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3 METODOLOGIA

3.1 IDENTIFICAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES A SEREM PESQUISADAS

A identificação das instituições que fariam parte da pesquisa foi estabelecida a partir da busca de dois diferentes perfis. Escolas específicas para surdos e escolas regulares que oferecem atendimento aos alunos surdos entre o período da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, na cidade de Salvador.

Com relação às escolas de surdos públicas e privadas sem fins lucrativos existentes na cidade de Salvador, não foi preciso pesquisar quais seriam. É de conhecimento dos profissionais que atuam junto à comunidade surda soteropolitana que existem quatro instituições de atendimento educacional direcionado aos alunos

surdos. Uma delas é um centro de atendimento especializado que possui uma sala de estimulação precoce específica para crianças surdas e as outras três são instituições especializadas na área da surdez que possuem escola de surdos.

Já com relação às escolas regulares que possuem alunos surdos incluídos, foi preciso entrar em contato com as Secretarias de Educação Municipal e Estadual. Primeiramente, buscamos contato com a Coordenação de Ensino e Apoio Pedagógico (CENAP), vinculada à Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer (SECULT). Através desse contato, a CENAP forneceu-nos uma lista com o nome de 70 escolas regulares municipais que possuíam alunos surdos.

Posteriormente, estabelecemos contato com a Coordenação de Educação Especial da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (Coord. Educ. Esp. – SEC/BA). A partir daí, fomos informados que, conforme os dados que a Coordenação tem acesso, não há alunos surdos incluídos nas escolas estaduais do nível fundamental I. Os alunos surdos que a Coordenação tem conhecimento estão no ensino fundamental II e no ensino médio.

Em posse das informações cedidas pela SECULT, em virtude da extensa quantidade de escolas municipais inicialmente identificadas, percebemos que não seria possível conhecer o trabalho desenvolvido por cada uma das setenta escolas. Assim, buscando realizar uma triagem para selecionar as escolas que seriam visitadas, tentamos estabelecer contato telefônico com todas as escolas para levantar as seguintes informações: confirmação da presença do aluno surdo na instituição e identificação do principal meio de comunicação utilizado por esse aluno, já que a CENAP não possuía esse dado. Durante nossa visita, a coordenação não soube informar quais escolas municipais possuíam alunos usuários da língua de sinais3.

Inicialmente, essas informações seriam obtidas com o coordenador pedagógico da instituição. No entanto, não foi possível adotar esse critério com todas as escolas, houve escolas que ou não tinham esse profissional, ou no momento do telefonema não estava presente na escola. Desse modo, as informações cedidas pelas escolas não foram obtidas, apenas, através dos

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Acreditamos ser, extremamente, importante os gestores possuírem essa informação. Para o planejamento de ações voltadas para a inclusão do surdo, é preciso conhecer os diferentes perfis de aluno existente no serviço.

coordenadores pedagógicos, em algumas escolas as informações foram obtidas por diretores, vice-diretores, secretárias, professores ou funcionários.

A partir dessa triagem, percebemos que a informação de que a rede municipal possuía 70 escolas com alunos surdos incluídos não é mais verídica. Por algum motivo, esse número foi reduzido4. Foram encontradas 31 escolas que declararam ter alunos com surdez. Vinte e oito escolas disseram não ter alunos surdos e 1 escola informou suspeitar ter um aluno com surdez. No total, foram contatadas 60 escolas, pois devido a problemas de comunicação (o número de telefone identificado não existe, as chamadas telefônicas não foram atendidas ou o número do telefone da escola não foi identificado), não foi estabelecido comunicação com 10 escolas.

O gráfico 1, abaixo, apresenta a porcentagem da situação das escolas pesquisadas em relação ao total de escolas informadas pela prefeitura (70).

45%

40% 1%

14%

Escola com aluno surdo Escola sem aluno surdo Escola que suspeita ter aluno surdo

Escolas não contactadas

Gráfico 1 - Porcentagem das escolas pesquisadas quanto à presença de alunos surdos incluídos

A partir dessas informações, é importante realizar algumas considerações. Com relação às escolas que declararam não ter alunos surdos, algumas informaram que já tiveram alunos surdos, mas que eles ou passaram para o ensino fundamental II ou abandonaram a escola sem informar o motivo. Enquanto que outras informaram desconhecer que a escola, um dia, teve alunos surdos.

Quanto à escola que suspeita ter um aluno com surdez, essa, na verdade, informa que ele apresenta constantes inflamações no ouvido e que não sabe se a criança tem dificuldades auditivas em decorrência dessas inflamações.

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Tal informação aponta a necessidade de novas pesquisas, a partir das quais poderia ser averiguado o motivo dessas evasões.

Após as 31 escolas confirmarem a existência de alunos surdos, elas informaram o principal meio de comunicação utilizado por eles. Informação que revela uma realidade pouco discutida quando se aborda os números da inclusão do surdo e/ou deficiente auditivo na escola regular. Nas 31 escolas identificadas, estão distribuídos 46 surdos, dos quais poucos são os que utilizam a língua de sinais para se comunicar na escola.

Ao serem questionadas sobre o principal meio de comunicação utilizado pelos alunos, as escolas informaram que seus alunos comunicam-se, predominantemente, pela fala e pela “leitura labial”. No gráfico 2, a seguir, apresentamos todos os meios de comunicação informados pelas escolas.

31 2 2 10 1 0 5 10 15 20 25 30 35

fala leitura labial gestos sinais não fala e não

sinaliza Meios de comunicação A luno s f

Gráfico 2 – Perfil comunicativo dos alunos surdos incluídos na rede municipal de ensino.

Dessa maneira, conforme as informações cedidas pelas escolas, dos 46 alunos surdos identificados na rede municipal de ensino, 31 têm a fala como principal meio de comunicação, 2 utilizam-se da leitura labial, 2 de gestos e 10 utilizam a língua de sinais. Uma escola não soube informar qual é o meio de comunicação utilizado pelo seu aluno surdo, pontuando, apenas, que não fala e não usa sinais.

É importante esclarecer que os meios de comunicação acima apresentados foram o modo como cada escola caracterizou a comunicação de seu aluno. Entendemos que tais instrumentos comunicativos podem estar priorizando, apenas, uma instância da comunicação, recepção ou expressão. Por exemplo, ao apontar a leitura labial como forma de comunicação, a escola priorizou o canal receptivo,

porém sabemos que o indivíduo que se utiliza da leitura labial necessita, também, de outros meios de comunicação para sua expressão.

Aceitamos tais informações, pois são suficientes para uma inicial caracterização do perfil comunicativo do aluno surdo incluído nessas escolas. Ao apontar que seus dois alunos surdos comunicam-se, predominantemente, pela leitura labial, a escola revela sua percepção sobre a comunicação do aluno, bem como indica que a Libras, provavelmente, não é utilizada por tais estudantes.

Após identificar as escolas que possuíam alunos surdos, bem como o meio de comunicação utilizado por eles, foi necessário selecionar quais das trinta e uma escolas regulares iríamos visitar. Para tanto, utilizamos critérios referentes ao meio de comunicação utilizado pelos alunos, facilidade de acesso à instituição e disponibilidade da instituição às visitas.

Nessa direção, selecionamos 8 instituições municipais de ensino regular. Apesar das escolas com alunos surdos usuários da língua de sinais serem nossa prioridade, buscamos visitar, também, as escolas que possuíam alunos surdos com outros perfis comunicativos (fala e gestos).

Acreditamos que para refletir sobre a permanência ou ausência dos alunos surdos usuários da língua de sinais nas escolas regulares, seria pertinente pensar sobre esses outros dois perfis de aluno surdo presentes, bem como sobre a distribuição desproporcional dos três perfis de aluno na rede municipal de ensino. Dos 10 alunos surdos usuários da língua de sinais, 7 estão compreendidos em uma mesma escola. Ou seja, das 31 escolas com alunos surdos, apenas 4 possuem alunos surdos comunicando-se por sinais. O gráfico 3, a seguir, apresenta essa e outras distribuições. 25 1 4 2 1 0 5 10 15 20 25 30

fala leirura labial sinais gestos não fala e não sinaliza Alunos surdos E s c ol a s r e gu la re s

A fim de conhecer as realidades escolares relacionadas aos diferentes perfis comunicativos, das 08 escolas regulares selecionadas, 4 declararam que o principal meio de comunicação dos seus alunos surdos é a fala; 3 informaram que seus alunos surdos comunicam-se através da Libras e 1 informou que seu aluno comunica-se através de gestos.

Tendo em vista que, além das escolas regulares selecionadas, também, fizeram parte desta pesquisa as quatro instituições de atendimento educacional específico ao público surdo mencionadas acima, visitamos no total 12 instituições: 8 escolas regulares, 3 escolas de surdos e 1 centro de atendimento especializado.