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Idem, p 299 (grifo tneu) Trata-se de citação do prefácio de Sollers à edição de 1980 de Théorie d'ensemble.

a Universitária

64 Idem, p 299 (grifo tneu) Trata-se de citação do prefácio de Sollers à edição de 1980 de Théorie d'ensemble.

A fim de servir no (ao) modelo, Forest trata de jogar o grupo para as margens, recusa sua posição hegemônica pretendendo minimizar sua influência, ao mesmo tempo que reconhece seu período áureo bem como seu declínio:

Aucun document ne m’a permis d’établir qu’aw temps du telquelisme triomphant les éditeurs aient cessé d’éditer ou les facultés d’enseigner: malgré Barthes ou Derrida, on continua d’étudier Racine et Rousseau à la Sorbonne; malgré Sollers, on ne renonça pas à attribuer les prix Goncourt ou Feiriina; malgré Pleynet ou Roche, l’émouvant chant des poètes ne cessa pas; étrangement, les travaux de Kristeva n’incitèrent pas Gallimard ou Grasset à refuser la littérature naturaliste dont l’édition fait ses choux gras.65

Duas observações não pontuais: Barthes e Derrida nunca deixaram de difundir o prazer dos textos ditos clássicos; com o fim da revista em 1982-3 - há muito encerrado o sonho de vanguarda telqueliano -, Sollers muda-se para a editora Gallimard onde, de um posto privilegiado, lança O

Infinito - este velho conhecido.

Il faut ajouter qu’un travail aussi marginal et aussi risqué - dont le Groupe d ’études

théoriques formé par Tel Quel est la matérialisation sociale - n’aurait pas été pensable sans une

réalité anonyme à l’oeuvre entre quelques individus dont toute l’ambition est de disparaître le plus possible dans les transferts d’énergie provoqués par la poursuite d’une pratique sans repos et sans garanties. Pour l’instant, voici où en est l’expérience: nous la laissons se formuler seule, d’un plan à un autre, d’un fond à un autre fond, avec la nécessité mais aussi la chance toujours suspendue d’un jeu. Octobre 1968.66

Assim termina a divisão do conjunto, feita por Sollers, de quem Forest é devoto: marginalidade e anonimato, mitos rapidamente destruídos.

Como de hábito, o biógrafo oficial do grupo se deslumbra com a “extraordinária” defasagem entre meios mobilizados e o “fantástico” barulho provocado pela empresa telqueliana. Ora, de carona no pensamento inovador (para o bem ou o mal) de ninguém mais ou menos que Derrida (que, por sua vez, parasita os textos de Sollers em proveito próprio) e Barthes, além de

65 Idem, p. 301 (grifo meu).

Foucault, Lacan e Althusser, ao abrigo de uma sólida instituição do vasto mercado persa dos livros franceses, a entelqueléquia só poderia atrair e prosperar: virou moda e saco de pancadas, sucesso mundano e “problématique littéraire centrale”. Ser ou não ser hegemônico, o biógrafo do grupo ainda teria a coragem de perguntar. Logo ele, Forest, o homem que leva a “operação” ao salão de beleza, com um romantismo que deveria soar estranho mas acaba calhando no conjunto:

La beauté de l ’opération se situe bien là: ne disposant que d’un soutien logistique limité, ne s ’autorisant que d’elle-m êm e, une parole s ’impose qui, par sa seule force, apparaît à chacun comme une intolérable agression, une imminente menace. “Terrorisme” paradoxal qui ne

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connaît d ’autre arme que les mots.

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Que a Teoria de conjunto seja um manifesto coletivo não há que negar: duas dúzias de ensaios esparsos, publicados nas revistas Critique ou La Nouvelle Critique ou nas atas do colóquio de Cluny. Com ênfase às intervenções de Sollers, Kristeva, Baudry e Pleynet, à parte a santíssima trindade. O estruturalismo já cumpriu seu dever. A nova ruptura está por vir, através de uma nova visão do mundo feita de uma mescla de artes e discursos a qual se chamaria “telquelisme”, segundo certos círculos intelectuais franceses progressistas de Paris, cuja visão pedagógica e pós-romântica do poder da literatura informa como mirar a sua própria (teoria) crítica da literatura.

Seria o caso de dizer que Forest confirma-me delatando-se, ao empregar o verbo convocar: “A cette fin, un certain nombre de références immédiatement contemporaines sont également

convoquées-. Foucault, Barthes et Derrida; mais également, de manière plus discrète, Althusser et

Lacan”.68 A ambiciosa aposta do momento, repita-se, é: como unir o marxismo, a psicanálise, a lingüística, a literatura e o maoísmo (ainda reprimido) contra a vasta burguesia - “táticas para enfrentar a invasão neoliberal”, diriam, como diria mais tarde Pierre Bourdieu.

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67 Forest, P., op. cit., p. 302.

68 Idem, p. 304. Embora tanto Lacan quanto Althusser jamais tenham publicado na revista de Sollers.

Pois recorde-se, aqui, o que a divisão do conjunto - à guisa de prefácio do volume e procurando sintetizar as diferentes correntes de pensamento em jogo - pleiteia com naturalidade e urgência divinas:

reconnaître un milieu spécifique - L ’ÉCRITURE DANS SON FONCTIONNEMENT PRODUCTEUR N ’EST PAS REPRÉSENTATION, régler une analyse - L’ÉCRITURE

SCANDE L’HISTOIRE; inscrire un “saut” théorique dont la Dijférance de Derrida situe la

position de refonte - L’ÉCRITURE NE FAIT PLUS SIGNE DANS LA VÉRITÉ; déclencher un mouvement; élaborer des concepts; déployer une histoire(s) - une histoire plurielle; articuler une politique ,69

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Solicitada'.

Quais os possíveis usos de um Glossário de Derridal É um trabalho paradoxalmente escolar, acadêmico, elaborado em coletivo e de forma (quase) anônima - coletividade e anonimato que dão o tom revulsivo do momento. Além disso, é um trabalho que induz à polissemia (cf.

Glossário, p. 69) ao colocá-la, como nesse parêntese, rigorosamente em prática. Trata-se de um

jogo relacional de conceitos em constante movimento (pela via mais visível dos asteriscos, entre outras), de uma amarelinha desconstrutora, não necessariamente para quem sabe jogar, mas para quem se dispõe a entrar e sair do jogo, ou seja, para quem se dispõe a 1er desde sua perspectiva, que corresponderia àquela da dijférance.

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“A diferencia é o próprio movimento do sentido, que só existe numa rede de elementos passados e futuros, numa economia de rastros”.

Leyla Perrone-Moisés70

69 Théorie d ’ensemble, op. cit., p. 10-12.

70 Cf. “O efeito Derrida” (1995). Inútil poesia e outros ensaios breves. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 303. Se entre os glossariantes cariocas o termo différance é mantido no original francês, a tradução como diferencia, apesar de insatisfatória por “falar” demais, é uma das soluções consagradas em português, conforme se lê em um arco que se estende de (pelo menos) 1971- quando o termo aparece pela primeira vez, salvo engano, em ^4 escritura e a diferença, na versão de Maria Beatriz Marques Nizza da Silva para a editora Perspectiva [cf. nota da tradutora à

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De forma hipercondensada, écriture textuelle - “pratique et théorie à la fois” - era então outro dos nomes do bicho em jogo, o quai se apropria de um marxismo paradoxalmente agiomado via Nietzsche, Freud e também Heidegger. A formula passa a ser: “marxiser la grammatologie, grammatologiser le marxisme’’.71 E não se deixe de observar que a associação DçrndsJTel Quel resulta extremamente fértil para ambas as partes. O “antirromance” Nombres (1968), por exemplo, suscita um comentário-rio - “La dissémination”, publicado na revista Critique, além do livro homônimo de 72. Assim como os textos de Foucault e Barthes dedicados à literatura dos telquelianos, mas sobretudo de Sollers, o ensaio derridiano poderia ser visto como uma extensão, ou um segundo volume, da Teoria de conjunto (Nombres deve ser o terceiro tomo). Lembre-se também que Derrida acaba de provocar estupefação geral - em 67 - com três publicações: De la

grammatologie, La voix et le phénomène (sobre Husserl) e L 'écriture et la différence (incluindo o

manifesto anti-estrutura “La structure, le signe et le jeu dans le discours des sciences humaines”). Por essas e outras deve-se concluir que “La différence” ocupa lugar de destaque além de “position de refonte” no “salto teórico” (segundo a “Division de l’ensemble”) proposto pelo projeto coletivo - ma non troppo - de, não por acaso, 1968. Releia-se, então, este peculiar conceito de diferença, de si e em si mesma diferida, a fim de uma breve in(ve)stigação do rico veio pobre do telquelismo, tendo com o tempo se tomado o telquelismo uma espécie de primo pobre da abonada desconstrução do pensamento ocidental, assim como talvez da própria noção de diferença.

À différmce, portanto. Como traduzir um neografismo sem tradução, já que não é nem uma palavra nem um conceito? Como ouvir um termo novo que esconde a sua novidade, sendo o a “marca muda, monumento tácito, uma pirâmide”?

p. 72] - até 2001, ao reaparecer no livro de Perrone-Moisés. Seu emprego, no entanto, é contestado por Evando Nascimento: “(...) creio ser injustificável a proposta de algumas traduções como ‘diferência’, ‘diferância’,

‘diferança’ ou, bem melhor, ‘diferensa’. ‘Diferência’ não constitui uma boa escolha, não apenas porque a pronúncia desse neologismo em português reconduz ao privilégio da fala, tomando audível uma marca que deveria ser apenas visual - mas porque e principalmente, e isso vale para ‘diferensa’ - différance marca o limite da possibilidade de toda tradução”. Derrida e a literatura. “Notas” de literatura e filosofia nos textos da Desconstrução. Niterói: EdUFF, 1999, p. 140.