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Universalidade das emoções básicas

CAPITULO II: FUNDAMENTOS TEORICOS

1.3 O problema da atitude (cultural) competitiva

1.4.1 Universalidade das emoções básicas

As emoções básicas (ou primarias) não respondem a padrões culturais, isto é, não dependem de aprendizados ou sistemas de ensino. Culturalmente só são diferentes as formas de expressão, mas o mecanismo que as produz obedece a nossa biologia, portanto são condutas universais da espécie humana.

Uma das formas que me faz reconhecer a universalidade das emoções fundamentais do comportamento humano é o fato de serem elas passiveis de ser representadas por qualquer artista de teatro independente da sua nacionalidade ou cultura. Mas o interessante é que ainda quando as emoções são passiveis de ser representadas em termos artísticos, as mesmas não podem ser fingidas, isto é, o ser humano pode representar sua expressão, mas não pode produzir biologicamente o que uma emoção genuína produz.

É fundamental identificar ditas emoções devido ao fato de que elas não precisam ser ensinadas, no sentido estrito do que seja o processo pedagógico. Isto é, se não são aprendidas também não se pode evitar sua expressão uma vez que obedecem a impulsos intensos vindos das profundezas de nossa fisiologia, produzidos por uma série de eventos que não passam pela censura do neocortex cerebral. Isto fica muito mais manifesto nos adolescentes que carecem do desenvolvimento completo do lobo frontal do cérebro, necessário para o discernimento das conseqüências de tais eventos com o qual poderiam evitar condutas “sem pensar”.

Agora, por que é importante estudá-las e compreendê-las?

Segundo Damásio (2003, p.16) é,

(...) um passo indispensável para a construção futura de uma visão dos seres humanos mais correta do que a atual. (...) A razão disto é simples: o êxito ou o fracasso da humanidade depende em grande parte do modo como o público e as instituições que governam a vida publica puderem incorporar essa nova perspectiva da natureza humana em princípios, métodos e leis, capazes de reduzir o sofrimento humano e engrandecer o florescimento humano.

Se entendermos que existe algo que nos faz iguais, que nos condiciona a determinada conduta, talvez exista a possibilidade de dialogar sobre as nossas semelhanças e definitivamente aceitar que nossas diferenças são somente culturais e como tal, essas diferenças têm o mesmo valor humano. Pensando nisto é que no capitulo I fiz referencia ao fato de os seres humanos serem iguais em natureza e diferentes só culturalmente.

Damásio (2003, p.169) enfatiza:

Numa sociedade privada de tais emoções e sentimentos nunca teria havido e exibição espontânea das reações sociais inatas que auguram o aparecimento de um sistema ético simples – o altruísmo não teria por onde começar, não teria aparecido a generosidade, não haveria a censura aos outros ou a nós próprios. Na ausência dos sentimentos de tais emoções, os seres humanos não teriam se empenhado na negociação que visa encontrar soluções para os problemas de grupo, ou seja, soluções para o encontro e partilha de alimentos, para a defesa contra ameaças exteriores e para os conflitos entre os membros de um determinado grupo.

De acordo com essas declarações posso afirmar que as emoções se apresentam como um fator determinante no desenvolvimento dos aspectos “mais humanos” da sociedade. Desde o ponto de vista educacional não posso imaginar uma pedagogia que não considere as emoções, já que esse aspecto de nossa humanidade veicula aprendizagens em prol de um ser “mais humano”. E é importante lembrar que a forma como se usam determinados conteúdos pode fazer a grande diferença e, que os atos competitivos configuram emoções relacionadas com o sentido do poder, domínio e obediência, perpetuando uma cultura patriarcal hegemônica que no permite a expressão da própria identidade.

Com relação às emoções é importante ressaltar aqui a diferença que Damásio (2003) faz entre emoções básicas e emoções sociais. Isto é útil uma vez que nas emoções básicas a educação, como intenção pedagógica, não pode ter maior influencia, mas sim é possível intervir pedagogicamente nas emoções sociais. A gênese das emoções sociais começa na mistura de emoções básicas e representam um dialogo corporal no qual a característica individual (personalidade) e cultural da pessoa faz a diferença no momento da expressão da emoção social.

Segundo o autor as emoções básicas ou primarias seriam: medo, raiva, nojo, surpresa, tristeza e felicidade. As emoções sociais incluem a simpatia, compaixão, embaraço, vergonha, culpa, orgulho, ciúme, inveja, gratidão, admiração, espanto, indignação e desprezo. Ambos os tipos de emoções estariam presente em todos os animais. Diz o autor (2003, p.55): a resposta não é a mesma para todas as emoções. Em certos casos, são de fato inteiramente inatas. Noutros casos, requerem um grau mínimo de exposição apropriada ao ambiente.

Neste ponto se justifica uma pedagogia na qual a Educação Física, sobretudo no ambiente escolar, apresente conteúdos e didáticas metodológicas encaminhadas a desenvolver e/ou estimular a expressão de tais emoções, sabendo que existem conteúdos mais próximos (adequados) do que outros, ou com maior possibilidade de representar emoções sociais. É aqui onde encaixa perfeitamente a proposta de Pérez Gallardo et. al. (2003), com a cultura patrimonial como conteúdo da Educação Física no ensino fundamental. Permito-me argumentar que a cultura patrimonial como conteúdo da Educação Física escolar, não necessariamente é restrita do ensino fundamental, uma vez que dita cultura está estreitamente relacionada com emoções básicas, as quais identificam o ser humano com seu grupo de origem, tradições e costumes. Portanto, a cultura patrimonial deve ser conteúdo em todos os níveis de ensino, incluindo o ensino da Educação Superior.

Um outro aspecto importante é o fato de diferenciar emoções de sentimentos. Damásio (2003, p.37) explica o seguinte:

Temos emoções primeiro e sentimentos depois porque na evolução biológica as emoções vieram primeiro e os sentimentos depois. As emoções foram construídas a partir de reações simples que promovem a sobrevida de um organismo e que foram facilmente adotadas pela evolução.

Poder-se-ia dizer que as emoções obedecem a impulsos reativos, respostas fisiológicas a estímulos por meio dos sentidos e os sentimentos obedecem a um processo mais elaborado, pensado, no qual influem idéias e percepções que temos do meio ambiente e dos objetos que podem causar tal o qual sentimento. E é aqui onde entra o assunto cultural, posto que, um mesmo objeto pode causar sentimentos diferentes em pessoas que têm tido experiências similares. Isto equivale a “sentir uma emoção”, dito de outra forma, esse processo significa que passamos do impulso inato ao processamento consciente de dar-nos conta que estamos vivendo um sentimento particular.

O interessante é que segundo Damásio não é possível observar um sentimento, já que este obedece a processos que se configuram internamente. Em troca o que se pode observar diretamente é uma emoção. De aí que Maturana (1995) identifique as emoções como “disposições corporais”.

A discussão da formação humana passa por questões de sentimentos. Pessoas mais sensíveis, mas cientes de suas emoções, teriam, segundo explica a psicologia, maior possibilidade de desenvolver uma inteligência emocional que lhe permita ter certo sucesso no processo de desenvolvimento humano. (GOLEMAN, 2005)

Como se faz isso nas aulas de Educação Física? Isto tem a ver com o que explicarei no capitulo IV respeito dos níveis de desenvolvimento que pode alcançar um determinado processo pedagógico. Mas, devemos partir da base que se o nosso norte é a formação humana, então os elementos que configuram a aula devem superar o simples desenvolvimento do físico orgânico e considerar o sentir emocional. Alias o desafio é o equilíbrio entre essas duas dimensões, já que sabemos que o ser humano é indivisível. Nada religioso nem místico, simplesmente o desenvolvimento de uma característica humana que me permite identificar-nos em uma mesma dimensão: a dimensão da biologia do amor (MATURANA, 1995).

APITULO III: PERTINÊNCIA DA FORMAÇAO HUMANA NA FORMAÇAO