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2.2 Características da Suinocultura

2.2.2 Impactos Ambientais Decorrentes da Suinocultura

Como pode ser observado, a suinocultura vem crescendo de forma expressiva no Brasil trazendo consigo altos volumes de dejetos que quando não tratados adequadamente tornam-se uma das maiores fontes de poluição, podendo comprometer seriamente a qualidade da água, do ar e do solo, além de contribuir para o aquecimento global (Figura 5), visto que durante a decomposição anaeróbica dos dejetos, há produção do biogás que é composto predominantemente por metano que possui um “potencial de aquecimento global” 25 vezes maior que o CO2 (IPCC, 2007b).

Fonte: Sadia (2008)

Figura 5 – Principais formas de poluição dos recursos naturais ocasionados pela suinocultura

Esse potencial poluidor é decorrente da composição físico-química dos dejetos, ricos em determinados componentes químicos, especialmente o fósforo (P) e o nitrogênio (N) e alguns microminerais como o zinco (Zn) e o cobre (Cu) (GASPAR, 2006). Por muitos anos acreditou-se que o uso dos dejetos como biofertilizantes resolveria o problema da poluição dos corpos hídricos, pois este deixaria de ser lançado no mesmo. No entanto, diversos trabalhos têm colocado abaixo essa teoria.

Os dejetos suínos são usados como fertilizante, pois em sua composição química há elementos os quais as plantas necessitam para o seu desenvolvimento, na mesma forma que pode ser encontrado nos fertilizantes industriais (SEGANFREDO, 2006). No entanto, esses podem ser formulados conforme as necessidades da cultura e do solo, enquanto os dejetos possuem minerais em proporções diferentes daquelas exigidas pelas plantas (SEGANFREDO, 1999). Por esse motivo, o uso contínuo ou excessivo trás conseqüências negativas como a saturação da capacidade de absorção dos nutrientes no solo (MUELLER, 2007), eutrofização e contaminação das águas, como também problemas inerentes à saúde pública (MILNE,2005).

Esses nutrientes em excesso chegam aos corpos hídricos através da erosão, lixiviação e escoamento superficial das águas das lavoras e pastagens que utilizam

os dejetos como biofertilizantes. O excesso desses nutrientes nos recursos hídricos acarreta a proliferação de algas, processo denominado de eutrofização. Quando esse fenômeno ocorre, o oxigênio dissolvido na água diminui de forma considerável, trazendo, como conseqüência, o comprometimento das espécies aquáticas. Outro ponto negativo da produção de suínos é a produção de odores desagradáveis, o que, atrai um grande número de insetos, especialmente moscas (GASPAR, 2006). De acordo com o tempo de exposição, os odores acarretam em náuseas, dor de cabeça, irritações, estresse e outras implicações à saúde ambiental (BELLI FILHO et al., 2007), além de infecções respiratórias e oculares (SRINIVASAN, 2008).

Estudo realizado por Stone et al. (1998) avaliaram o impacto da aplicação dos dejetos de suínos no solo, assim como a qualidade da água na Eastern Costal Plain, Estados Unidos, em uma fazenda que teve sua matriz de suínos expandida de 3.300 para mais de 14.000 animais. Ao final das análises, os autores verificaram que em dois pontos de análises, de um total de sete, ocorreu um aumento significativo de N, excedendo o nível de 10mg/L de N, o que torna a água imprópria para consumo. Outro resultado alcançado é que tanto a concentração do nitrogênio quanto da amônia aumentaram após a expansão da produção. A primeira ocorreu nos meses com temperaturas mais amenas, enquanto que no período de temperaturas mais quentes a concentração manteve-se aproximadamente a mesma. Já a concentração da amônia cresceu de forma significativa após a expansão, mantendo-se igual no verão e inverno.

Para Milne (2005), a ampliação da concentração de gases NOx na atmosfera contribui para a acidificação e nitrificarão do solo e da água trazendo como resultados modificações na comunidade de plantas e queda nas espécies de peixes. Ainda segundo o mesmo autor, o tempo estimado para a recuperação desses sistemas, quando possível, é aproximadamente 50 anos.

Devido a esse alto potencial poluidor, diversos países nas últimas décadas reformaram seu sistema de regulamentação ambiental sobre dejetos da suinocultura, incluindo países com grande extensão territorial, como Estados Unidos e Canadá, mas especialmente os que possuem escassez de terra como a Alemanha e Holanda que restringiram a expansão da produção suinícola (WEYDMANN, 2005).

A região do Alto-Uruguai Catarinense, formada por pequenos produtores familiares, que através do processo de integração com as grandes agroindústrias, como Sadia, Perdigão, Seara e outras, formaram um território que é reconhecido

mundialmente por produzir aves e suínos que são comercializados em todo o território nacional e no mercado internacional. Essa região produz um grande volume de dejetos de suínos que não são manejados de forma adequada trazendo conseqüências negativas para o meio ambiente. Devido à gravidade da situação ambiental dessa região, além da pressão dos países desenvolvidos para que governos e indústrias adotem posturas voltadas para o meio ambiente, fez com que o Ministério Público de Santa Catarina firmasse o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da suinocultura, abrangendo em torno de 3.000 produtores suinícola, agroindústria e associação de produtores (MIRANDA; SILVA; BONEZ, 2007; MIELE; KUNZ, 2007).

De acordo com a Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS, 2008), os controles sanitários em conjunto com os cuidados ambientais tornaram-se fatores determinantes para o planejamento, aprovação e execução de empreendimentos suinícolas, tornando-se prioridade o tratamento e destinação de dejetos, eliminação da poluição das águas superficiais e proteção das fontes de água. Na última década, o processo de fiscalização e a legislação ambiental têm-se tornado mais severos em relação aos procedimentos ocorridos nas propriedades. Assim, possuir todas as licenças ambientais de instalação e de operação com o sistema de tratamento e destinação final de resíduos definido previamente, tornou-se essencial para possuir autorização da atividade. No estado de São Paulo, de acordo com a Associação Paulista de Criadores de Suíno (APCS, 2008), a suinocultura paulista terá uma agenda ambiental para normatizar a atividade do ponto de vista ambiental, que são obrigações para se obter o licenciamento ambiental da atividade. Até o presente momento, o que há no estado é o Selo Suíno Paulista, criado em 1990 pelo governo do Estado, que criou normas específicas para a garantia da qualidade no processo produtivo, ou seja, da criação ao frigorífico (SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO, 2007).

Frente a isso, uma vez que um dos objetivos do MDL é apoiar atividades que promovam o desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento, a elaboração de um projeto elegível ao MDL significa uma ótima oportunidade de negócio que viabiliza o ingresso de práticas sustentáveis aos criadouros de suínos. Em linhas gerais, o projeto é baseado na instalação de biodigestores nas granjas suinícolas para captação e queima do biogás produzido na decomposição

anaeróbica do processo. Esse sistema de tratamento de dejetos será objeto de discussão do próximo item.