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Equação 6 Nova representação da fotossíntese pela professora

5 O PROFESSOR DE CIÊNCIAS E SUA FORMAÇÃO

5.2 VISÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO QUÍMICO

Sobre a importância do conhecimento químico para o ensino fundamental de ciências perguntamos:

• 1° (questão 10 do questionário) Qual o papel que a química possui para o ensino de ciências no ensino fundamental?

Nossa eu acho que, é um papel é... primordial. Primeiro de conhecer né, o... conhecer o meio ambiente, entender os processos que acontecem no cotidiano. Então a química, né, ela tá no cotidiano. Eu não sei da onde surgiu essa historia, né, de... na verdade eu até sei da onde surgiu, mais essa tendência aí de, de matematização excessiva tanto com a química, quanto com a física que dissocia esses conteúdos do cotidiano dos alunos, que eles já

vivenciam diariamente, né. Biologia, física e química eles vivenciam isso, eu acho que a gente precisa retomar pra facilitar que eles compreendam aí o meio em que vivem os processos no seu próprio corpo, né, reações químicas estão acontecendo no corpo, então não adianta estudar simplesmente os aspectos biológicos sem entender os processos físicos e químicos que estão ocorrendo ali no meio externo, na cozinha, o exemplo assim mais que é vivido assim mais diariamente. A química no corpo humano, na cozinha da casa, às vezes até em brincadeiras que são feitas.(Grifo nosso)

De acordo com a resposta dada pela professora percebemos que para ela a química no ensino fundamental de ciências auxilia o aluno a compreender os fenômenos que ocorrem em seu cotidiano. É interessante notarmos que ela critica o ensino de química que aborda somente a matemática envolvida no estudo dos fenômenos, que segundo a mesma “dissocia esses conteúdos do cotidiano dos alunos”.

O ensino atualmente se propõe como uma forma de inserir o aluno em contextos culturais diversos. Dessa forma, a química presente na cultura atual e sendo fruto de uma comunidade cultural deve se inserir nas práticas de ensino da escola básica e auxiliar na construção do intelecto do aluno sobre os fenômenos que ocorrem à sua volta, em si, e com ou sem a sua participação direta e/ou indireta. Por outro lado, temos observado na escola o ensino dos conceitos químicos não como produtos culturais, mas como sendo fruto de um método de investigação, como uma teoria que nada se relaciona com o social, e com as outras disciplinas escolares.

Segundo Lima e Barboza (2005), existem algumas ideias estruturadoras do pensamento químico que seriam “aquelas que potencializam nosso pensamento e nossa capacidade de relacionar, sintetizar, propor explicações a partir daquilo que já se conhece.” Essas ideias remetem a alguns conceitos chave da química. Para compreendermos qual(s) o(s) conceito(s) que a professora julga ser necessário(s) os alunos compreenderem ao término do ensino fundamental perguntamos:

• 2° (questão 11 do questionário) O que você considera que o aluno deva saber sobre conceitos da química ao sair do ensino fundamental para o médio?

É... eu acho que no ensino fundamental, não há, não há, e nem defendo que deva haver uma sistematização de conceitos

complexos da química, né. Mais eu acho que... não só da química mais da biologia, então tem determinados conceitos da química, da física e da biologia são conceitos muito abstratos, que eles devem estar em processo de construção durante toda a vida. E digo também que não se encerra no ensino médio, muitos conceitos estão em construção e lá na formação, lá na pós-graduação vai haver uma consolidação. Por exemplo, conceitos de átomos, né, já que dei exemplos das três áreas, na química, o que que é átomo, né? Não é um conceito que deva ser é fechado e no ensino fundamental, mais no ensino fundamental o aluno já precisa entender a..., os diferentes materiais que existem, porque há diferenças nesses materiais, eles precisam entender reações químicas, formação de novas substâncias. Mas não entender reações químicas de uma forma, né, matematizada, extremamente matematizada, mas entender as (...), que ocorrem transformações e que as substâncias podem dar origem a novas substancias e que ocorrem transformações na natureza constantemente. Entender mesmo de uma forma ampla esses ciclos, como que tá tudo interligado principalmente os que envolvem os seres vivos. Por isso que eu acho que o ciclo do carbono é muito importante ele ter uma noção, porque ele estuda já processos que envolvem o ciclo do carbono. Às vezes o que falta perceber é que falta realmente há algo ali que tá se transferindo. Mas que tá se movimentando, que tá se transformando, mas que não tá se perdendo aí ao longo dos processos, né. Então eu acho que principalmente conceitos relacionados a matéria, né, e conceitos relacionados a transformação, né, dessa matéria das mais diversas formas.(Grifo nosso)

Para Lima e Silva (2007), as ideias-chave estruturadoras do pensamento químico no ensino fundamental de ciências são: a diversidade de materiais, suas propriedades, os processos de transformação que sofrem e sua constituição e modelo corpuscular da matéria. O discurso da professora reflete esses apontamentos das pesquisadoras para o ensino de química no ensino fundamental. Isso fica melhor evidenciado na resposta a questão a seguir:

• 3° (questão 14 do questionário) Quando elaborou o projeto (do Terrário) você pensou nos conceitos de química que poderiam estar relacionados? Cite-os:

Eu pensei..., embora eu não tenha trabalhado de forma sistematizada, né, primeiro o conceito de mistura, né, do ar, né, que eles percebessem o ar como uma mistura de vários gases. E no processo é... vamos dizer... de... qual é a palavra... processo de transformação sem haver, sem haver perdas esqueci o nome que se dá a isso (PESQUISADORA: conservação da massa) é..., um processo de conservação mesmo. Que eles, muitas pessoas, né, te, leva a ideia, até na graduação mesmo de que a: consome oxigênio (com ênfase), né, eu queria desmistificar isso mostrar que se tiver ali os autótrofos, né, se a gente conseguir montar ali um ecossistema mais completo, mais complexo possível que a gente teria ali uma simulação do que acontece no planeta, em relação a interdependência e a conservação, né, das substancias tanto da água, né, no caso eu vi uma ótima oportunidade pra trabalhar o ciclo da água, eles perceberam como a água ciclaria ali dentro daquele terrário e também a questão dos gases envolvidos nos processos biológicos: fotossíntese, a decomposição, respiração. (Grifo nosso)

Além dos conceitos de mistura e conservação da matéria apontados pela professora em sua resposta podemos relembrar outros conceitos que apareceram ao longo de suas explicações durante as aulas analisadas. A professora utilizou termos como elementos químicos, moléculas, substâncias, que eram mais recorrentes e utilizou de ideias como um átomo ligado a outro, arranjos moleculares, transformação e reação, menos recorrentes, para explicar os fenômenos envolvidos no estudo do ciclo do carbono.

Podemos concluir que se desejamos ter um ensino de ciências no ensino fundamental mais integrador e interdisciplinar, que valorize as contribuições das áreas de química e física para a construção do saber científico é necessário que o licenciando em ciências biológicas vivencie essa visão integradora também em sua formação entre as disciplinas pedagógicas e específicas. Hoje, as graduações em ciências biológicas através das reformas curriculares já melhoraram no sentido de romper aquele modelo 3+1, contudo precisamos ter em mente que

o professor que leciona a mais tempo ainda se formou sob aquela ótica de ensino disciplinar sem nenhuma contextualização para abordagens no ensino fundamental.

O que se vê em termos de pesquisa, que envolvem o professor de ciências e o currículo de química no nível escolar discutido acima, é ainda incipiente. O que nos leva a constatar que o conhecimento químico no ensino fundamental, ciclo II, se restringe a algumas experiências, pequenos textos nos livros didáticos, ou como ocorre nos livros do 9° ano a antecipação dos conteúdos que serão abordados no ensino médio. Como consequência desse quadro, cria-se um círculo vicioso, no qual o professor, muitas vezes, por não possuir uma formação que lhe proporcione um olhar amplo sobre as diferentes formas de se abordar um conteúdo, e por comodidade acaba se apoiando no livro didático.

Analisando as respostas da professora pesquisada conseguimos visualizar a trajetória que a mesma realiza para romper com uma visão de ensino disciplinar e principalmente o movimento instaurado - que parte dela, de uma necessidade encontrada - para romper com a formação deficitária. Percebemos a passagem de uma professora que acreditava que o ensino dependia apenas da postura do professor, do seu saber, ou seja, de uma prática de transmissão de conhecimentos, para uma professora que enxerga a ciência como uma área ampla que abarca diferentes visões conceituais que dialogam entre si. Essa nova visão de ensino traz à tona a necessidade de se compreender a realidade do aluno para levá-lo a refletir sobre os fenômenos que ocorrem a sua volta. Com isso as aulas tornam-se dialógicas, nas quais as proposições dos alunos e da professora são levadas em consideração no discurso para que o conhecimento científico seja construído coletivamente.

Cabe-nos ainda afirmar que essa passagem na postura e visão de ensino da professora leva em consideração as experiências profissionais que a mesma teve ao longo de sua carreira. Dentre elas, a docência no ensino superior, que certamente auxiliou-a em suas reflexões sobre o ensino e em sua prática pedagógica.