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Identidade Cultural e Integração

CAPITULO IV: A EDUCAÇAO FISICA NO CHILE E A REFORMA EDUCACIONAL DOS ANOS ‘

4.2. Identidade Cultural e Integração

No meu país, o Chile, ainda existe preconceito étnico, quer dizer, ainda não se reconhece a cultura indígena como própria, e não se cultua nas escolas os costumes e tradições dos povos originários e existe uma forte, no caso da Educação Física escolar, tendência aos parâmetros europeus e norte-americanos. Nos programas de Educação Física, os esportes veiculados pela mídia é matéria de ensino e avaliação, e pior ainda, essa avaliação é feita em termos de execução motriz, buscando no aluno o domínio técnico dos exercícios.

Em quanto aos jogos autóctones, o “palin” ou “chueca” (muito parecido ao hockey sobre grama); o “pillmatum” ou jogo com as mãos (variedade do “palin”); o “linao”, jogo de bola com as mãos (parecido ao rúgbi e handebol), tiveram vigência até finais do século XX. A estes jogos se agregaram os introduzidos pelos espanhóis. Aqueles jogos violentos demais, tanto espanhóis quanto os de origem Mapuche* foram proibidos freqüentemente. Eles se mantiveram como jogos populares como resultado de uma integração cultural mútua.

Os jogos autóctones tiveram vigência nacional até aparecer os esportes forâneos como o futebol, basquete e voleibol no final do século XIX e começos do XX. Os jogos dos Mapuches desapareceram das cidades do Centro Sul do Chile ficando só no cultivo dos próprios Mapuches em suas aldeias. Ao parecer existem dois motivos para tal coisa acontecer:

1. Ao terminar a guerra de Arauco em 1883 o povo Mapuche sendo o perdedor, deixou de existir como nação e perdeu sua identidade.

2. O esporte moderno com seu elevado espírito competitivo não desperta interesse em uma etnia na qual o jogo tinha primordialmente um sentido cultural, social e recreativo.

Na atualidade, os Mapuches, que existem na zona Centro Sul do país, são discriminados pela sociedade chilena dominante. A integração cultural quase não existe e o esporte moderno não contribui nesse propósito. A mesma classe dominante não manifesta interesse pelos jogos ou atividades culturais dos Mapuches ou outras etnias originarias do país. Nos programas de Educação Física escolar esses jogos e as costumes ou expressões culturais dos povos originários não são considerados no currículo, portanto não são conhecidos pelos alunos. Nas universidades existe pouco ou quase nenhuma orientação ao respeito. Em resumo, no Chile não se tem valorado na sua real dimensão a importância da cultura originaria do país.

O autor Von Vriessen tem começado no Chile uma linha de pesquisa na área dos Jogos Tradicionais a partir de 1982, levando à Universidade Católica de Valparaiso oficinas e palestras sobre o tema para estudantes de pregrado, fazendo publicações no Chile e no estrangeiro. Em 1993 foi promulgada uma lei que protege, promove e difunde as culturas autóctones do Chile. Mas o esporte moderno do poder cultural hegemônico apaga toda possibilidade de expressão dos jogos populares nacionais.

* MAPUCHE: mapu = terra; che = homem; homem da terra. Pessoa do povo ameríndio que, na época da conquista espanhola, habitava na região central e sul do Chile.

Em 1883 ditou-se uma lei que autorizava ao Presidente da Republica para aquisição de moveis e materiais de ginástica. Em 1885 chega no Chile uma missão pedagógica de professores alemães contratada pelo Governo para que organizasse oficinas e cursos destinados a formar professores.

Obviamente essa missão influenciou em grande forma o ensino sistemático da Educação Física no Chile, especialmente na Ginástica. Em 1889 cria-se o primeiro curso de professores de ginástica a cargo de Francisco Jenschke y Juana Gremle. O curso desapareceu aos três anos de sua criação, mas alcançaram formar-se 12 alunos como professores de Ginástica, os primeiros formados no país. Nesse momento há um grande fomento da prática esportiva.

O problema nesta situação é que o profissional chileno não entendeu a visão que o europeu tem de esporte, a qual responde as características de toda atividade com caráter integrativa e de socialização expressada por meio da corporalidade e não exclusivamente competitiva. Em troca, o profissional chileno só levou em conta o esporte com suas características competitivas e foi assim como entrou no meio escolar, usufruindo desse meio e das crianças para justificar sua pedagogização e, a partir dai, fomentar o hábito e a prática esportiva na população, gerando espaços para a procura de talentos.

Continuando com a história, no Congresso Pedagógico de 1889 se expressou a conveniência de criar um Instituo Central para a formação de maestros (professores) especiais de Ginástica. Joaquin Cabezas viaja a Suécia a estudar Educação Manual e Ginástica, conhecendo também Dinamarca, Bélgica e França. A sua influência é grande e com o apoio de Arturo Alesandri Palma, Senador e mais tarde Presidente da Republica, se cria em 6 de março de 1906 o Instituo de Educação Física e Manual.

Em 1918 o Instituto é elevado à categoria de Escola Universitária com o nome de Instituto Superior de Educação Física, elaborando-se seu regulamento e Plano de Estudos. Os egressados obtinham o titulo de Professor de Estado. A matéria escolar é obrigatória desde 1889. Chile foi pioneiro nestas matérias, mas nunca contou com o apoio estadual.

A primeira Lei de Educação Física no Chile é do ano 1929. no seu Artigo 1 dizia: A Educação Física é uma atenção preferente do Estado e devem tê-la todos os habitantes da Republica.

Hoje, quase 80 anos depois, as orientações para a Educação Física escolar não têm mudado muito. A atual Lei de Esportes N° 19.712, promulgada em 30 de Janeiro de 2001 sob responsabilidade do Ministério do Interior no governo do Ricardo Lagos Escobar, Presidente da Republica da época, em seu Art. 5 assinala:

Los planes y programas de estudio de la Educación Básica y de la educación Media deberán considerar los objetivos y contenidos destinados a la formación para el deporte. El marco curricular de enseñanza de la educación preescolar deberá considerar contenidos a enseñar el valor e importancia del deporte, sus fundamentos y a motivar e incentivar su práctica.

Depois, no Art.12, letra d)

Coordinar con el Ministerio de Educación la pertinencia de los planes y programas del sector de aprendizaje Educación Física, Deportes y Recreación con el diseño de políticas para el mejoramiento de la calidad de la formación para el deporte y de la práctica deportiva en el sistema educacional, en todos sus niveles. Asimismo, se pronunciará respecto de las modificaciones o ajustes que se introduzcan en los planes y programas de estudio referidos a los temas mencionados.

Essas leis correspondem à criação do Instituo do Esporte, instituição conhecida hoje como CHILEDEPORTES. Esse instituto não tem a competência nem a legalidade para formar professores de Educação Física, já que foi criada com o objetivo de fomentar, organizar e distribuir verbas para o esporte de alto rendimento. Mas eles declaram no seu Art. 11: Corresponderá al Instituto proponer la política nacional de deportes. Asimismo, tendrá a su cargo la promoción de la cultura deportiva en la población.

Apropriam-se do direito de intervir na construção do currículo escolar, fundamentando que a Educação Física tem como responsabilidade a procura e fomento de talentos esportivos e o cuidado da saúde. Desde esse ponto de vista é fácil entender porque nas escolas existe uma ênfase no desenvolvimento das capacidades e habilidades físicas dos alunos. O paradigma esportivo e profilático orienta e determina, em muitos casos, a matéria ou conhecimentos ministrados na escola. Muitos alunos ainda são avaliados como se fossem atletas e as aulas de Educação Física na escola é local de treino.