheres vulneráveis à sedução e às possibilidades que o tráfico oferece para suprir as necessidades do dia-a-dia. Segundo as falas de mulheres que expõem suas razões para entrada no tráfico:

Ah, minha situação financeira mesmo, não agüentava ver minha filha pedir as coisas para mim e, estava crescendo, sempre pede mesmo, vê uma mochila mais bonita que a outra na escola quer e eu sempre procurei emprego, procurei mesmo, mas eu não achei e outra, por eu ser soro positivo não é, não, às vezes só de saber... Eu fui limpar uma casa uma vez e só da mulher saber, descobriu depois de três meses porque eu não quis falar. Depois eu falei para ela. Ela vivia me perguntando o que eu vivia fazendo tanto no médico, que três horas saia, duas horas tinha que ir novamente, então, eu vivia sempre passando no médico, ia falar porque eu cheguei tarde, porque eu fui pegar ficha e demorei, então, eu falei para ela: “Eu estou fazendo um tratamento não é, estou indo ao médico para saber mesmo o que eu tenho”, então, ela mandou embora e desse dia para cá, eu desanimei, nunca mais quis saber..., para que ninguém soubesse mais, também não procurei mais serviço, comecei trabalhar na roça. Comecei a trabalhar na roça, mas na roça eu sempre ganhei pouco, quando não, é muito cansativo. “Ave Maria”! E foi onde que eu me envolvi com droga, eu conheci o rapaz que está preso, não é, e por eu ir lá, os meus irmãos às vezes usavam droga também, eu comecei a conhecer e foi onde que eu comecei mesmo a mexer com droga (risos). (Entr. 14- Lu)

Há... Ruim, mora eu, a minha mãe (se referindo à avó), meus dois irmãos, a minha sobrinha, meus quatro filhos e tem um tio meu que é filho da minha mãe (avó). Tenho dois irmãos que são usuários, tenho uma sobrinha também, de dezoito anos, que ela é usuária também. Ela se

prostitui para comprar a droga, então minha filha, acho que isso daí vai mexendo com a mente da gente não é, aí, eu também já peguei e já entrei no tráfico também e me arrependo muito, porque às vezes vendi droga para meus próprios irmãos, me arrependo muito “Ai vixe, misericórdia!”, e o próximo também? Eu estraguei muitas famílias não é? Quantas famílias já foram na minha casa pedindo para eu não vender mais, mas isso eu não quero mais, nunca mais não é, é que a gente tem que cair para aprender não é. É só minha mãe (avó), nós somos quase em 12 e é só minha mãe, com o salário dela e nós recebemos... Nós pegamos duas cestas básicas, é isso que a gente se mantém minha filha. (filhos) Tenho um de nove (anos), um de oito (anos), um bebezinho de dois meses, ou seja, de dois anos e uma menina de sete (anos). Tenho três moleques e uma menina, estão com minha mãe (avó), graças a Deus! Seis meses, vendi por três meses só. Conheci esse moço, aí como faltava as coisas, porque não é todo dia que a gente (as pessoas) dá leite, não é filha, a gente pede na porta dos outros e não é todo dia que “nego” dá..., uma vez ou outra, mas tem outras vezes que eles falam, não é. Aí eu conheci esse moço que é o pai do meu bebezinho, que ele também pediu DNA, porque a família dele tem, não é, eu que não tenho, não é minha filha. Então, eu conheci ele depois no fim fiquei com ele e ele falou assim “eu vou te ajudar”, mas não sabia que era no tráfico, não é, aí ele começou a traficar e eu comecei a traficar junto com ele, aí ele parou, como ele tem uma família boa e, eu continuei... (Entr. 9 Est.)

A fala da reeducanda Lu (Entr. 14) expressa como a necessidade material se constitui em um dos fatores que vulnerabilizam as famílias às ações de traficantes, que se utilizam do argumento da promessa de dinheiro rápido e fácil para recrutar mão-de-obra para o tráfico. Outra questão importante na fala dessa mulher é o sofrimento vivenciado por uma mãe e chefe de família que não tem condições de garantir o sustento de seus filhos, além da discriminação que as pessoas portadoras do vírus HIV enfrentam no dia-a-dia, principalmente quando buscam um emprego.

A fala da reeducanda exemplifica o que estudiosos como José de Souza Martins (2008) apontam em relação às estratégias de sobrevivência que a maioria da população pobre, a custas de sua exclusão moral, enfrenta para conseguir sua inclusão econômica.

A situação de marginalização social agravada pela pouca escolaridade, somada ao preconceito social existente com relação aos soropositivos, contribuiu para que a história dessa reeducanda cruzasse a do tráfico de drogas. A falta de emprego, a discriminação social e a preocupação com o bem estar dos filhos, fizera com que ela buscasse alternativas de sobrevivência no mercado informal do tráfico que, na maioria das vezes, está de prontidão para recrutar mulheres em situação de vulnerabilidade social, como mão-de-obra para venda e distribuição de suas mercadorias.

Tal contexto é fruto de processos de exclusão vivenciados pela maioria da população na sociedade capitalista que, desamparada pelo sistema de proteção social é entregue à sorte,

enquanto a pobreza e a miséria se avolumam. Segundo Bauman (2005), a disfunção do capitalismo é sua mudança de exploração para exclusão. E essa exclusão está na base do aprofundamento da desigualdade e do aumento da miséria e humilhação.

Segundo Martins (2008, p. 21):

A exclusão moderna é um problema social porque abrange a todos: a uns porque os priva do básico para viver com dignidade, como cidadãos; a outros porque lhes impõe o terror da incerteza quanto ao próprio destino e ao destino dos filhos e dos próximos. A verdadeira exclusão está na desumanização própria da sociedade contemporânea, que ou nos torna panfletários na mentalidade ou nos torna indiferentes em relação aos seus indícios visíveis no sorriso pálido dos que não têm um teto, não têm trabalho e, sobretudo, não tem esperança.

Como relata o autor, a exclusão moderna atinge a todos, pois o capitalismo desenraiza tudo o que existe para depois incluí-lo de acordo com suas determinações. Esse processo é sempre degradante porque, no contexto atual, está cada vez mais longo o tempo para a inclusão daqueles que estão fora dos limites de humanização do desenvolvimento. O agravamento da questão social é cada vez maior e a apatia e a descrença estão transformando as relações sociais em desdobramentos nos quais a competição e a violência social se naturalizam nas relações cotidianas.

Para Martins (2008), o problema está no tempo de inclusão, cada vez mais longo, que os processos de exclusão causados pelas relações capitalistas de produção impõem à maioria da população.

Segundo a fala da reeducanda Est. (Ent.9), o tráfico também foi o recurso encontrado por ela para o suprimento do sustento dos filhos e familiares para suas necessidades básicas do dia-a-dia, porém a influência do namorado foi determinante na sua decisão. Podemos perceber que esse recurso já foi utilizado por mais membros da família que se envolveram com a droga e hoje são dependentes dela. A reeducanda cita, inclusive, a situação degradante em que se encontram alguns membros da família, que se prostituem para manter o vício. A família tem características de família extensa34, tendo como chefe de família a avó, composta por dez pessoas: a reeducanda e seus dois irmãos, seus quatro filhos, um tio desta, a avó e uma sobrinha.

A fala da reeducanda Est (ent.9) com relação à condição de vulnerabilidade social familiar é exemplo da luta para a inclusão material pela via da exclusão moral, citada por

34Família extensa, aqui, entendida como uma família composta por diversos membros com graus de parentesco

Martins (2008) no exemplo da prostituição infantil em Fortaleza. Por meio da prostituição e tráfico, membros da família e ela própria garantiam a inclusão material e alimentavam o vício.

Além dos casos em que a situação financeira se revela como principal fator de entrada no mundo do tráfico e cometimento do delito pelo qual estas mulheres cumprem pena, alguns depoimentos revelam outras características que contribuem para a inserção feminina nesse meio.

Eu fui presa porque eu tive um envolvimento com um cara que estava preso, através de uma menina que eu conheci na faculdade que trabalhava para esse cara que estava preso. Eu comecei a ter contato com droga, levar droga, pegar dinheiro, abrir conta... Nisso, começou uma investigação em cima de mim e de mais pessoas e em dezessete de maio de dois mil e sete (17/05/2007). Todo mundo foi preso, eu e mais cinco pessoas, incluindo esse que já estava preso. É, a gente foi preso por tráfico e associação (art. 33 e 35), a sentença foi de oito anos e na apelação em São Paulo, foi confirmada. Olha, não foi por causa de condição financeira, meu pai e minha mãe, eles tinham e tem uma vida estável, meu pai é aposentado do Banco e esse ano minha mãe também se aposentou, mas eles trabalhavam na Nossa Caixa. Eu fazia faculdade, é, no primeiro e no segundo (ano) da faculdade eu trabalhava num escritório de advocacia da PETROBRAS, fazia estágio lá. Daí no segundo ano eu repeti em duas matérias da faculdade e daí, por conta disso, eu tive que sair desse escritório. Eu era solteira e só tinha esse envolvimento com esse preso, eu ia visitá-lo. Eu gostava muito de sair e tudo mais, daí eu fazia o terceiro ano da faculdade de manhã e as matérias de recuperação à noite e, nesse meio tempo eu procurei um estágio, tive estágio na Procuradoria que fazia coisa de DNA, depois fui fazer um estágio na Promotoria com um professor meu de Penal que é promotor em Bauru, mas devido a, é..., eu ser abordada muitas vezes por policiais, meu professor ficou sabendo, então, eu preferi sair de lá e arrumei um estágio na Receita Federal, daí de onde eu saí somente pelo fato da prisão. (Entr. 17 Li)

Bom, antes da prisão, eu até trabalhava, até quando eu comecei a mexer com droga, eu trabalhava de recepcionista no balcão, balconista, vamos falar assim, numa padaria de um supermercado. Só que aí começamos a mexer com droga, o dinheiro era mais, não é, “sempre a ganância do dinheiro”, era mais, eu acabei sofrendo acidente e saindo do serviço e me aprofundei na vida do tráfico. (Condição financeira?) Era estável, era estável, era um pouco a ganância mesmo, porque a gente vê o dinheiro vindo fácil, a gente quer mais, quanto mais a gente tem, mais a gente quer. Só que o dinheiro do tráfico é um dinheiro que vem e vai e você não vê, você só vai ver as consequências na hora em que você cai num lugar desses que você vê que o pouco que você tinha era suficiente para você sobreviver. (Entr. 11 Mo)

Bom, meu nome é Lid., tenho vinte e três anos, estou presa por tráfico de drogas, vim para o CR porque eu moro aqui em Araraquara mesmo, então, facilita para minha família vir me visitar. Envolvi-me no crime (risos) vamos dizer assim, não foi por opção (leia-se precisão), não é, porque eu não precisava, mas por mente fraca, vamos dizer... Porque ganhava dinheiro fácil, não é. Você vê o dinheiro e quando você vê vai se envolvendo, se envolvendo e quando se

dá conta já está envolvida. E aqui estou eu agora, não é, pagando pelo meu erro, minha cadeia é de nove anos e quatro meses, estou cumprindo há dois anos e vou fazer dois anos e um mês agora em julho, estou esperando, não é? Agora vamos ver. (Entr. 3 Lid)

Em quase todos os depoimentos há pistas de que essas mulheres assumiram o tráfico ou a culpa pelo delito, não pela possibilidade de ganhar mais dinheiro de forma rápida e fácil como alegam, mas por pressão de seus companheiros, filhos, irmãos. Aqueles a quem mantinham vínculo de dependência afetiva acabaram influenciando sua opção que na maioria dos casos, não se deu pela falta de recursos, mas sim por essa relação de amor e poder entre os sexos.

A representação social das reeducandas com relação à sua entrada no tráfico, muitas vezes, vem acompanhada do discurso ideológico35 de que as motivações principais formam a “ganância”, desconsiderando o contexto social de desigualdade e privações vivenciadas por todos, que estimula a competição, seja no campo do trabalho como refere Bauman (2005), ou nos demais setores do ser e, principalmente do ter. Segundo Martins (2008, p. 20), “a exclusão é o sintoma grave de uma transformação social que vem rapidamente fazendo de todos os seres humanos seres descartáveis, reduzidos à condição de coisa, forma extrema de vivência da alienação e da coisificação da pessoa”. Tal situação estimula a necessidade de consumo como autoafirmação e poder.

Além disso, a maioria das mulheres envolvidas no tráfico de drogas como já verificamos por meio de seus próprios depoimentos tem como principal fator de influência a questão de gênero nas suas decisões intrafamiliares, pois o poder masculino e a relação de dependência afetiva se constituem em importantes quesitos para sua opção pelo tráfico de drogas.

As razões dos crimes de homicídios cometidos pelas mulheres no CR, geralmente estão ligadas a questões passionais e, principalmente, à violência doméstica.

O discurso prisional ideológico que culpabiliza principalmente o indivíduo pela sua condenação está presente nas falas das reeducandas, quando alegam que estão nessa situação em virtude de sua “mente fraca”. Tal discurso, sem as considerações dos fatores cotidianos que levaram e que expõem tais mulheres à ação criminosa contribuem para a cristalização da

35Discurso ideológico aqui entendido como um discurso que falseia a consciência do real. Pois, o conceito de

ideologia utilizado neste estudo vai de encontro com o elaborado por Marx e Engels (1978) em A Ideologia Alemã, compreendido como falsa consciência, como um processo de mascaramento da realidade pelas classes dominantes com objetivo de justificar o domínio e a exploração na sociedade de classes.

culpa, aceitação do estigma, podendo chegar, como refere Goffman (1978), a três consequências graves: vulnerabilidade, criminalização secundária e identificação secundária, já discutidas anteriormente.

Com aponta Zaffaroni (2001), tal discurso ideológico é prejudicial para a ressocialização do preso e da presa, principalmente porque desconsidera o grau de vulnerabilidade vivenciado por este indivíduo durante toda sua vida. Assim, contribui para que este seja alvo das agências do sistema de controle, com maior chance de incriminação pelo sistema de justiça criminal. Desconsidera que essa vulnerabilidade pode ocorrer em virtude das condições econômicas e outras, exteriores ao seu querer e, não somente por determinação de sua própria vontade. O autor alerta, ainda, que o indivíduo mais vulnerável e inseguro quanto a sua identidade é mais suscetível à intervenção institucional, á medida que se coloca em risco mais frequentemente.

Um dos fatores presentes nas falas de mulheres presas e enquadradas nos artigos relacionados ao tráfico é o envolvimento dos filhos com o uso e tráfico de drogas. Vejamos:

Até hoje eu pergunto, porque eu não tinha problema nenhum assim, não tinha uma vida como muita gente tem não é, mas eu tinha o básico, que dava para sobreviver, não é? Eu tinha dinheiro, ele (esposo) deixou a pensão, não é. Eu tinha dinheiro para pagar o aluguel, água, força, comida, roupa, não é, eu tinha de tudo um pouco, fora que eu trabalhava também, não é, mas…, sei lá, eu acho que eu perdi a noção do tempo, porque era ele quem fazia tudo, eu não fazia nada. Aí tive que aprender a fazer de novo e foi onde foi mais difícil aprender a viver, eu não precisava traficar, nunca precisei. Foi um rapaz, eu só sei o apelido dele, o apelido dele é Chupeta, não é., então foi ele que insistiu várias vezes para induzir o meu menor ao tráfico. Aí ele pegou, ficou insistindo e eu cheguei e falei: “- não, ninguém vai mexer com nada aqui”. Ele insistente, insistente, acabei eu pegando a droga e fazendo droga e vendendo com envolvimento do meu menor, porque o meu menino estava envolvido bem antes de eu saber, ele estava envolvido. (Entr. 6 Sil)

Nós vivíamos..., nós morávamos numa casinha simples nos fundos da casa tinha uma fabriqueta de madeira onde meu marido trabalhava com madeira, fazia cabo de enxada nesse local e tinha uns meninos que trabalhavam para nós e foi onde meu filho começou a se envolver com drogas. Na frente à casa meu pai, meu pai mora na frente e nós morávamos nos fundos, então minha família é de cinco pessoas: eu, meu esposo, minha filha, meu filho, meu dois filhos e meu pai. Não era assim..., uma condição boa. Nós sofríamos muito, eu trabalhava, sempre trabalhei de faxina, passava roupa, qualquer coisa eu fazia para ajudar minha família. Ele sempre trabalhava com madeira não é, ele gosta de trabalhar com madeira, não é! Fazia 19 anos já que ele trabalhava com madeira. (Entr. 8 Ma)

Nas falas anteriores, percebe-se o envolvimento da mãe que busca proteger o filho do tráfico e acaba envolvida na comercialização da droga e, muitas vezes, assume a culpa na hora