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1. CONCEPÇÕES POLÍTICAS DE HANNAH ARENDT E A ARTE

1.6 O imaginário de Banksy

Banksy é o pseudônimo de um inglês, cujo trabalho caracteriza-se por imagens do cotidiano, tratadas de maneira a simbolizar questões humanas e políticas, como ingenuidade e violência, intimidade e poder. Seu anonimato convicto pode ser visto como uma postura ideológica. O livro Banksy: guerra e spray, que apresenta imagens e textos seus, evidencia um olhar crítico, observado através de fragmentos que narram suas experiências pessoais e artísticas. Artista de rua, seus trabalhos são em estêncil, técnica de reprodução de imagens que trabalha a partir da gravura. O estêncil se diferencia do grafite, que é feito a mão livre, mas, assim como este, é uma forma de expressão associada ao comportamento jovem e ao meio urbano. Tanto um quanto outro podem ser autorizados ou não, sendo esta uma questão polêmica que torna problemática a definição dos limites que separam estêncil, grafite e pichação. Em qualquer caso, a efemeridade expõe a urgência dos assuntos urbanos. E, neste contexto, definir o que é arte se torna uma ampla discussão, que demonstra a fragilidade das referências e critérios institucionais no julgamento do valor artístico.

Figura 1 – Banksy Napalm (unsigned) print.

Em seus trabalhos, Banksy se apropria dos signos da cultura de massas. Fonte: http://www.graffitistreet.com/artists/banksy/

Um dos aspectos em destaque no grafite é a força das mensagens que, muitas vezes, apresentam um intenso contexto político. Porém, esta força comunicativa que envolve o público e o político, pode ser percebida na própria ação em si, independente da imagem presente. O diálogo não é uma condição nem se impõe necessariamente, mas os elementos que envolvem o fenômeno artístico assumem uma dimensão diferenciada ao ocupar paredes, muros, viadutos, praças, ruas, passagens e paradas. Neste contexto, mais que uma composição embasada na beleza, enquanto categoria estética, as imagens presentificam a vontade de expressão. Iniciativa e ação, talvez traduzam o imaginário dos habitantes de um centro urbano mecanizado e especializado em funcionar, que assume o papel de laboratório do homem, como lembra Henri Lefebvre. A cidade parece ser vista, então, como território a ser ocupado, demarcado, transgredido e apropriado, e a noção de propriedade exerce um papel importante neste jogo, remetendo ao poder institucional e à territorialidade.

Figura 2 – Banksy Graffiti Art Street

Os trabalhos de Banksy presentificam questões humanas.

Fonte: http://www.stuff.co.nz/entertainment/arts/77591069/Has-graffiti-artist-Banksy-finally-been- unmasked-through-science

Os trabalhos de Banksy encontrados nas ruas de Bristol, Londres, bem como em muitas cidades do mundo, apresentam imagens de cunho realista que permitem sua interação com a cena urbana, ao mesmo tempo em que presentificam questões humanas e se apropriam dos signos da cultura de massa. Neste contexto, as palavras remetem às imagens e reforçam os diversos sentidos que elas expõem. Também elementos de sinalização espacial ressignificam os territórios. No já citado livro Banksy: guerra e spray, vemos fotos que deixam entrever a interação de sua obra com o cotidiano das cidades em que está inserida. Nele podemos ler fragmentos que remetem a um comportamento ativista.

Ao contrário do que dizem por aí, o grafite não é a mais baixa forma de arte. Embora seja necessário se esgueirar pela noite e mentir para a mãe, grafitar é, na verdade, uma das mais honestas formas de arte disponíveis. Não existe elitismo ou badalação, o grafite fica exposto nos melhores muros e paredes que a cidade tem a oferecer e ninguém fica de fora por causa do preço do ingresso (BANKSY, 2012, p.8).

A arte de Banksy pode ser pensada como uma obra, porém uma obra que transparece ações que propõem “juízos imagéticos”17 ao público. Esta proposta parte de um agente, e não de um autor e, muito embora as pessoas busquem ainda manter a aura do autor, este agente se recusa a revelar o próprio nome e a se identificar. Mesmo que possamos descobrir a verdadeira identidade de Banksy, sua postura sugere esta recusa, o que representa uma atitude, a ação de um ator. Para Banksy, cujo nome não sabemos se é mesmo este, a identificação não tem importância e, pelo contrário, a não identificação é uma postura.

Figura 3 - Banksy Graffiti Art Street.

A poesia da obra de Banksy apresenta elementos que sinalizam o espaço físico no qual está situada. Fonte: http://banksy.co.uk/out.asp

A ideia de uma ação poética e política envolvendo imagens fica evidente em um vídeo divulgado pela internet, que apresenta imagens propostas por Banksy sobre a Faixa de Gaza. Estas imagens mostram o território sitiado, que é motivo de tantas disputas territoriais, e expõe violentas imagens de destruição e abandono. São imagens que

17 A ideia de um juízo imagético pode ser pensada a partir das concepções de Michel Foucault acerca da

expõem a destruição causada pelos constantes ataques à região e, por outro lado, demonstram também a tentativa dos moradores, sobretudo das crianças, de continuarema viver o seu cotidiano. O vídeo tem início com uma cena de sobrevôo de um avião e lembra um vídeo turístico. Porém as imagens logo mudam e vemos túneis e passagens escondidas que dão acesso a uma dura realidade. No vídeo, vemos, então, os trabalhos de Banksy em pedaços de paredes quebradas. Complementares ou contrastantes, estas duas dimensões imagéticas formam um contexto impactante. Em meio a este quadro, vemos o desenho de um gato,.com laço rosa. O contraste entre esta imagem inocente e a dura realidade vivida pelos moradores, incluindo crianças, não permite que ignoremos a situação vivida na região. O gato lembra a existência de uma infância improvável, mas resistente.

Figura 4 - Banksy Graffiti Art Street

A imagem singela de um gato contrasta com a presença dos vestígios dos constantes ataques sofridos na região da Faixa de Gaza.