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Impacto de fatores não gerenciáveis no nível de desempenho das empresas

Guerrini, Romano e Campedelli (2013), ao discorrerem sobre eficiência no setor de abastecimento de água, chamam atenção para o fato de que, para atingir a eficiência, as empresas de serviços de água podem adotar várias rotas, sendo que apenas algumas são discricionárias e sob seu controle. Os referidos autores citam como ações controláveis: i) as inovações tecnológicas; ii) o treinamento profissional; iii) as políticas aperfeiçoadas de aquisições; e iv) o desenvolvimento de um sistema de controle interno dedicado a alcançar processos corporativos eficazes e eficientes.

Por outro lado, Guerrini, Romano e Campedelli (2013) esclarecem que outras táticas dependem do contexto em que a concessionária opera, de tal modo que não podem ser totalmente controladas pela empresa, tais como o tamanho da empresa, o grau de diversificação do investimento e a densidade da rede.

Thanassoulis (2000) adverte que fatores ambientais que afetam a eficiência da transformação de insumos controláveis em produtos também devem ser considerados na avaliação de desempenho. Nesse sentido, a inclusão de fatores exógenos na estimativa da

eficiência de estações de tratamento de esgotos foi recentemente abordada em estudos como os de Gómez et al. (2017) e Guerrini, Romano e Indipendenza (2017).

Corton e Berg (2009) destacam o fato de que empresas de água com escala similar, medida pelo número de conexões, podem ter custos diferentes devido a diferenças nas características da rede, como o comprimento. Assim, de acordo com Corton e Berg (2009), empresas maiores podem ter custos menores devido a uma grande quantidade de clientes por quilômetro de tubulação, incorrendo em economias de escala originadas da produção total.

Destarte, observa-se a necessidade de que o processo regulatório leve em conta aspectos não gerenciáveis por parte dos prestadores, mas que, no entanto, impactam o seu desempenho e, consequentemente, influenciam os custos incorridos na provisão dos serviços de saneamento por eles ofertados.

Desta forma, tendo em mente a percepção de que o ambiente em que operam as empresas pode ter impactos não desprezíveis no desempenho das mesmas, Erbetta e Cave (2007) chamam atenção para o fato de que a eficiência de uma empresa pode ser afetada por condições exógenas que não estão sob o controle direto dos gestores e que esses efeitos precisam ser controlados em uma avaliação de eficiência.

No mesmo sentido, Honkapuro (2008) assevera que o ponto fulcral de avaliação comparativa da eficiência é determinar a eficiência de empresas como a razão entre as saídas que produzem e as entradas que utilizam. Sendo que, além dos insumos e produtos, são necessários alguns parâmetros ambientais para assegurar que os ambientes operacionais diferentes das empresas são tomados em conta no processo de avaliação comparativa.

A literatura destaca a influência sobre o desempenho das entidades do setor de abastecimento de água, de elementos como a densidade populacional ou de clientes, proporção de clientes residenciais, fonte de água e/ou sua qualidade, fator de pico, topografia e clima da região, e as características sociais da região atendida (MARQUES, 2005; RENZETTI; DUPONT, 2009).

Conforme ressaltam Erbetta e Cave (2007), a densidade populacional da água é calculada como a razão entre a população abastecida com água e o comprimento da rede de distribuição de água, sendo que, em geral, o atendimento a uma população mais concentrada é mais barato - por conexão - do que servir uma população dispersa, já que neste último caso são necessários mais desvios da rede, manutenção mais frequente e maior consumo de energia, por exemplo.

Para Nauges e Berg (2008), a medição das economias de densidade de clientes é importante para os países em desenvolvimento, uma vez que muitas famílias ainda não têm

acesso a fontes de água potável e serviços de saneamento. Nesse contexto, se houver evidência de economias de densidade de clientes, novas conexões poderão ser adicionadas a um custo médio decrescente.

Os resultados do estudo de Guerrini, Romano e Campedelli (2013) indicaram a existência de economia de densidade em empresas do setor de abastecimento de água na Itália. De acordo com Guerrini, Romano e Campedelli (2013, p. 4575):

Outras vantagens de custo se acumulam para empresas que operam em regiões com alta densidade populacional, porque a presença de muitos clientes por quilômetro de rede diminui os custos de fornecimento de um metro cúbico de água, devido aos menores custos unitários de energia e infraestrutura.

Na indústria da água, as economias de densidade pertencem a dois tipos principais: (1) produção ou densidade de produção, que se refere à extensão da mudança no custo se o volume total de água produzida ou tratamento de esgotos aumentar, mantendo o número de clientes e a constante de comprimento da rede e (2) a densidade do cliente, que indica quanto o custo mudaria se o número de clientes aumentasse, com um comprimento de rede constante (NAUGES; BERG, 2008).

Nesse aspecto, Guerrini, Romano e Campedelli (2013) concluem que economias de escala, escopo e densidade podem ser alcançadas apenas parcialmente por meio de decisões do gerente; com maior frequência, decorrem das características da área atendida por uma empresa, dos acordos firmados com os municípios envolvidos na gestão da água e dos marcos normativos do setor.

Carvalho e Marques (2011) ressaltam que o regulador deve levar em conta, nos

benchmarks definidos em seu processo regulatório, a influência negativa, positiva ou neutra no

desempenho de variáveis como o fator de pico, porcentagem de água adquirida, densidade de clientes, porcentagem de clientes domésticos, propriedade, regulação, integração e o percentual de água de superfície fornecido.