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Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e o Desenvolvimento

2.1 Mudanças Climáticas e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

2.1.4 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e o Desenvolvimento

Como já mencionado anteriormente, a Agência Nacional Designada é responsável por atestar que o projeto contribui para o desenvolvimento sustentável do país. Para tanto, necessita desenvolver critérios e indicadores de sustentabilidade, não havendo nenhuma norma internacional a ser seguida (FGV, 2002). No Brasil, a Comissão Interministerial Mudança Global do Clima (CIMGC) tem a incumbência de verificar se os projetos brasileiros contribuem para o desenvolvimento sustentável. Assim sendo, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) julgou necessário que a Comissão Interministerial tivesse critérios de elegibilidade e indicadores de sustentabilidade para a avaliação dos projetos brasileiros, pois a falta de padrões pode levar a diversas interpretações quanto à sustentabilidade dos mesmos. Dessa forma, foi desenvolvida uma metodologia, a partir de trabalhos internacionais e centros acadêmicos nacionais de pesquisa a respeito do tema, pelo Centro Clima e pelo Núcleo de Trabalho em Mudanças Climáticas. A proposta foi discutida, em dezembro de 2001, em seminários com a participação do meio acadêmico, órgãos governamentais, institutos de pesquisas e órgãos privados (MMA, 2002).

Os critérios e indicadores para a avaliação dos projetos candidatos ao MDL são divididos em dois grandes grupos: (1) Critérios de elegibilidade, composto por dois critérios, que são eliminatórios, visto que averiguam se os projetos atendem aos pré-requisitos determinados pelo protocolo de Quioto e (2) Indicadores de Caráter Classificatório, formado por 8 indicadores, que tem como função ordenar os projetos em ordem prioritária na atribuição dos recursos e/ou incentivos para implantação dos mesmos. Os indicadores desse grupo buscam, em geral, identificar as adicionalidades do projeto. Ainda há 3 indicadores que analisam o potencial de efeitos multiplicadores do mesmo (MMA, 2002).

O conceito de desenvolvimento sustentável, formalizado pelo Relatório

Brundtland em 1987, diz que é aquele que atende às necessidades das gerações

atuais sem comprometer os direitos das gerações futuras, ou seja, “o imperativo econômico convencional, maximização da produção econômica, dever ser restrita em favor dos imperativos sociais e ecológicos” (VAN BELLEN, 2004, p. 72). Pela primeira vez a equidade e o meio ambiente se tornam variáveis importantes dentro do contexto do desenvolvimento. No entanto, essa definição tem sido alvo de

diversas discussões, pois ainda não há um consenso universal a respeito deste conceito, que segundo Van Bellen (2004) reflete os conflitos de interesse existentes acerca do tema. Porém, há uma concordância de que este deve incorporar os aspectos econômico, ambiental e social.

De acordo com Munasinghe (2003), os impactos das mudanças climáticas e desenvolvimento são partes de um ciclo. Desenvolvimento econômico afeta o balanço do ecossistema, enquanto a pobreza pode ser tanto a causa quanto como o resultado da degradação ambiental. Estilos de vida com intenso consumo de energia não-renovável e crescimento populacional exponencial não são coerentes com formas de desenvolvimento sustentável. Da mesma forma, a desigualdade socioeconômica entre a população como também entre as nações têm como resultado a coerção social, sendo que a sociedade é ponto chave para a viabilização do desenvolvimento sustentável, sendo ela responsável pela cobrança de políticas mais efetivas.

Infelizmente as questões relacionadas à mudança climática não são consideradas pelos países em desenvolvimento como uma questão prioritária, ainda que estudos demonstrem que estes sofrerão conseqüências negativas com a mudança do clima, sendo suas populações com as menores possibilidades de adaptação ao problema (CHAN, 2006).

Como citado anteriormente, os projetos de MDL têm como um dos objetivos promover o desenvolvimento sustentável nos países não Anexo I. Assim sendo, a demonstração da promoção da sustentabilidade em um projeto de MDL é etapa obrigatória para elegibilidade desses projetos. Logo, apenas a redução da emissão de GEE ou a remoção do carbono da atmosfera não é condição suficiente para legitimar um projeto ao MDL.

Neste contexto, muitos trabalhos têm sido publicados questionando se um único mecanismo é capaz de resultar nos dois objetivos propostos pelo MDL, especialmente em relação ao desenvolvimento sustentável (OLSEN, 2007; SUTTER; PARREÑO, 2007; MICHAELOWA; GREINER, 2003). Em uma extensa revisão de literatura sobre o assunto, Olsen (2007) verificou que não há consenso entre os países sobre os indicadores e critérios de sustentabilidade visto que estes estão designados à Autoridade Nacional de cada local, o que faz com que o conceito de desenvolvimento sustentável varie de acordo com os países e suas prioridades de desenvolvimento. Para Sutter e Parreño (2007) a falta de padrões internacionais de

desenvolvimento sustentável faz com os projetos de MDL sejam voltados para o comércio dos créditos de carbono e que países pertencentes ou não ao ANEXO I não possuem incentivos diretos para implementar critérios severos para o desenvolvimento sustentável. Além disso, analisaram os 16 primeiros projetos registrados de MDL e obtiveram como um dos resultados que 25% não apresentaram contribuição relevante para os 2 objetivos do MDL. Michaelowa e Greiner (2003) avaliaram o processo de adicionalidade dos projetos. Para eles, como os países em desenvolvimento não possuem limites de emissão de GEE, os projetos devem ter atenção especial no processo de validação das RCEs, pois podem superestimar a redução de GEE e conseqüentemente produzir falsos RCEs. Os autores calcularam que RCEs geradas por projetos não adicionais podem acumular cerca de 2.2 bilhões de toneladas de CO2 durante o primeiro período de compromisso.

As últimas orientações para o MDL produzidas durante a COP/MOP-5 abordaram questões relacionadas à adicionalidade, como já citado anteriormente no item 2.1.3 deste trabalho. Outra questão importante apresentada é a necessidade das metodologias considerarem as especificidades regionais dos projetos. Um ponto de destaque do documento refere-se à necessidade do Comitê Executivo do MDL dar uma maior suporte as Agências Nacionais Designadas (AND) referentes a políticas, produção de guias, elaboração de padrões, regulamentações e políticas. Além disso, encoraja as mesmas a publicarem os critérios e indicadores que utilizam para a avaliação da contribuição das atividades do projeto para o desenvolvimento sustentável. Outro ponto apresentado no documento está relacionado às EOD. O Comitê Executivo apresenta como prioridade desenvolver e implementar um sistema e monitoramento contínuo da performance das EOD, como também colaborar para que as mesmas aperfeiçoem sua atuação, sendo um dos meios o treinamento dos auditores envolvidos nos processos de validação e verificação das atividades dos projetos (UNFCCC, 2009a). Em suma, essas práticas visam dar maior transparência, credibilidade e legitimidade às RCE`s geradas, evitando a falsa criação das mesmas, além de garantir que os objetivos do MDL estejam sendo alcançados.