3.1 Variação do número de agências no Brasil ao longo dos anos
3.1.2 Impacto de acontecimentos históricos
O cenário macroeconômico do início dos anos 1990 herdou parte dos
problemas econômicos vindos da década anterior, entre eles a alta inflação e a
retração econômica.
No ano de início do período aqui estudado (de 1996 à 2017), o país passava
por uma etapa de estabilização da economia iniciada em 1994 com sinais de suave
crescimento e queda considerável da inflação (Bourroul e Ferreira, 2014). Foi neste
período que, em 1994 iniciou-se o Plano Real e em 1995 que surgiu o PROER,
Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro
Nacional (Banco Central do Brasil, 2018).
O Real foi implantado como moeda do Brasil em primeiro de julho de 1994,
sendo a quinta alteração monetária feita no país desde 1986 com o intuito de conter
a inflação. Seu sucesso, que culmina na permanência do Real até os dias atuais, é
atribuído às alterações graduais sempre divulgadas com antecedência pela
imprensa, oferecendo um cenário otimista à economia brasileira (Bourroul e Ferreira,
2014).
O início de retomada do crescimento econômico, porém, não foi benéfico a
alguns dos maiores bancos privados brasileiros que, acostumados a lucrar com a
alta variação de preços, ficaram próximos da falência entre 1994 e 1995. O PROER
foi criado no início do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002) no intuito de auxiliar a reestruturação destas instituições, com assistência
financeira (Villaverde, 2015).
Apesar de o programa ser apontado muitas vezes como polêmico, no ano de
sua implantação, houve um aumento significativo de 10% na quantidade de
agências no país, passando de 15.342 para 16.907 (Banco Central do Brasil, 2017),
fenômeno também alavancado pelo otimismo dos primeiros anos da criação do Real.
Em seguida, logo no início do período estudado, em 1996, houve redução na
quantidade de agências em 4%, passando naquele ano para 16.286 unidades. Esta
queda se estendeu até 1998, quando se chegou a 15.800 agências, patamar similar
ao anterior à implantação do Plano Real e do PROER.
Ampliando-se a visão para o cenário financeiro mundial, desde 1994
notava-se situações instáveis nos paínotava-ses emergentes, iniciando-notava-se pelo México, passando
por diversos países asiáticos, até a declaração de moratória da Rússia em 1998
(Avemburg e Giambiagi, 2000).
Com o intuito de driblar a crise e mitigar os impactos da economia mundial no
país, entre 1997 e 1999, o governo brasileiro optou por subir os juros e pela
proposital desvalorização da moeda nacional. Após o longo período de frequente
variação da inflação entre as décadas de 1980 e a primeira metade dos anos 1990,
tais medidas geraram descontentamento da população.
Apesar das medidas, o Brasil foi o país latino-americano mais afetado pela
chamada crise dos Tigres Asiáticos, iniciada em 1997 quando os países do sudeste
daquele continente viram suas moedas despencarem devido a altos índices de
endividamento, conforme O Globo (2013). Com relação ao impacto desta
instabilidade na infraestrutura bancária, pode-se notar a redução no número de
agências de 3% entre 1996 e 1998.
No início dos anos 2000 até 2002, observa-se uma retomada do investimento
dos bancos em infraestrutura das agências, com um saldo positivo entre pontos
inaugurados e fechados de 664 unidades nestes anos no país.
O desgaste de parte da população brasileira com relação às medidas
tomadas nos últimos anos do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso
acabou por levar o país a uma mudança radical de posicionamento político,
resultando na eleição do presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010). Os
primeiros anos do seu governo foram marcados por um quadro dúbio de
desconfiança e otimismo em diferentes camadas da população (Barbosa, 2012), que
foi superado por um período de estabilidade da economia acompanhado de medidas
sociais para redução das desigualdades (Cruz et al., 2012).
No contexto mundial, na primeira metade dos anos 2000, a China se
consolida como forte economia após três décadas de intenso crescimento. O Brasil
passa a se beneficiar de tal desenvolvimento com o estreitamento da parceria entre
ambos, se destacando pela venda de commodities ligadas aos seus recursos
naturais e agropecuária (Cruz et al., 2012).
Ainda de acordo com Cruz et al. (2012), a forte confiança da população na
economia causada por medidas de fortalecimento e o aumento da renda familiar,
mantiveram o país praticamente inatingido pela crise econômica mundial que vigorou
de 2007 a 2010.
Apesar de o desequilíbrio ter sido atribuído à alta exagerada dos preços dos
imóveis e à desestabilização dos bancos nas nações desenvolvidas, não houve
impacto negativo significativo nos ativos da infraestrutura bancária brasileira.
Pode-se notar, inclusive, um período de grande investimento em inaugurações de
agências que se estendeu de 2011 até 2014, quando se atingiu o pico de
quantidades destes pontos no país.
Os anos que se seguiram porém, não mostram a continuidade do boom
econômico ocorrido na década de 2000 e a partir de 2012, o PIB (Produto Interno
Bruto) per capita brasileiro sai de uma curva ascendente para uma constante queda
até 2016, ano dos últimos dados divulgados pelo Banco Mundial (The World Bank,
2018).
Alavancado por questões políticas que culminaram no impeachment da
presidente Dilma Rousseff (2011-2016), o país entrou em recessão e em 2016 o PIB
sofreu uma queda de 3,6%, com aumento da taxa de desemprego, da inflação, do
dólar e da dívida pública, fatores que reduziram a confiança dos consumidores e
empresários (Trevizan, 2017).
Os reflexos da crise podem ser notados nos números da infraestrutura
bancária desde 2015, totalizando uma queda de 10% e balanço negativo de mais de
2.000 agências entre fechamentos e inaugurações de pontos.
As imagens a seguir têm o intuito de conectar as informações da história
econômica apresentadas neste item do trabalho e os dados previamente
apresentados na tabela 7. É possível notar-se o reflexo entre períodos de
crescimento e rescessão na quantidade de pontos de atendimento físicos
disponibilizados pelos bancos.
Traduzindo-se os fatos citados em números, o gráfico da figura 10 a seguir,
compara a variação da quantidade de agências no Brasil com o PIB per capita anual
em dólares estadunidenses correntes (US$).
A sobreposição da linha vermelha (quantidade de agências) e da linha verde
(PIB per capita) permite a identificação de padrão similar com trechos de ascensão e
queda em períodos próximos, sendo a curva vermelha levemente deslocada para a
direita e relação à verde.
Nota-se o reflexo da queda no PIB na queda do número de agências nos
anos seguintes. Por exemplo, em 2001 e 2002 o PIB caiu de mais de US$ 3.700
para aproximadamente US$ 2.800, ou seja cerca de 25%, e pode-se notar a redução
de mais de 200 agências no ano seguinte, em 2003.
Figura 9 - Linha do tempo dos acontecimentos na economia brasileira por ano
Fonte: elaborado pela autora com dados de Banco Central do Brasil (1996 a 2017) e
demais bibliografias citadas neste capítulo.
O mesmo acontece com a queda do PIB em 2009 e reflexo em 2010 no
número de agências e, mais intensamente, na queda do PIB entre 2012 e 2016 e
seu reflexo nas agências a partir de 2015. Este dado permite especular que ainda
haverá redução no número de agências nos próximos anos, até uma possível
estabilização ou aumento.
Figura 10 - Quantidade de agências no Brasil e PIB per capita (US$) ao ano
Fonte: elaborado pela autora com dados de Banco Central do Brasil (2017) e The World
Bank (2018).
No documento
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Mariana Araújo Oneto
(páginas 36-41)