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Identifique as etapas do processo de investigação no exemplo abaixo, extraído do livro “Caçadores de vírus: o combate aos vírus desconhecidos que ameaçam a humanidade”, Ed Regis, 1997.

No documento Curso vigilancia epidemio (páginas 82-85)

Medidas em Saúde Coletiva e Método Epidemiológico

QUESTÃO 13: Identifique as etapas do processo de investigação no exemplo abaixo, extraído do livro “Caçadores de vírus: o combate aos vírus desconhecidos que ameaçam a humanidade”, Ed Regis, 1997.

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Investigação da transmissão da Escherichia coli no Maine, Estados Unidos da América (EUA), pela epidemiologista Joanna Buffington, dos Centers for Diseases Control and Prevention (CDC/EUA)

Uma criança de dois anos morreu em um hospital em conseqüência de síndrome hemolítico- urêmica (SHU), doença renal rara, cujo sintoma principal é a diarréia sanguinolenta. A enfermidade é atribuída à bactéria E. coli do tipo antigênico 0157:H7, particularmente perigosa em crianças pe- quenas, nas quais o sistema imunológico ainda não está completamente desenvolvido. Um irmão dessa criança estava internado com os mesmos sintomas. Onde teriam contraído essa bactéria?

Buffington e outro pesquisador do Serviço de Informação Epidemiológica do CDC (SIE /CDC), Paul Cieslak, foram a Maine conversar com a família. A investigação da doença levou até a babá das crianças, que apresentara os mesmos sintomas e depois melhorara.

Suspeitou-se que a babá havia sido infectada em uma fazenda em New Hampshire, onde passara uma temporada. Algumas vacas da fazenda haviam sido abatidas para fazer hambúrguer. Sabe-se que a carne mal passada é um dos principais veículos de transmissão das infecções por E. coli. Uma hipótese seria que a babá contraíra a bactéria ao consumir hambúrgueres; porém, ela era vegetariana.

Sendo assim, Buffington e Cieslak desenvolveram uma segunda hipótese, que postulava que a bactéria teria vindo do leite sem pasteurização, pois o leite cru, consumido direto da vaca, é outra fonte bem conhecida de transmissão da E. coli.

Ambos foram para a fazenda, tiraram leite das vacas e o testaram. Não havia um único indício de bactéria E. coli.

Mesmo se houvesse, a babá, tampouco, bebia leite. Ela não consumia nenhum laticínio, era totalmente vegetariana.

Outra hipótese poderia ser a água do poço. Em um dia ameno de outono, no mês de outubro, os investigadores retornaram à fazenda para coletar mais amostras. Colheram amostras da água de abastecimento e sangue das vacas. Em seguida, como medida de segurança, munidos de zaragatoa3,

vasculharam o local coletando pequenas amostras de qualquer coisa que parecesse suspeita. Foram colhidas amostras de fezes das galinhas, das próprias galinhas e de tudo o que encontraram, até dos vegetais do jardim.

No final, por ironia, o veículo de transporte da E. coli eram os vegetais: eles tinham sido adubados com o estrume das vacas, que continha as bactérias E. coli. A babá e a criança tinham comido vegetais sem lavá-los corretamente.

O método científico assume, em cada campo disciplinar, as particularidades do objeto investigado. O método epidemiológico, uma variante do método científico, foi especialmente desenvolvido para ser aplicado à investigação do processo saúde-doença em populações humanas. O método científico compreende os seguintes pressupostos:

Observação exata

É a caracterização do problema em estudo, por meio de instrumentos de medição.

Interpretação correta

É realizada por meio de informações (censos, histórias clínicas, estatísticas, bibliografia, entre- vistas, etc.).

Explicação racional

É a explicação fundamentada em teorias que justificam as relações-alvo de constatação.

Formulação de hipóteses

É uma tentativa de explicação para um fenômeno observado, uma proposição que necessita ser verificada. O conhecimento prévio que se obtém do fenômeno observado é o que vai orientar a formulação da hipótese. Esta, por sua vez, indicará que aspectos ou variáveis do fenômeno em questão serão estudados, para alcançar a resposta que se busca. A hipótese pode surgir de uma conjectura ou uma tentativa de explicação dos fatos observados; pode ser, também, o resultado de outras investi- gações; ou pode ser extraída de uma teoria.

Verificação de hipóteses

É o momento da análise. A análise implica o processamento dos dados, mediante o cálculo, apresentação e interpretação, de modo sucessivo e lógico, de três tipos de medidas: de ocorrência, de associação e de significância estatística.

Conclusões

É o momento da interpretação dos resultados. Interpretar os resultados é observá-los à luz das hipóteses e das teorias; e tirar conclusões que serão aportes para a construção de novas teorias ou para a complementação e verificação das teorias existentes.

2. Problema epidemiológico

Quando se identifica uma lacuna no conhecimento referente ao processo saúde-doença (a exemplo de condições fisiológicas, estilos de vida, níveis socioeconômicos, doenças, agravos à saúde), pode se dizer que há um problema epidemiológico.

Temos, como ilustração, problemas epidemiológicos clássicos:

a. Na década de 1840, havia uma ocorrência expressiva da febre puerperal no Hospital Geral de Viena. Naquela época, a medicina convivia com uma elevada mortalidade por infecção puerperal hospitalar, sem vê-la com estranheza. Ressalta-se que o percentual de mortes por febre puerperal entre as mães que davam a luz nas ruas e que a seguir eram internadas era sensivelmente menor do que as mães assistidas no Hospital Geral de Viena. O pesquisador principal despertou para o fato de que a mortalidade puerperal no primeiro serviço mostrava-se quatro vezes superior à mortalidade ocorrida no segundo serviço – ambos situados no mesmo pavilhão. Propôs-se, então, a resolver o enigma: tomou como ponto de

partida, a sua estranheza (problema epidemiológico), e seu percurso consistiu em formular sucessivas hipóteses para o problema, cujo conteúdo intuíra.

b. Em 1854, as autoridades sanitárias britânicas enfrentaram um problema médico-social em Londres, com uma epidemia de diarréia grave com grande número de óbitos e de acometidos e caracterizou-o como problema científico, formulando a hipótese de que a transmissão da doença seria de veiculação hídrica.

c. No final da década de 1998, investigou-se um surto de glomerulonefrite pós-estreptocócica atribuído ao Streptococcus zooepidemicus, em um município da zona leiteira de Minas Gerais. O surto constitui o maior já documentado de glomerulonefrite pós-estreptocócica associado à uma espécie rara de Streptococo, chamada S. zooepidemicus, e resultou em uma morbidade importante – três falecimentos, sete doentes necessitando de hemodiálise, dois casos de encefalopatia hipertensiva e 96 hospitalizações.

No documento Curso vigilancia epidemio (páginas 82-85)