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Equação 6 Nova representação da fotossíntese pela professora

4 AS INTERAÇÕES EM SALA DE AULA

4.3 IDENTIFICANDO SINAIS, COMPREENDENDO SIGNOS – AULA DE

Este dia foi dedicado ao trabalho no laboratório. Nesta aula os alunos deveriam observar as modificações do terrário após o período de uma semana da montagem. Eles tinham em mãos um roteiro de análise que deveriam seguir, discutir em grupo e responder as

questões (anexo 6). A professora deu auxílio para cada grupo discutindo e fazendo com que eles refletissem sobre as modificações ocorridas neste período. Aos grupos que acrescentaram insetos durante a montagem, a professora passou pesquisas diferentes com o intuito de que pudessem analisar como a presença dos mesmos havia influenciado nos resultados obtidos.

Antes que os alunos fossem para o laboratório, em sala, a docente distribuiu textos sobre o ciclo do carbono (anexo 1) e sobre a atmosfera (anexo 2) dando uma breve explicação sobre cada um deles e pedindo para que lessem em casa e completassem as lacunas presentes nos textos de acordo com sua compreensão.

Após o término da aula, o aluno Diego desenhou no quadro o que entendeu do ciclo do carbono, apenas com a explicação da professora. Essa representação é significativa, pois em uma sala de aula professores e alunos se apropriam de gestos, códigos, expressões para se fazerem compreender com a finalidade de se construir significados tais para a apropriação do conhecimento (MORTIMER e MACHADO, 2001, p. 118); pois, não é apenas através das palavras que nos comunicamos, mas de outros signos. Assim, não iremos analisar os diálogos dos estudantes, mas o desenho feito por Diego.

Figura 2: Representação do Ciclo do Carbono de acordo com o desenho feito no quadro pelo aluno Diego.

Observando a representação do ciclo percebemos que o processo básico entendido por Diego corresponde também a uma representação simbólica da fotossíntese. Porém, o que chama atenção é como através de uma breve explicação, conferida pela professora no início da aula, ele conseguiu estabelecer relações entre as representações químicas (fórmulas). Para ele na fotossíntese há liberação de oxigênio para os seres humanos e que estes liberam gás carbônico para a atmosfera, que será capturado pelas plantas e utilizado novamente na fotossíntese. É muito provável que ele já soubesse essa informação das discussões sobre o funcionamento do terrário que construiu, nas quais a professora já introduzira as questões relativas à fotossíntese. Porém, naquele momento não se havia feito nenhuma discussão que

envolvesse representações esquemáticas da fotossíntese, como a que ele fez, com o uso de estruturas químicas. Logo, essa representação mostra-nos o momento em que, após compreender e internalizar que aquelas fórmulas moleculares representavam os compostos que gostaria de se referir, ele as incorpora em seu discurso e se sente seguro para utilizá-las em suas explicações.

Para Diego, CO2 e O2 são, em um primeiro momento, sinais que indicam e

representam os compostos químicos do gás carbônico (dióxido de carbono) e do gás oxigênio respectivamente, ele consegue identificá-los no discurso da sala de aula e internalizá-los. Mas, ao utilizá-los na representação acima demonstra que os sinais utilizados (fórmulas químicas e desenhos) não são imutáveis, mas assumem uma relação ímpar no contexto da fotossíntese constituindo um signo. Isso só é possível a um estudante quando decodifica (compreende) aquela forma linguística, de tal modo que consegue perceber que ela pode assumir diferentes significados e relações, dependendo do contexto em que é empregada. Como por exemplo, ao olharmos para a representação de Diego notamos que a representação da direita se trata de uma flor, nós a identificamos, mas quando olhamos para o contexto ela nos representa os vegetais de maneira geral e não apenas as flores. Segundo Bakhtin (1997, p. 94):

Assim, o elemento que torna a forma linguística um signo não é sua identidade como sinal, mas sua mobilidade específica; da mesma forma que aquilo que constitui a descodificação da forma linguística não é o reconhecimento do sinal, mas a compreensão da palavra no seu sentido particular, isto é, a apreensão da orientação que é conferida à palavra por um contexto e uma situação precisos, uma orientação no sentido da evolução e não do imobilismo.

Neste sentido nos colocamos a pensar que a grande tarefa a ser desempenhada por um professor, não de química apenas, mas das áreas de ciências como um todo, seria auxiliar os estudantes na passagem da simples identificação de sinais para a compreensão de signos. Para conseguirmos isso precisamos que os estudantes consigam trabalhar com os sinais das ciências (fórmulas, equações, representações com letras, por exemplo) em diferentes contextos até se criar um discurso no plano social da sala de aula, gerando signos exteriores que passarão a fazer parte do signo interior (discurso interior) do estudante. Esses signos, tanto interior quanto exterior, vão refletir e refratar o meio à sua volta; por isso, segundo Bakhtin (1997, p. 95) “a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou um sentido ideológico ou vivencial”.

Algumas considerações sobre a aula.

Vimos nesta aula que o aluno Diego conseguiu resumir o esquema apresentado no texto fornecido pela professora (anexo 1) e, ao fazê-lo ia explicando o processo, indicando a compreensão do ciclo do carbono que estabeleceu. Ao compreender a breve explicação dada pela professora até aquele momento do curso através de discussões anteriores em sala, ele pode elaborar contrapalavras, que seria seu próprio pensamento conclusivo do que foi dito até aquele ponto da matéria implicando uma compreensão ativa de acordo com Bakhtin (1997), e um esquema que lhe permitiu estabelecer um diálogo com a professora em busca da construção de significados para aquelas relações expressas pelo esquema que construiu.

Contudo, é importante ressaltar que o conceito de fotossíntese expresso por Diego deverá evoluir, pois não se encontra pronto, correto do ponto de vista científico, porque ainda faltam informações importantes para sua compreensão e não retrata todos os processos ocorridos ao longo do ciclo do carbono.